Mostrando postagens com marcador alexandre desplat. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador alexandre desplat. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Renoir

Ambientado nas belas paisagens da Riviera Francesa, em 1915, "Renoir" mostra o ocaso de um grande artista e o nascimento de outro. O pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir (Michel Bouquet, muito bem no papel) estava com 74 anos e sofria com uma artrite aguda que quase o impedia de usar as mãos para pintar. O pintor é visto sendo carregado alegremente de um lado a outro de sua grande propriedade por um grupo de mulheres que, ao instalá-lo em uma paisagem, acabavam também posando para ele. Eram todas, na verdade, ex-modelos que foram ficando e terminaram como suas empregadas (há também a sugestão de que muitas tenham sido suas amantes). Na mesma época, chega da guerra (a I Guerra Mundial) o filho de Pierre-Auguste, Jean, que viria a se tornar o grande cineasta Jean Renoir (Vincent Rottiers). No momento, porém, ele só está interessado em se curar das feridas sofridas no campo de batalha e voltar para o front.

A vida de pai e filho é sacudida com a chegada de uma nova modelo chamada Andrée (Christa Theret). A garota diz que veio posar para o grande pintor, que fica impressionado com ela e volta a pintar todos os dias, apesar das dores provocadas pela artrite. A beleza da moça acaba também mexendo com o jovem Jean Renoir, mas o roteiro não se desenrola da maneira como se espera. Esta sinopse (e o trailer do filme) podem dar a entender que "Renoir" se trata da disputa entre pai e filho pelo amor de uma mesma mulher, mas não. Dirigido por Gilles Bourdos, o filme está mais interessado em mostrar como a beleza influencia a arte, e vice-versa. A ótima direção de fotografia de Mark Ping Bing Lee enche a tela de cores fortes e quentes, como os vermelhos dos pimentões sobre a mesa da cozinha, ou os cabelos ruivos de Andrée ou o amarelo das flores dos campos. Tudo regado pela trilha sonora de Alexandre Desplat.


Filmes sobre artistas costumam seguir algumas convenções, e "Renoir" não é exceção. A obsessão do pintor é retratada em diversas cenas que mostram a dor do artista ao querer pintar debilitado pela artrite, ou então nos problemas familiares causados por seu amor à arte. Por diversas vezes os personagens citam uma esposa que teria morrido recentemente, mas por vezes fica difícil entender quando (ou se) ela morreu. Quando a garota chega à casa de Renoir, por exemplo, ela diz que foi enviada pela esposa dele. "Uma desconhecida enviada por uma morta", diz o velho, filosoficamente. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto de nove anos que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro de 2001. Naquela manhã, Oskar chegou mais cedo da escola e encontrou algumas mensagens gravadas pelo pai na secretária eletrônica, seus últimos registros com vida. A mãe (Sandra Bullock) realizou um enterro simbólico com um caixão vazio, coisa que o pequeno Oskar não consegue aceitar. Ele não é um garoto comum. Extremamente inteligente mas pouco sociável (com suspeita de que seja portador da Síndrome de Asperger), Oskar não consegue digerir a ideia da morte do pai, de quem era muito próximo. Thomas Schell (Tom Hanks, visto em flashbacks) também não era um pai comum. Joalheiro de profissão, ele queria ter sido um cientista e gostava de desafiar o filho com missões estranhas como encontrar provas da existência de um sexto bairro de Nova York, que teria desaparecido.

Um ano após os atentados, Oskar encontra no quarto do pai um misterioso envelope em que está escrita a palavra "Black". Dentro do envelope há uma chave. Acreditando ser um desafio deixado pelo pai, o garoto cria um método para visitar as 472 pessoas com sobrenome "Black" da cidade de Nova York, para descobrir que porta aquela chave abre. "Tão Forte e Tão Perto" é baseado no livro "Extremely Loud & Incredibly Close", de Jonathan Safran Foer. Dirigido por Stephen Daldry ("O Leitor"), com roteiro de Eric Roth ("Forrest Gump") e trilha de Alexander Desplat, o filme tem uma premissa interessante, mas peca pela falta de bom senso. Por mais brilhante que seja o garoto, é necessária uma boa dose de fé para acreditar que Oskar, com nove anos de idade, consiga se virar sozinho pelas ruas de uma cidade como Nova York. E mais, Oskar sofre de vários tipos de fobias (ele se recusa a andar de metrô, por exemplo), o que torna sua missão ainda mais inacreditável. A interpretação do garoto e a boa qualidade técnica em geral, no entanto, conseguem criar suspense suficiente para, ao menos no princípio, tornar o filme interessante. Tom Hanks (e mesmo Sandra Bullock) estão muito bem e o elenco é complementado pela participação especial de Max von Sidow, que aos 82 anos interpreta um senhor que se torna parceiro de Oskar em parte de sua jornada.

O "espectro" do 11 de setembro paira sobre toda a obra e há certa verdade nas acusações de que tanto livro quanto filme explorem a tragédia para arrancar lágrimas da platéia. A parte final, quando se descobre que a mãe de Oskar sabia mais do que aparentava, torna a trama ainda mais absurda e até cruel. O que o garoto precisava é de uma boa terapia para lidar com a morte violenta do pai e não de uma aventura improvável, sozinho, em uma das cidades mais perigosas do mundo. O filme foi feito a toque de caixa para coincidir com o aniversário de dez anos dos atentados, mas foi lançado só no final de 2011 nos Estados Unidos e chega ao Brasil dia 24 de fevereiro. O veterano Max von Sidow recebeu uma indicação (merecida) ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas "Tão Forte e Tão Perto" surpreendeu a todos com a indicação a Melhor Filme, sem nenhuma outra indicação a prêmios importantes como direção ou roteiro. Se ganhar, vai ser uma das maiores zebras do Oscar.


sábado, 20 de agosto de 2011

A Árvore da Vida

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Deus existe? E se existe, como pode permitir que coisas ruins aconteçam? Estamos sós no Universo? O que é estar vivo, afinal? Estas são as perguntas básicas que os seres humanos fazem desde o início dos tempos, e campos de conhecimento como a filosofia, a psicologia ou as religiões tentam responder. São questionamentos fascinantes mas, também, extremamente básicos, e lidar com eles pode resultar em obras baratas de auto-ajuda ou em obras-primas. O diretor Terrence Mallick não se intimidou e fez um filme que é extremamente pretensioso, sim, e lembra os tempos em que diretores como Stanley Kubrick não tinham medo de desafiar o público. Curioso também que o filme de Mallick tenha sido produzido e lançado praticamente no mesmo período que Melancolia, de Lars von Trier, e é uma experiência singular vê-los com poucas semanas de diferença. Há várias ligações, tanto temáticas quanto visuais, entre as duas obras.

A Árvore da Vida era um projeto antigo de Terrence Mallick que, como diretor, se dá ao luxo de só produzir quando está absolutamente pronto para um projeto. O enredo pode ser descrito em poucas palavras. Uma típica família americana do pós guerra perde um de seus três filhos quando ele tem 19 anos. A morte do rapaz provoca reações de dor, consusão, revolta e questionamentos. Mallick, auxiliado pela espetacular fotografia de Emmanuel Lubezki, filma quase tudo com lentes grande angular montadas em câmeras que se movimentam constantemente. Não é aquela movimentação epilética e desnecessária dos filmes de Michael Bay; a câmera de Mallick é como um "espírito" percorrendo os cenários ou circulando os personagens. É, talvez, a visão de "Deus". Cada plano é como um pequeno filme acompanhado pela bela trilha sonora de músicas clássicas ou original, composta por Alexandre Desplat.

Os questionamentos da mãe (Jessica Chastain, sublime) a Deus e ao próprio Universo levam a um flashback que literalmente transporta o espectador para a origem dos tempos. Uma sequência claramente baseada em 2001 enche a tela de galáxias e aglomerados estelares, com efeitos especiais produzidos, em parte, por Douglas Trumbull (lendário técnico de filmes como 2001, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Blade Runner, entre outros). Vale repetir, Mallick não tem medo de ser pretensioso. O resultado é uma obra que, para surpresa negativa de vários frequentadores dos cinemas de shoppings, está longe de ser "um filme do Brad Pitt". É mais apropriado classificar A Árvore da Vida como um filme experimental, uma obra audiovisual que lembra Koyaanisqatsi (de Godfrey Reggio) e Baraka (de Ron Fricke), compostos inteiramente por imagens e música. A diferença é que, ao contrário dos exemplos citados, há um lado humano bastante presente no filme de Mallick. A típica família americana dos anos 50 é representada pelo Sr. O´Brien (Brad Pitt), um self made man que trabalha duro, sustenta (e oprime) a esposa e tenta ensinar aos três filhos o que é "ser homem". Não é uma tarefa fácil. Jack (Hunter McCraken), o filho mais velho, tem que lidar com a rididez do pai e com as dificuldades de se tornar adulto. A Sra. O´Brien, a mãe, é quase uma irmã para os três filhos homens, mas carrega aquela sabedoria e amor que só a maternidade ensina.

Falar mais é desnecessário. "A Árvore da Vida" deve ser mais sentido do que explicado. Não é um filme fácil e Mallick se equilibra em uma linha tênue entre o sublime e o patético. Na comparação com Melancolia, o filme de Terrence Mallick é mais esperançoso, embora também mostre como o Universo, ou a Natureza, ou Deus, ou seja lá como se pode nomear o grande mistério da existência, é ao mesmo tempo generoso e implacável. Seja você humano ou um ser pré-histórico, recém saído do mar e dando os primeiros passos na areia.