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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections, 2021)

Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections, 2021). Dir: Lana Wachowski. ATENÇÃO POSSÍVEIS SPOILERS Uma coisa que sempre usei quando tinha que criar alguma coisa e estava sem ideias é "quando faltar imaginação, apele para a metalinguagem". Este Matrix é pura metalinguagem. Como fazer uma continuação para uma das trilogias mais bem sucedidas e influentes de todos os tempos? Acho que a resposta da diretora Lana Wachowski foi: "não levando muito a sério".

E se Thomas Anderson (Keanu Reeves) não fosse "Neo", o "escolhido" pela profecia para salvar a Humanidade do jugo das Máquinas? E se, na verdade, ele fosse o bem sucedido criador de uma trilogia de jogos chamada "The Matrix"? É assim que o encontramos no início de "Resurrections". O CEO da empresa de jogos, interpretado por Jonathan Groff (de "Mindhunter"), chama Anderson para uma reunião e explica que a Warner Bros. pretende fazer uma quarta parte para "Matrix", com a participação dos criadores ou não. Por que não participar? É genial e, provavelmente, nada do que os "fanboys" da série estavam esperando. Anderson é um cara deprimido e paranoico. Ele come sempre na mesma lanchonete porque lá ele pode ver Tiffany (Carrie-Anne Moss), uma mulher por quem ele é secretamente apaixonado e, surpresa, se parece muito com uma personagem chamada "Trinity", que ele criou. Todos os dias ele toma uma pílula (azul, claro) receitada por seu psiquiatra (Neil Patrick Harris), para enfrentar as reuniões criativas do grupo que está desenvolvendo "Matrix 4".

Essa primeira parte, confesso, é minha favorita. É uma pena que "Resurrections" acabe se lembrando que tem que ser um filme da série "Matrix" e volte à trama de mundos paralelos, realidades virtuais, lutas de kung fu e muita, muita pancadaria. Essa parte, aliás, faz muito pouco sentido (embora seja legal rever Neo e Trinity dando porrada em um monte de gente). É certamente um filme para dividir opiniões. Como continuação de "Matrix", é bem mediano e bobo. Como autoparódia ele é quase genial. "O que as pessoas pensam quando escutam falar em Matrix?" pergunta um "criativo" em uma reunião. "Bullet time! Precisamos criar algo que supere o bullet time!". Haha. 

domingo, 30 de novembro de 2014

De Volta ao Jogo

"De Volta ao Jogo" é só clichês. Apesar disso, ou melhor, por causa disso, é um filme muito bom de se ver. Considere a sinopse: um assassino profissional chamado John Wick (Keanu Reeves, "Side by Side") havia se aposentado por causa do amor de uma mulher (Bridget Moynahan, vista apenas em flashbacks). Poucos dias depois dela morrer de uma doença, a casa de Wick é invadida por três membros da máfia russa. Eles não só roubam o Mustang 1969 de Wick como também matam seu cachorro. Pior: o cachorro havia sido um presente de despedida da esposa. Está armada a fórmula para um dos melhores filmes de vingança dos últimos anos.

Reeves está muito bem. Com inacreditáveis 50 anos, ele empresta ao personagem sua personalidade zen e várias das habilidades em artes marciais mostradas em filmes como "Matrix", há 15 anos. John Wick é puro profissionalismo. Em poucas horas ele descobre que quem roubou seu carro e matou seu cachorro foi Iosef Tarasov (Alfie Allen, da série "Game of Thrones"), filho do chefe da máfia russa, Viggo Tarasov (Michael Nyqvist, aquele tipo de vilão sofisticado que faz longos monólogos ao invés de simplesmente matar o inimigo). Há aqui outro clichê que remonta a filmes como "Duelo de Titãs" ("Last Train from Gun Hill", de John Sturges, 1959), em que a mulher de Kirk Douglas havia sido morta pelo filho de um antigo companheiro, interpretado por Anthony Quinn, e ele parte para a vingança. Alfie Allen também está muito bem, embora esteja praticamente reprisando Theon Greyjoy, seu personagem covarde e fraco de "Game of Thrones". (leia mais abaixo)


O que transforma a lista de clichês de "De Volta ao Jogo" em um bom filme? O elenco, que também conta com nomes como Willem Dafoe e John Legizamo, ajuda bastante. O filme brilha de verdade, porém, na ótima coreografia das cenas de tiroteio e luta, executadas como uma dança por Reeves e um exército de dublês (contei pelo menos cinquenta nos créditos). Há uma mistura de artes marciais e armas de fogo que lembra "Equilibrium", ficção-científica com Christian Bale de 2002. John Wick se move como um samurai; ao invés de ter uma katana nas mãos, empunha uma automática. E nestes tempos em que a maioria dos filmes americanos têm a classificação PG-13 (que significa violência disfarçada) é bom ver um filme feito diretamente para adultos. John Wick nunca dá apenas um tiro em seus opositores e geralmente finaliza com um tiro na cabeça. Há uma sequência passada em uma casa noturna em que os tiros parecem até pipocar em sincronia com a música.

"De Volta ao Jogo" é dirigido por dois ex-dublês de Hollywood, Chad Stahelski e David Leitch, o que explica a quantidade e precisão das cenas de ação. Filme macho das antigas (Steve McQueen estaria à vontade nele há 40 anos), o filme é diversão garantida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Viagem

O título brasileiro para "Cloud Atlas" não poderia ser mais apropriado (ou irônico). Feito a seis mãos, "A Viagem" é um épico que mistura gêneros, épocas e até mesmo raças para contar uma história geral a partir de seis tramas individuais. A direção, produção e roteiro é dos irmãos Andy e Lana Wachowski, criadores da série "Matrix", e do alemão Tom Tykwer, baseados em um livro escrito por David Mitchell. O filme é quase impossível de resumir. São várias histórias e diversos personagens interpretados por um mesmo grupo de atores, Tom Hanks (Tão Forte e Tão Perto), Halle Berry, Jim Sturgess, Jim Broadbent, Hugo Weaving (O Hobbit), Ben Whishaw (Skyfall), Doona Bae, Keith David e James Darcy, entre outros.

Em uma época em que os cinemas estão cheios de remakes, continuações e/ou adaptações de quadrinhos, é louvável que um filme original como este tenha sido feito. O problema com "A Viagem" é que ele promete muito mais do que efetivamente cumpre. A campanha publicitária para a produção, que foi um fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, foi enorme e um trailer de aproximadamente seis minutos foi exibido por vários meses no Brasil, enaltecendo o lado "inspirador" e de "autoajuda" do filme, com direito a um narrador tentando explicar a história ao dizer que "tudo está conectado".

As tramas lidam, basicamente, com situações que mostram uma classe superior explorando uma classe inferior. No século 19, Jim Sturgess é um advogado que faz amizade com um escravo fugitivo que entrou como clandestino em um navio. Nos anos 1930, Ben Whishaw é um músico homossexual que começa a trabalhar para um grande (mas decadente) compositor interpretado por Jim Broadbent. Nos anos 1970, Halle Berry é uma jornalista que está investigando uma empresa corrupta que explora a energia nuclear. Em 2012, Jim Broadbent é um editor de livros que é enviado contra própria vontade a  uma casa de repouso e tenta escapar. Em um futuro distante, na "Nova Seoul", Coréia, uma garçonete-clone chamada Sonmi-451 é recrutada pela rebelião para ser a líder da resistência contra a "Unanimidade". Um século depois, Tom Hanks vive em um mundo pós-apocalíptico em que sua tribo (que vive em um estado quase pré-histórico) convive com uma raça superior representada por Halle Berry, que quer enviar um sinal para colônias espaciais. Em todas estas histórias há uma relação entre uma casta superior e outra inferior, praticamente escrava, que quer se rebelar. Algumas tramas são muito mais interessantes que outras, em particular as que envolvem Ben Whishaw como músico, a Coréia futurista e principalmente a sociedade pós-apocalíptica vivida por Tom Hanks. Outras tramas são indiferentes ou mesmo desnecessárias; a que se passa na casa de repouso pode ter algumas das poucas cenas engraçadas do filme (que no geral é bastante sério), e Jim Broadbent é sempre um ótimo ator, mas poderia ser facilmente descartada.

O problema com as tramas principais é que todas, apesar de uma edição bem feita que as conecta, criam um suspense e uma expectativa de que "algo" muito relevante vai acontecer no final, prometendo uma "revelação" que não chega. Por mais interessante que seja a história da clone coreana vivida por Doona Bae, fica difícil entender porque a resistência precisa dela; o que é que ela tem a oferecer? Esta trama, aliás, lembra muito o próprio "Matrix" dos irmãos Wachowski e é fácil entender o que os atraiu para este roteiro. Na trama protagonizada por Tom Hanks e Halle Berry, eles sobem uma montanha e o espectador fica esperando que algo espetacular seja encontrado lá em cima, mas não. E quem é aquela figura sombria, vestindo uma cartola e totalmente fora de lugar, que fica assombrando o personagem de Hanks? E para um filme que supostamente quer celebrar a "vida", "A Viagem" apresenta algumas saídas discutíveis para alguns personagens, particularmente um que escolhe o suicídio. Tecnicamente impecável, "A Viagem" tem boa fotografia, edição, efeitos especiais e, claro, maquiagem. Nos créditos, aliás, é possível ver os personagens que cada ator interpretou. "A Viagem" é ambicioso e original mas, com quase três horas de duração, é um espetáculo interessante enquanto está sendo visto, mas que não deixa sua marca ao final.