
Filmes em 3D não são novidade. Experimentos em três dimensões datam do início da história do cinema, e a tecnologia vem sendo desenvolvida e usada nos cinemas há décadas, principalmente em filmes de aventura, em que objetos parecem ser jogados em direção da platéia. O ponto fraco sempre foi o uso de óculos coloridos desconfortáveis e que nem sempre produziam o efeito desejado. A produção é mais cara tanto do ponto de vista da filmagem quando da exibição, e o processo nunca vingou realmente. U23D foi produzido utilizando um processo digital criado pela empresa 3ality Digital, que gravou diversos concertos durante todo o ano de 2006, sob a direção de Catherine Owens e Mark Pellington. A platéia ainda tem que usar óculos especiais, mas eles são leves e com uma lente especial (não colorida) que transforma a imagem da tela em 3D. Outra aspecto técnico que me impressionou foram os efeitos de pós produção e o uso, em 3D, de gráficos e frases que literalmente saltam da tela. Há um momento em que Bono finge desenhar uma TV no ar, com o dedo, e um gráfico em 3D aparece conforme ele desenha.
Isso não passaria apenas de um exercício técnico interessante se não fosse pelo conteúdo do filme. A banda irlandesa U2 sempre chamou a atenção tanto pelos aspectos musicais quanto por seu lado militante. É certamente uma das bandas mais bem sucedidas, constantes e duradouras da história do rock. A bateria de Larry Mullen Jr e o baixo de Adam Clayton mantém o ritmo para as viagens sonoras da guitarra de The Edge e a performance sempre apaixonada de Bono, que parece cantar como se fosse seu último show. Os críticos têm certa razão em reclamar de certa teatralidade ou megalomania, mas quantas bandas "pop" dos últimos vinte anos têm a energia do U2 no palco? O show, composto por 14 músicas, passa por sucessos recentes e revisita os clássicos que marcaram a história do grupo, principalmente no que considero seu auge, o lançamento do álbum "The Joshua Tree" (com músicas como "Where the streets have no name", "With or without you" e "Bullet the blue sky"), e anteriores, como "New year´s day", "Pride (In the name of love)" e "Sunday Bloody Sunday". A seleção de músicas para o filme foi feita levando-se em conta a popularidade das canções, mas há boa continuidade entre elas. Há até o que se poderia chamar de um "bloco político" composto pela sequência "Sunday Bloody Sunday", "Bullet the Blue Sky", "Miss Sarayevo" (com uma leitura da Declaração dos Direitos Humanos) e "Pride".
O filme pode também ser visto em Campinas agora que foi inaugurada uma sala 3D no Box Cinemas. A sala é pequena e durante a primeira exibição de ontem havia poucas pessoas, que ao final comentaram que o som poderia ter sido um pouco mais alto (para simular melhor ainda a sensação de um show ao vivo). Mas é uma ótima experiência tanto para fãs da banda quanto para de música em geral. Não me interesso muito na tecnologia 3D aplicada a filmes de ficção "normais" (que já têm uma sintaxe e técnica desenvolvidas por mais de um século de cinema), mas creio que o 3D seja realmente ótimo para apresentação de shows e eventos como este.