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sábado, 22 de outubro de 2022

O Desconhecido (The Stranger, 2022)

 
O Desconhecido (The Stranger, 2022). Dir: Thomas M. Wright. Netflix. Bom filme de suspense australiano lançado na Netflix esta semana, "O Desconhecido" não está interessado em pegar o espectador pela mão e explicar tudo. Pelo contrário, leva um bom tempo para você entender o que está acontecendo, e porquê. Baseado em um crime real ocorrido na Austrália em 2003, o filme tem um quê de David Fincher, um clima pesado, bastante lento e introspectivo.

Fica até difícil fazer uma sinopse ou evitar spoilers, mas a trama envolve um homem chamado Henry (Sean Harris, excelente) que entra para um grupo criminoso ao voltar para o oeste da Austrália. Ele conhece Mark (Joel Edgerton, igualmente excelente), que o apresenta a seus superiores e fica responsável por ele. Há várias cenas em que Henry é levado de um lado para outro dentro de um carro, conhece pessoas, recebe envelopes e (assim como o espectador) tenta entender o que está acontecendo. Aos poucos percebemos que as coisas não são como parecem, e a trama tem a ver com o desaparecimento e morte de um garoto ocorrida oito anos antes.
Imagino que este tipo de crime seja raro na Austrália, porque a escala da operação policial é enorme. Leva um bom tempo para você entender quem é quem e como eles planejam revelar o culpado. Tudo isso, porém, acaba sendo secundário em um filme mais interessado em desenvolver um angustiante clima de suspense através das boas interpretações, fotografia e trilha sonora. Joel Edgerton, quase monossilábico, lida mal com a pressão do trabalho e tem pesadelos frequentes com o suposto assassino. O fato de que ele tem que cuidar de um filho pequeno alguns dias da semana só aumenta sua angústia.

Não espere um filme policial com perseguições e tiroteios. "O Desconhecido" está mais para "Mindhunter" e "Zodíaco" do que para "Resgate" (filme de ação com Chris Hemsworth). Tá na Netflix.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Meu Filho (My Son, 2021)

Meu Filho (My Son, 2021). Dir: Christian Carion. Amazon Prime Video. Suspense com bom elenco, James McAvoy e Claire Foy, que interpretam um casal divorciado cujo filho desaparece de um acampamento nas montanhas da Escócia; ele teria se perdido na floresta? Foi raptado?

O filme é a versão em inglês de um filme francês feito pelo mesmo diretor em 2017. Segundo informações da internet, James McAvoy não recebeu o roteiro do filme, tendo que improvisar seus diálogos de acordo com as falas dos outros atores. Ele está muito bem como um pai que trabalha para uma empresa de petróleo e tem que passar longos períodos fora de casa. Isso levou ao divórcio da esposa e acusações de ser um pai ausente. Há boas cenas de drama e suspense entre McAvoy e Claire Foy, mas o filme termina com mais perguntas que respostas, o que é decepcionante. Disponível na Amazon Prime Video.


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Última Parada 174

O desfecho de "Última Parada 174" todo mundo já conhece. Em julho de 2000, com toda a imprensa acompanhando ao vivo, um jovem chamado Sandro Nascimento estava dentro de um ônibus da linha 174. Ele estava de revólver em punho e mantinha vários reféns. Após horas de negociações, e já fora do ônibus, um policial do Bope tentou atirar nele, errou o alvo e matou a refém que Sandro segurava. A refém morreu e Sandro, levado a uma viatura, morreu oficialmente por "asfixia". O caso interessou o cineasta José Padilha, que realizou um bom documentário, "Ônibus 174". Mais tarde, Padilha resolveu mostrar o outro lado da moeda e quis fazer um filme sob o ponto de vista dos policiais. O resultado foi o polêmico "Tropa de Elite".

Parecia que nada mais poderia ser feito a partir desta história, mas Bruno Barreto, diretor brasileiro que há anos estava radicado nos Estados Unidos, resolveu fazer um filme de ficção baseado no episódio. O resultado é interessante. O foco do filme, curiosamente, não é o sequestro nem o final trágico, mas sim a história da vida de Sandro (Michel Gomes) e de um outro rapaz da mesma idade e um nome parecido, Alessandro (Marcello Melo Jr), que foi tirado da mãe quando bebê e criado pelo pai traficante. Sandro vê a mãe ser assassinada por um assaltante e vai morar com uma tia. Mas ele não consegue se adaptar à família e se torna um morador de rua. Ele passa seus dias cheirando cola e praticando pequenos delitos no Rio de Janeiro. Em um lance de sorte, ele escapa da famosa chacina da Candelária, quando vários menores de rua foram assassinados a sangue frio. O destino faz com que ele seja enviado para a mesma prisão em que Alessandro está, e os dois formam uma aliança.

O filme acompanha também a vida de Marisa, a mãe de Alessandro, que nunca se esqueceu do filho que lhe foi tirado das mãos pelo pai traficante. Ela se torna evangélica e, ao assistir uma matéria na televisão sobre a Candelária, acredita ter achado seu filho. O roteiro faz um jogo interessante entre estes dois adolescentes que perderam a mãe e esta mulher em busca do filho (ou de uma figura que possa substituí-lo). O espectador sabe que o filho verdadeiro de Marisa é Alessandro, mas ela acredita que seu filho é Sandro que, precisando de um lugar para ficar (e de uma mãe), acaba se passando por filho dela.

Tudo isso já daria um filme bastante interessante e, a bem da verdade, você até se esquece do sequestro até perto do final, quando Sandro, rejeitado pelo amigo, pela namorada e pela mãe adotiva, gasta seu dinheiro em cocaína e vai parar dentro do Ônibus 174. A polícia é avisada por um passageiro que há um homem armado dentro do ônibus e o cerco é levantado. O resto já é de conhecimento geral, mas Bruno Barreto não se preocupou em ser muito fiel aos eventos reais. Há um detalhe no elenco que me desagradou. Interpretando o negociador do Bope que tenta tirar Sandro do ônibus está ninguém menos que André Ramiro, o ator que interpretou o policial Matias em "Tropa de Elite". Vestindo o uniforme negro com a caveira, Ramiro parece literalmente saído do outro filme para aparecer neste, e o resultado é confuso. Seria uma piada de Bruno Barreto? Ou uma crítica ao resultado da operação?

Também não deixa de ser irônica (e trágica) a coincidência de que o lançamento de "Última Parada 174" se deu apenas alguns dias depois do final de outro sequestro que mexeu com a opinião pública e que resultou na morte de uma refém, em Santo André, São Paulo. Não tenho a menor dúvida de que, em pouco tempo, teremos um filme a respeito. "Última Parada 174" foi o escolhido brasileiro para tentar concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem, em Los Angeles. O roteiro é do craque Bráulio Mantovani (Cidade de Deus), a fotografia do francês Antoine Heberlé e a bela trilha sonora é de Marcelo Zarvos.