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terça-feira, 13 de abril de 2021

Coded Bias (2020)

 

Coded Bias (2020). Dir: Shalini Kantayya. Netflix. Bom documentário que segue de perto o que foi apresentado em "O Dilema das Redes" (também na Netflix), mas que acrescenta um viés mais social. O documentário parte da descoberta de uma cientista negra do MIT chamada Joy Buolamwini, que notou que os sistemas de reconhecimento facial da Amazon tinham dificuldade em identificar seu rosto (negro). Quando ela colocava uma máscara branca, o computador facilmente identificava as características de olhos, nariz, boca, etc. Um algoritmo pode ser "preconceituoso"? De acordo com o documentário, sim, principalmente pelo fato de que estudos em Inteligência Artificial sempre foram feitos predominantemente por homens brancos.

O assustador é que o algoritmo de reconhecimento facial da Amazon estava sendo compartilhado pelo FBI. Quantas pessoas foram identificadas erroneamente por causa disso? O documentário alega que "inteligência artificial" nada mais é do que uma criação matemática que reage dependendo dos dados que lhe são "alimentados". O resultado é que preconceitos do mundo "real" acabam sendo absorvidos pela inteligência artificial. Algoritmos são usados de forma não regulamentada cada vez mais no mundo todo. Setores de RH de empresas usam inteligência artificial para selecionar candidatos; cartões de crédito fazem uma previsão de quem vai pagar suas contas ou não; há algoritmos que são usados para determinar qual a chance de alguém se tornar um criminoso, ou voltar a praticar um crime. Não é surpresa que em todas estas situações os resultados têm se mostrados tendenciosos. Bem interessante, e assustador. Tá na Netflix.

domingo, 21 de setembro de 2014

Transcendence

A foto de Johnny Depp ao lado o mostra, provavelmente, assistindo a este filme.

"Transcendence" marca a estréia na direção de Wally Pfister, competente diretor de fotografia conhecido principalmente por sua parceria com Christopher Nolan. É compreensível que a convivência com Nolan (que não faz nada pequeno) o tenha levado a arriscar seu primeiro longa metragem em um filme ambicioso e cheio de grandes ideias. O roteiro também foi escrito por um iniciante, Jack Paglen, o que só ajuda a explicar os problemas do filme.

As boas credenciais de Pfister conseguiram trazer um elenco de peso, composto quase todo por atores da "trupe" habitual de Nolan, como Morgan Freeman (da série "Batman"), Cillian Murphy (também de Batman e de "A Origem") e Rebecca Hall (de "O Grande Truque"). O britânico Paul Bettany está no lugar de Michael Caine e o papel de Johnny Depp, se fosse em um filme de Nolan, provavelmente seria interpretado por Christian Bale ou Hugh Jackman.

Johnny Depp interpreta Will Caster, um cientista que está desenvolvendo uma I.A. (Inteligência Artificial) que, se bem sucedida, poderia resolver os problemas da Humanidade. O caso é que um grupo de ativistas anti-tecnologia (chefiados por uma inexpressiva Kate Mara, de "House of Cards") realiza uma série de atentados em que diversos cientistas são mortos e Caster é envenenado por uma substância radioativa. A esposa de Caster, Evelyn (Rebecca Hall, o único sopro de humanidade em todo o filme), dedica as últimas semanas de vida do marido a fazer um "upload" das memórias dele para a Inteligência Artificial. (leia mais abaixo)


Há uma porção de boas ideias aqui. Seria possível transferir todo o conteúdo do cérebro de uma pessoa para um computador? Em caso positivo, este conjunto de memórias seria considerado um "ser vivo"? A personalidade seria mantida? Ela seria "humana"? Imortal? Estas questões são aludidas no filme de Pfister, mas de forma tão rasa que ficam enterradas sob uma trama absurda e incoerente. Fica patente a inexperiência do diretor em dar vida ao material, que é visualizado em belas, mas frias, imagens.

Johnny Depp está particularmente ruim. Seu cientista, enquanto humano, já não tinha muito a mostrar. Depp mantém uma expressão única por todo o filme e um tom de voz mais inexpressivo que o do tradutor do Google, e quando é transferido para o computador fica pior ainda. Rebecca Hall, Paul Bettany e mesmo Morgan Freeman tentam inserir um pouco de vida a personagens vazios e mal desenvolvidos. Cillian Murphy, coitado, anda pela tela sem saber direito o que está fazendo por lá.

E em quê, na verdade, se transformou Will Caster? O roteiro, indeciso, ora dá a entender que o "ser" que habita o computador se trata do mesmo homem que ele era em vida, ora mostra que se trata de outra consciência. Aparentemente, nem o roteirista sabe o que está acontecendo. 

"Transcendence", ao invés de levantar questões, gera dúvidas. Chega-se ao final da mesma forma com que se começou. Com nada.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ela

Theodore Twombly (Joaquin Phoenix, de "O Mestre") é ótimo em expressar os sentimentos...dos outros. Ele é o empregado número 612 de uma empresa que, por um preço, escreve  belas cartas de amor. Theodore é um dos melhores escritores da firma. Estamos em um futuro próximo, indeterminado, em uma Los Angeles imaginária (filmada em Shanghai, China) em que tudo é visto em tons pastéis e agradáveis. As pessoas andam pelas ruas aparentemente falando sozinhas, checando e-mails ou navegando pela internet a partir de um fone de ouvido e um aparelho que se parece com um smartphone. "Toque uma música melancólica", pede Theodore ao seu fone de ouvido, no elevador da empresa.

Um dia, Theodore vê o anúncio de um novo sistema operacional que, ao contrário das vozes impessoais no seu ouvido, promete ser consciente e inteligente. O manual parece uma bula de um antidepressivo leve, prometendo sanar todos os seus problemas. Ele instala o sistema e assim nasce "Samantha" (voz de Scarlett Johansson, de "Os Vingadores"), uma voz feminina bonita, divertida e engraçada, que ri das piadas de Theodore, organiza seus e-mails e, aos poucos, vai lhe fazendo companhia. Recém separado de um amor da infância, Catherine (Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres"), por quem ainda está apaixonado, Theodore se agarra à Samantha como a uma tábua de salvação. Não demora muito e "eles" estão apaixonados.

"Ela" é escrito e dirigido por Spike Jonze, que trabalhava no filme desde 2009, quando lançou "Onde Vivem os Monstros". O futuro imaginado por Jonze não está muito distante do presente, em que já se vêem pessoas "falando sozinhas" pelas ruas. Em uma sociedade aparentemente rica e sem problemas materiais, a solidão impera e homens e mulheres como Theodore navegam como fantasmas por um grande mundo virtual. Joaquim Phoenix compõe um personagem que é um retrato sensível do homem do século XXI, bem sucedido e "feliz" por fora, mas deprimido e solitário por dentro. As cenas de Theodore andando pelos corredores vazios do seu prédio, ou à janela olhando a cidade, lembram "Encontros e Desencontros" (2003), filme da ex-mulher de Spike Jonze, Sofia Coppola, também estrelado por Scarlett Johansson. Os dois têm o mesmo clima melancólico, quase depressivo, que caracteriza o novo milênio. (leia mais abaixo)


Curioso também que alguns personagens tenham o mesmo nome dos atores que os interpretam, como Amy Adams (bastante diferente do seu trabalho em "Trapaça") ou mesmo Samantha que, durante as filmagens, foi interpretada por Samantha Morton. Scarlett Johansson foi chamada para substituir Morton durante a edição do filme (que, segundo artigos, teve grande ajuda do diretor Steven Soderbergh). Fico curioso em ouvir a interpretação de Morton, mas Johansson faz um ótimo trabalho usando apenas a voz.

(ATENÇÃO: SPOILERS) O roteiro de Spike Jonze não segue o esperado, principalmente com relação a Samantha. O contato constante com Theodore faz com que ela comece a adquirir características cada vez mais humanas; o que começa como um amor inocente se torna cada vez mais complicado, principalmente quando Samantha começa a também "querer" coisas. Assim, o filme não é apenas a história de um homem solitário que se apaixona por um ser inanimado. Samantha não só se torna "humana" como, por causa da inteligência artificial, evolui rapidamente para algo que, no final, fica difícil definir o que é. Este arco da personagem, apesar de interessante, meio que contradiz a suposta mensagem humanizadora do filme. Há duas ótimas cenas em que Theodore se encontra com mulheres reais; a primeira em um encontro (que termina mal) com Olivia Wilde e uma ótima cena em que ele se encontra com a ex-esposa, Catherine. Rooney Mara está excelente no pouco tempo de filme e, ao saber que o ex-marido está "namorando" um sistema de computador, ela lhe diz umas verdades que, talvez, acabem se perdendo no desenrolar da trama.

É um filme que, desconfio, vá gerar tanto amor quanto ódio. Tem ideias muito interessantes espalhadas pela trama, mas muitos vão considerá-lo "bonitinho" demais. "Ela" está indicado a cinco Oscars, Melhor Filme, Roteiro, Trilha Sonora, Canção e Design de Produção. A ótima fotografia de Hoyte Van Hoytema, infelizmente, foi esquecida.