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quinta-feira, 10 de março de 2022

Belfast (2021)

 

Belfast (2021). Dir: Kenneth Branagh. Belo filme do ator, diretor, roteirista e produtor Branagh, que ganhou fama produzindo filmes de Shakespeare (e dinheiro dirigindo filmes por encomenda como "Thor" ou "Cinderella"). É, sem dúvida, seu trabalho mais pessoal. "Belfast" se passa em 1969, ano em que começou um conflito na Irlanda do Norte que durou quase 30 anos. Vizinhos que por anos eram amigos se viram divididos por uma disputa politico/religiosa entre católicos e protestantes.

Branagh era um garoto na época e faz um filme bastante autobiográfico, em que os personagens principais sequer tem nomes (há apenas "Pai", "Mãe", "Vô", "Vó"); até o protagonista é um garoto de nove anos chamado de "Buddy" (um ótimo estreante, Jude Hill). É pelos olhos dele que vemos a tranquila rua em que a família vivia se transformar em um campo de batalha. Assim como Alfonso Cuarón fez em "Roma", Branagh retrata sua infância em maravilhosa fotografia em preto e branco. O pai (Jamie Dorman), passa várias semanas fora, trabalhando na Inglaterra. A mãe (Caitríona Balfe, da série "Outlander", excelente) se vê dias a fio sozinha, tendo que tomar conta da casa e dos filhos. Ciarán Hinds e Judy Dench são os avós amorosos do garoto.

Em meio ao caos do mundo adulto, Buddy devota sua atenção a uma garota que se senta na sua frente, na sala de aula, e se apaixona por ela. Há também menções ao pouso na Lua pelos astronautas americanos. E há, claro, o cinema, onde Buddy vai com a família sempre que pode (em um toque genial, Branagh mostra os filmes em colorido, contrastando com o preto e branco da vida real). Com todos os problemas acontecendo em Belfast, a família fica em um dilema: ficar no lugar em que amam ou partir para procurar uma vida melhor? O filme é dedicado aos que ficaram, aos que partiram e aos que morreram no caminho. Belíssimo. (indicado aos Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro Original, Ator e Atriz Coadjuvantes, Melhor Som e Melhor Canção (de Van Morrison). Nos cinemas.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Muito Barulho por Nada

O que fazer depois de dirigir um filme que custou 250 milhões de dólares e arrecadou quase um bilhão? Se você é Joss Whedon, você reúne os amigos, arruma uma casa grande, algumas câmeras e brinca de filmar Shakespeare. Depois do mega-sucesso de "Os Vingadores", Whedon quis baixar a poeira fazendo praticamente um vídeo caseiro de "Muito Barulho por Nada", uma comédia de William Shakespeare passada em Messina (Sicília), no século 16.

A versão de Whedon é ambientada nos dias de hoje em um local indeterminado (os personagens falam que estão em Messina, mas está tudo escrito em inglês). Filmado em preto e branco e com um visual bem caseiro, tem-se a sensação de que se está assistindo a um ensaio, e não a um filme "de verdade". Os atores são velhos conhecidos de Whedon e trabalharam com ele em séries de TV como "Buffy - A Caça Vampiros" ou "Angel". Fãs dos filmes da Marvel vão reconhecer Clark Gregg, mundialmente conhecido como o Agente Coulson, da organização SHIELD, interpretando o Sr. Leonato. A comédia de Shakespeare fala sobre os encontros e desencontros de alguns casais na propriedade de Leonato, que recebe a visita do príncipe Dom Pedro (Reed Diamond) e sua comitiva. O duque Cláudio (Fran Kranz) se apaixona à primeira vista pela filha de Leonato, Hero (Jilian Morgese) e os dois marcam o casamento para a semana seguinte. Só que o irmão invejoso do príncipe, Dom João (Sean Maher), trama para manchar a reputação de Hero, fazendo com que se acredite que ela está traindo Cláudio e não é mais "pura". Paralelamente, todos conspiram para tentar aproximar um casal "inimigo" por natureza, o irônico Benedick (Alexis Denisof) e a solteirona Beatrice (Amy Acker), fazendo-os acreditar que estão apaixonados um pelo outro.

Os diálogos são todos tirados da peça original e as interpretações são pouco convincentes. Amy Acker é quem se sai melhor como Beatrice; já Denisof é risível (no mau sentido) como Benedick. Não ajuda muito se você assistiu à versão tremendamente superior produzida, dirigida e interpretada por Kenneth Branagh há vinte anos. O filme de Branagh era banhado pela luz quente do mediterrâneo, belamente fotografado e interpretado por quem entende de Shakespeare (com exceção de Keanu Reeves e Robert Sean Leonard). A versão de Whedon soa como uma peça do colégio. E apesar de já terem sido feitas versões modernas bem sucedidas de Shakespeare, como "Coriolano" (dirigido e interpretado por Ralph Fiennes), ou mesmo o "Romeu + Julieta" de Baz Luhrmann, os temas tratados em "Muito Barulho por Nada" não combinam com a ambientação moderna. A questão de Hero ser ou não virgem, a submissão das mulheres e a glorificação do casamento podiam fazer sentido no século 16, mas não hoje. Assim, "Muito Barulho por Nada" pode servir como uma curiosidade, e talvez até funcione melhor na telinha da TV, mas é dispensável como cinema.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os Vingadores

Há uma linha tênue entre a seriedade "nerd" e a paródia total neste filme dos Vingadores. Ele vem coroar o projeto dos estúdios Marvel de juntar seu cartel de super-heróis após tê-los apresentado, um a um, em filmes individuais. Homem de Ferro (Robert Downey Jr), Thor (Chris Hemsworth), Capitão América (Chris Evans) e Hulk (Mark Ruffalo) tiveram filmes dirigidos por Jon Favreu, Kenneth Branagh, Joe Johnston e Louis Leterrier (sem falar na versão que Ang Lee fez em 2003), respectivamente. A Viúva Negra (Scarlett Johansson) apareceu no segundo filme do Homem de Ferro e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) teve uma ponta no filme do Thor.

É também de Thor o vilão de "Os Vingadores", Loki (Tom Hiddleston, divertido), que vem para a Terra após abrir um portal do outro lado do Universo. Como todo bom vilão, ele quer conquistar o planeta. A única coisa capaz de detê-lo é o time montado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a organização S.H.I.E.L.D., Os Vingadores. O filme é longo, duas horas e vinte minutos, e o roteiro é, surpreendentemente, cheio de diálogos entre os Vingadores antes que a ação realmente comece. Tony Stark, o Homem de Ferro, ainda é o mais carismático de todos e os roteiristas o mantém abastecido com uma série ininterrupta de piadas e trocadilhos. Robert Downey está à vontade no papel e serve de líder não oficial do grupo, composto por bons atores que tentam não parecer ridículos em seus uniformes coloridos. É bom também ressaltar a entrada de Mark Ruffalo, sempre competente, no elenco, no lugar que já foi de Eric Bana e Edward Norton como o Hulk. Pode-se perceber que, ao contrário dos outros heróis, ele está sempre no limite de se transformar em algo que não deseja. A trama é, dentro dos limites do gênero, bem escrita e é interessante ver como o vilão Loki consegue manipular o ego dos super heróis para que, em dado momento, estejam todos brigando um com o outro, ao invés de se unirem contra ele. Tecnicamente, "Os Vingadores" se beneficia da extraordinária capacidade dos efeitos especiais de hoje de criarem (e destruírem) qualquer coisa que se possa imaginar, até um porta-aviões que se transforma em uma fortaleza voadora.

Em meio a vilões intergalácticos, heróis e até mesmo deuses, só mesmo o humor para impedir que o filme se transforme em um épico auto-importante. Há um sem número de piadas, algumas até infantis, colocadas em meio às explosões. Em alguns momentos fica difícil entender qual o limite da invulnerabilidade tanto dos heróis quanto do vilão. Eles são eternos? O Homem de Ferro é um homem comum colocado em uma armadura high tech, mas quais os poderes da Viúva Negra e do Gavião Arqueiro? O Hulk é realmente imbatível? E por que é sempre Nova York que tem que pagar o preço? O filme é escrito e dirigido por Joss Whedon, com apenas algumas séries de televisão e alguns roteiros em seu nome. Em "Os Vingadores" ele consegue um bom trabalho em manter o interesse e em conseguir dar a cada personagem seu momento, embora a sequencia da guerra seja um pouco longa. Continuações, claro, são esperadas. Esperemos que a Marvel consiga manter o bom nível.

Câmera Escura


domingo, 29 de abril de 2012

Sete Dias com Marilyn

Marilyn Monroe e Sir Laurence Olivier. Ele era um dos atores mais venerados da Inglaterra, um mestre da interpretação, um dos responsáveis pela popularização de Shakespeare no cinema. Ela era a maior sex symbol de Hollywood, a garota aparentemente frágil e ignorante que derretia o coração dos homens e provocava a inveja nas mulheres. Olivier, apaixonado por ela como todo mundo, a convidou para atuar a seu lado em "O Principe Encantado", filme de 1957 que seria produzido, dirigido e interpretado por ele. Em poucos dias de filmagem, porém, o mestre inglês iria se arrepender da escolha. Marilyn era insegura, instável, chegava atrasada ao set de filmagem (ou simplesmente não aparecia) e, insulto maior a Olivier, tinha sua própria consultora de interpretação, Paula Strasberg, esposa do lendário Lee Strasberg, do Actor´s Studio de Nova York.

Os bastidores das filmagens de "O Príncipe Encantado" ganharam a forma de um livro escrito pelo terceiro assistente de direção de Olivier, um novato chamado Colin Clark; dedicado e inocente, Clarke teria tido uma relação próxima com Monroe,  a maior diva do cinema. "Sete dias com Marilyn" é um filme bastante convencional, que só escapa de parecer um telefilme pela qualidade do elenco. O diretor Simon Curtis acertou ao escalar Michelle Williams para o papel de Monroe. Poucos conseguiriam imaginar que uma atriz baixa, magra e pouco memorável como Williams pudesse encarnar a sex symbol de forma tão eficiente. A Marilyn de Williams não é mera imitação e ela compensa a falta do físico de Monroe com uma interpretação que traz a fragilidade e insegurança da loira. Laurence Olivier é interpretado pelo que muitos consideram ser seu herdeiro nos filmes shakespearianos, Kenneth Branagh, que como ator e diretor já levou várias obras do poeta inglês ao cinema (como "Henrique V", "Muito Barulho por Nada", "Otello", "Hamlet", entre outros). Branagh está perfeito no papel, mas é fato que Michelle Williams, assim como a personagem que interpreta, rouba todas as cenas.

Eddie Redmayne interpreta Colin Clark, um rapaz fanático por cinema que, após muita insistência, consegue um emprego na produtora de Laurence Olivier. Quando os ânimos começam a esquentar no set de filmagem e fica claro que Olivier e Monroe não conseguem trabalhar juntos, os bons modos do rapaz atraem o interesse de Marilyn, que começa a requisitar sua presença. Clark, no início, serve apenas como um ombro amigo mas, nas mãos de Monroe, logo se transforma em algo mais. A atriz era paparicada (e cobrada) por todos e vivia à base de pílulas para dormir (que acabariam por levá-la à morte cinco anos depois, em 1962). Colin, que era sete anos mais novo que Marilyn, obviamente se apaixona por ela, apesar do aviso de todos de que o romance não iria durar. O retrato de Marilyn feito pelo filme não é ruim, mas fica claro que ela era uma mulher que usava de seus encantos para manter alguns homens interessados por algum tempo. Pelo tempo que dura, o flerte entre o rapaz e a atriz é mostrado em cenas idílicas em que ambos andam pelos campos ingleses ou nadam em riachos gelados. O filme é competente ao evocar os figurinos de época e o set de filmagens em que Olivier tenta, a todo custo, terminar seu trabalho. Tanto Michelle Williams quanto Kenneth Branagh receberam indicações ao Oscar por suas interpretações, e "Sete dias com Marilyn" é um filme agradável de se assistir, embora nada memorável.

Câmera Escura

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Thor

A cultura "pop" americana é impressionante. Em que outro lugar no mundo (tirando o Japão) se imaginaria uma história tão espetacularmente absurda como "Thor"? Este é outro produto da máquina de mitos da Marvel, que redescobriu sua mina de ouro ao levar para a tela grande seus antigos heróis das histórias em quadrinhos, quase todos criações do roteirista Stan Lee. Em uma aposta ousada (mas nao tão arriscada, quando se leva em conta a falta de originalidade do cinema americano atual) a Marvel resolveu apresentar os heróis do grupo "Os Vingadores" um de cada vez, cada um com seu filme particular, antes de produzir a história com o grupo formado.

A versão cinematográfica de "Thor" é dirigida por Kenneth Branagh, conhecido pelos filmes de Shakespeare que fez no final dos anos 80 e nos anos 90 (Henrique V, Muito Barulho por Nada, Hamlet). Pode-se imaginar uma reunião de executivos discutindo o roteiro de "Thor" e pensando: "Quem poderia dirigir um filme sobre reis, rainhas, intrigas palacianas e traições?". Há até uma frase em "Thor" em que um príncipe diz que o povo não aceitaria um soberano que houvesse chegado ao trono tendo matado seu antecessor, o que basicamente é a trama de Hamlet.

Assim, da mistura da mitologia nórdica com as histórias em quadrinhos americanas surgiu Thor, o "Deus do Trovão". Ele é interpretado pelo australiano Chris Hemsworth, e Sir Anthony Hopkins interpreta o deus Odin, seu pai. O mundo dos deuses é chamado de "Asgard", uma cidade com um visual exagerado, quase brega. A direção de arte usa e abusa de dourados e enche a tela de cores brilhantes e vermelho sangue. Branagh, de formação teatral, cria cenas grandiosas como a que milhares de figurantes (digitais) assistem ao que seria a coroação de Thor como o novo rei de Asgard. Acontece que seu meio-irmão Loki (Tom Hiddleston) tem outros planos e consegue manipular Thor e seus amigos guerreiros a causar uma guerra com os "Gigantes do Gelo". Banido para a Terra, Thor é encontrado por uma cientista obstinada chamada Jane Foster (Natalie Portman), que estuda as "anomalias magnéticas" causadas pelo meio de transporte dos Asgardianos. O ator sueco Stellan Skarsgård interpreta outro cientista, Erik Selvig, que vai desconfiar da origem verdadeira de Thor.

Há várias piadas internas, principalmente com o Agente Coulson (Clark Gregg) da "SHIELD" (a organização por trás dos Vingadores). Quando Loki envia uma espécie de robô para a Terra, um dos agentes pergunta a Coulson se o monstro de metal era alguma criação do "Stark" (Tony Stark, o "Homem de Ferro"). Toda a trama, claro, é extremamente absurda, mas isso não importa. Chega a ser emocionante a cena em que Thor, após derrotar vários humanos, consegue finalmente chegar ao local onde está seu martelo e tenta tirá-lo da rocha. Toda sua arrogância e poder se mostram inúteis e é então que seu personagem começa a mudar. Mesmo o visual exagerado de Asgard tem um "charme" nostálgico. Kenneth Branagh faz o que pode em uma superprodução em que, provavelmente, ele não passa de uma pequena engrenagem. Surpreendentemente, "Thor" resulta em um filme divertido e, dentro do que se propõe, satisfatório.