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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ripley (2024)

 Ripley (2024). Direção: Steven Zaillian. Ótima minissérie em oito capítulos baseada em um série de livros escritos por Patricia Highsmith entre os anos 1950 e 1980. O primeiro livro teve várias adaptações, a mais famosa talvez seja "O Talentoso Ripley", dirigido por Anthony Minghella e estrelado por Matt Damon, Jude Law e Guinneth Paltrow. Esta nova versão da Netflix é esteticamente bastante diferente da do cinema. A série é filmada em belíssimo preto e branco com direção de fotografia de Robert Elswit, que fez vários filmes de Paul Thomas Anderson (Magnólia, Sangue Negro, etc). Steven Zaillian, que é um dos roteiristas mais ocupados de Hollywood (ganhou o Oscar com "A Lista de Schindler", de Spielberg), dirige "Ripley" como um filme dos anos 1950 e 1960. A câmera é quase sempre fixa e o movimento é dado pelos personagens, em tela. A edição também não é o corta/corta/corta das produções atuais.

Tom Ripley é interpretado por Andrew Scott, que já brilhou em séries como "Sherlock" e "Fleabag" anteriormente. Seu Ripley talvez seja mais velho do que o ideal, mas Scott está ótimo, sutil e quase sempre calado. Quando seu personagem fala, porém, é quase sempre uma mentira. A série tem um prólogo em Nova York e parte para as belas paisagens da Itália do pós guerra. Tom Ripley é enviado para lá para tentar convencer Robert Greenleaf (Johnny Flynn) a retornar aos EUA. O pai, construtor de navios, o quer de volta. Greenleaf, porém, quer distância da família, mas não do dinheiro deles. Ele diz que é "artista", mas pinta muito mal alguns retratos e paisagens. A namorada, Marge (Dakota Fanning), também tem dinheiro e diz que está escrevendo um livro. O personagem de Tom Ripley escancara a hipocrisia dessas pessoas, conquistando a amizade de Greenleaf e, aos poucos, criando raízes na Itália.

Há mortes e bastante suspense, mas Ripley não é exatamente um super vilão. Há um episódio inteiro dedicado a mostrar como é complicado se livrar de um corpo em Roma, por exemplo. Imagino que Ripley seria preso em questão de dias se vivesse na sociedade de hoje, com exames de DNA e técnicas forenses. Na época da série, um bom pano de chão resolvia bastante coisa. Os roteiros (todos adaptados por Zaillian) cobrem o primeiro livro e dá pistas para os seguintes. Eu li os dois primeiros e, além do filme com Matt Damon, vi também uma versão interpretada por John Malkovitch ("Ripley´s Game", de 2002), mas diria que esta minissérie traz a melhor versão do personagem. Tá na Netflix. 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Stillwater - Em busca da verdade (Stillwater, 2021)

Stillwater - Em busca da verdade (Stillwater, 2021). Dir: Tom McCarthy. Netflix. "Stillwater" é daqueles filmes que não sabem o que querem ser. Há duas boas histórias convivendo aqui, mas não há muita liga entre elas. Matt Damon é Bill, o típico americano médio, trabalhador braçal, boné, cavanhaque, dirigindo um utilitário e rezando antes de toda refeição. Bill vai para Marselha, França, visitar a filha. Allison (Abigail Breslin) está presa pelo assassinato da namorada, Linda, há cinco anos. A filha alega ter descoberto novas evidências de sua inocência, mas como a promotora não quer reabrir o caso, cabe a Bill investigar por conta própria.

Bill não fala francês (claro) e está hospedado em um pequeno hotel, onde conhece uma mãe solteira, Virginie (Camille Cottin, ótima) e a filha pequena, Maya (Lilou Siauvaud). É conveniente demais que Virginie saiba falar inglês e, do nada, resolva ajudá-lo na investigação, mas... ok. O problema é que o filme não sabe se vai ser sobre a investigação do caso de assassinato da filha ou sobre a relação de Bill com essa francesa e a filha. Há momentos em que as duas histórias convergem mas, por grande parte do filme (que é longo demais, com duas horas e vinte de duração), parece que estamos vendo uma estranha comédia romântica. Virginie é atriz de teatro e tenta fazer o americano ignorante gostar de arte. Bill se apaixona pela garotinha, Maya, e passa a buscá-la na escola e até arruma um emprego na construção civil. Logo todos estão morando juntos, Bill faz comida para as mulheres da casa, Virginie arruma um emprego na televisão e.... que filme estamos vendo mesmo?

Damon, mais "gordo", de cavanhaque e boné, tenta fazer a gente esquecer que ele é Jason Bourne, mas é estranho vê-lo andando pelas ruas da França sem saber muito o que fazer. Lá pelo final o filme se lembra da trama de assassinato e muda drasticamente, partindo para um final estranho demais. A direção é de Tom McCarthy, que dirigiu o vencedor do Oscar "Spotlight". Tá na Netflix.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Oppenheimer (2023)

Oppenheimer (2023). Dir: Christopher Nolan. Depois de meses de uma das campanhas publicitárias mais massivas (e estranhas) de todos os tempos, chega finalmente aos cinemas o mais novo filme de Christopher Nolan. Juro que tentei ver na estreia, mas fui afogado por um mar de pessoas usando rosa.

"Oppenheimer" é um filme de Christopher Nolan, o que já carrega algumas coisas: é longo (são três horas de duração), é pesado e teatral (as paredes literalmente tremem quando Oppenheimer está nervoso), os personagens não param de falar (até em uma cena de sexo Oppenheimer está lendo um livro em sânscrito), a trilha sonora é constante e opressora (surpresa, não é de Hans Zimmer, mas o compositor Ludwig Göransson está fazendo uma imitação perfeita), e o visual é incrível (o filme foi feito em película Kodak, em IMAX 70mm, pelo diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema).

Isto posto, "Oppenheimer" é um grande filme. Cillian Murphy está excelente como um cientista brilhante com uma vida pessoal conturbada. J. Robert Oppenheimer foi um dos primeiros físicos a descrever um buraco negro, mas também sabia ler Karl Marx no original, aprendeu holandês em seis meses e lia em sânscrito. Também flertou com o Partido Comunista Americano (embora nunca tenha se filiado) e mandava dinheiro para os refugiados da Guerra Civil Espanhola; ao mesmo tempo, ajudou a criar uma arma de destruição em massa que matou perto de 200 mil pessoas.

O filme de Nolan conta a vida e "obra" de Oppenheimer partindo de dois julgamentos (ou melhor, "audiências"); em uma, o próprio Oppenheimer tem sua credibilidade posta em cheque em uma audiência que pretende revogar suas credenciais. Em outra, no Senado americano, o personagem de Robert Downey Jr., Lewis Strauss, tenta confirmar sua indicação a um alto posto no governo. Nolan, como de costume, não conta as histórias de forma linear e alterna várias linhas de tempo misturando preto e branco e colorido. Em uma decisão ousada, Nolan não coloca datas na tela e cabe ao espectador usar sua bagagem cultural para entender em que fase da História (com H maiúsculo) estamos. Às vezes fica bem confuso.

Até a explosão da primeira bomba atômica no teste de Trinity, no Novo México, diria que o filme é brilhante. Nolan consegue mostrar o processo de recrutamento dos cientistas para o Projeto Manhattan, a construção da base secreta em Los Alamos, a vida pessoal complicada de Oppenheimer, entre vários outros assuntos, de forma muito bem montada. A cena do primeiro teste nuclear, a propósito, é ótima (e você tem que ver este filme em uma tela IMAX gigante, com o som fazendo a cadeira tremer). O filme perde bastante o ritmo em sua hora final. Nolan exagera em seus maneirismos e fica difícil entender o que seu personagem está pensando quando o cenário está literalmente tremendo, a música está estridente e uma luz brilhante cega tudo por vários segundos (e não estou falando do teste nuclear, mas um simples interrogatório na tal audiência). É aposta certa que o filme vai render várias indicações ao Oscar. Resta saber se a bomba atômica, para Nolan, não vai se chamar Barbie. 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Air, A História por Trás do Logo (Air, 2023)

Air, A História por Trás do Logo (Air, 2023). Dir: Ben Affleck. Amazon Prime Video. Pouco mais de um mês depois de estrear nos cinemas, o filme de Ben Affleck sobre um tênis chega à Amazon Prime Video. É leve, interpretado por um bom elenco encabeçado por Matt Damon (com participação especial de Viola Davis), mas que não é muito mais do que um comercial de longa metragem.
A tal "história por trás do logo", no subtítulo ridículo brasileiro, é na verdade a história por trás de uma campanha de marketing que transformou um tênis em um dos produtos mais lucrativos da história. Estamos claramente nos anos 80 (como nos mostram um monte de referências a "Um Tira da Pesada", "Ghostbusters", Cindy Lauper e videogames) e a Nike é a empresa "patinho feio" do mundo dos tênis. A alemã Adidas reina suprema e a Converse patrocina as maiores estrelas da NBA. Mas um diretor da divisão de basquete da Nike, Sonny Vaccaro (Matt Damon), resolve investir todas as fichas da empresa em um astro novato, Michael Jordan. O modo como Jordan é tratado pelo filme é quase religioso, como comentou o crítico inglês Mark Kermode. Tanto que Jordan nunca é mostrado de frente (assim como Jesus em Ben-Hur). Ao invés disso, um dublê o interpreta entrando e saindo de reuniões sem mostrar o rosto ou dizer uma palavra, enquanto que a mãe (a grande Viola Davis) e o pai (Julius Tennon) negociam seu contrato com as grandes empresas.
O filme deve ser mais interessante para grandes fãs de Jordan ou, talvez, para estudantes de publicidade. Com o perdão do trocadilho, "Air" é leve como o ar, inofensivo como uma brisa. Mas é tranquilo de se assistir em casa, do sofá. Disponível na Amazon Prime Video.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Pequena Grande Vida (Downsizing, 2017)

Pequena Grande Vida (Downsizing, 2017). Dir: Alexander Payne. Netflix. Filme curioso, bem diferente do que havia imaginado. Soube que foi um desastre de bilheteria no lançamento e a crítica não foi nada favorável. As expectativas eram bem baixas e, visto assim, "Pequena Grande Vida" até que não é ruim.

A premissa é curiosa: cientistas noruegueses criam um procedimento que encolhe as pessoas até que fiquem com dez centímetros de altura. O atrativo para a pessoa comum é que, sendo pequeno, os custos de vida, alimentação, etc também ficariam baixos. Cem mil dólares no "mundo grande" equivaleriam a 12 milhões de dólares no "mundo pequeno". O casal vivido por Matt Damon e Kristen Wiig resolve fazer o procedimento e morar em uma espécie de condomínio em miniatura chamado "Lazerlândia". Lá eles morariam em uma mansão (reativamente) enorme e viveriam como milionários.

O que começa como uma comédia leve, porém, acaba se desenvolvendo em um filme curiosamente filosófico (e estranho). O roteiro (de Alexander Payne e Jim Taylor) levanta questões sociais interessantes; como essas pessoas ricas se manteriam? Quem limparia suas casa, faria sua comida, satisfaria suas necessidades? Não demora muito e Matt Damon descobre que mesmo nessa sociedade "ideal", uma classe social "inferior" é necessária. A atriz Hong Chau interpreta uma vietnamita que entrou ilegalmente nos EUA, miniaturizada, dentro de uma caixa de televisão. O alemão Christoph Waltz é um contrabandista de bebidas, drogas e outras "iguarias". Ou seja, o mundo em miniatura não é tão diferente assim do normal.

Só que o roteiro não para por aí. Há também uma questão ecológica que estica bastante a trama e o filme muda novamente de tom e até de localização. As ideias não são ruins, mas fica a impressão que "Pequena Grande Vida" quer abraçar temas demais. O filme tem duas horas e quinze de duração e fica meio perdido no final. Dá para entender porque o público de cinema não se interessou; na TV, com calma e sem expectativas, é um programa interessante. Tá na Netflix.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O Último Duelo (The Last Duel, 2021)

 
O Último Duelo (The Last Duel, 2021). Dir: Ridley Scott. Superprodução de época que naufragou nas bilheterias, "O Último Duelo" é bastante bom. O roteiro, escrito a seis mãos por Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damon, conta uma mesma história por três pontos de vista (estilo "Rashomon"). Na França do século 14, dois homens duelam até a morte pela honra de uma mulher. Pela lógica da época, quem vencesse o duelo estaria manifestando a própria vontade de Deus.


Os homens são Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques Le Gris (Adam Driver). Carrouges está acusando Le Gris de ter estuprado sua esposa, Marguerite (Jodie Comer). Le Gris não nega ter tido relações com ela, mas alega que não foi estupro. A trama é contada três vezes, primeiro do ponto de vista do personagem de Matt Damon, depois de Adam Driver e finalmente pela visão de Jodie Comer. Nem sempre este "truque" do roteiro funciona. Há uma cena particularmente forte que é vista duas vezes e, apesar dos detalhes serem diferentes, não deixa de parecer exploração.

É um filme de Ridley Scott, o que significa produção classe A, bela direção de fotografia de Dariusz Wolski e trilha sonora de Harry Gregson-Williams. É bastante violento, tanto nas cenas de batalha como na cena do suposto estupro. O que fica é que as mulheres, na época, tinham nenhum controle sobre suas vidas. A decisão do duelo poderia significar não só a morte de um dos combatentes, mas da mulher também, caso "Deus" decidisse pela culpa dela. Jodie Comer (da série "Killing Eve") está excelente. "O Último Duelo" foi mal lançado nos cinemas (e só nos cinemas) e amargou um fracasso enorme. Em época ainda de pandemia, Scott deveria ter fechado um acordo com alguma plataforma de streaming e lançado o filme também na TV.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

Adolf Hitler era um admirador de arte. Pintor rejeitado pela escola de Belas Artes da Áustria, o líder de um dos regimes mais sangrentos da História imaginava um museu em sua homenagem, onde ele guardaria todos os tesouros e obras-primas saqueadas durante a 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que ele nunca bombardeou Paris por causa dos quadros e esculturas que lá havia. Nos Estados Unidos, um grupo de especialistas em arte se juntou e foi à Europa tentar resgatar as obras roubadas pelos nazistas. O grupo ficou conhecido como "The Monuments Men".

Esta história real ganhou versão cinematográfica nas mãos de George Clooney ("Tudo pelo Poder"), que escreveu o roteiro, produziu, dirigiu e atuou em "Caçadores de Obras-Primas", ao lado de um ótimo elenco. O filme é leve (até demais) e bastante descompromissado. Mostra aquela versão da 2ª Guerra Mundial pré "O Resgate do Soldado Ryan", em um mundo aparentemente mais simples em que havia um vilão bem definido, os nazistas, e os americanos eram os salvadores do mundo. Há ecos daqueles clássicos em que astros como Steve McQueen, Charles Bronson, James Garner, entre outros, se reuniam em filmes como "Sete Homens e um Destino" ou "Fugindo do Inferno" (a trilha "assobiada" de Alexandre Desplat lembra um pouco este último); sem falar na série "Onze Homens e um Segredo" estrelada por Clooney e Matt Damon. (leia mais abaixo)


O filme peca pela falta de ambição. Com um elenco contando com figuras engraçadas como Bill Murray ("Moonrise Kingdom") e John Goodman ("Argo"), poderia ter sido uma grande comédia. No entanto, é o tipo de filme em que os bastidores devem ter sido muito mais engraçados do que o que se vê na tela. Há bons momentos, como quando Bill Murray e Bob Balaban encontram um soldado nazista perdido na floresta. Há também duas cenas emocionantes bem conduzidas por Clooney, como o sacrifício de um dos membros do grupo para tentar salvar uma escultura valiosa, ou a cena em que Bill Murray escuta, emocionado, uma mensagem de natal enviada pela família. Há, porém, oportunidades perdidas. Matt Damon ("Elysium") e a grande Cate Blanchett ("Blue Jasmine") ficam em um empasse por grande parte da trama. Ele é o curador do Museu Metropolitan de Nova York e está tentando descobrir o que aconteceu com as obras de um museu de Paris em que Blanchett trabalhava. Ela não confia em ninguém e fica guardando as informações por muito tempo. Até mesmo a sugestão de romance entre os dois não dá em nada.

"Caçadores de Obras-Primas" tem ótima direção de fotografia de Phedon Papamichael, que trabalha muito bem com o contraste entre cenas escuras e as cores vivas dos quadros de mestres como Monet e Rembrandt. Um filme que se assiste com um sorriso nos lábios, mas que não é tão bom quanto poderia ser.

domingo, 22 de setembro de 2013

Elysium

"Elysim" está longe de ser perfeito. É cheio de "lições de moral", tem problemas de roteiro e quase todos os (bons) atores estão exagerados. Mas, assim como fez no excepcional "Distrito 9", o diretor/roteirista Neill Blomkamp é ousado e tem uma marca pessoal distinta, que é a extrapolação de problemas sociais reais da Terra dos dias de hoje para um cenário futurista. "Elysium" se passa no século 22. As cidades da Terra se parecem com as paisagens vistas na animação "Wall-e", com milhões de pessoas vivendo em cidades esgotadas e superpopulosas. A camada mais rica da população resolveu se separar ainda mais das classes baixas deixando o planeta e se mudando para uma gigantesca estação espacial chamada "Elysium", um paraíso artificial que parece um grande condomínio particular, com mansões brancas instaladas em meio a grandes gramados e lagos artificiais. Além da riqueza, da segurança e do ar puro, os ricos têm ainda outro privilégio: todas as mansões são equipadas com máquinas milagrosas que podem curar todas as doenças.

Enquanto isso, na superfície pobre e poluída do planeta, centenas de pessoas tentam chegar à "Elysium" em naves clandestinas comandadas por um rebelde chamado Spider (o brasileiro Wagner Moura, um tanto exagerado). A cena em que as naves rebeldes tentam chegar à estação espacial lembram imagens das barcas clandestinas cubanas, cheias de refugiados, tentando chegar à Flórida, ou mexicanos tentando atravessar para a Califórnia. Jodie Foster interpreta uma cruel chefe de segurança de "Elysium" que não vê problemas em ordenar que tais naves sejam destruídas, matando todos a bordo, para "proteger" a estação espacial dos "invasores". Matt Damon, cheio de tatuagens e de cabeça raspada, é Max, um operário que tenta levar uma vida honesta depois de uma infância e adolescência cometendo pequenos crimes. Ele recebe uma dose letal de radiação em um acidente de trabalho e só uma viagem a "Elysium" salvaria sua vida, e ele se vê obrigado a prestar um serviço a Spider, o único capaz de levá-lo até lá.


O roteiro é tão cheio de ideias que Blomkamp tem problemas em lidar com todas elas. A mais problemática envolve um programa de computador que seria a "chave" para "Elysium". Wagner Moura bate o olho em algumas linhas de código passando na tela e já consegue entender todo o "enredo". Há também um romance mal resolvido entre o personagem de Matt Damon e uma enfermeira chamada Frey (interpretada por outra brasileira, Alice Braga), que, ainda por cima, tem uma filha com leucemia que também precisa ser curada em "Elysium". E assim por diante. Com tudo isso, sente-se falta de um olhar mais detalhado sobre a população de "Elysium" em si. Será que eles só passam a vida à beira da piscina, passeando pelos gramados e ouvindo música clássica? Ninguém lá questiona a situação em que vive, e como ela pode ser frágil? Há problemas com drogas ou medicamentos? Com tédio?

Quase todo o filme é passado aqui na Terra mesmo, a não ser na parte final, em um embate barulhento entre Matt Damon e um mercenário chamado Kruger (Sharlto Copley, também de "Distrito 9"). Para um diretor ousado como Blomkamp, o final de "Elysium" é "bonitinho" demais (e Wagner Moura arrancou uma gargalhada de todo o cinema com uma frase). Bom filme, apesar de não ter o mesmo impacto de "Distrito 9".

domingo, 11 de novembro de 2012

Argo

"Argo" é o terceiro filme dirigido por Ben Affleck que, como ator, é bastante limitado. Como diretor, porém, Affleck atingiu a maturidade com este filme inteligente que, baseado livremente em fatos reais, é uma boa mistura de entretenimento e suspense. Em novembro de 1979, a embaixada americana no Irã foi invadida por uma multidão que apoiava o Aiatolá Khomeini. Vários americanos foram feitos reféns mas, durante a confusão, seis diplomatas conseguiram fugir para a casa do embaixador do Canadá, onde ficaram escondidos por várias semanas, aguardando serem resgatados.

Ben Affleck interpreta Tony Mendez, um especialista da CIA em repatriar reféns. Ele é chamado pelo Departamento de Estado para dar sua opinião e, após refutar vários planos (um deles sugeria que os reféns pedalassem 500 quilômetros até a fronteira ao norte), criou um plano tão absurdo que poderia dar certo. Inspirado pelos filmes de ficção-científica e fantasia que viraram moda nos Estados Unidos no final dos anos 1970 (principalmente após o lançamento de "Star Wars", em 1977), Mendez sugere que a CIA crie uma companhia de cinema fictícia que iria procurar por locações exóticas no oriente para um filme B chamado "Argo". Para dar mais verossimilhança à ideia, Mendez contrata um produtor real de Hollywood chamado Lester Siegel (o ótimo Alan Arkin) e um especialista em efeitos especiais chamado John Chambers (o igualmente competente John Goodman). Os dois ficam responsáveis por espalhar  por Hollywood a notícia de que "Argo" é uma produção real, inclusive promovendo uma leitura de roteiro e publicando cartazes  do filme em jornais e revistas especializadas como a "Variety". Mendez então viaja ao Irã para treinar os seis reféns americanos, que fingiriam ser a equipe de filmagem de "Argo" e, se tudo desse certo, sairiam do país diretamente pelo aeroporto internacional, debaixo dos narizes da polícia fanática do aiatolá.

O filme é uma junção competente de filme de suspense, espionagem e, de quebra, mostra os bastidores de Hollywood. O roteiro (de Chris Terrio) lembra bastante "Mera Coincidência" (1997), de Barry Levinson, em que um produtor de Hollywood (Dustin Hoffmann) era contratado para criar uma guerra fictícia e desviar a atenção da imprensa de um escândalo da Casa Branca. Alan Arkin e John Goodman estão muito bem como produtores reais criando um filme irreal. Hollywood é uma força tão grande na imaginação coletiva mundial que a ideia "maluca" de Mendez de dizer que está no Irã para fazer um filme de ficção-científica em plena crise dos reféns não soa inverossímil. Há uma cena muito boa que mostra os guardas iranianos maravilhados com o "storyboard" de "Argo" enquanto o oficial superior tenta checar a história de Affleck. A recriação de época é muito boa e o filme transporta o espectador para o início dos anos 1980. Ben Affleck ficou tão orgulhoso com este aspecto do filme que "Argo" termina comparando imagens reais da época com outras recriadas para o filme. "Argo" estreou bem no mundo todo e há grandes chances de ser escolhido um dos candidatos ao próximo Oscar. Vale lembrar que Ben Affleck, junto com Matt Damon, já tem um Oscar de "Melhor Roteiro Original" por "Gênio Indomável", filme que escreveu em 1997.

Um aspecto que deve ser mencionado é o fato de que as relações entre os EUA e o Irã hoje vão de mal a pior, com grandes chances de uma intervenção militar por causa de supostas armas nucleares que o Irã estaria fabricando. Um filme como "Argo", que mostra os iranianos como fanáticos ignorantes, cai facilmente no gosto do público no momento político atual. Independente disso, é um ótimo filme de entretenimento, que pode dar a Affleck uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Além da Vida

Não foi só no Brasil que o espiritismo atraiu a atenção dos cineastas ultimamente. Depois que filmes nacionais como "Chico Xavier", "Nosso Lar" e "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier" foram exibidos por aqui, chega agora aos cinemas "Além da Vida", com Matt Damon e direção de Clint Eastwood. A questão do que po de haver depois da morte sempre afligiu o ser humano. Shakespeare já falava, em Hamlet, sobre a "terra desconhecida, de onde ninguém jamais voltou". Clint Eastwood trata do tema do ponto de vista dos sobreviventes, que tem que suportar a perda de alguém e que, às vezes, querem tentar "fazer contato" com os que partiram.

Matt Damon é George Lonegan, um homem comum que, depois de quase morrer em uma cirurgia delicada quando criança, recebeu um "dom". Ao tocar em uma pessoa, ele pode, aparentemente, entrar em contato com os entes queridos dela que morreram. George não vê sua habilidade como um dom, mas como uma maldição, pois impede que ele tenha qualquer tipo de relacionamento normal com alguém. Eastwood e Damon fazem um bom trabalho ao mostrar como George evita o contato físico com todos à sua volta. Uma das situações mais complicadas (e doces) do filme é seu "relacionamento" com Melanie (Bryce Dallas Howard). Os dois fazem um curso de culinária e as cenas entre eles são conduzidas por Eastwood com muita elegância. Melanie, frágil e carente, sente-se atraída por George, mas como retratar um romance em que o casal não pode se tocar, e tornar as cenas interessantes? Novamente, é com muita sensibilidade que Eastwood resolve a situação, em uma cena da aula de culinária que envolve o uso de vendas e a degustação de alguns temperos.

Há outras duas tramas que correm paralelas à de George. Na França, uma jornalista chamada Marie LeLay (a bela Cécile de France, de "Um segredo em família") volta mudada de uma viagem à Tailândia. Em uma cena espetacular logo no início do filme, Marie quase morre afogada por um tsunami que destrói tudo por onde passa. Na verdade, talvez ela tenha realmente morrido e visto, por alguns segundos, o "outro lado", a conhecida imagem da luz branca e sensação de paz descrita por milhares de pessoas. Marie pede afastamento do trabalho e começa a escrever um livro sobre o assunto.

Em Londres, um garoto chamado Marcus (Frankie McLaren) sofre com a perda do irmão gêmeo em um acidente. Para piorar, a mãe é viciada em drogas e é levada para uma clínica de recuperação. Sentindo muita falta do irmão, Marcus começa a investigar a vida após a morte, chegando a consultar vários tipos de "videntes", muitos deles charlatões.

O roteiro de Peter Morgan não toma partido, o que por vezes deixa o filme superficial. A direção de Eastwood e a qualidade das interpretações, porém, superam alguns tropeços da trama, que quase cai no sensacionalismo quando Marie discursa sobre uma "conspiração" para silenciar os que acreditam na vida após a morte. A trilha sonora, do próprio Eastwood, é um pouco melodramática. Um dos temas, aliás, é praticamente uma cópia do segundo movimento do Concerto número 2 para Piano e Orquestra de Rachmaninov. Em um filme sobre a vida após a morte, Eastwood, acertadamente, está mais interessado nos vivos e faz um tipo de cinema raro hoje em dia (da sala ao lado se podia escutar o barulho de tiros e explosões comuns aos cineplexes), com tempo para o desenvolvimento das tramas e respeito pelos personagens.


domingo, 31 de janeiro de 2010

Invictus

Nelson Mandela foi uma das figuras mais importantes do século XX. Após anos preso sob o regime de segregação na África do Sul, ele foi solto e eleito Presidente da República em 1994 na primeira eleição multirracial do país. Muitos projetos cinematográficos sobre sua vida foram imaginados, vários deles envolvendo a figura do ator Morgan Freeman, mas o filme que chega às telas agora através das mãos do diretor Clint Eastwood tem um recorte diferente do esperado. Ao invés de uma biografia tradicional de Nelson Mandela, o filme de Eastwood (baseado no livro de John Carlin) mostra o líder negro através de um esporte pouco conhecido no Brasil, o rugby.

A primeira cena explica muita coisa. De um lado da rua há uma escola rica para brancos, que treinam rugby no belo gramado. Do outro lado da rua há um pobre campo de futebol onde jogam os negros. Brancos e negros são atraídos por uma carreata que passa na rua. Um dos carros carrega Nelson Mandela, recém libertado da prisão. O rugby era o jogo preferido dos brancos da África do Sul. As cores verde e ouro do time estavam associados ao regime racista do aparthaid e eram odiadas pelos negros. Com a vitória de Mandela nas urnas, esperava-se que o time de rugby (chamado Springbok, que é uma espécie de antílope, símbolo do time) mudasse suas cores, seu emblema e seu nome. Mandela, político inteligente, foi contra. "Não vamos nos tornar aquilo que os brancos esperam de nós", diz ele. Ao invés de dissolver o time, Mandela se tornou um fã do esporte e viu na Copa do Mundo de Rugby, que aconteceria em 1995 na África do Sul, uma oportunidade de unir brancos e negros e mostrar ao mundo o que o país era capaz de fazer. Mandela então pede a ajuda do capitão do time, François Pienaar (Matt Damon), para tornar o esporte mais popular entre os negros e servir de inspiração para o país.

Clint Eastwood dirige de forma competente, mas a verdade é que o filme é de Morgan Freeman. Ele está tranquilo como Nelson Mandela, de quem empresta o carisma e devolve sua calma dignidade como ator. O filme é lento e por vezes calmo demais. As melhores cenas, curiosamente, acontecem entre os coadjuvantes, os seguranças brancos e negros que são obrigados a conviver e planejar juntos a segurança do presidente. Matt Damon está bem como o capitão do time, embora um tanto distante do personagem, sem estar de corpo e alma no filme. Há várias cenas de jogos de rugby, com suas regras relativamente desconhecidas pelos brasileiros, em cenas passadas em estádios lotados por torcidas geradas em computação gráfica.

"Invictus" é uma curiosa mistura de biografia política com filme de esporte, com suas fórmulas conhecidas, cenas em câmera lenta e final festivo. Serve também como curiosidade, em pleno ano de Copa do Mundo (de Futebol), na África do Sul, ver um time ser campeão usando uniforme verde e amarelo.

"Invictus" - Clint Eastwood. Com Morgam Freeman e Matt Damon

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