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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Doutor Estranho (2016)

O Dr. Stephen Strange surgiu nos quadrinhos em 1963, criado a quatro mãos pelo "mago" Stan Lee e pelo desenhista Steven Ditko (os mesmos que criaram o Homem Aranha). As tramas do Dr. Estranho eram passadas em "multiversos" e mundos paralelos que ecoavam o psicodelismo dos anos 1960. Foi tão influente que o Pink Floyd não só citou o doutor nas letras de uma canção (Cymbaline, do álbum "More", 1969) como os quadrinhos serviram de base para a capa do segundo álbum da banda, "A Saucerfull of Secrets" (1968). Em troca, podemos escutar "Interstellar Overdrive", do Floyd, em cena chave do filme atual.

Strange chega à tela grande na forma de Benedict Cumberbatch e baseado em efeitos especiais tão mirabolantes que deixariam Christopher Nolan zonzo. Há cenas impressionantes (que lembram algumas cenas de "A Origem", de Nolan) em que os magos da Industrial Light & Magic retorcem não só ruas, mas cidades inteiras. "O que você colocou no meu chá?", Cumberbatch pergunta a Tilda Swinton no primeiro encontro entre eles, no Nepal.

Cumberbatch interpreta Strange com a competência de sempre, misturando um pouco a genialidade  (e arrogância) de seu Sherlock Holmes com outros papéis que interpretou, como o matemático Alan Turing. No início do filme encontramos Strange como um cirurgião que é a estrela do hospital em que trabalha. Sua habilidade na mesa de cirurgia só não é maior que seu ego. Tudo parece perdido em uma noite em que Strange sofre um acidente de carro que deixa graves sequelas. Inconformado por não encontrar a cura na medicina tradicional, Strange parte para o Nepal onde vai se encontrar com a "Anciã" (Swinton, divertida, cuja escalação causou polêmica pelo fato de terem escolhido uma mulher branca para interpretar uma oriental). O filme pisa fundo na psicodelia e a Anciã mostra a um cético Strange os "multiversos" e suas ramificações.

Mads Mikkelsen interpreta Kaecilius, um ex-pupilo da Anciã que mudou "para o lado negro da Força" e está tentando conjurar um feitiço para atrair um grande vilão que vive em um mundo além do Tempo. O elenco ainda conta com Chiwetel Ejiofor como um seguidor da Anciã e uma desperdiçada Rachel McAdams como uma médica que é o interesse amoroso de Strange.

A trama segue o mesmo padrão "vilão-maluco-que-quer-poder-eterno" de tantos outros filmes, misturado a muita filosofia de biscoito da sorte, viagens astrais, loops temporais e cenas visualmente interessantes. Nem tudo funciona, o filme poderia ser mais curto e mais focado, por exemplo. A trilha sonora de Michael Giacchino lembra muito os temas que ele criou para os últimos filmes de Star Trekm as ainda é inspirada.

Com altos e baixos e em meio a tantos filmes de super heróis, "Doutor Estranho" é uma viagem e tanto. 

João Solimeo

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha

Crianças gostam de escutar a mesma história várias vezes. Assistem ao mesmo desenho animado repetidamente, pedem para os pais lerem a mesma história antes de dormir todas as noites. Hollywood, acusada há tempos de infantilizar as plateias do mundo, já se aproveitava desta característica humana fazendo continuações desnecessárias de filmes de sucesso, arrecadando bilheterias astronômicas apostando no que é certo, ao invés de arriscar em novas histórias.

Eis que surge um "novo" Homem-Aranha, lançado apenas cinco anos desde que o "velho" Homem-Aranha voava pelos prédios de Nova York em "Homem-Aranha 3", em 2007; há meros dez anos, Tobey Maguire interpretava Peter Parker, o jovem fotógrafo que era picado por uma aranha geneticamente modificada e se transformava em um super-herói. O filme de Sam Raimi foi um grande sucesso e teve uma segunda parte, ainda muito boa, seguida por um terceiro filme longo e decepcionante.

Seja para mudar a má impressão deixada pelo terceiro filme, ou para começar outra franquia de sucesso, os estúdios da Marvel fazem um reboot no personagem e começam tudo de novo, agora com Andrew Garfield (de "A Rede Social") no papel de Parker. Tirando todas as considerações de marketing de lado e o fato de que "O Espetacular Homem-Aranha" é um filme desnecessário, a produção dirigida por Marc Webb é competente e divertida. Garfield faz um Peter Parker menos "chorão" que Maguire, e o roteiro segue por outro caminho na história do personagem. Antes mesmo do trauma de ver o Tio Ben (Martin Sheen) ser morto por um bandido, Peter Parker começa o filme como uma criança que é abandonada por pai e mãe. O pai era um geneticista que, junto com um colega misterioso chamado Curt Connors (Rhys Ifans), estava desenvolvendo um soro capaz de transferir as características regenerativas de certos animais para os seres humanos. É uma das aranhas criadas pela Oscorp, empresa onde o pai de Parker trabalhava, que pica Peter Parker e o transforma no Homem-Aranha. Connors é um cientista que não tem o braço direito e sonha com a possibilidade de ser "curado". Claro que algo dá errado e, após uma overdose do soro, ele se transforma em um lagarto gigante que aterroriza Nova York. O roteiro, bem humorado, faz as piadas apropriadas relacionando o fato aos filmes japoneses de Godzilla.

Kirsten Dusnt é substituída por Emma Stone ("Amor a Toda Prova") e seus grandes olhos azuis no papel de Gwen Stacy, o novo interesse romântico de Parker. O Homem-Aranha sempre foi o super-herói mais adolescente do cartel da Marvel, e grande parte do filme se passa nos corredores do ginásio onde Parker e Gwen estudam. Há boas cenas românticas entre os dois e o roteiro surpreende pela rapidez com que Peter Parker revela seu segredo a algumas pessoas. Denis Leary, ótimo ator coadjuvante, está bem como um íntegro capitão de polícia que não gosta nada quando o Aranha começa a perseguir bandidos pela cidade. Mas "O Espetacular Homem-Aranha", apesar de bom, não deixa de ser mais do mesmo; continuações são esperadas. Divertido, mas desnecessário.

sábado, 28 de março de 2009

Watchmen

Sempre que se faz uma adaptação de um livro ou HQ para cinema há quem diga que o material original era melhor. Que a forma escrita tem mais possibilidades de descrever os estados de alma dos personagens ou clarificar partes da trama que a tela do cinema não consegue. Quando o material original é uma HQ, a transcrição fica teoricamente mais fácil, pois o suporte original já é visual, quase um storyboard pronto para ser filmado. Ainda assim, quando se trata de uma graphic novel extensa e profunda como "Watchmen" (escrita por Alan Moore e desenhada por David Gibbons) , a contraparte cinematográfica pode sair prejudicada. O debate tem sua razão de ser, embora não seja muito útil. Livro é livro e filme é filme. O melhor, talvez, seja se aproximar da forma cinematográfica sem ter conhecimento do material original. Foi meu caso em Watchmen. Sem ter lido os quadrinhos, pude ver o filme sem preconceitos e de um ponto de vista puramente cinematográfico. O resultado foi um filme extremamente bem feito, profundo e até perturbador. Uma história de super-heróis de adultos para adultos, com quase três horas de duração, o que pode explicar a recepção morna nas bilheterias.

Watchmen é passado em uma versão alternativa de 1985. Os Estados Unidos, como na "vida real", estão em plena Guerra Fria contra a União Soviética, mas com mudanças importantes. Vigilantes fantasiados existiam desde o começo do século e tiveram papel crucial em momentos históricos como a II Guerra Mundial, a administração Kennedy e, principalmente, na Guerra do Vietnam que, neste mundo paralelo, foi vencida pelos EUA. A "arma" principal dos americanos existe na forma de um musculoso homem azul chamado Dr. Manhattan (em referência ao Projeto Manhattan, que criou a bomba atômica). Ele é o único super-herói com poderes reais, adquiridos durante um acidente com uma experiência nuclear na década de 1950. Quando o Dr. Manhattan interfere no Vietnam, como uma espécie de gigantesco "deus" que pulveriza o inimigo de forma fria e precisa, os vietnamitas se renderam. Mas, assim como a bomba atômica não garantiu a paz mundial, a existência do Dr. Manhattan (Billy Crudup) também não, e o mundo de 1985 está em vias de ser destruído por uma hecatombe nuclear. Os Vigilantes, declarados ilegais pelo presidente Nixon, estão assustados pelo assassinato do Comediante (Jeffrey Dean Morgan), um de seus principais membros. O enigmático Rorschach (Jackie Earle Haley) começa uma investigação que alerta os outros Watchmen, o "Coruja" (Patrick Wilson), Ozymandias (Matthew Goode) e Espectra (Malin Ackerman).

Lançada em 12 volumes entre os anos de 1986 e 1987, "Watchmen" foi uma das mais importantes graphic novels do gênero. Alan Moore partiu de influências como 1984, de George Orwell, e de toda uma mitologia pré-existente no mundo dos quadrinhos para criar um universo sombrio e profundo, em que os super-heróis também sofrem os problemas de todo ser humano de carne e osso. A adaptação cinematográfica levou longos anos para finalmente ver a luz do dia, passando por dezenas de diretores e roteiristas diferentes. Quando Zack Snyder lançou a fantástica adaptação de "300" para o cinema, seu nome foi escolhido para lidar com "Watchmen". O filme é um espetáculo não só visual mas sonoro. Uma seleção musical inspirada (coisa que os quadrinho não poderiam passar) dá nuances extras ao roteiro e é composta por canções como "The Times are A-Changing'", de Bob Dylan, "All Along the Watchtower", de Jimi Hendrix e "Hallelujah", de Leonard Coen. Questão de gosto pessoal, a escolha mais inspirada foi a da trilha de "Koyaanisqatsi", de Philip Glass, para as sequências passadas em Marte. A música "alienígena" de Glass se ajusta perfeitamente ao visual extra-terrestre do planeta vermelho, habitado apenas pela figura estilizada do Dr. Manhattan.

Mas seria Watchmen uma obra datada? Durante a sessão em que estive presente, testemunhei pelo menos três casais adolescentes abandonando o filme em diferentes momentos. Teria o público jovem repertório para acompanhar o que se passa na tela? Eles sabem quem foi Richard Nixon, ou mesmo quem ganhou a guerra do Vietnam? Darren Aronofski, um dos diretores cotados para dirigir o longa, era de opinião de que a trama deveria ser transportada para os tempos atuais e substituir o Vietnam pela guerra do Iraque. Seria, claro, um "sacrilégio" para os fãs da série original, mas talvez a frieza com que o filme foi recebido nas bilheterias possa ser explicada pela falta de identificação dos jovens de hoje com os temas do filme.


sábado, 23 de agosto de 2008

Curtas em Sampa


Hoje fui ao Centro Cultural São Paulo assistir a alguns curtas da 19a. edição do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. O festival vai até dia 29 de Agosto, em várias salas da capital paulista. Acompanhei duas sessões de curtas, às 16h e 18h, divididos em "Panorama Paulista 2" e "Mostra Brasil 1". Minhas impressões:

Panorama Paulista 2


- Ecos da Terra - direção: Paulo Abel (dur: 9 minutos) : filme interessante e ecologicamente correto. Uma moça (Bia Gomes) é colocada na calçada de uma grande cidade no lugar de uma árvore. O curta mostra como as pessoas cometem todo tipo de abuso com a pobre "árvore", como cuspir, marcar as iniciais, amarrar, expor à poluição, e assim por diante. As ações parecem mais fortes porque são feitas com a garota.

- O Cineasta, A Menina, O Homem-Sanduíche - direção: Daniella Saba (dur: 14 min): curta de conclusão de curso de cinema da FAAP (onde estudei). Infelizmente o áudio da cópia estava muito ruim, principalmente a trilha sonora, que estava "rachando" o tempo todo. O roteiro é interessante, um tanto quanto simbólico. Uma garota de rua acredita que pode hipnotizar as pessoas. Um jovem cineasta tenta conseguir apoio financeiro para seu filme. Um senhor (que trabalha carregando placas de publicidade no peito e nas costas, o "homem sanduíche" do título) está tentando recuperar um grande amor. Os três falham, mas há lugar para esperança.

- São Carlos/68 - direção: João Massarolo (dur: 18 min): documentário sobre a greve dos funcionários do Frigorífico São Carlos, em 1968. O frigorífico abriu falência e os funcionários, sem receber há meses e passando fome, começaram a organizar passeatas em pleno regime militar. Estas manifestações foram duramente combatidas pela polícia. O documentário consiste de várias entrevistas entrecortadas por vinhetas que recriam os enfrentamentos com a polícia. Achei que estas vinhetas, apesar de bem feitas, chamam muita atenção e destoam um pouco com o visual do documentário.

- Mar de Dentro - direção: Paschoal Samora (dur: 13 min): classificado como documentário, o filme me pareceu mais um belo exercício visual sobre a relação de um grupo de pescadores com o mar. A fotografia de Cristiano Wiggers é maravilhosa e capta os personagens em elegantes movimentos de câmera, enquanto escutamos suas histórias. Paschoal Samora tem uma bela carreira como documentarista e assisti seu "Diários de Naná", sobre o músico Naná Vasconcelos, no festival "É Tudo Verdade". "Mar de Dentro" ainda tem alguns planos do deserto, um mar de areia, contrapondo com as cenas da água. Bom filme.

- Cotidiano - direção: Joana Mariani (dur: 17 min): antes da sessão começar a diretora disse à platéia que o projeto havia sido feito sem dinheiro oficial, apenas com a ajuda de um grupo de amigos. Eu já estava esperando um video digital de baixa qualidade, mas "Cotidiano" não tem nada de amador. Filmado em película e muito bem feito, o filme mostra um dia na vida de uma mulher comum (Carla Ribas), executando tarefas rotineiras como preparar o café, lavar a roupa e esperar pelo marido.

Terminada a sessão das 16h, soube que os convites para a sessão das 18h já haviam se esgotado. Já estava indo embora quando cruzei com Daniel Rezende na saída. Rezende é um grande montador brasileiro, responsável pela edição de filmes como "Cidade de Deus" e o inédito "Blindness", de Fernando Meirelles, e de "Tropa de Elite", de José Padilha. Na sessão das 18h seria exibido "Blackout", curta de estréia na direção de Rezende, que eu muito queria assistir. Não tive dúvida, fui atrás dele e expliquei a situação. "Mandou bem", disse ele, bem humorado, e me deu um convite para a sessão.

Mostra Brasil 1


- Les Terras di Nadie - direção: César Meneghetti (dur: 5 min): filme experimental muito interessante mostrando diversas situações de guerra e confronto. Uma voz de mulher sussura o tempo todo frases que são mostradas na tela, em cinco línguas diferentes.

- O Presidente dos Estados Unidos - direção: Camilo Cavalcante (dur: 23 min): tragicomédia absurda (e ótima) sobre um homem que enlouquece assistindo a George W. Bush declarar guerra ao Iraque, na televisão. O homem é um trabalhador comum que ficou um tempo afastado do trabalho e cuja esposa dedicada tenta fazê-lo retornar à realidade. Ele acha que é o Presidente dos Estados Unidos e que precisa ligar para o Pentágono para planejar a guerra. O público deu gargalhadas em vários momentos, como quando o marido faz a mulher ligar para o Pentágono (na verdade, uma escola com este nome que ele achou na lista telefônica) e chamar o General Eisenhower. O filme vai ficando cada vez mais sério e trágico conforme avança, tão absurdo quanto as notícias mostradas na televisão.

- Dossiê Rê Bordosa - direção: César Cabral (dur: 16 min): espetacular animação com bonecos que, em forma de documentário investigativo, tenta desvendar o caso da morte da personagem Rê Bordosa, do cartunista Angeli. A animação é muito boa e foi feita quadro a quadro pelo próprio diretor, em um processo que levou um ano (mais seis meses de pós produção). O roteiro, engraçadíssimo, conta com a presença de outros personagens de Angeli, como Bob Cuspe e Bibelô, além de amigos e colegas, todos transformados em bonecos animados. Clássico instantâneo.

- Café com Leite - direção: Daniel Ribeiro (dur: 18 min): conta a história de um casal de homossexuais, Danilo e Marcos, que tem que lidar com uma mudança brusca em suas vidas. Os pais de Danilo (Daniel Tavares) morrem e o rapaz fica responsável por cuidar do irmão pequeno, Lucas (Eduardo Melo). O roteiro é muito bom, o filme é muito bem dirigido e o elenco se porta de forma natural, com destaque para o garoto.

- Blackout - direção: Daniel Rezende (dur: 10 min): curioso que um montador famoso pelos cortes rápidos de "Cidade de Deus" tenha decidido fazer seu primeiro filme em um longo plano sequência. Um deputado suplente (Wagner Moura) e um Assessor da Assembléia Legislativa (Augusto Madeira) entram em uma sala em Brasília para fumar um baseado e fofocar sobre um outro deputado, que estaria em apuros. Há boatos de que este deputado estaria transando com a esposa de um governador e que um escândalo está para acontecer. É então que eles percebem que há uma bomba no fundo da sala. Para piorar, a bomba está amarrada ao deputado de quem eles estavam falando. Para piorar (sempre pode ficar pior, diz Wagner Moura em uma frase do filme), a porta da sala está emperrada e um blackout acontece em Brasília, deixando todos no escuro. O curta é todo filmado de um único ponto de vista, o da bomba no fundo da sala, e é muito bem dirigido. Rezende, em um debate após a sessão, disse que o plano sequência também tem edição, só que ela é feita no próprio set de filmagem. O curta foi rodado em apenas um dia, após alguns dias de ensaio, e tem a fotografia de César Charlone e montagem de Valéria de Barros. Charlone, a propósito, faz uma ponta no curta como o político amarrado à bomba.


Veja a programação completa do Festival aqui