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sábado, 2 de junho de 2012

Diário de um jornalista bêbado

Hunter S. Thompson (1937-2005) foi um escritor e jornalista que criou de um tipo de jornalismo que ficou conhecido como "Gonzo"; ele pode ser definido como a imersão completa do autor no assunto que está investigando, a ponto de se tornar personagem da própria história. Thompson era alcoólatra, usou vários tipo de drogas e fazia questão de não esconder isso em seus textos. Escreveu livros-reportagem famosos como "Hell´s Angels", sobre a conhecida gangue de motociclistas americanos, e "Medo e delírio em Las Vegas", transformado em filme em 1998 por Terry Gillian. Este último tem no elenco Johnny Depp, que se tornou amigo pessoal de Thompson até o suicídio do escritor, em 2005, com um tiro de espingarda.

Johnny Depp volta a interpretar um ater-ego de Thompson em "Diário de um jornalista bêbado", também produzido por Depp, baseado em um livro que o jornalista escreveu nos anos 1970 e que havia ficado inédito por anos. Com tanta dedicação de Depp ao projeto, é uma pena que o filme fique aquém do esperado. Dirigido por Bruce Robinson, a produção é bem cuidada e o elenco é competente, mas o filme não empolga. Depp é Paul Kemp, um jovem jornalista que, depois de ter problemas no início de carreira nos EUA, arruma um emprego em um pequeno jornal de Porto Rico; o editor (interpretado por Richard Jenkins) coloca Kemp para escrever o horóscopo. Logo, porém, Kemp atrai a atenção de um ambicioso empresário chamado Sanderson (Aaron Eckhart) que pretende construir um empreendimento imobiliário em uma das ilhas. Não fica muito claro porque Sanderson acredita que um jornalista iniciante como Paul Kemp que, até o momento, só havia demonstrado talento para ficar bêbado, seria tão necessário para seu projeto. O caso é que Sanderson livra Kemp de enrascadas, lhe dá carro, dinheiro e acesso à própria namorada. Johnny Depp é engraçado e bom ator, mas o personagem não convence. Ao mesmo tempo que age como um irresponsável e se deixe levar por Sanderson, Kemp tenta vender ao jornal matérias de denúncia sobre os problemas do arquipélago e faz comentários políticos contra o então candidato ao governo americano, Richard Nixon.

O roteiro, episódico, cria situações interessantes, mas não as leva adiante. Mesmo a lendária condição de bêbado e drogado de Thompson está curiosamente reduzida. Há apenas uma cena (curta e perdida no filme) em que ele usa um alucinógeno e começa a ver coisas. O esperado romance com a namorada de Sanderson parece acontecer mais por alguma "obrigação" do roteiro do que por uma consequência lógica da trama e, novamente, é rapidamente abandonado para dar lugar a outra trama absurda; os personagens tentam levantar dinheiro, através de uma rinha de galos, para publicar uma última edição do jornal. Assim, o filme é uma mistura irregular de um idealismo que soa falso com situações cômicas e tramas subaproveitadas. Visto no Topázio Campinas.



sábado, 12 de março de 2011

Rango

O trailer de "Rango", bastante engraçado, tenta passar uma imagem de mais uma animação leve para crianças, com muita correria e piadas fáceis. Quem for ver o filme vai dar muitas risadas, sim, mas "Rango" é muito mais do que isso; é mais adulto e inteligente do que a maioria dos filmes americanos em cartaz. A direção é de Gore Verbinski, diretor de "Piratas do Caribe", e é a primeira animação produzida pela empresa de efeitos especiais de George Lucas, a ILM (Industrial Light and Magic). O resultado é um filme tecnicamente perfeito, com uma qualidade visual e um nível de detalhes impressionante. Nos créditos pode-se ver o nome do diretor de fotografia Roger Deakins como "consultor visual". Deakins é um dos melhores fotógrafos do cinema, tendo trabalhado constantemente com os irmãos Coen ou com M. Night Shyamalan. Os detalhes, a luz e as texturas vistas em "Rango" só têm paralelo em animações como "Wall-E" ou "Como treinar seu dragão"; não coincidentemente, Roger Deakins foi "consultor" também nestes dois outros filmes.

"Rango" conta a história de um camaleão que cai do carro de seus donos e se vê perdido em pleno deserto de Mojave, no oeste americano. Ele recebe ajuda de um misterioso tatu que só fala por meio de metáforas e que o direciona no caminho da pequena cidade de "Dirt" (poeira), no meio do deserto. "Dirt" é a típica cidade do velho oeste, com o "saloon", o banco, a prefeitura, o ferreiro e a funerária. Todos estão passando por dificuldades pela falta de água, que misteriosamente deixou de correr pela região. Há um sem número de referências cinematográficas no roteiro, mas a influência principal é dos faroestes italianos de Sergio Leone. Há um "coro" de corujas que nos conta a história e acompanham a trilha sonora. A questão da falta de água e suas implicações políticas vêm diretamente do clássico "Chinatown", dirigido por Roman Polanski em 1974. Até o prefeito da cidade, uma tartaruga inteligente e traiçoeira, é claramente baseada no personagem que John Huston interpretou naquele filme.

O camaleão se faz passar por um sujeito durão e adota o nome de "Rango" (tirado do rótulo de uma bebida chamada "Durango"). Toda a cidade fica impressionada com ele quando, por acidente, ele mata a principal ameaça do lugar, uma águia. O prefeito faz dele o novo cherife e ele logo se vê envolvido em uma investigação; quem teria roubado a água do banco? Por que a fazendeira "Feijão" (uma lagarta que vai se apaixonar por Rango) afirma ter visto água ser despejada no deserto? Por que é que o prefeito parece ser o único da região a não sofrer com a falta de água? Todas estas perguntas e intrigas são desenvolvidas no ótimo roteiro escrito por John Logan, que faz uma mistura de velhos filmes de faroeste com a intriga de "Chinatown". A trilha de Hanz Zimmer flerta com os clássicos que Ennio Morricone compôs para Sergio Leone ou com a música de "Sete Homens e um Destino", composta por Elmer Bernstein.

"Rango" já é opção certa para o Oscar de Melhor Animação para 2012. Seu roteiro é inteligente e, tecnicamente, eleva a computação gráfica a um nível de realismo impressionante. Se cuide, Pixar.