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segunda-feira, 24 de maio de 2010

LOST - The End

Acabou. Após seis anos de mistérios, especulações, viagens reais e imaginárias, mortes, renascimentos, mudanças no tempo e no espaço, a história dos passageiros do Vôo 815 da Oceanic finalmente chegou ao fim. O final, a bem da verdade, não explica muito (ou não explica tudo) o que realmente aconteceu nestas seis temporadas. E não poderia ser diferente. "Lost" sempre foi muito mais sobre os mistérios do que sobre as explicações, sobre as perguntas deixadas no ar que faziam a delícia (e agonia) de milhões de fãs no mundo todo.

"Lost" já foi muito bom e muito ruim. Em seu melhor, a série levantava questões sobre a natureza humana, sobre o poder do destino, sobre a validade da ciência contra o poder da fé, o valor da amizade e do companheirismo. Em seu pior, era uma história "nerd" que misturava civilizações egípcias com seres imortais vindos não se sabe de onde e uma "luz da vida" convenientemente criada nos últimos episódios para ajudar a "explicar" tudo. Em suma, "Lost" era uma série ótima quando tratava dos personagens, mas derrapava quando tentava explicar seu lado "nerd". Uma das melhores sacadas dos roteiristas, sem dúvida, foi saber usar do recurso do flashback como nunca. Ao jogar um grupo de personagens em uma ilha, a saída genial de dar cor e vida à série foi mostrar a vida pregressa de cada um deles através de uma série de engenhosos flashbacks, que não só mostravam quem era cada uma daquelas pessoas, como também criava curiosas conexões entre elas. A primeira (e melhor) temporada explorou como nunca o recurso, que ganhou uma "virada" também genial algumas temporadas depois, ao inverter a linha do tempo para o futuro na forma de flashforwards que mostravam os personagens fora da ilha. E que personagens. Jack (Mathew Fox), Kate (Evangeline Lilly), Sawyer (Josh Holloway), Sayid (Naveen Andrews), Hugo (Jorge Garcia), Jin (Daniel Dae Kim), Sun (Yunjin Kim), Locke (Terry O´Quinn), Claire (Emilie de Ravin), Charlie (Dominic Monagham), Desmond (Henry Ian Cusick)... nomes que, ano após ano, se tornaram parte do imaginário dos fãs e parte da "família" de "Lost".

Fica claro também que, ao contrário do que alguns fãs defendem, os roteiristas iam decidindo o caminho da série conforme o trilhavam. E mais, o próprio feedback dos fãs, em um volume inédito nesta era da internet, moldou o futuro da série. Mais do que espectadores, os fãs se tornaram verdadeiros co-autores de "Lost" ao discutirem, semana após semana, o que estava acontecendo e o que viria a acontecer com os personagens. É possível notar alguns caminhos experimentados pelos roteiristas conforme a série se desenrolava. Fica claro que, nas primeiras temporadas, "Lost" tinha tudo a ver com a "Iniciativa Dharma" e sua tentativa de "salvar o mundo" através da exploração dos "números malditos" (4, 8, 15, 16, 23, 42). Havia um clima que lembrava algum projeto secreto estilo "Projeto Manhattan" ou os anos paranóicos da Guerra Fria, principalmente na figura de Benjamin Linus (Michael Emerson) e sua vila. Mais tarde o rumo da série mudou para a figura misteriosa de "Jacob", que ninguém sabia exatamente quem era, mas que definitivamente não era a mesma "pessoa" que mostrariam depois. A série abraçou seu lado "nerd" de forma mais forte ao apresentar não só Jacob mas um "irmão" misterioso e, depois, uma "mãe" inexpicada e inexplicável. Pode ter funcionado para tentar solucionar vários mistérios da série mas, infelizmente, Jacob e companhia acabaram tirando perigosamente o foco dos personagens principais e, o que é pior, dava a impressão que eles eram indiferentes ao passado, presente e futuro da ilha.

Especulações, teorias, suposições, apostas... como explicar, afinal, "Lost"? A melhor saída, na verdade, é não explicar. Assim, me arrisco a dizer (e que caia a ira de vários fãs) que Damon Lindelof e Carlton Cuse, os produtores e roteiristas principais (apesar da publicidade concedida a J.J. Abrams) acertaram no capítulo final. Não, não há uma "explicação" definitiva. Entre o lado "nerd" e o lado humano, venceu este último, e o episódio final de mais de uma hora de duração é praticamente uma celebração aos personagens. Acabamos descobrindo que o tal "mundo paralelo", na verdade, não passava de um "não-lugar" que era fruto da imaginação dos personagens, todos mortos. Não significa, atenção, que eles estivessem mortos durante a série (uma das várias teorias sobre "Lost"). Como explica o pai de Jack, Christian, eles não morreram todos ao mesmo tempo, mas estão ali para "se lembrarem...e para deixarem para trás". É assim, na verdade, que deve ser encarado este último episódio da série. Ou mesmo, talvez, toda a sexta temporada. Foi uma temporada para que os fãs pudessem se lembrar dos personagens, de suas histórias, dos que morreram, renasceram, aprenderam a falar outra língua, voltaram a andar, se amaram ou se odiaram...e os deixar para trás.

Sim, é brega, é new age, é produto pop cultural disfarçado de filosofia barata. Mas assim foi "Lost" durante todos estes anos. Se não foi a melhor série de todos os tempos (para mim, o título pertence à "Jornada nas Estrelas" original dos anos 60), chegou bem perto. Com todas suas contradições e buracos do tamanho de crateras, "Lost" contou com histórias intrigantes e, muitas vezes, extremamente inteligentes. Misturou filosofia, antropologia e religião ("Christian Shephard?" pergunta Kate, irônica) com viagens no tempo, sexo, drogas e rock ´n roll, um bocado de violência e atores acima da média (marcados, provavelmente, para o resto de suas carreiras pelos personagens). Mas tudo chega ao fim.

É hora dos fãs deixarem "Lost" para trás.