A CPFL Cultura exibiu nesta quarta feira, em 35mm em seu cinema "Café Filosófico" a comédia dramática "Pais, Filhos & Etc" (Père et fils, 2003), produção franco-canadense dirigida por Michel Boujenah. O filme conta a história de um velho pai, Léo (o ótimo Philippe Noiret), que tem três filhos crescidos. David (Charles Berling), o mais velho, é um empresário bem sucedido mas ocupado demais para cuidar da vida pessoal. Mal visita o pai e está brigado com seu irmão Max (Bruno Putzulu). Os dois se desentenderam e não se falam há cinco anos, para desgosto do pai. E há Simon (Pascal Elbé), que é praticamente um adulto que esqueceu de crescer. O velho sofre um mal estar e vai parar no hospital para exames de rotina, mas ele tem um plano. Quando seus dois filhos mais velhos vão visitá-lo (separadamente), ele conta a cada um deles a mesma mentira: ele estaria com uma grave doença de coração e iria passar por uma arriscada cirurgia em duas semanas. Seu último sonho seria viajar junto com os filhos para o Canadá, "para ver as baleias" (Léo havia acabado de assistir a um documentário sobre isso na TV). Ao mais novo, Simon, Léo diz apenas que a família está saindo de férias.quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Pai, Filhos & Etc
A CPFL Cultura exibiu nesta quarta feira, em 35mm em seu cinema "Café Filosófico" a comédia dramática "Pais, Filhos & Etc" (Père et fils, 2003), produção franco-canadense dirigida por Michel Boujenah. O filme conta a história de um velho pai, Léo (o ótimo Philippe Noiret), que tem três filhos crescidos. David (Charles Berling), o mais velho, é um empresário bem sucedido mas ocupado demais para cuidar da vida pessoal. Mal visita o pai e está brigado com seu irmão Max (Bruno Putzulu). Os dois se desentenderam e não se falam há cinco anos, para desgosto do pai. E há Simon (Pascal Elbé), que é praticamente um adulto que esqueceu de crescer. O velho sofre um mal estar e vai parar no hospital para exames de rotina, mas ele tem um plano. Quando seus dois filhos mais velhos vão visitá-lo (separadamente), ele conta a cada um deles a mesma mentira: ele estaria com uma grave doença de coração e iria passar por uma arriscada cirurgia em duas semanas. Seu último sonho seria viajar junto com os filhos para o Canadá, "para ver as baleias" (Léo havia acabado de assistir a um documentário sobre isso na TV). Ao mais novo, Simon, Léo diz apenas que a família está saindo de férias.terça-feira, 28 de outubro de 2008
Rebobine, Por Favor
Esta é uma curiosa e nostálgica mistura de filmes de Frank Capra, "Alta Fidelidade", ficção-científica "B" e, para completar, uma pitada de "Cinema Paradiso". O diretor é Michel Gondry, responsável pelo ótimo "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", com Jim Carrey, do roteiro de Charlie Kauffmann. O próprio Gondry escreveu "Rebobine, por favor", e o filme parece se passar em algum universo paralelo. Digo, que locadora de filmes, nos dias de hoje, teria apenas fitas VHS em seu acervo? As fitas estão lá por duas razões.segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Última Parada 174
O desfecho de "Última Parada 174" todo mundo já conhece. Em julho de 2000, com toda a imprensa acompanhando ao vivo, um jovem chamado Sandro Nascimento estava dentro de um ônibus da linha 174. Ele estava de revólver em punho e mantinha vários reféns. Após horas de negociações, e já fora do ônibus, um policial do Bope tentou atirar nele, errou o alvo e matou a refém que Sandro segurava. A refém morreu e Sandro, levado a uma viatura, morreu oficialmente por "asfixia". O caso interessou o cineasta José Padilha, que realizou um bom documentário, "Ônibus 174". Mais tarde, Padilha resolveu mostrar o outro lado da moeda e quis fazer um filme sob o ponto de vista dos policiais. O resultado foi o polêmico "Tropa de Elite".quarta-feira, 22 de outubro de 2008
O Açougueiro (1970)
Com o bom "Uma Garota Dividida em Dois" ainda nos cinemas, decidi assistir a alguns filmes mais antigos do mestre francês Claude Chabrol. Ele foi um dos jovens franceses da geração da nouvelle vague, cineastas que tinham formação original de críticos de cinema e se tornaram autores cinematográficos, como François Truffaut. Chabrol (assim como Truffaut), viu no inglês radicado nos Estados Unidos, Alfred Hitchcock, um gênio do cinema (na época, Hitch ainda era considerado um diretor "menor" nos EUA). Tanto Chabrol quanto Truffaut escreveriam verdadeiras teses sobre o mestre do suspense inglês, e Chabrol viria a ser, à moda francesa, um de seus seguidores.O Açougueiro (Le Boucher, 1970) tem vários dos elementos hitchcockianos do suspense. Em uma pequena cidade do interior da França, uma bela mulher (loira e fria como as de Hitchcock), chamada Helene (Stéphane Audran) é professora e diretora de uma escola para crianças.
Um ex-soldado, o açougueiro Popaul (Jean Yanne) a conhece em uma festa de casamento que abre o filme. É curioso como a festa é filmada de modo quase documental, com muito uso de "zoom" e enquadramentos "desleixados". Quando Popaul e Helene saem da festa, o filme se torna meticulosamente filmado e enquadrado. Um longo plano contínuo acompanha o casal da festa até a casa da moça, que fica na própria escola. O suspense vai sendo criado aos poucos, nem tanto pelo que acontece na tela, mas sim fora dela. Uma garota é brutalmente assassinada em um bosque da cidade, mas Chabrol não mostra nem o crime nem o corpo. Apenas ficamos sabendo do fato por causa de uma conversa entre duas crianças, alunos de Helene, e pela presença da polícia correndo pela cidade.
Não é muito difícil saber quem é o assassino, mas esta não é a questão. Hitchcock já ensinava que suspense é diferente de surpresa. Em um filme em que se tem que descobrir o assassino geralmente há uma surpresa, algum acontecimento que ninguém esperava e que acaba revelando a identidade do criminoso. Suspense se cria quando o espectador já sabe de alguma coisa, mas não pode fazer nada. Uma bomba que explode de repente é surpresa. Saber que há uma bomba em um quarto, e imaginar se ela vai explodir ou não, é suspense. A relação entre a professora Helene e o açougueiro Popaul é claramente uma bomba esperando para explodir. Os dois passam a se ver com frequência, mas o caso não passa de amizade por causa de Helene. Em uma conversa no bosque (o mesmo em que foi encontrado o corpo, provavelmente) ela lhe diz que teve um grande amor no passado e que não quer sofrer novamente. Isso não impede que ela o convide para jantar, ou ao cinema.
É a própria Helene quem encontra o segundo corpo, durante uma excursão com suas crianças. Ela também encontra algo que pode indicar a identidade do assassino mas, curiosamente, ela não passa a informação para a polícia. As cenas finais são do mais puro suspense. Sozinha na escola, à noite, Helene vai fechando todas as portas e janelas do lugar em um ótimo jogo de luz e sombra, até o confronto final. A única coisa a se lamentar no filme é a trilha sonora, composta por uma série de sons dissonantes e claramente datados, típicos do final dos anos 1960. De resto, um belo trabalho do diretor francês, fazendo grande suspense e ótimo cinema.
domingo, 19 de outubro de 2008
Caos Calmo
Pietro Paladini (Nanni Moretti) é um executivo de uma grande empresa. Um dia ele está na praia com o irmão e escuta um pedido de socorro. Os dois correm para a água e salvam duas mulheres de morrer afogadas. Justo neste momento heróico, Pietro é atingido por uma tragédia; ao retornar para casa, sua esposa está morta, caída no jardim. A filha pequena, chorando, se joga em seus braços. Ele a abraça e fica olhando o corpo da esposa.segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Nas filmagens de "Jean Charles"
Neste final de semana visitei o set de filmagem do filme "Jean Charles" (título provisório), que tem parte de sua cenas filmadas na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. Soube que estavam procurando por centenas de figurantes para uma cena passada no velório de Jean Charles, filmado em uma igreja do bairro Betel, Paulínia, sábado passado. Segundo informações obtidas com a produção, por volta de 500 figurantes compareceram às filmagens, que começaram no sábado (11/10) e vão até quinta feira agora. Estavam presentes no set os atores Daniel Oliveira, Vanessa Giácomo e Luiz Miranda. Dirigido por Henrique Goldman, o filme trata do caso trágico do imigrante brasileiro morto pela polícia em 2005, na Inglaterra, ao ser confundido com um terrorista. Selton Mello (sempre ele) interpreta o papel principal, mas ele não estava presente a estas filmagens. Suas cenas já foram filmadas na Inglaterra. O filme é uma co-produção entre a Inglaterra e o Brasil e, de fato, parte da equipe presente a Paulínia sábado era britânica. Segundo o site imdb.com, Stephen Frears ("Alta Fidelidade", "Ligações Perigosas") é um dos co-produtores.sábado, 11 de outubro de 2008
U23D
Durante a canção hino "Sunday Bloody Sunday", Bono olha para você, estica a mão enquanto canta "Wipe your tears away...wipe your tears away..." e parece que, se você estender a mão, poderá tocá-lo. Este é o efeito provocado pela espetacular tecnologia 3D empregado na produção deste show. Uma equipe da National Geographic, munida de câmeras especiais, documentou a turnê "Vertigo", em 2006, durante sua passagem pela América Latina e Austrália. O resultado, diziam, seria quase tão bom quanto presenciar pessoalmente um show da banda. Na verdade, em termos de visão de palco, é melhor. As cenas gravadas do ponto de vista da platéia são, de fato, impressionantes em seu realismo. As pessoas "na sua frente" levantam as mãos e, instintivamente, você desvia a cabeça para tentar ver melhor. A vantagem sobre estar lá é que as câmeras gravam o show sob diversos ângulos e perto o suficiente para parecer que você vai levar um golpe da guitarra de The Edge quando ele está tocando.Filmes em 3D não são novidade. Experimentos em três dimensões datam do início da história do cinema, e a tecnologia vem sendo desenvolvida e usada nos cinemas há décadas, principalmente em filmes de aventura, em que objetos parecem ser jogados em direção da platéia. O ponto fraco sempre foi o uso de óculos coloridos desconfortáveis e que nem sempre produziam o efeito desejado. A produção é mais cara tanto do ponto de vista da filmagem quando da exibição, e o processo nunca vingou realmente. U23D foi produzido utilizando um processo digital criado pela empresa 3ality Digital, que gravou diversos concertos durante todo o ano de 2006, sob a direção de Catherine Owens e Mark Pellington. A platéia ainda tem que usar óculos especiais, mas eles são leves e com uma lente especial (não colorida) que transforma a imagem da tela em 3D. Outra aspecto técnico que me impressionou foram os efeitos de pós produção e o uso, em 3D, de gráficos e frases que literalmente saltam da tela. Há um momento em que Bono finge desenhar uma TV no ar, com o dedo, e um gráfico em 3D aparece conforme ele desenha.
Isso não passaria apenas de um exercício técnico interessante se não fosse pelo conteúdo do filme. A banda irlandesa U2 sempre chamou a atenção tanto pelos aspectos musicais quanto por seu lado militante. É certamente uma das bandas mais bem sucedidas, constantes e duradouras da história do rock. A bateria de Larry Mullen Jr e o baixo de Adam Clayton mantém o ritmo para as viagens sonoras da guitarra de The Edge e a performance sempre apaixonada de Bono, que parece cantar como se fosse seu último show. Os críticos têm certa razão em reclamar de certa teatralidade ou megalomania, mas quantas bandas "pop" dos últimos vinte anos têm a energia do U2 no palco? O show, composto por 14 músicas, passa por sucessos recentes e revisita os clássicos que marcaram a história do grupo, principalmente no que considero seu auge, o lançamento do álbum "The Joshua Tree" (com músicas como "Where the streets have no name", "With or without you" e "Bullet the blue sky"), e anteriores, como "New year´s day", "Pride (In the name of love)" e "Sunday Bloody Sunday". A seleção de músicas para o filme foi feita levando-se em conta a popularidade das canções, mas há boa continuidade entre elas. Há até o que se poderia chamar de um "bloco político" composto pela sequência "Sunday Bloody Sunday", "Bullet the Blue Sky", "Miss Sarayevo" (com uma leitura da Declaração dos Direitos Humanos) e "Pride".
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias
Estamos na Romênia, perto do final do comunismo, nos anos 1980. Otilia e Gabriela são companheira de quarto em uma república de estudantes. Ela está estudando na politécnica, e espera que, ao se formar, não seja enviada pelo governo para algum canto remoto do país. Otilia (Anamaria Marinca, a grande força do filme) é claramente quem faz acontecer as coisas. A câmera do diretor Cristian Mungiu a acompanha enquanto anda pelos corredores do prédio fazendo vários coisas, como procurar por um maço de cigarro contrabandeado de alguns árabes, dar uma olhada na mercadoria ilegal (perfumes, maquiagem, anticoncepcionais) vendidas por outra colega, ou procurando leite em pó para alimentar alguns gatinhos. Gabriela, ou "Gabita" (Laura Vasiliu), é insegura e está se sentindo mal por causa de alguma coisa. Ela dá um maço de dinheiro a Otilia e pede que ela faça uma tarefa para ela. Otilia parte em um ônibus para o centro da cidade e vai encontrar o namorado, que também lhe empresta dinheiro e lhe cobra uma visita à mãe dele naquela noite. É aniversário dela. Otilia lhe pergunta onde pode encontrar um maço de cigarros, e ele lhe passa um endereço no mercado negro. Estes são os primeiros minutos de "4 meses, 3 semanas e 2 dias", e não nos preparam para o suspense que, pouco a pouco, vai se instalar no filme. O que podemos notar é que a Romênia é um país pobre, burocrático e cheio de modos "alternativos" de se conseguir alguma coisa.terça-feira, 7 de outubro de 2008
Cinema - Entre a Realidade e o Artifício (livro)
Ótima dica para quem quer saber mais sobre a história do Cinema é este livro do crítico Luis Carlos Merten (O Estado de S. Paulo). Em "Entre a Realidade e o Artifício", Merten narra a tragetória da que viria a ser chamada de "a arte do século XX", que teve seu início em dezembro de 1885, em Paris, com a exibição dos irmãos Lumiére. O livro é didático sem ser técnico ou tedioso. Fica clara a paixão de Merten pelo assunto enquanto discorre sobre as várias fases do cinema, dos filmes mudos à revolução (?) digital pela qual estamos passando atualmente. O livro se inicia e termina com questão lançada pelo teórico francês André Bazin: "O que é o cinema, afinal?". Seria apenas entretenimento? Seria arte? Um filme feito em digital ainda é um "filme", ou é um "video"? Escrito em 2003, Merten questiona qual teria sido a melhor interpretação do ano de 2002: a resposta, um personagem que não existe, "interpretado" por pelos pixels digitais que formam a criatura "Gollun", de "O Senhor dos Anéis".domingo, 5 de outubro de 2008
Ao Entardecer
Há um diálogo em "Ao Entardecer" que praticamente resume todo o filme. Já em idade avançada, Lila Ross (Meryl Streep) e Ann Grant (Vanessa Redgrave) estão conversando sobre suas vidas, e Lila diz que teve bons e maus momentos. "Eu não esperava tanto da vida como você", diz ela. "Ah, eu esperava muito!", responde Redgrave. "Ao Entardecer" é daqueles dramas sensíveis que tratam da vida sob a perspectiva de alguém que a está deixando. Ann Grant está à beira da morte, permanentemente na cama e sob os cuidados de uma enfermeira. Suas filhas Nina (Toni Collette) e Constance (Natasha Richardson) sabem que o final está próximo, e fazem o que podem para mantê-la tranquila. Só que Ann começa a falar sobre pessoas de quem elas nunca ouviram falar antes, sobre um tal "Harris" e sobre "Buddy", que ela teria "matado". A enfermeira e Constance atribuem as falas aos remédios e a delírios, mas Nina está determinada em descobrir quem são aquelas pessoas. Em flashbacks, acompanhamos então a história de Ann quando era uma jovem alegre e independente (interpretada por Claire Danes), que é escolhida para ser a dama de honra de Lila (Mamie Gummer). O casamento vai acontecer em uma bela mansão à beira do mar, propriedade da família Wittenborn, encabeçada por Glenn Close (sim, o elenco feminino deste filme é impressionante).quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Não Amarás
“Não Amarás” (1988) era originalmente parte da épica minissérie de TV “O Decálogo”, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski (da série “Trilogia das Cores”, já vista neste blog). A série consistia em dez filmes baseados levemente nos “Dez Mandamentos” das religiões judaico/cristãs. Dois destes filmes (este e “Não Matarás”) foram lançados como filmes de cinema em versões estendida.“Não Amarás” trata da história de um adolescente tímido e reprimido de 19 anos chamado Tomek (Olaf Lubaszenko). Ele trabalha no posto de correios durante o dia e vive com uma senhora em um conjunto de prédios. Toda noite, por volta das 20h30, Tomek entra em seu quarto e passa a observar atentamente, através de uma luneta, o prédio de frente ao seu. É lá que vive Magda (Grazyna Szapolowska), uma mulher madura e independente por quem Tomek está apaixonado. De seu posto, em cenas que lembram muito o clássico de Alfred Hitchcock, “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954), Tomek fica observando Magda chegar do trabalho, sair do banho, jantar e, invariavelmente, se envolver com homens. Tomek não é apenas um observador passivo. De vez em quando ele interfere no que ele vê do outro lado da luneta. Em uma das vezes que Magda está com um namorado, por exemplo, Tomek liga para a companhia de gás de diz ter um vazamento no apartamento, mas passa o endereço de Magda. Aos poucos, ele vai encontrando maneiras de se aproximar mais dela, deixando falsas ordens de pagamento na caixa postal dela, forçando-a a ir ao posto do correio em que ele trabalha, ou entregando leite no apartamento dela todas as manhãs.
Uma noite ele a vê sozinha e chorando, após uma briga com o namorado. Ele finalmente se aproxima e se declara a ela, que a princípio fica brava com a invasão de privacidade e procura se vingar. Mas, aos poucos, ela acaba gostando da atenção e os dois finalmente saem juntos. É então que o amor platônico de Tomek precisa enfrentar a realidade do amor físico praticado por Magda. A primeira noite termina de forma trágica, e a partir deste momento o filme inverte o foco, passando a seguir a história do ponto de vista de Magda, que passa a tentar acompanhar a vida de Tomek do outro lado da janela.
O estilo de Kieslowski é lento e intimista, auxiliado por seus habituais colaboradores, o músico Zbigniew Preisner e o co-roteirista Krzysztof Piesiewicz. Ele é mestre em criar ambientes com pouca luz e muitas sombras, revelando o estado das personagens. “Não Amarás” chega a ser quase um filme mudo, em seus poucos diálogos. Há muita culpa cristã no modo como Tomek pensa amar Magda que, de seu lado, considera o ato apenas como algo físico. Mas o contato com Tomek e sua atenção acabam por comovê-la e a encarar a própria vida de outro modo. Há uma cena particularmente bonita, quando Magda, do ponto de vista de Tomek, observa seu apartamento lá longe e fantasia como Tomek a veria. O final é aberto, mas tocante.