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domingo, 22 de outubro de 2023

Que horas eu te pego? (No hard feelings, 2023)

 
Que horas eu te pego? (No hard feelings, 2023). Dir: Gene Stupnitsky. HBO Max. O marketing deste filme prometia um retorno às comédias escrachadas dos anos 80/90, com censura 18 anos, sexo, nudez e outros ingredientes que fizeram o sucesso de filmes como "American Pie". "Que horas eu te pego?", no entanto, é curiosamente tradicional, com vários dos clichês de comédias românticas; a única cena de nudez, curiosamente, não tem nada a ver com sexo (ou sensualidade) e parece estar lá só para justificar o "Rated R" da censura americana.

Jennifer Lawrence é uma motorista de Uber chamada Maddie que perde o carro por falta de pagamento de impostos. Ela precisa pagar a dívida ou vai perder a casa em que morou a vida toda. Em uma daquelas coincidências que só acontecem em filmes, ela vê um anúncio na internet que promete um carro à mulher que tirar a virgindade do filho de um casal de ricaços. O rapaz é Percy (Andrew Barth Feldman), um adolescente de 19 anos que não sai de casa, não sabe dirigir, nunca esteve com ninguém e está para entrar em Princeton. Os pais querem que ele "saia do casulo" antes de enfrentar o mundo lá fora.

A trama se parece bastante com "Armações do Amor" (2006), em que os pais de Matthew McConaughey contratam Sarah Jessica Parker para tirar o filho de casa. Jeniffer Lawrence está bem como Maddie; ela é despojada e boca suja, mas o roteiro é difícil de engolir, além de contraditório. O rapaz é descrito como solitário e tímido, mas há uma cena em que ele está jantando com Maddie e uma garota bonita não só o reconhece como o abraça em público, o convida para uma festa e ainda diz que "mal pode esperar para estudar com ele em Princeton". Oi? A suposta ousadia dá lugar à uma segunda parte quase piegas e formulaica. Lawrence é uma das produtoras do filme e é válido que tenha tentado fazer uma personagem diferente, mas poderia ter rendido muito mais. Disponível na HBO Max.

sábado, 14 de outubro de 2023

Confesse, Fletch (Confess, Fletch, 2022)

 
Confesse, Fletch (Confess, Fletch, 2022). Dir: Greg Mottola. Paramount+. Não me lembrava que Chevy Chase havia feito, nos anos 80, dois filmes sobre o jornalista/detetive I.M. Fletch. O personagem foi criado por Gregory Mcdonald e estrelou uma série de livros. Ele retorna agora na pele de Jon Hamm no que seria o início de uma nova franquia mas, pelas bilheterias mornas, é pouco provável. Jon Hamm, claro, é mais conhecido por interpretar o publicitário Don Draper na brilhante série Mad Men, e tem tentado se encontrar desde que a série terminou.

"Confesse, Fletch" é um filme simpático, mas tem mais cara de um piloto de uma série que não foi ao ar. É tudo tão propositalmente leve que o filme parece estar sempre a ponto de começar, mas não engata. Em todos os diálogos você tem a impressão que os atores vão dar uma piscadinha para a câmera, tipo "não falei uma coisa engraçada?". A trama, se pode se chamar assim, envolve o roubo de várias obras de arte de um milionário italiano, que foi sequestrado. O filme começa com um prólogo em Boston, em que Fletch encontra uma mulher morta em uma casa que ele está alugando. Ele liga para a polícia mas trata tudo de forma tão indiferente que acaba se tornando suspeito do crime. Há um flashback em Roma, que serve para mostrar uma sequência clichê (mas bem feita) em que Jon Hamm passeia em uma Vespa vermelha pelas ruas da Itália (lembrando filmes melhores dos anos 50 e 60).

O resto do elenco tem uma exagerada (mas divertida) Marcia Gay Harden como uma "condessa" italiana e Kyle MacLachlan como um vendedor de arte. Ah, e o ex-companheiro de Hamm em Mad Men, John Slattery, faz um jornalista à moda antiga. Para fãs da série, a cena em que Hamm e Slaterry bebem em um bar, jogando conversa fora, vale o filme. Assim, "Confesse, Fletch" está longe de ser ruim, mas também não é memorável. Um passatempo em que os atores parecem estar se divertindo mais do que a plateia. Visto na Paramount+ (da Amazon Prime Video). 

domingo, 21 de maio de 2023

O pior vizinho do mundo (A man called Otto, 2022)

O pior vizinho do mundo (A man called Otto, 2022). Dir: Mark Forster. HBO Max. Versão americana de um filme sueco que, infelizmente, não vi (mas provavelmente era melhor), "O pior vizinho do mundo" é simpático e previsível. Tom Hanks, quem diria, já tem idade para fazer o papel do "velho rabugento" que, em outras épocas, seria feito por Walter Matthau ou, talvez, Clint Eastwood. Ele é Otto, um viúvo que está desgostoso da vida, briga com todo mundo e implica com a vizinhança; mas, para surpresa de zero pessoas, no fundo ele tem bom coração.


O bom elenco de coadjuvantes é elevado pela mexicana Mariana Treviño, que interpreta a nova vizinha de Otto, Marisol. Ela é cheia de vida, tem um marido bobão, duas filhas lindas e mais um bebê a caminho. Otto já estava literalmente com a corda no pescoço quando a mexicana bateu à sua porta trazendo comida e se apresentando. Aos poucos, o coração gelado do velho acaba sendo derretido pela moça e pela família dela. Em uma subtrama, ficamos sabendo que uma imobiliária quer despejar os moradores da vizinhança e construir prédios no lugar. Por um momento achei que a casa de Hanks fosse sair voando, carregada por balões de festa.

Como disse, o filme é bem simpático, apesar de previsível. Hanks está bem como o velho Otto e o roteiro mistura comédia com boas pitadas de drama. Flashbacks mostram a vida de casado de Otto com o amor da sua vida, Sonya (Rachel Keller), uma professora. A boa trilha sonora é de Thomas Newman e a direção de Mark Forster, que teve uma carreira bem diversa, dirigindo 007 (Quantum of Solace), Guerra Mundial Z, Em busca da Terra do Nunca, etc. Disponível na HBO Max.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Click (2006)

Click (2006). Dir: Frank Coraci. Netflix. Como é? Eu assistindo a uma comédia com Adam Sandler? Não é segredo que eu abomino o cara, mas tanta gente falou bem deste filme que resolvi dar uma olhada. A premissa do filme não é ruim, embora a ideia central não seja nada original (homem dá mais atenção ao trabalho do que à família, e se arrepende por isso). O maior problema, claro, é Sandler. Toda vez que o filme se torna um pouco mais sério e até emocionante, Sandler quebra o clima com alguma "piada" bizarra.

Vamos lá...ele tem um controle remoto que permite que ele acelere as partes ruins da vida, dê "pause" na mulher quando está brigando com ele, abaixe o volume do cachorro e até lhe permite acessar o "menu". Em vários momentos ele descobre que perdeu partes importantes da vida pois o controle acelerou para frente; o que o impede de apertar o botão de "voltar"? Em outra cena, os filhos reclamam que ele não tem tempo para terminar a casinha na árvore, ou para acampar com eles; por que ele não usa o "pause" para controlar melhor o tempo? Como é um filme de Adam Sandler, o controle remoto é usado para cenas "engraçadas" como quando ele pausa o chefe, sobe na mesa e fique peidando na cara dele. Ou então quando desacelera uma mulher bonita para vê-la correr em câmera lenta. Por que não usar essas funções com os filhos? Com a esposa? Para arrumar mais tempo para lidar com trabalho e família? Melhor mostrá-lo com 200 quilos, brincando com a própria barriga. Ok. Tá na Netflix.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Pequena Grande Vida (Downsizing, 2017)

Pequena Grande Vida (Downsizing, 2017). Dir: Alexander Payne. Netflix. Filme curioso, bem diferente do que havia imaginado. Soube que foi um desastre de bilheteria no lançamento e a crítica não foi nada favorável. As expectativas eram bem baixas e, visto assim, "Pequena Grande Vida" até que não é ruim.

A premissa é curiosa: cientistas noruegueses criam um procedimento que encolhe as pessoas até que fiquem com dez centímetros de altura. O atrativo para a pessoa comum é que, sendo pequeno, os custos de vida, alimentação, etc também ficariam baixos. Cem mil dólares no "mundo grande" equivaleriam a 12 milhões de dólares no "mundo pequeno". O casal vivido por Matt Damon e Kristen Wiig resolve fazer o procedimento e morar em uma espécie de condomínio em miniatura chamado "Lazerlândia". Lá eles morariam em uma mansão (reativamente) enorme e viveriam como milionários.

O que começa como uma comédia leve, porém, acaba se desenvolvendo em um filme curiosamente filosófico (e estranho). O roteiro (de Alexander Payne e Jim Taylor) levanta questões sociais interessantes; como essas pessoas ricas se manteriam? Quem limparia suas casa, faria sua comida, satisfaria suas necessidades? Não demora muito e Matt Damon descobre que mesmo nessa sociedade "ideal", uma classe social "inferior" é necessária. A atriz Hong Chau interpreta uma vietnamita que entrou ilegalmente nos EUA, miniaturizada, dentro de uma caixa de televisão. O alemão Christoph Waltz é um contrabandista de bebidas, drogas e outras "iguarias". Ou seja, o mundo em miniatura não é tão diferente assim do normal.

Só que o roteiro não para por aí. Há também uma questão ecológica que estica bastante a trama e o filme muda novamente de tom e até de localização. As ideias não são ruins, mas fica a impressão que "Pequena Grande Vida" quer abraçar temas demais. O filme tem duas horas e quinze de duração e fica meio perdido no final. Dá para entender porque o público de cinema não se interessou; na TV, com calma e sem expectativas, é um programa interessante. Tá na Netflix.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Bar Doce Lar (The Tender Bar, 2021)

 
Bar Doce Lar (The Tender Bar, 2021). Dir: George Clooney. Amazon Prime. Filme bonito, muito bem dirigido por Clooney e com um surpreendente Ben Affleck em um dos papéis principais, "The Tender Bar" não foi muito bem recebido pela crítica. Eu gostei. O roteiro (de William Monaham) é baseado nas memórias de J.R. Moehringer. O bar to título é onde se passa grande parte da história, que revolve ao redor de um garoto chamado JR (Daniel Ranieri, uma graça de menino). Ele e a mãe (Lily Rabe) voltam para a casa dos pais porque ela não consegue mais pagar o aluguel. O pai de JR é um canalha que é "só uma voz na rádio" (ele é um locutor que liga para o menino de tantos em tantos anos). O avô do garoto é interpretado pelo grande Christopher Lloyd, meio sumido das telas ultimamente. Há uma bela sequência em que o avô leva o neto para a escola em um evento de dia dos pais.

Quem rouba a maioria das cenas, no entanto, é Ben Affleck como o Tio Charlie. Ele se torna uma espécie de pai substituto para o garoto, lhe ensinando sobre os fatos da vida e descobrindo o talento dele como escritor. Tye Sheridan interpreta JR quando adolescente e o acompanhamos a Yale, onde se matricula em Direito (sonho da mãe). Lá ele desenvolve uma paixão não correspondida por uma mulher manipuladora chamada Sidney (Briana Middleton), que enrola o rapaz por vários anos.

O filme é bem dirigido por George Clooney, que mantém um ar nostálgico, com uma fotografia quente e a câmera em movimento. Há um plano sequência muito bom que mostra a ideia de "uma volta com o filho" que o pai de JR faz um dia, aparecendo do nada e dirigindo com o garoto em uma volta pelo quarteirão. O foco, no entanto, está sempre na interação entre os atores, nos olhares e reações. Bonito. Disponível na Amazon Prime Video.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

The White Lotus (2021)

The White Lotus (2021). Dir: Mike White. HBO Max. Minissérie em 6 capítulos que mistura o belo visual do Havaí com o retrato do pior que existe no ser humano, "The White Lotus" é deliciosamente perversa. A série é passada em um resort exclusivo de alta classe que só pode ser acessado por barco. A cena da chegada dos hóspedes, aliás, me lembrou o começo dos episódios de "Ilha da Fantasia". O hotel é frequentado pela "nata" dos turistas internacionais, quase todos brancos, ricos e acostumados ao melhor.

O hotel é gerenciado por Armond (Murray Bartlett, excelente), um alcoólatra que está sóbrio há cinco anos. Ele é cortês e competente, mas está no limite da paciência. Nesta semana, ele vai ter que lidar com: a) um casal em lua de mel formado por Shane Patton (Jake Lacy) e a esposa, Rachel (Alexandra Daddario). Shane é o típico "filhinho da mamãe", milionário que está passando férias em um paraíso, mas não se conforma que o hotel errou e o colocou na SEGUNDA maior suíte do hotel. Ele não vai se esquecer desse erro, nem que, com isso, estrague a lua-de-mel e as férias. A esposa, Rachel, vem de uma família com menos dinheiro e, aos poucos, percebe que entrou em uma roubada (embora ela não saiba direito o que quer da vida).

b)a família Mossbacher é formada por uma executiva bem sucedida, Nicole (Connie Britton), o marido Mark (Steve Zahn), a filha insuportável Olivia (Sydney Sweeney) e o filho Quinn (Fred Hechinger). Olivia trouxe uma amiga, Paula (Brittany O'Grady), e as duas têm um estoque de remédios e drogas capaz de dopar um exército. Nicole é workaholic e passa as férias em chamadas com a China. O pai, Mark, é um coitado que tenta se aproximar dos filhos mimados das formas mais idiotas do mundo. Os adolescentes, quando não estão no celular, só sabem mostrar como estão revoltados com as injustiças do mundo (enquanto aproveitam as férias em um resort dez estrelas).

c) Jennifer Coolidge é Tanya, uma "perua" de meia idade que traz na bagagem as cinzas da mãe, que ela pretende jogar no oceano. Ela bebe muito e está sempre com dores; em uma visita ao spa do hotel ela recebe uma massagem "milagrosa" de Belinda (Natasha Rothwell). Tanya se "apaixona" por Belinda e a convida para jantares e passeios, além de prometer financiar uma clínica particular para a massagista, que realmente acredita na promessa.

Todos estes personagens se cruzam pelos corredores luxuosos do hotel e pelas praias paradisíacas do Havaí mas, pelo jeito, nunca estão felizes. A série tem um humor muito sarcástico e há algumas cenas bastante fortes, que contrastam com a direção de fotografia maravilhosa e a trilha sonora composta por canções tradicionais do Havaí. Disponível na HBO Max.
 

Madame (2017)

Madame (2017). Dir: Amanda Sthers. Amazon Prime. Comédia dramática que poderia ter rendido bem mais, "Madame" lembra um pouco "Que horas ela volta?", filme brasileiro em que Regina Casé interpretava uma empregada "da família" em uma casa de São Paulo. Aqui, uma família americana rica tem uma casa enorme em Paris. O casal principal é interpretado pelos grandes Harvey Keitel e Toni Collette, excelentes. A empregada é Rossy de Palma, espanhola vista em vários filmes de Almodóvar.

A americana organiza um jantar de gala em que até o prefeito de Londres estará presente, mas há um problema: o filho de Harvey Keitel, Steven (Tom Hughes) aparece de surpresa, o que faz com que a mesa tenha 13 convidados. Para fazer um número par, a patroa pede que a empregada coloque um vestido e se sente à mesa ("fale pouco, beba pouco"). Só que um convidado, um vendedor de arte inglês (Michael Smiley), acaba se apaixonando pela espanhola (que ele acredita ser da realeza da Espanha).

Está armada uma comédia de erros em que o rico inglês começa a sair com a empregada espanhola, acreditando que ela é uma rica excêntrica, enquanto que a patroa americana não se conforma que a empregada tenha uma vida amorosa melhor do que a dela. Toni Collette está muito bem como uma mulher rica mas mal amada, que acha que a empregada deve voltar "ao seu lugar". O tom cômico se torna mais dramático conforme o ciúme da patroa aumenta e ela começa a interferir no romance da empregada. Harvey Keitel está divertido e Rossy de Palma está muito bem. É um filme bem europeu, com produção francesa mas falado em inglês. O tema poderia ter rendido mais, mas não é um filme ruim. Disponível na Amazon Prime.
 

sábado, 28 de agosto de 2021

A Arte da Autodefesa (The Art of Self-Defense, 2019)

A Arte da Autodefesa (The Art of Self-Defense, 2019). Dir: Riley Stearns. Netflix. Comédia de humor negro que parodia filmes de artes marciais, "A arte da autodefesa" também lida com a fragilidade masculina de forma irônica. Jesse Eisenberg é Casey, um contador que trabalha até tarde na empresa, não consegue puxar papo com ninguém e, quando volta para casa, é recebido só pelo cachorro. Uma noite, quando sai para comprar ração para o pet, Casey é cercado por um grupo de motociclistas que roubam sua carteira e lhe dão uma surra. Assustado, Casey primeiro pensa em comprar uma arma, mas então passa na frente de uma academia de Karatê e resolve entrar. Lá ele conhece um professor carismático que quer ser chamado apenas de "Sensei" (Alessandro Nivola).

Curioso como o filme brinca com os clichês do gênero e até rouba inspiração de filmes como "Karate Kid" (Daniel Larusso leva uma surra de um grupo de ciclistas antes de virar aluno do Sr. Miyagui, por exemplo). Só que "A Arte da Autodefesa" está mais para um "Clube da Luta" do que para "Karate Kid". Casey se torna obcecado pela academia e quer andar o tempo todo com a faixa amarela na cintura. Ele começa a ouvir música pesada e a ser ríspido no trabalho. Ele até deixa de estudar Francês e passa a estudar Alemão, uma língua "mais máscula", segundo o Sensei.

Só não espere uma comédia escancarada. Pelo contrário, o roteiro se torna cada vez mais sério (embora ainda irônico) até chegar ao final. Jesse Eisenberg está muito bem, assim como Alessandro Nivola, que interpreta o Sensei como um homem manipulador. Imogen Poots é a única presença feminina, como uma aluna da academia que tenta chegar à faixa preta mas é mantida para trás pelo machismo do Sensei. Tá na Netflix.
 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Força Maior (Force Majeure, 2014)

 

Força Maior (Force Majeure, 2014). Dir: Ruben Östlund. Amazon Prime. Comédia dramática desconfortável de se assistir, "Força Maior" é um estudo que trata principalmente da fragilidade masculina (embora também trate da fragilidade dos relacionamentos e da autoridade materna/paterna). Um casal sueco vai passar as férias em uma estação de esqui no Alpes Suíços. Eles levam junto os filhos (uma menina com uns 13 anos e um garoto de uns seis anos), para passar um "tempo em família". Eles parecem a família perfeita, sorrindo para fotos no topo da montanha. No segundo dia de férias, porém, eles estão em um restaurante na montanha e testemunham uma avalanche. O que começa como um belo espetáculo da natureza, no entanto, se transforma rapidamente em uma ameaça. A avalanche se aproxima rapidamente do restaurante onde a família está e parece que todos serão engolidos. As crianças gritam desesperadas e a mãe as abraça. O pai, assustado, sai correndo. Tudo acontece muito rápido mas, ao contrários das aparências, não havia perigo; a avalanche para e eles são apenas cobertos pelo vapor do gelo.

Apesar de tudo terminar "bem", o evento paira desconfortavelmente sobre a família. O pai teria realmente abandonado esposa e filhos e corrido para se salvar? É assim que a esposa, Ebba (Lisa Loven Kongsli) interpreta a situação; já o marido, Tomas (Johannes Kuhnke) não lembra desta forma. As férias continuam mas ninguém mais está se divertindo. O roteiro (do diretor) é muito bom em criar cenas desconfortáveis; o hotel é de luxo e as paisagens são deslumbrantes, mas o clima entre o casal se torna mais frio do que as pistas de esqui. Há um ótimo uso do som (e imagem) das explosões controladas que a estação de esqui faz para soltar a neve das montanhas. Vemos os clarões, à noite, enquanto o casal conversa sobre o ocorrido, e parece que estamos vendo uma cena de guerra. Há muitos sussurros e idas ao corredor do hotel para discussões do casal ("por causa das crianças"), mas o diretor faz questão de mostrar que as crianças sabem que o casamento vai mal e sofrem com isso.

É dramático mas, ao mesmo tempo, curiosamente engraçado. O modo como o marido se recusa a admitir o que fez revela sua fragilidade. A mulher, por outro lado, parece usar a situação para por o casamento em cheque (ela fica muito curiosa sobre a história de uma amiga casada que deixa marido e filhos em casa e sai em férias de vez em quando, acompanhada por outros homens). É um filme bem europeu, muito bem fotografado por Fredrik Wenzel. A última parte se alonga um pouco, com vários "falsos finais". Soube que cometeram uma versão americana com Will Ferrell (imagino que mataram toda a sutileza deste enredo). Disponível na Amazon Prime.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Mesmo se nada der certo

Este é daqueles filmes tão "bonitinhos" que está a um passo do piegas. "Begin Again" é escrito e dirigido por John Carney, que em 2006 surpreendeu o mundo com "Apenas uma Vez" ("Once"), filme de baixíssimo orçamento, gravado com câmeras semi-profissionais pelas ruas de Dublin (Irlanda), que caiu nas graças do público e chegou a ganhar um Oscar de melhor canção.

Neste percebe-se a intenção clara de repetir o sucesso anterior com os mesmos elementos: um roteiro simples, fortemente baseado na música, passado nas ruas de uma cidade grande (Nova York), e um romance não convencional. Se não fosse o enorme carisma do elenco (quem não quer ver Mark Ruffalo e Keira Knightley juntos?)  o filme poderia se perder no caminho.

Ruffalo é Dan, um daqueles personagens comuns em filmes americanos, um produtor musical que já foi grande mas agora é o típico looser. Ele mora em um apartamento caindo aos pedaços, dirige um carro antigo, está sempre bêbado e não emplaca um sucesso há anos. Uma noite ele entra em um bar e vê uma bela garota inglesa, Gretta (Keira Knightley, de "Anna Karenina"), cantando no palco. O público não se entusiasma com a apresentação, mas os instintos musicais e empresariais de Dan o fazem querer gravar com ela. O problema é que ele havia sido despedido da gravadora naquela mesma manhã.

A trama é contada de forma não linear, e flashbacks nos mostram como é que Gretta foi parar naquele bar. Ela havia vindo a Nova York com o namorado, um músico em ascensão chamado Dave Kohl (interpretado pelo vocalista do Maroon 5, Adam Levine). Os dois eram como unha e carne, mas o sucesso subiu à cabeça do rapaz, que trai Gretta com uma garota da gravadora.

Assim, os personagens de Ruffalo e Knightley se conhecem quando estão no fundo do poço. Sem nada a perder e usando as novas tecnologias a disposição (em vários merchandisings da Apple), os dois decidem gravar um álbum pelas ruas de Nova York. (leia mais abaixo)


Carney dirige bem mas o filme, por vezes, passa a impressão de ser um "falso indie". Há aquelas inevitáveis montagens em que vemos os músicos gravando em vários pontos da cidade que nunca dorme, na cobertura de prédios, no metrô e até mesmo em barquinhos no Central Park. Tudo muito ensolarado e festivo, quase um institucional do urbanismo eficiente de Nova York.

A trama dá um pouco mais de profundidade ao personagem de Ruffalo, que tem que lidar com a ex-mulher (a grande Catherine Keener) e uma filha adolescente (Hailee Steinfeld, de "Ender´s Game") que se veste como uma garota de programa. Também emulando "Apenas uma Vez", Carney repete com Ruffalo e Knightley o mesmo tipo de amor platônico vivido por Glen Hansard e Markéta Irglova no outro filme. É um recurso que, sem dúvida, gera uma tensão sexual bem vinda, mas a repetição é um pouco frustrante e até previsível.

Apesar de bastante retrô, o filme flerta com conceitos modernos como a disponibilização de músicas na internet e a mudança do modelo econômico das gravadoras. Nada muito profundo, e tudo termina de forma apropriadamente agridoce, nem tão feliz nem triste. É fácil imaginar fãs do filme saindo por aí (de bicicleta, claro), com um iPhone no bolso, escutando a trilha sonora deste filme.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

Adolf Hitler era um admirador de arte. Pintor rejeitado pela escola de Belas Artes da Áustria, o líder de um dos regimes mais sangrentos da História imaginava um museu em sua homenagem, onde ele guardaria todos os tesouros e obras-primas saqueadas durante a 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que ele nunca bombardeou Paris por causa dos quadros e esculturas que lá havia. Nos Estados Unidos, um grupo de especialistas em arte se juntou e foi à Europa tentar resgatar as obras roubadas pelos nazistas. O grupo ficou conhecido como "The Monuments Men".

Esta história real ganhou versão cinematográfica nas mãos de George Clooney ("Tudo pelo Poder"), que escreveu o roteiro, produziu, dirigiu e atuou em "Caçadores de Obras-Primas", ao lado de um ótimo elenco. O filme é leve (até demais) e bastante descompromissado. Mostra aquela versão da 2ª Guerra Mundial pré "O Resgate do Soldado Ryan", em um mundo aparentemente mais simples em que havia um vilão bem definido, os nazistas, e os americanos eram os salvadores do mundo. Há ecos daqueles clássicos em que astros como Steve McQueen, Charles Bronson, James Garner, entre outros, se reuniam em filmes como "Sete Homens e um Destino" ou "Fugindo do Inferno" (a trilha "assobiada" de Alexandre Desplat lembra um pouco este último); sem falar na série "Onze Homens e um Segredo" estrelada por Clooney e Matt Damon. (leia mais abaixo)


O filme peca pela falta de ambição. Com um elenco contando com figuras engraçadas como Bill Murray ("Moonrise Kingdom") e John Goodman ("Argo"), poderia ter sido uma grande comédia. No entanto, é o tipo de filme em que os bastidores devem ter sido muito mais engraçados do que o que se vê na tela. Há bons momentos, como quando Bill Murray e Bob Balaban encontram um soldado nazista perdido na floresta. Há também duas cenas emocionantes bem conduzidas por Clooney, como o sacrifício de um dos membros do grupo para tentar salvar uma escultura valiosa, ou a cena em que Bill Murray escuta, emocionado, uma mensagem de natal enviada pela família. Há, porém, oportunidades perdidas. Matt Damon ("Elysium") e a grande Cate Blanchett ("Blue Jasmine") ficam em um empasse por grande parte da trama. Ele é o curador do Museu Metropolitan de Nova York e está tentando descobrir o que aconteceu com as obras de um museu de Paris em que Blanchett trabalhava. Ela não confia em ninguém e fica guardando as informações por muito tempo. Até mesmo a sugestão de romance entre os dois não dá em nada.

"Caçadores de Obras-Primas" tem ótima direção de fotografia de Phedon Papamichael, que trabalha muito bem com o contraste entre cenas escuras e as cores vivas dos quadros de mestres como Monet e Rembrandt. Um filme que se assiste com um sorriso nos lábios, mas que não é tão bom quanto poderia ser.

domingo, 24 de junho de 2012

A Delicadeza do Amor

Nathalie (Audrey Tautou, de "Coco antes de Chanel") é casada com um jovem francês que é quase perfeito. Ele é romântico (pede Nathalie em casamento de joelhos, no meio da rua), é bonito, é apaixonado por ela e quer ter filhos. Os dois formam um belo par e, em menos de dez minutos do filme, já estão casados e planejando uma família. É então que o inesperado acontece; ele sofre um acidente, entra em coma e morre.

"A Delicadeza do Amor", que parecia ser uma comédia romântica como outra qualquer, se transforma em um filme que, embora ainda leve e divertido, é inteligente e observador. Nathalie, viúva, investe no trabalho, onde é assediada pelo chefe (Bruno Todeschini), e vê as amigas se casando e tendo filhos. Após três anos em reclusão, um dia, inesperadamente, Nathalie beija um colega de trabalho, o sueco Markus (François Damiens). Ele é estrangeiro, desengonçado, grandalhão e tão "comum" que é quase invisível. O beijo de Nathalie é surpreendente para os dois, que não sabem o que fazer em seguida. Iniciam assim um romance tão inocente quanto complicado. Nem mesmo a melhor amiga de Nathalie consegue entender o porquê de uma mulher como ela ter se interessado por este sueco esquisito, e o próprio Markus tem dificuldade em acreditar no amor dela.

O filme é dirigido pelos irmãos Stephane e David Foenkinos, baseado no livro de David e, assim como diz o título, é extremamente delicado. Tautou (que para sempre vai ter associado "Amélie Poulain" a seu nome) está muito bem, mas Damiens rouba o filme como o atrapalhado Markus. Há uma cena muito engraçada quando ele está andando pelas ruas, logo depois do primeiro beijo de Nathalie, e ele se sente irresistível, atraindo a atenção de todas as mulheres da rua, ao som de "Bang a Gong (Get It On)", da banda T. Rex. O romance entre Nathalie e Markus rapidamente se transforma na fofoca preferida do escritório em que trabalham e a história vai parar nos ouvidos de Charles, o chefe ciumento dela. Mas os clichês são contornados pela sensibilidade do roteiro. O filme mostra como, no mundo competitivo de hoje, ser um sujeito decente, simples e comum como Markus é encarado com desconfiança. Cabe a Nathalie decidir se vai ceder às pressões de todos, que querem vê-la com "um cara melhor", ou vai acreditar no amor sincero de Markus. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

sábado, 24 de março de 2012

As Mulheres do 6º Andar

O Senhor Joubert (Fabrice Luchini, de "Potiche" e "Moliére") nasceu e passou a vida toda no mesmo prédio em Paris. É herança de família e lá ele mora com a esposa Suzanne (Sandrine Kiberlain, de "Mademoiselle Chambom" e "O Pequeno Nicolau"), a mãe e Germaine, empregada por trinta anos. Com a morte da mãe de Joubert, a velha doméstica é demitida e em seu lugar entra a jovem e bela Maria (Natalia Verbeke, de "O Filho da Noiva"). São os anos 60 e a França está recebendo uma grande leva de mão-de-obra espanhola por causa da ditadura de Francisco Franco. Segundo amigas de Suzanne, as espanholas são limpas e trabalham de domingo a domingo, com uma condição: querem ir à missa todas as manhãs. A chegada de Maria à casa do Senhor Joubert, um metódico e entediado corretor de valores, causa uma reviravolta na vida dele; interessado a princípio na beleza da moça, aos poucos ele fica atraído também pelo modo alegre e corajoso com que todas as empregadas espanholas do prédio, que moram do 6º andar, levam a vida.

O filme de Philippe Le Guay é uma deliciosa comédia que observa de modo otimista as relações sociais entre os franceses e as imigrantes espanholas. O elenco conta com duas atrizes que já trabalharam com Almodóvar, Carmen Maura (que interpreta Concepción) e Lola Dueñas (que interpreta Carmen, a empregada socialista que está sempre exigindo melhorias); as duas, aliás, interpretaram mãe e filha no ótimo "Volver". O roteiro é bem humorado e inteligente. As francesas amigas de Suzanne falam das espanholas como se fossem meras serviçais ignorantes, e quando o Senhor Joubert começa a se interessar por Maria parece que ele quer apenas dormir com ela. Aos poucos, porém, ele começa a perceber o modo de vida das outras espanholas, pessoas com quem convive todos os dias mas que, até então, lhes eram desconhecidas. Uma visita ao sexto andar revela que o único banheiro usado por elas está entupido e imundo, não há água corrente nos quartos e a higiene pessoal deve ser feita usando-se uma pia no corredor. Joubert reforma o banheiro e passa a ser tratado com carinho pelas empregadas, até mesmo pela desconfiada Carmen. Sim, ele ainda está interessado fisicamente em Maria, como mostra uma cena de ciúme, mas não é apenas sexo que ele procura.

A esposa Suzanne percebe que há algo diferente no comportamento do marido mas, incapaz de ver as empregadas espanholas como rivais, começa a desconfiar de uma cliente do marido, uma dondoca chamada Bettina de Brossolette (Audrey Fleurot). Enquanto isso, o Senhor Joubert se torna um homem mais alegre, mais consciente das pessoas à sua volta e, no fundo, mais humano. O filme é sábio ao usar ou evitar os clichês do gênero e é generoso com os personagens. "As Mulheres do 6º Andar" está em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.


domingo, 4 de setembro de 2011

Amor a toda prova

O casal está no restaurante tentando decidir o que pedir. "O que você vai querer?", pergunta o marido. "Um divórcio", responde a esposa. Assim começa "Amor a toda prova" (mais um desses títulos brasileiros genéricos, inferior ao original, "Crazy, Stupid, Love"). O marido é Cal Weaver, o sempre competente Steve Carell. A esposa, Emily (ninguém menos que Julianne Moore), "não quer magoar" Cal, mas além do anúncio do divórcio ainda confessa ter transado com um companheiro de trabalho, David Lindhagen (Kevin Bacon), o que é mais informação do que Cal estava disposto a receber. Desolado, Cal começa a passar suas noites bebendo em um bar da moda, onde conhece o "homem perfeito", Jacob (Ryan Gosling), um conquistador que leva uma garota diferente para casa todas as noites. Jacob, afetado pela figura triste de Cal reclamando suas "histórias de corno" todas as noites no bar, resolve ajudá-lo a sair do buraco.

Steve Carell, que foi lançado à fama com a comédia escrachada "O Virgem de 40 Anos", tomou um rumo curioso (e muito bem sucedido) em sua carreira. Seu tipo "homem comum" se adaptou tranquilamente a filmes engraçados, mas com um foco mais "família", como "Agente 86", "A volta do Todo Poderoso" e "Eu, meu irmão e nossa namorada" (além da voz de Gru na ótima animação "Meu malvado favorito"). Assim como neste último, Carell eleva o nível do batido gênero "comédia romântica" de "Amor a toda prova", do qual é um dos produtores, com um roteiro inteligente escrito por Dan Fogelman. Robbie (Jonah Bobo, uma boa descoberta), seu filho de 13 anos, é um romântico incurável que é apaixonado pela baby sitter Jessica (Analeigh Tipton), de 17 anos. Ela, por sua vez, é apaixonada pelo patrão Cal e, com o divórcio, Jessica resolve partir para o ataque, consultando a "piranha" do colégio, uma garota que só transa com homens mais velhos. Cal, auxiliado pelas dicas de conquista de Jacob, faz uma reciclagem no guarda roupa, ganha um novo corte de cabelo e, após alguns tropeços, também se torna um conquistador competente. Há uma cena hilariante estrelada por Marisa Tomei, sua primeira conquista, que vale o filme.

"Amor a toda prova", porém, não é um filme sobre conquistas adolescentes. O roteiro, apesar de moderno, é voltado a valores tradicionais como romance e casamento. Cal e Emily têm uma longa história juntos e mesmo Jacob, após conhecer a bela Hannah (Emma Stone), começa a repensar seu modo de vida. Com 118 minutos, o filme poderia ser um pouco mais curto, mas o roteiro inteligente tem até espaço para algumas surpresas e reviravoltas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

Shakespeare diz em uma de suas peças (Macbeth) que a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, e que não significa nada". É assim que Woody Allen começa seu mais novo filme. Escrever sobre Allen, assim como ver um filme dele, é um prazer. O diretor veterano se mantém tão ativo que muitos o acusam de estar decadente. Na verdade seus filmes ainda estão bem acima da média da bobagem que tem povoado as telas recentemente. Sim, há uma espécie de "fórmula" para um filme de Woody Allen. Homens e mulheres com problemas conjugais, diálogos irônicos, jazz na trilha sonora e a sensação de que o mundo é feito de peças de teatro, óperas, galerias de arte e conversas sobre o ato de escrever. Só que em meio a este mundo aparentemente fora da realidade há espaço para pequenos e grandes dramas humanos, cheios de som e fúria, significando a vida e a morte para seus protagonistas, mas nada no esquema geral do mundo.

Helena (Gemma Jones) é uma senhora que perdeu o "chão" quando o casamento de 40 anos terminou. O ex-marido, Alfie (Anthony Hopkins), se assustou com a idade e caiu naquele padrão patético do idoso que deixa a esposa e passa a frequentar academias de ginástica e sair com garotas de programa. Helena vai buscar consolo em uma vidente chamada Cristal (Pauline Collins), que logo na primeira sessão vê "ondas coloridas positivas" indo na direção de Helena. Claro que ela é uma charlatã, mas ao menos é mais pessoal que os psiquiatras que tratavam de Helena antes, com frieza e remédios.

Helena é mãe de Sally (Naomi Watts), que trabalha em uma galeria de arte chefiada pelo atraente Greg (Antonio Banderas). Sally é casada com um americano, Roy (Josh Brolin), que já foi um escritor de sucesso. Incapaz de escrever um livro bom novamente, Roy passa o dia espiando e "buscando inspiração" na vizinha do outro lado da rua, a indiana Dia (Freida Pinto). A garota é violonista clássica e está noiva de um rapaz que está sempre viajando.

Allen, com seu talento habitual, cruza e descruza o caminho destas pessoas pelas ruas de Londres. Sally se apaixona pelo chefe espanhol, que aparentemente está interessado nela. Alfie se casa com uma prostituta chamada Charmaine (Lucy Punch, a personagem mais caricata do filme), que obviamente só está interessada no dinheiro dele. O novo livro de Roy é rejeitado pela editora e um de seus amigos, também escritor, sofre um grave acidente e fica em coma. Só que, antes do acidente, ele havia deixado o manuscrito de um ótimo livro para Roy ler, e Roy começa a imaginar se o amigo vai acordar um dia ou não. Todos estes personagens tem que lidar com a fascinação de Helena pela vidente e por sua recém descoberta "espiritualidade". Helena consulta Cristal regularmente e acredita piamente em todas as visões da charlatã.

A trama lembra o extraordinário "Interiores", filme extremamente sério que Allen escreveu e dirigiu em 1978. Aquele filme também lidava com uma mulher cujo marido a havia abandonado e sua filha com problemas no casamento com um escritor. Talvez o tempo tenha mostrado a Allen que tudo isso, no final, não "significa nada" e ele resolveu fazer uma comédia sobre o mesmo assunto. Para os cinéfilos, um filme de Woody Allen sempre significa alguma coisa, e este não é exceção.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Riviera não é aqui

Comédia divertida, leve e despretensiosa, "A Riviera não é aqui" brinca com estereótipos e preconceitos. Philippe (Kad Merad) é funcionário público dos Correios e faz de tudo para agradar a esposa Julie (Zoé Félix). Para conseguir uma transferência para uma agência na Riviera francesa, ele se finge de paralítico para ganhar uma "vaga de deficiente". Mas o plano não dá certo e ele tem duas escolhas: ser demitido ou enviado para o norte da França, perto da Bélgica, a uma cidade chamada Bergues. Para Philippe, a notícia parece uma sentença de morte. Ele e a esposa tem várias idéias pré concebidas sobre o "norte", que seria habitado por pessoas ignorantes e permanentemente embriagadas, vivendo sob um frio congelante. Além disso, falariam um dialeto estranho, ininteligível. A esposa decide ficar no Sul com o filho pequeno e Philippe parte sozinho para seus dois anos de "exílio".

O diretor do filme, Dany Boon, interpreta Antoine, funcionário dos correios de Bergues que, debaixo de um temporal, recebe Philippe à cidade. Ele ainda mora com a mãe super controladora e é apaixonado por Annabelle (Anne Marivin), que está namorando um motoqueiro. Como era de se esperar, Philippe tem todo tipo de problemas nos primeiros dias na cidade. Ele não consegue entender o que os nativos falam, o que por vezes é um problema também para o espectador. Imagino que muitas piadas foram perdidas na tradução, mas uma solução encontrada foi escrever várias legendas erradas, propositalmente, para tentar traduzir a confusão dos personagens. Também de forma previsível, aos poucos Philippe acaba sendo conquistado pelo povo da pequena cidade e a se familiarizar com seus costumes. O toque cômico é dado pela relação de Philippe com a esposa. Ela é do tipo que só fica feliz quando o marido está passando por problemas, de modo que ele começa a mentir para ela, reforçando os preconceitos que ele mesmo tinha. Há uma sequência engraçada em que a esposa vai visitá-lo em Bergues e todos começam a agir como os "bêbados ignorantes" que ela esperava encontrar.

O filme é bastante previsível e há várias situações que poderiam render soluções melhores. Mas ele funciona como comédia de costumes leve e divertida.


domingo, 7 de junho de 2009

A Mulher Invisível

Estranho esse tipo de cinema comercial que tem se tentado fazer no Brasil. Após o enorme sucesso de "Se eu fosse você 2", chega agora às telas "A Mulher Invisível". O filme com Tony Ramos e Glória Pires já seguia a cartilha da troca de gêneros tão usada na comédia americana e replicada aqui com inesperado sucesso. Agora o filme de Cláudio Torres, com Selton Mello e Luana Piovani, também segue uma fórmula usada à exaustão: a do homem solitário que, por algum motivo, começa a ver alguém que ninguém mais consegue enxergar. Foi assim com Steve Martin em "Um Espírito Baixou em Mim" ("All of Me", 1984), ou com Robert Downey Jr em "Morrendo e Aprendendo" ("Heart and Souls", 1993), entre vários outros exemplos.
Em "A mulher invisível", Selton Mello (figura carimbada do cinema brasileiro) é Pedro Albuquerque, um controlador de tráfego no Rio de Janeiro, que é abandonado pela esposa Marina (Maria Luisa Mendonça, em aparição relâmpago), no início do filme. Ele entra em parafuso, deixa o emprego e se tranca no apartamento por meses seguidos. Um dia uma mulher estonteante (Luana Piovani, com pouca roupa) aparece à sua porta com uma xícara na mão. Sim, é o velho clichê da vizinha que foi pedir açúcar emprestado. Ela acaba se revelando a mulher "ideal"; é bonita, gostosa, arruma a casa, não liga se Pedro chega de madrugada depois de uma noitada e está sempre pronta para sexo. O problema é que ela não existe, sendo fruto da imaginação de Pedro. E este é o filme. Não é difícil imaginá-lo em Nova York ou Los Angeles, com Ben Stiller como Pedro e Cameron Diaz como a mulher de seus sonhos.
A julgar pelas gargalhadas ouvidas na platéia, a produção agradou ao público e, de fato, ela tem seus momentos. Selton Mello, com uns quilos a mais, faz uso de seus trejeitos e voz para tentar arrancar risadas mesmo nas cenas não muito bem escritas. Há também a personagem da vizinha real de Pedro, Vitória (Maria Manoella), que por anos escutou a vida dele através da parede da cozinha. Casada com um policial durão e indiferente, ela é apaixonada por Pedro mas nunca conseguiu se declarar. E a vida dela fica bem mais complicada quando a "mulher invisível" de Pedro começa a aparecer para ele.
O filme, assim, é produção descartável e destinado a diversão rápida, e está bem longe da produção anterior do diretor, "Redentor". No máximo, pode-se observar superficialmente como o perfil de homens e mulheres mudou na sociedade. Pedro é um homem "moderno", o que significa perdido. Sua idéia de mulher ideal ainda carrega um monte de machismo, mas pode-se notar também uma grande carência e necessidade de afeto. Desde o advento da libertação sexual e do feminismo, a mulher moderna é um ser muito mais prático. Quando a esposa de Pedro o troca, no início do filme, por um "modelo" importado alemão, ela lhe diz que as mulheres "nunca são felizes quando estão felizes", que ela quer aventura, risco. Selton Mello, na melhor frase do filme, responde: "Eu posso te fazer infeliz se isso te fizer feliz".


quinta-feira, 13 de março de 2008

Juno


Juno era um dos filmes indicados ao Oscar que eu ainda não havia visto. O filme é muito bom e havia a suspeita de que, diante de tantos filmes "pesados" disputando, ele poderia até levar a estatueta. Não venceu (o prêmio foi, merecidamente, para "Onde os fracos não têm vez"), mas se beneficiou da publicidade extra e continua nas telas. O roteiro (da estreante que responde pelo nome de Diablo Cody, uma ex stripper) trata de uma garota de 16 anos que, apesar de senhora de si e bastante inteligente, engravidou na sua primeira e única transa com seu melhor amigo, Paul Bleeker (Michael Cera). Juno é interpretada pela ótima Ellen Page, de 20 anos, que conseguiu se transformar em uma adolescente de 16. A interpretação rendeu uma indicação ao Oscar e Page, de fato, carrega o filme nas costas (ou na barriga?).
O que poderia se transformar em um filme melodramático (ou em uma comédia burra) se revela um filme inteligente e gostoso de se ver. Ajuda o fato de que a família de Juno é o protótipo da família "liberal" americana. Assim, somos poupados de falsas lições de moral ou pais desesperados. Os dialogos entre Juno e sua melhor amiga com relação à gravidez demonstram a imaturidade da garota e o modo quase casual com que a situação é tratada. Juno chega a ir à uma instituição que pratica abortos em mães arrependidas, mas ela resolve que vai ter o filho e dá-lo a algum casal que queira adotar um bebê. Em um anúncio ela descobre um compositor de jingles cuja esposa (interpretada por Jennifer Gardner) está desesperada para ser mãe. O roteiro passa por várias situações que poderiam ter facilmente se tornado clichês, mas o filme inteligentemente os evita. O diretor, Jason Reitman, já havia feito a comédia de humor negro "Obrigado por fumar", e dirige o filme com leveza e tranquilidade.
O curioso a respeito de Juno e dos outros filmes candidatos ao Oscar este ano é que ele é divulgado como uma produção "independente", e a abertura em forma de desenho animado até reza pela cartilha do gênero, mas ele ousa muito menos do que os filmes dos grandes estúdios. "Onde os fracos não têm vez" e "Sangue Negro", apesar de produções caras e produzidos dentro do "sistema" hollywoodiano, são muito mais ousados e inovadores do que seu irmão mais novo. O resultado é que pouca gente viu os filmes dos irmãoes Coen e de Paul Thomas Anderson, mas Juno foi muito bem de bilheteria, obrigado.
E, de fato, é um bom filme. O elenco é simpático, os diálogos são bem escritos e a trilha sonora é envolvente. Provavelmente nunca uma história de gravidez adolescente foi tão tranqüila e bem sucedida, mas o filme é uma boa pedida.