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domingo, 29 de agosto de 2010

Um Segredo em Família

François Grimbert é um garoto amedrontado. Enquanto seus pais, Maxime (Patrick Bruel) e Tania (Cécile de France), são atletas, ele é um rapaz fraco e fechado, que tem um irmão imaginário. Este irmão, ao contrário dele, é forte, ágil e é o orgulho dos pais. São os anos 50 na França, captados pelo diretor Claude Miller em tons fortes e coloridos. O que há de errado com François? Por que a sensação de que há “fantasmas” na vida de seus pais?

“Um Segredo em Família” é baseado na história real de Philippe Grimbert e mostra a ferida do Holocausto de outra forma. François nasceu em uma família judaica e foi circuncidado quando criança, como pregam os ritos. Um pouco mais velho, no entanto, ele é batizado católico pelos pais. Como toda criança, ele capta trechos de conversas sussurradas pelos adultos e constrói sua própria fantasia sobre como os pais se conheceram, se apaixonaram e se casaram. A verdade, porém, é muito mais sombria, e quando adolescente François descobre que há mais verdades na história de seu irmão “imaginário” do que ele pensava.

A trama do filme é muito mais interessante do que o modo como a história é contada. Duas histórias se desenrolam na primeira parte, os anos 50 na França (em colorido) e trinta anos depois, em 1985, em um preto e branco apagado. Estas cenas nos anos 80 mostram François (o ótimo Mathieu Almaric) como um terapeuta especializado em crianças com problemas. Seu pai está desequilibrado com a morte do cachorro, que foi atropelado, e François ainda tem memórias dolorosas da infância. O meio do filme, com François já adolescente, marca o início de outra história, que se passa antes da II Guerra Mundial e revela quem era o irmão “fantasma” de François, um garoto chamado Simon. Seu pai era casado com outra mulher, Hannah (Ludivine Sagnier), mas nutria uma paixão secreta pela cunhada, Tara. A história é muito interessante, mas o filme ganharia com uma narrativa mais linear. O nazismo começa a estender suas garras e os judeus franceses são obrigados a usar a Estrela de Davi, para desgosto de Maxime, que se recusa. Interessante o espelhamento das imagens entre François, no início do filme, e Simon, nesta segunda parte. Simon é um garoto atlético como o pai, e Hannah é a típica esposa judaica perfeita. Mas a atração física cada vez maior que Maxime sente por Tara começa a ficar aparente, o que leva a uma tragédia quando a família tenta fugir dos nazistas para o outro lado da fronteira.

O diretor Claude Miller, que foi gerente de produção de vários filmes do mestre François Truffaut nos anos setenta, conduz muito bem o elenco e cria uma tensão palpável e não dita entre as duas mulheres de Maxime. A Segunda Guerra e o nazismo deixaram marcas na Europa e na Humanidade que se estendem até hoje. “Things all long gone, but the pain lingers on”, como diria uma letra de “The Wall”, do Pink Floyd. Em todas as guerras, as maiores vítimas são as crianças.



segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Uma garota dividida em dois

A moça do tempo Gabrielle Deneige (Ludivine Sagnier) é tão bela, jovem e inocente que não passa um dia sem receber alguma proposta indecorosa das pessoas com quem ela trabalha. O diretor da TV quer levá-la para jantar para conhecer algumas pessoas supostamente importantes para a carreira dela. Um velho e consagrado escritor, Charles Saint-Denis (François Berléand), que vai fazer uma entrevista na televisão, bate os olhos nela e fica interessado. Sua beleza também atrai a atenção de Paul Gaudens (Benoit Magimel), herdeiro rico e mimado de um laboratório farmacêutico. A mãe de Gabrielle é dona de uma livraria onde Charles vai fazer uma tarde de autógrafos, e é lá que ele a convida para sair no sábado seguinte. Paul Gaudens também comparece ao evento e também convida a garota para sair. O escritor é considerado um "bon vivant", um homem bem sucedido, casado com uma mulher que ele chama de "santa" (simplesmente porque ela faz vista grossa a suas traições) e que tem uma linda e madura assessora de imprensa chamada Capucine (Mathilda May). Ele vive em uma daquelas casas cheias de paredes de vidro no interior, onde escreve seus livros, mas mantém um apartamento na cidade, para onde leva suas amantes. É para lá que ele leva Grabrielle após ter passado a tarde com ela em um leilão de livros antigos. "Você pensa que sou idiota?" ela lhe pergunta, pouco antes de se entregar para ele. Consumado o ato, Charles a repele. Ela fica então à mercê das investidas do jovem e mimado Paul Gaudens.


"Uma garota divivida em dois" é um filme do veterano diretor francês Claude Chabrol, que já está com 78 anos, e que faz cinema desde os anos 1950. Chabrol dirige com classe, com elenco afinado. O roteiro é bem "europeu" (isto é, adulto), e lida com este triângulo amoroso de forma por vezes chocante. Nenhum dos personagens atrai muita simpatia da platéia (a não ser, talvez, a garota), e o filme expõe suas fraquezas, desejos e mesmo seus desvios. O velho escritor é mostrado como um homem realista ao ponto do cinismo ou da hipocrisia. Ele trata Gabrielle como um troféu por ele conquistado e usa frequentemente a palavra "amor", mas a trata como um fetiche sexual. A garota, por seu lado, ainda tem fantasias a respeito de romance e de afeição, mas também não quer parecer uma inexperiente ao lado do parceiro com idade para ser seu avô, e pede que Charles "lhe ensine". Já Paul é um jovem mimado que nunca teve que trabalhar um dia na vida e que vive na sombra do que foi seu pai e sob a tutela severa da mãe. Gabrielle, para ele, representa aquilo que o dinheiro não pode comprar. Ela a princípio repele suas investidas, mas diante dos problemas com Charles, ela começa a ceder. Mas será que Paul está preparado para lidar com ela?


O filme corre o risco de se tornar enfadonho quando um crime inesperado dá uma reviravolta na história e joga a personagem de Gabrielle em outro turbilhão de problemas. Estranhei um pouco o modo como Chabrol corta seu filme. Há sequências pouco interessantes que se arrastam desnecessariamente (como uma conversa entre a mãe de Gabrielle e um tio). Em outras sequências, Chabrol corta a cena justo no momento em que se espera algum tipo de reação importante dos personagens. O filme é um tanto frio e os personagens pouco simpáticos, mas há bons momentos e diálogos inteligentes. E o final, apesar de um pouco literal, é muito bom.