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quarta-feira, 1 de março de 2017

O Silêncio do Céu (2016)

Bom exercício de suspense dirigido por Marco Dutra (que fez o ótimo Trabalhar Cansa). O filme é uma co-produção uruguaia e é falado quase todo em espanhol. Carolina Dieckmann é uma estilista que, no início do filme, é estuprada em uma cena bastante perturbadora. O marido dela, Mario (Leonardo Sbaraglia) é um homem que sofre de diversas fobias (praticamente de tudo). O filme mostra a sequência de estupro por outro ângulo e descobrimos que Mario assistiu a tudo, mas ficou paralisado por seus medos. Quando o estupro termina ele até tenta ir atrás dos culpados, mas não consegue alcançá-los. Começa então um curioso jogo em que a esposa não conta para o marido que foi estuprada e o marido não conta para a esposa que ele assistiu a tudo.

Dutra usa muita metalinguagem ao revelar que Mario é um roteirista de cinema. Ele começa a nos narrar a história e, enquanto tenta encontrar os estupradores da esposa, começa a criar um personagem novo para ele mesmo, um homem capaz de enfrentar suas fobias e esconder a verdade da esposa. A direção de fotografia é de Pedro Luque (O Homem nas Trevas) e a câmera (bastante estática no início do filme) vai ganhando movimento conforme Mario também se torna mais ativo. Senti toques de "Um Corpo que Cai", obra prima de Hitchcock, no roteiro de "O Silêncio do Céu". Mario, assim como James Stewart, é um homem que tem que superar uma fobia e, de certa forma, recriar uma nova mulher a partir do estupro sofrido pela esposa.

Nem tudo funciona, porém. Achei que as narrações de Mario eram, por vezes, desnecessárias. Mais para o final a personagem de Carolina Dieckmann também passa a narrar a história e, de novo, me pareceu redundante, mais para explicar pontos obscuros do roteiro do que para realmente avançar a trama. Mas é um bom filme de suspense, gênero que poderia ser mais explorado pelo cinema brasileiro. "O Silêncio do Céu" está disponível na Netflix.

João Solimeo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Flores do Oriente


Christian Bale se afasta do papel na série "Batman" para atuar neste drama de guerra do diretor chinês Zhang Yimou, de "Lanternas Vermelhas" (1991), "Herói" (2002) e "O Clã das Adagas Voadoras" (2004) . "Flores do Oriente" é passado durante a invasão japonesa à cidade de Nanquim, na China, em 1937. O episódio está entre os mais brutais da história, e até hoje os japoneses são acusados pelos estupros e barbaridades cometidos à época.

Durante a investida, um grupo feminino de estudantes se refugia na catedral católica, assim como várias prostitutas da cidade. Bale interpreta um americano que estava em Nanquim na época da invasão e que também se refugia na catedral. Ele trabalha como preparador e maquiador de corpos para uma funerária, e havia sido contratado pela igreja para sepultar o antigo padre da catedral. O filme se passa quase todo nesta igreja e nas ruas em volta, e o roteiro trata principalmente do contraste entre as inocentes garotas do convento e a sofisticação das prostitutas. Bale, no centro, se transforma de um bêbado depravado em um homem de princípios. Quando um grupo de japoneses invade a catedral e tenta estuprar as estudantes, ele os enfrenta usando as roupas do padre, com isso ganhando o respeito tanto das meninas quanto das prostitutas.

O filme é bastante violento, mostrando cenas de soldados matando civis a golpes de baioneta, estupros, assassinatos, tudo com muito sangue. Zhang Yimou, conhecido por grandes proezas visuais (principalmente em "O Clã das Adagas Voadoras"), está mais contido neste filme; há um plano sequência impressionante que mostra os japoneses perseguindo duas prostitutas pelas ruas destruídas de Nanquim mas, de resto, o filme é bem clássico. Só que, conforme o roteiro avança, o dramalhão aumenta consideravelmente.  Os japoneses são mostrados como assassinos sádicos. Mesmo uma cena bastante bonita em que um oficial japonês canta uma canção nostálgica sobre a terra natal, e outra em que ele assiste a uma apresentação das estudantes servem apenas como pretexto para revelar um plano diabólico dos japoneses: eles estariam oferecendo proteção para as garotas apenas temporariamente, aguardando a chegada de uma festa em que, tudo leva a crer, elas seriam estupradas e mortas.

Bale é bom ator, mas sua transformação é muito rápida. Seu personagem passa a impressão de ter sido criado apenas como chamariz de bilheteria. O final é cheio de bons princípios e atitudes heroicas por parte dos chineses, mas o filme (escolhido pela China para tentar uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro)  acaba com um toque de melodrama exagerado, que agrada parte do público. Visto no Topázio Cinemas.

Câmera Escura

sábado, 9 de julho de 2011

Vênus Negra

Exibido em Campinas há um mês no Fesvital Varilux de Cinema Francês, "Vênus Negra" volta ao Topázio Cinemas. É, sem dúvida, uma das experiências mais impactantes e difíceis de suportar já colocadas em uma tela de cinema. "Vênus Negra" conta os últimos anos de vida de Sarah Baartman, uma sul-africana que era empregada doméstica e babá na Cidade do Cabo, antes de ser levada por seu patrão para Londres, onde era exibida como uma "curiosidade" (ou aberração). É o ano de 1810 e vários tipos de atrações bizarras são mostradas em um bairro pobre da capital inglesa. Sarah é apresentada como a "Vênus Hotentote", uma "selvagem" que seu patrão, Hendrick Caezar (André Jacobs), diz ter capturado sob o risco da própria vida. A apresentação da Vênus é um longo, humilhante e bizarro espetáculo mostrado com detalhes pelo diretor Abdellatif Kechiche, que parece fazer um teste com os espectadores de cinema de hoje, comparando-os com os frequentadores destes "freak shows" do século 19. É uma encenação, claro, mas qual o limite entre o teatro e a realidade? Sarah é uma mulher de 25 anos, aparentemente adulta, por que ela se submete à humilhante representação de um ser selvagem e subdesenvolvido?

Quando membros de uma "sociedade africana" começam a levantar este tipo de questões, Caezar se junta a outro "artista", Réaux (Olivier Gourmet) e eles partem para Paris, para continuar com as apresentações da Vênus. O filme é longo, com duas horas e quarenta minutos de exibição. Durante este tempo, o espectador é testemunha de várias apresentações de Sarah, que se tornam cada vez mais degradantes, chegando perto da pornografia. Ela pertence à tribo dos Hotentotes, que têm como característica física as nádegas e órgão genital feminino avantajados. Há uma longa sequência, também humilhante, em que Sarah é levada aos cientistas franceses para ser medida, pesada, examinada e analisada como mero espécime de laboratório. Quando ela se recusa e expor a genitália, é simplesmente devolvida ao "dono". Sarah voltará a ser examinada, desta vez mais profundamente, pelos cientistas, na sequência final do filme.

"Vênus Negra" levanta a questão de como a curiosidade humana leva a extremos terríveis. A ciência "naturalista" da época não fica de fora. O resultado de todas as medições dos cientistas serve apenas para "provar" que os africanos são inferiores aos brancos, que seriam descendentes de uma raça superior. A curiosidade dos espectadores dos shows da "Vênus Hotentote" não é muito diferente do público dos "big brothers" e "pegadinhas" dos programas de televisão de hoje. Mas o próprio "Vênus Negra", paradoxalmente, acaba testando os próprios limites. Até que ponto é ético mostrar o sofrimento de uma mulher de forma tão detalhada e por tempo tão longo? Até que ponto a atriz Yahima Torres, que interpreta Sarah, não está sendo exposta da mesma forma? Claro que ela é apenas uma atriz mas, curiosamente, esta é uma justificativa dada pelos personagens ao modo como tratavam Sarah Baartman. Quanto à personagem, ela é vista sendo espancada, estuprada, cavalgada, chicoteada e humilhada de diversas formas. Que tipo de homenagem é esta à Sarah Baartman real? Curiosamente, um pouco de humanidade é mostrado apenas quando os créditos estão subindo e cenas reais do corpo de Baartman sendo devolvido à África do Sul, em 2002, são mostradas. Filme difícil, que requer estômago do espectador.