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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Elefante Branco

A força de Ricardo Darín ("Um conto chinês", "O segredo de seus olhos") é tamanha que basta um plano para estabelecer todo um personagem. E é o rosto dele que abre "Elefante Branco", mais uma parceria entre o grande ator argentino e o diretor Pablo Trapero. Os dois trabalharam juntos no barra pesada "Abutres", um retrato cruel da máfia das indenizações na Argentina. 

Em "Elefante Branco", Trapero e Darín mergulham nos problemas de uma enorme favela nas cercanias de Buenos Aires onde moram 30 mil pessoas. Darín é o padre Julián, o pároco que reza missas, faz batismos coletivos, ajuda menores infratores e toca um projeto de revitalização de uma área dominada pelo "elefante branco" do título: um imenso prédio abandonado que havia sido construído décadas antes para ser o maior hospital da América Latina, promessa que ficou só no esqueleto. O padre é ajudado por uma assistente social engajada, Luciana (Martina Gusman, também de "Abutres") e por um padre belga chamado Nicolás (Jérémie Renier, de "O Garoto da Bicicleta"). Nicolás sente-se mal por haver sobrevivido a uma chacina em uma vila na Amazônia Peruana e foi recrutado pelo padre Julián para tomar seu lugar.  O personagem de Ricardo Darín esconde um segredo: está com um diagnóstico médico fatal e, provavelmente, não tem muito tempo de vida.

Pablo Trapero dirige com ousadia em longos planos sequência que acompanham os atores por entre os andares do prédio em ruínas e vai com eles até a capela caindo aos pedaços que Julián chama de sua "paróquia". As questões políticas são mostradas de frente pela lente de Trapero, que denuncia a omissão do Estado e a opulência mal disfarçada da Igreja. Julián tenta fazer a ponte entre a pobreza da favela, com seus traficantes de drogas, viciados e pessoas passando necessidades com o bispado, que não quer se envolver politicamente na região. A questão do celibato também é colocada em cheque. O jovem padre Nicolás e a bela Luciana acabam se envolvendo física e emocionalmente e o filme encara o romance proibido dos dois de forma pragmática, não descambando para o melodrama. Eles têm uma missão a cumprir e são conscientes disso, apesar de não negarem a atração que sentem um pelo outro. Tudo culmina com uma sequência impressionante de desocupação da área pela polícia argentina que Trapero orquestra com maestria. Filme pesado e forte que trata de questões atuais e relevantes. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Abutres

Dirigido por Pablo Trapero, "Abutres" é um retrato visceral da máfia das indenizações na Argentina. Um letreiro informa que morrem oito mil pessoas por ano em acidentes de trânsito, cem mil pessoas na última década, em nosso país vizinho. Héctor Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que teve a licença revogada e que agora presta serviços para uma organização chamada de "Fundação". Eles são especialistas em negociar com as companhias de seguros em nome das vítimas de trânsito, ficando com quase todo o dinheiro. Sosa é um "abutre", assim chamado por passar a noite seguindo ambulâncias e procurando por clientes em potencial em hospitais, nas ruas e até mesmo em velórios.

Luján (Martina Gusman) é uma médica que trabalha atendendo vítimas em longos plantões. Sua primeira imagem a mostra se injetando uma droga que a mantém calma e capaz de enfrentar a estressante jornada de trabalho. Luján e Sosa se conhecem quando ela é chamada para atender um acidente. Ele já está no local, aparentemente prestando socorro à vítima, quando a ambulância chega. Os dois passam a se encontrar várias vezes em outras ocorrências e começam um romance conturbado. Ricardo Darín ficou conhecido no mundo como o ator preferido do diretor Juan José Campanella, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro ano passado com o ótimo "O Segredo dos seus Olhos". Gusman é sócia do diretor Pablo Trapero na "Matanza Cine", produtora de "Abutres".

Trapero rodou o filme com a câmera digital RED, e a imagem é um misto de cinematográfico e jornalístico. "Abutres" é um filme bastante cru e, por vezes, chocante. A máfia das indenizações não se limita a explorar acidentes comuns, mas também em forjá-los. Há uma cena bastante forte em que Sosa aplica um remédio em um "cliente" e, enquanto conversa com ele, pega uma marreta e lhe quebra a perna. Claro que suas atividades não serão bem aceitas por Luján, que ainda tenta manter alguma ética médica. Sosa também está querendo largar tudo, mas seus superiores, através de ameaças físicas e psicológicas, não vão deixar.

Há vários planos sequência muito bem filmados pelo diretor de fotografia Julián Apezteguia, que mantém a câmera na mão e enquadra os personagens de forma documental. O plano final é brilhante, um belo trabalho de fotografia, direção e interpretação dos atores. E o cinema argentino, novamente, mostra como se podem fazer filmes sérios aqui por nossas bandas.