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domingo, 4 de fevereiro de 2024

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, 2024)

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, 2024). Dir: Bao Nguyen. Netflix. Bom documentário sobre os bastidores da gravação do hit "We Are the World", um single composto por Lionel Ritchie e Michael Jackson em janeiro de 1985. A música fez parte de uma das ações da época contra a fome na África, particularmente na Etiópia. O ator, cantor e ativista Harry Belafonte teve a ideia e coube ao produtor musical Quincy Jones fazer o trabalho.

O documentário é costurado com entrevistas de vários envolvidos com a música na época, como Lionel Ritchie, que também produz o filme. O pesadelo logístico de juntar um grupo de super artistas famosos era enorme, então decidiram gravar o single depois de um prêmio musical em Los Angeles (que Lionel Ritchie ia apresentar), já que muitos estariam na cidade. Ritchie e Jackson compuseram a música em poucos dias. A melhor parte do documentário é quando eles mostram os bastidores da gravação em si, compilados de horas de fitas. Como lidar com o ego de mais de quarenta estrelas do pop, rock e até mesmo do country? "Deixem o ego na porta", dizia um cartaz escrito por Quincy Jones. Estavam presentes astros como Bruce Springsteen, Michael Jackson, Tina Turner, Ray Charles, Stevie Wonder, Paul Simon, Bob Dylan, Billy Joel, Al Jarreau, Cyndi Lauper, Diana Ross, Kenny Loggins e dezenas de outros.

Apesar do aviso de Jones, lidar com os artistas não era fácil. Stevie Wonder achou que deveriam cantar algumas frases em Swahili, língua falada em algumas partes da África (mas não na Etiópia). Michael Jackson, para não ficar atrás, quis acrescentar algumas frases em outra língua africana. Eles só tinham aquela noite para gravar a canção e ideias como essas causavam vários atrasos (resolveram cantar tudo em inglês mesmo). Prince, que havia ganhado vários prêmios naquela noite, era dúvida se iria participar ou não. Ele exigiu gravar sozinho, em outra sala, e acabou dispensado. Huey Lewis (que fez muito sucesso com as canções de "De Volta para o Futuro"), acabou pegando os vocais dele.

Engraçado ver os vários takes que os artistas tiveram que gravar para chegar às partes que conhecemos na música (e clipe) final. Tenho minhas dúvidas se "We are the World" trouxe algum benefício às crianças famintas da África mas, como canção pop, foi um enorme sucesso. Tá na Netflix.

domingo, 26 de novembro de 2023

Albert Brooks: Rindo da Vida (Albert Brooks: Defending My Life, 2023)

Albert Brooks: Rindo da Vida (Albert Brooks: Defending My Life, 2023). Dir: Rob Reiner. HBO Max. Albert Brooks talvez não seja muito conhecido no Brasil, a não ser por fãs de cinema. Começou como comediante nos anos 1970, em aparições lendárias em vários talk shows, se enveredou pelo cinema, onde foi escritor, diretor, ator e produtor de vários bons filmes, como "Romance Moderno" (1981) ou "Um visto para o Céu" (1991). Foi também um dos idealizadores do programa de TV "Saturday Night Life".

Neste documentário, o amigo e também diretor Rob Reiner (Conta Comigo, Questão de Honra) senta com ele em uma mesa de restaurante e eles têm uma conversa franca sobre como se conheceram na escola e sobre a carreira de Brooks, família, amor e filmes. Como cinema, é meio "quadradinho" e seguro. Há vários depoimentos de pessoas como Chris Rock, Judd Apatow, Sarah Silverman, Larry David, James L. Brooks e até Steven Spielberg que, eu não sabia, era amigo de Albert Brooks e, juntos, fizeram alguns curtas em Super 8 nos anos 1970.

Há várias cenas dos filmes de Brooks, claro, e aparições em TV. Filho de um comediante que morreu no palco, após uma apresentação e uma mãe atriz e cantora, o nome real de Brooks era Albert Einstein, piada que ele atribui à mãe. O documentário é curto, uma hora e vinte minutos, e vale para quem quiser conhecer sobre a carreira dele. Fiquei com vontade de rever alguns de seus filmes. Disponível na HBO Max.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Sly (2023)

Sly (2023). Dir: Thom Zimny. Netflix. Documentário estranhamente melancólico sobre a vida e carreira de Sylvester Stallone. Conhecido por personagens "musculosos" como Rocky e Rambo, pouca gente sabe que Stallone é, antes de tudo, um roteirista. É, também, produtor e diretor. Cansado de ser rejeitado pelos estúdios nos anos 1970, Stallone escreveu "Rocky" e se recusou a vender o roteiro a não ser que ele próprio interpretasse o personagem principal. "Rocky" ganharia o Oscar de Melhor Filme e Stallone seria indicado tanto como roteirista quanto por ator.
É uma história fascinante e, aos trancos e barrancos, Stallone conseguiu se manter no topo de Hollywood por décadas. Por que, então, este documentário acaba decepcionando? O próprio Stallone conta sua história em uma série de entrevistas, grande parte delas dadas dentro de uma de suas mansões, cercado por figuras dele mesmo. Bustos e estátuas de Rocky, Rambo e outros personagens cercam o ator; nas estantes, roteiros dos seus filmes. Nas paredes, quadros dele mesmo. Achei carregado demais. Há momentos intimistas, principalmente quando ele fala da relação complicada com o pai, um homem competitivo e violento. A morte do filho, Sage Stallone, no entanto, passa meio batida e sem muitas explicações. Há poucos depoimentos de outras pessoas (Quentin Tarantino, Talia Shire e Schwarzenegger os maiores destaques).
Há diversos trechos de seus filmes (principalmente Rocky e Rambo) mas, por questões de direitos autorais, as icônicas trilhas sonoras não são usadas. Faltou um olhar mais crítico sobre o papel de Stallone na cultura pop do cinema dos anos 1980. Há, porém, diversos bons momentos, principalmente nas cenas de bastidores das filmagens de Rocky (que tinha orçamento bastante modesto) e na ligação biográfica entre a vida de Stallone e seus personagens. Pessoalmente, achei mais interessante a minissérie recente sobre Schwarzenegger. Tá na Netflix.

domingo, 22 de outubro de 2023

Assassinas (Assassins, 2020)

 
Assassinas (Assassins, 2020). Dir: Ryan White. HBO Max. Ótimo documentário sobre uma história bizarra. Em 2017, Kim Jong-nam, o meio-irmão do presidente da Coréia do Norte, Kim Jong-un, foi assassinado em plena luz do diz no aeroporto de Kuala Lampur, Malásia. Duas jovens mulheres foram presas pelo crime; as duas foram filmadas pelo sistema de segurança do aeroporto claramente abraçando e passando alguma coisa no rosto do coreano. Alguns minutos depois, ele morreu envenenado.

AVISO DE SPOILERS . O bizarro é que as duas, quando presas, alegavam não saber o que estava acontecendo. Elas não conheciam a identidade da vítima e tinham uma história estranha para contar: elas acreditavam que faziam parte de um programa de "pegadinhas" online. Por semanas antes do crime elas teriam sido contratadas por homens que diziam ser de um programa de pegadinhas japonesas, e teriam feito a mesma brincadeira com vários homens antes.

O documentário é dirigido por Ryan White, o mesmo da série "The Keepers", da Netflix (em que a morte de uma freira revelava coisas ainda piores sobre uma escola americana). White e sua editora, Helen Kearns, montam um incrível quebra-cabeças formado por imagens de segurança do aeroporto, postagens em redes sociais e depoimentos para tentar provar se a história das moças é real ou não. Há imagens gravadas na Malásia, Indonésia, Vietman e Coréia do Norte e é curioso ver como a globalização tornou todos os países (menos a Coréia do Norte) parecidos. As cenas no aeroporto em em shopping centers poderiam ser em qualquer lugar do mundo; vemos as mesmas lojas, fast food e pessoa tirando selfies nas escada rolantes. O documentário também mostra como as redes sociais também podem ser usadas em uma investigação, através de fotos, postagens e da localização das pessoas. Disponível na HBO Max.

Retratos Fantasmas (2023)

Retratos Fantasmas (2023). Dir: Kleber Mendonça Filho. Filme bonito demais sobre memórias, mudança, cidades e cinema (não necessariamente nesta ordem). De forma extremamente pessoal, Kleber Mondonça fala sobre o apartamento da família no Recife, que a mãe historiadora reformou e transformou em um lar depois da separação do marido. Foi lá que Kleber fez os primeiros curtas metragens, em diversos formatos, VHS, Super-8; anos depois, o primeiro longa, o premiado "O Som ao Redor", também foi rodado no mesmo apartamento. É curiosa a justaposição de imagens em qualidade baixa, "amadoras", se misturando à imagem profissional do cinema. A revisão dessas horas de imagens mostram outra coisa, a verticalização dos prédios ao redor, o surgimento de grades e cercas de arame farpado. Entre as memórias de Kleber, o som do cachorro do vizinho, que já havia morrido, se mistura a uma foto de um "fantasma" que ele tirou na sala de casa.


A segunda metade se dedica ao centro do Recife e suas grandes salas de cinema; os dois já viram dias de opulência e efervescência cultural. Hoje, os grandes palácios dão lugar a igrejas evangélicas, lojas de departamentos e shoppings. Kleber usa de um rico acervo pessoal de imagens que fez de salas como Art Palácio, Veneza ou São Luiz. Há um personagem muito interessante, o "Seu" Alexandre, projecionista do Art Palácio, que foi entrevistado pelo diretor durante as semanas que antecederam o fechamento do cinema. "É como visitar um navio que vai ser afundado", comenta Kleber, enquanto mostra os bastidores da grande sala, construída por investidores alemães que pretendiam, nos anos 1930 e 1940, difundir ideias nazistas no Brasil.

A terceira parte fala sobre a relação entre as salas de cinema e os templos. Curioso que o São Luiz, a magnífica sala de cinema que ainda existe no Recife, foi construído no lugar de uma igreja do século 19; nas últimas décadas, o que se vê é o crescimento das igrejas evangélicas, que compraram os velhos cinemas e mudaram o foco da adoração, por assim dizer.

O filme me despertou muitas memórias dos tempos dos cinemas de rua que frequentava na juventude, como o Cine Windsor, Regente ou Jequitibá em Campinas, por exemplo. Sobre matar aulas para ver "Império do Sol" no Regente, ou sair com as pernas bambas do Cine Astor, em São Paulo, depois de uma sessão de "Fargo", dos irmãos Coen. Cinemas de rua, ao contrário das salas de shopping, tinham identidade e personalidades próprias. A gente ficava dentro do cinema quando terminava a sessão e via o filme novamente, se assim quisesse. Fazia amizade com o projecionista e visitava a cabine de projeção. Na Paulista ou no centrão de São Paulo, era comum sair de uma sessão, andar uns metros e entrar em outra sala, para conferir o novo Tarantino ("Pulp Fiction" no Cine Comodoro, por exemplo) ou Scorsese ("Os Bons Companheiros" em uma sala no centro, em Jundiaí). Assistir a "Cinema Paradiso" em diversas salas e prometer nunca vê-lo na TV.

"Retratos Fantasmas" é mais do que um documentário sobre salas de cinema. É sobre a relação orgânica entre salas de cinema e suas plateias. Sobre o entorno dos cinemas; sobre como as grandes "majors" americanas tinham escritórios ao lado do consulado americano, no centro do Recife, onde hoje está tudo abandonado. Ao final, Kleber faz um bem humorado (e bizarro) passeio de Uber pelas ruas da cidade. Pela janela, vê passar, iluminadas e brilhantes, farmácia atrás de farmácia. Visto no Kinoplex do Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Rei dos Clones (King of Clones, 2023)

Rei dos Clones (King of Clones, 2023). Dir: Aditya Thayi. Netflix. Documentário interessante, mas um tanto superficial, sobre um cientista da Coréia do Sul chamado Hwang Woo-Suk. Especialista em células tronco, ele se tornou uma "celebridade" em seu país por causa de avanços do controverso campo da clonagem. Logo no começo descobrimos que, depois do sucesso, ele caiu em desgraça e foi preso por fraude e questões éticas. Hoje, no entanto, ele ainda é um dos principais expoentes no assunto e ganha fortunas clonando camelos de corrida nos Emirados Árabes ou animais de estimação para clientes ricos mundo afora. Um italiano fala sobre como se apegou ao seu buldogue francês e ficou devastado quando ele morreu de um tumor. O filme tem uma cena estranha que mostra o italiano enterrando o cachorro no jardim enquanto, ao seu lado, o clone do animal brinca e pula alegremente.

O que fica em aberto no documentário é até que ponto a clonagem humana (teoricamente) não foi para frente por questões éticas ou se foi algum impedimento científico mesmo. No começo dos anos 2000, Hwang Woo-Suk fazia promessas duvidosas a cadeirantes e outras pessoas com problemas físicos, dizendo que as faria andar novamente. Até o eterno Superman, Christopher Reeve, havia ouvido falar no médico "milagroso" coreano, que recebia milhões de dólares em investimento governamental e privado. É fato que os métodos do cientista eram questionáveis e ele gostava um pouco demais da fama que tinha; o caso é que ele não prometia clonar seres humanos, mas criar embriões que poderiam ser usados para gerar "órgãos de reposição" para seus doadores. Houve forte resistência internacional pelo medo da criação de "seres híbridos" e outras aberrações, mas qual o limite ético para a medicina? O documentário não explora muito as questões que levanta. Tá na Netflix. 

terça-feira, 18 de julho de 2023

A Superfantástica História do Balão (2023)

A Superfantástica História do Balão (2023). Dir: Tatiana Issa. Star+. Documentário em três episódios sobre um fenômeno brasileiro dos anos 1980, o grupo infantil Balão Mágico. Os episódios partem de uma reunião atual dos quatro membros originais do grupo, todos adultos agora, acompanhados por depoimentos de empresários, amigos, familiares e fãs. O depoimento que achei mais curioso é do ator Lázaro Ramos, que está aqui somente na condição de fã mesmo; engraçado ver um ator famoso como ele falar sobre sua identificação com as crianças do grupo, principalmente com Jairzinho, que também era negro, e como os altos e baixos dos integrantes do Balão influenciaram sua vida.

A produção é de Tatiana Issa e Guto Barra, responsáveis pelo bom documentário sobre a morte da atriz Daniella Perez, disponível na HBO Max. O doc fala sobre o grande sucesso do grupo e não só das alegrias da fama, mas dos problemas causados por jornadas exaustivas, exploração de empresários e outras complicações. Dos quatro membros do Balão, o que parece mais traumatizado ainda é Vimerson Cavanillas, conhecido como "Tob". Ainda hoje ele chora ao recordar de um episódio ocorrido no programa da Globo, há 40 anos, quando não conseguia se lembrar do texto durante uma gravação. Jair Oliveira, o Jairzinho, é filho de Jair Rodrigues e, talvez, seja o mais bem sucedido e equilibrado hoje (a trilha sonora do documentário é dele). Mike foi sempre o "porra louca" do grupo, e não é para menos; o pai era o assaltante inglês Ronald Biggs, famoso por roubar um trem na Inglaterra e fugir para o Brasil, onde viveu exilado e vivendo da "fama" de ladrão. O filho ganhou um lugar no grupo quando o diretor da CBS o viu dando uma entrevista na televisão, criança. Simony nasceu de família de circo e já cantava no Raul Gil com três anos de idade. Há certo desconforto entre os quatro quando o assunto "dinheiro" é levantado. Fica implícito que a família de Simony embolsava mais dinheiro do que os outros. Depois que o Balão acabou, ela ainda apresentou programas infantis no SBT e causou escândalo quando, já mulher, apareceu nua na revista Playboy.

Entre os entrevistados, o que me pareceu mais "escroto" nas declarações foi o antigo diretor musical do grupo, que fala das crianças como um produto a ser embalado e vendido. O Balão Mágico, impulsionado pelo programa na Globo, vendeu mais de 5 milhões de discos e fez parcerias com Djavan, Roberto Carlos, Fábio Jr., entre outros. O programa acabou porque as crianças, naturalmente, cresceram (Tob, novamente, ficou traumatizado por ter sido o primeiro cortado do grupo). O programa deles na Globo acabou substituído pelo "Xou da Xuxa" quando a loira foi contratada pela emissora em 1986. O documentário tem bastante material de arquivo, entrevistas, fotos e vídeos da época. É também relativamente curto, com apenas três episódios. Disponível na Star+.  

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Arnold (2023)

 
Arnold (2023). Netflix. Dir: Lesley Chilcott. Documentário em três partes sobre Arnold Schwarzenegger (ufa, sem copiar do Google), que focam nas três carreiras do astro: Atleta, Ator e Político. O tom é extremamente egocêntrico e autocongratulatório; Arnold narra o documentário e ocupa quase toda a duração do filme, seja falando direto para a câmera, narrando ou em centenas de imagens de arquivo. É inegável que ele teve uma vida e tanto.

Nascido em uma pequena cidade da Áustria, Arnold sempre se sentiu fora de lugar; o pai era veterano da 2ª Guerra Mundial e um policial rígido. A mãe também era dominadora. Um irmão mais velho era motivo constante de competição. Um dia Arnold estava no cinema e viu "Hércules", estrelado por Reg Park. Park era um fisiculturista inglês que venceu o título de Mr. Universo e foi descoberto pelo cinema. Arnold viu nele um modelo a ser seguido e passou a treinar todos os dias na academia. Ganhou tamanho, músculos e, ao longo dos anos, o mundo, vencendo diversos campeonatos de Mr. Universo e Mr. Olimpia.

Foi para os EUA e, depois de anos vencendo competições, decidiu mudar de rumo e se tornar ator. O físico e sotaque carregado (que tem até hoje) eram obstáculos mas, depois de alguns filmes sem importância, foi escalado para ser "Conan, O Bárbaro" (John Milius, 1982) e começou uma série de sucessos que incluiriam filmes de ação como a série "Exterminador do Futuro" e até comédias como "Irmãos Gêmeos" e "Um Tira no Jardim da Infância". O fato de que ele não sabia atuar era secundário. Com um carisma enorme e confiança tão grande quanto os músculos, Arnold surfou na onda nacionalista da era Reagan e conquistou Hollywood; teve também um adversário à altura, Sylvester Stallone. Stallone diz que não suportava o austríaco nos anos 1980. "Se eu fazia 'Rambo', ele fazia 'Comando para Matar', se eu matasse 15 pessoas em um filme, ele matava 30 no próximo". Pessoalmente, acho que Stallone era melhor (é diretor, roteirista e produtor, além de um ator menos ruim que Arnold), mas o próprio Stallone admite que Schwarzenegger se tornou o "rei".

O terceiro episódio, intitulado "Americano", fala da vida política de Arnold. Cansado dos sets de filmagens e depois de quase morrer em uma cirurgia cardíaca, o austríaco decidiu "defender o público da Califórnia" e se candidatou ao governo do estado (em uma eleição "diferente"; o governador da época estava com a popularidade em baixa e foi tirado do cargo em um plebiscito). Vale dizer que ele já havia se envolvido com a política ao se casar com uma herdeira da família Kennedy, Maria Shriver. A campanha para o governo de Arnold se tornou um verdadeiro circo, mas ele venceu a eleição (e se reelegeu alguns anos depois).

Apesar de bastante elogioso, o documentário não foge de algumas polêmicas que envolveram o astro. Cinco dias antes da eleição na Califórnia, o Los Angeles Times publicou uma reportagem em que mulheres acusaram Arnold e tê-las "apalpado" sem consentimento. A campanha ficou abalada por um momento, mas Arnold pediu desculpas e conseguiu se eleger de qualquer forma. No presente, ele diz para a câmera que o que fez foi errado, não importa há quanto tempo tivesse acontecido. Houve também um caso extraconjugal que terminou com o casamento com Maria Shriver.

Fiquei com a sensação, ao final do documentário, de que o Arnold atual é um homem rico, que realizou muitas coisas, mas que parece alguém sozinho em um grande castelo (o próprio modo como ele é filmado, sozinho em uma mansão enorme, reforça isso). As duas primeiras partes achei mais interessantes do que a terceira. Há depoimentos de James Cameron, Danny DeVito, Jamie Lee Curtis, Linda Hamilton e várias outras celebridades. Ninguém da família. Tá na Netflix.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Robert Downey Sr. (Sr., 2022)

Robert Downey Sr. (Sr., 2022). Dir: Chris Smith. Emocionante documentário sobre o pai do Homem de Ferro, ou melhor, Robert Downey Jr. Cineasta alternativo (e meio maluco), Downey Sr. começou a fazer filmes nos anos 1960, com quase nenhum dinheiro, sem roteiro e com atores amadores. O primeiro filme, baseado no mito de Édipo, era sobre um cara que se casava com a própria mãe. Ele ganhou fama de cineasta "cult" e viveu de filme em filme, chegando a fazer longas metragens em 35mm que renderam algum dinheiro e público. Em meio a isso tudo havia um garoto chamado Robert Downey Jr., que cresceu em sets de filmagens, foi apresentado à bebida e drogas cedo e se tornaria um dos maiores exemplos de "volta por cima" do cinema.

Tudo isso é mostrado, meio aos trancos e barrancos, em um documentário com uma estrutura bem livre (assim como os filmes de Downey Sr.). O ator mais bem pago do cinema, Robert Downey Jr. resolveu tentar conhecer melhor o pai colocando uma equipe de filmagem atrás dele por três anos. "É assim que sempre fizemos na minha família", ele explica ao psicólogo em uma cena. "Havia sempre uma câmera 16mm na nossa cara e, 40 anos depois, tentávamos dar algum sentido àquilo". O resultado é um documentário que, aos poucos, vai te conquistando. O velho é uma figura, sempre com um sorriso maroto e imaginando a próxima cena. Downey Jr., um dos caras mais carismáticos do planeta, se torna meio garoto quando está perto do pai (como todos os filhos), e tenta não só contar a história do velho como entender a própria.

O filme toma ares mais sérios conforme a doença do pai (mal de Parkinson) vai se agravando e fica claro que ele não vai viver por muito tempo. O documentário é uma mistura de cine verdade com terapia familiar, entrecortado por cenas dos filmes (malucos) do pai e entrevistas com algumas pessoas de fora (como o ator Alan Arkin e o produtor Norman Lear, que está com 100 anos). Tudo em belo preto e branco. Tá na Netflix.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Eles não envelhecerão (They Shall Never Grow Old, 2018)

Eles não envelhecerão (They Shall Never Grow Old, 2018). Dir: Peter Jackson. HBO Max. Documentário de Peter Jackson em comemoração aos 100 anos do fim da I Guerra Mundial (1914-1918). Jackson teve acesso a 600 horas de entrevistas e 100 horas de imagens feitas durante a guerra; usando a tecnologia de sua produtora de efeitos especiais, Jackson recuperou, colorizou e sonorizou imagens com mais de 100 anos de idade para apresentar a vida de soldados comuns em uma guerra bárbara e insana.

O documentário costura depoimentos de soldados que sobreviveram à guerra e as ilustra, no início, com as tradicionais imagens em preto e branco filmadas na época. Quando os soldados ingleses chegam ao front, no entanto, a imagem se aproxima, fica mais limpa e se torna colorida. Som ambiente e falas foram acrescentados na pós-produção e trazem à vida cenas dos soldados se acotovelando nas trincheiras ou correndo nos campos de batalha. Há depoimentos nada românticos sobre o dia a dia dos soldados, fazendo as necessidades em valas abertas, lidando com piolhos e ratos e usando o mesmo uniforme por anos seguidos. Ao final, a constatação de que os soldados alemães, do outro lado do campo de batalha, não são tão diferente e que todos, no fim das contas, são apenas peões em um jogo que eles não entendem. Disponível na HBO Max. 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Apollo 11 (2019)

Apollo 11 (2019). Dir: Todd Douglas Miller. Netflix. Não sei se este documentário chegou agora na Netflix, mas eu o achei meio sem querer e é muito, muito bom. Feito em 2019 para comemorar os 50 anos do pouso da Apollo 11 na Lua, o documentário apresenta imagens restauradas da época com qualidade belíssima, misturando formatos como 35mm, 16mm, imagens de TV e até imagens inéditas filmadas em 70mm. Há um realismo impressionante nas imagens e a edição (que ganhou um Emmy) te transporta para o final dos anos 1960, intercalando imagens do centro de controle da NASA com belas cenas de milhares de pessoas aguardando o lançamento em praias e varandas da Flórida.


Outra coisa que ajuda no realismo é o fato de que não há uma narração atual ou entrevistas feitas depois do evento; a não ser por alguns gráficos (simples) que explicam as várias etapas da missão, tudo o que se vê e escuta na tela são da época. Os produtores tiveram que escolher entre milhares de horas de imagens e gravações de áudio para recriar os eventos de julho de 1969. A única coisa de "fora" é a boa trilha sonora eletrônica que acompanha as imagens, composta por Matt Morton.

O resultado é um belo filme com enxutos 93 minutos que sabe que não precisa inventar muito para impressionar o espectador; imagens e sons da época falam por si. Do impressionante transporte do colossal foguete Saturno V à base de lançamento até a beleza da manobra de acoplamento do módulo lunar com o de comando na volta da Lua, "Apollo 11" mostra o gigantesco feito técnico que levou três seres humanos de um pântano da Flórida até a superfície lunar. É também um filme bastante analógico, o que reflete a tecnologia da época; é impressionante ver aquelas centenas de técnicos lidando com réguas de cálculo e planilhas em papel enquanto, a 300 mil quilômetros de distância e a 40 mil km/h, três astronautas sobreviviam dentro de uma pequena nave de lata. Muito bom. Tá na Netflix.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Light & Magic (2022)

Light & Magic (2022). Dir: Lawrence Kasdan. Disney+. Maravilhosa minissérie documental sobre a "Industrial Light & Magic", empresa de efeitos especiais criada por George Lucas, nos anos 1970, para fazer Star Wars. Já li livros a respeito e sou muito nerd cinematográfico, então muita coisa não foi novidade pra mim; de qualquer forma, a série trás depoimentos atuais de pessoas lendárias no ramo como Denis Muren, Phil Tippett, Joe Johnston, Richard Edlund, John Dykstra, Lorne Peterson, Ken Ralston, Harrison Ellenshaw e muitos outros contando a história da empresa. George Lucas, claro, também fala bastante sobre a ILM e sobre sua visão do cinema que, para o bem ou para o mal, ele mudou completamente. Pessoalmente não sou muito fã de Lucas como pessoa; ao contrário do colega (que também aparece no documentário) Steven Spielberg, que claramente AMA cinema e está sempre animado e energético nas cenas de bastidores, Lucas é um "mala" que nunca está satisfeito. Ele não gosta de dirigir filmes (nem é muito bom nisso) e sempre achou que a tecnologia do cinema era arcaica e atrasada. Dessa insatisfação, muito dinheiro e a capacidade de escolher as pessoas certas saíram a edição eletrônica, o cinema digital e a computação gráfica (e uma pequena empresa chamada PIXAR).

Dividida em cinco capítulos, a série mostra desde os primórdios, quando um grupo de nerds foi chamada à costa Oeste dos Estados Unidos para trabalhar em Star Wars. John Dykstra desenvolveu uma câmera computadorizada que conseguia trazer realismo às ideias de Lucas para o filme; ao contrário das naves lentas e majestosas de "2001 - Uma Odisseia no Espaço", Lucas imaginou lutas espaciais rápidas e energéticas como as batalhas aéreas da 2ª Guerra Mundial. Ao contrário do que muitos imaginavam, "Star Wars" não só foi um campeão de bilheteria como se tornou um fenômeno cultural, e Lucas tinha ainda mais dinheiro para investir da continuação; O Império Contra Ataca, provavelmente o melhor Star Wars de todos, tinha efeitos ainda mais desafiadores. A ILM começou a se diversificar e fazer filmes "de fora" como "Star Trek II", "Cocoon", "Caçadores da Arca Perdida", "ET" e dezenas de outros.

No final dos anos 1980 e começo dos 1990, outra revolução: a computação gráfica, inicialmente usada em algum planos de "Willow", "O Enigma da Pirâmide" e "O Segredo do Abismo", assombra o mundo com o robô de metal líquido de "O Exterminador do Futuro 2". Então chega "Jurassic Park" e o jogo muda completamente. O veterano Phil Tippett, que havia sido contratado por Spielberg para fazer os dinossauros com bonecos de stop motion, foi colocado para escanteio por dois técnicos da ILM que criaram o primeiro T-Rex completamente feito em computação gráfica. Foi uma revolução (muito embora grande parte dos efeitos eram práticos, criaturas robóticas enormes criadas por Stan Winston). A série mostra como os computadores acabaram tirando o emprego de dezenas de artistas, criadores de maquetes, modelos em escala, diretores de fotografia, etc. O doc termina com a mais nova invenção da empresa, um cenário virtual chamado de "O Volume", criado para a série "The Mandalorian".

O documentário é um pouco "chapa branca" e, sem dúvida, não mostra os problemas e "podres" que devem existir na empresa. Há apenas uma menção ao fato de que John Dykstra, que havia chefiado a equipe em Star Wars, não foi convidado a continuar na empresa depois disso (ele e Lucas se desentenderam feio). Há uma quantidade enorme de imagens de bastidores que nunca havia visto e ótimas entrevistas. É uma homenagem ao passado e uma espiada no futuro. Imperdível. Disponível na Disney+.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022)

Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022). HBO Max. Dir: Tatiana Issa e Guto Barra. Série documental sobre um crime ocorrido há quase 30 anos no Rio de Janeiro, o assassinato da atriz e dançarina Daniella Perez, de 22 anos. A mãe da atriz, a escritora Glória Perez, começa o documentário dizendo que quis fazê-lo porque queria que "a verdade do processo" fosse contada, ao invés da "novela barata" que havia se tornado a história da morte da filha. Eu diria que o documentário, apesar de muito bem conduzido e montado, cumpre apenas em parte a vontade de Glória Perez.

São cinco episódios, sendo que o melhor, para mim, é o primeiro. É palpável a tensão crescente de familiares, amigos e companheiros de trabalho conforme relembram, hoje, do sumiço de Daniella, uma alegre e sorridente garota de 22 anos, na noite de 28 de dezembro de 1992. A boa edição e recriação de época levam o espectador ao Rio dos anos 90, quando as pessoas não tinham celular e estrelas da Globo circulavam em um Escort ou um Santanna. Um morador desconfiado de um condomínio viu dois carros parados perto de um matagal e anotou as placas; viu também que havia um homem e uma mulher no carro de trás, um Santanna azul, e supôs que fosse só um casal namorando. Na verdade, era a cena do crime. Quando a polícia chegou para investigar, apenas o Escort estava no local e o corpo de Daniella Perez estava esticado no matagal, com quase 20 perfurações no tórax e pescoço.
As fotos do corpo no chão, mostrando o rosto sem vida da atriz, chocam. A mãe, que é escritora, fala da dor de sentir o corpo frio da filha e da vontade de "recolocá-la no ventre". Pesado. Choca também ver cenas do enterro da garota, o cemitério abarrotado de gente que, na era pré internet, estava lá para ver e tentar tocar os astros de TV. Criminalmente, o caso não era muito complicado; o tal Santanna era do ator Guilherme de Pádua, que fazia par romântico com Daniella na novela "De Corpo e Alma" (escrita por Glória Perez). Uma mistura de ciúmes e vingança por ter seu personagem diminuído foram, provavelmente, os motivos do crime. Fica claro também que a esposa de Guilherme, Paula, grávida de quatro meses, também participou do crime. Os quatro capítulos seguintes do documentário, porém, apesar de ainda muito bem feitos, parecem tender mais para a "novela barata" que Glória Perez queria evitar do que para a objetividade jornalística. São tantas as teorias lançadas sobre o crime (do simples ciúme até um ritual de magia negra) que fica difícil entender a tal "verdade do processo".
Fica, porém, a sensação de que, no Brasil, o crime compensa. Um assassino condenado a 18 anos de prisão, por exemplo, pode sair com um sexto de pena (apenas três anos), se tiver "bom comportamento". Um bom capítulo mostra a luta de Glória Perez para incluir na lei de crimes hediondos o assassinato premeditado, mesmo que cometido por um "réu primário". A escritora conseguiu, com a ajuda de amigos artistas, reunir 1,3 milhões de assinaturas para mudar a lei. Ainda assim, teve que ver os congressistas tentando evitá-la e fugindo de Brasília para não formar quórum (a lei acabou aprovada em regime de "urgência urgentíssima", daquelas coisas bizarras do Brasil). Apesar de alguns pesares, "Pacto Brutal" é eficiente em recriar a época e revisitar um dos crimes mais famosos do país. Disponível na HBO Max.

domingo, 24 de julho de 2022

As Últimas Estrelas de Cinema (The Last Movie Stars, 2022)

As Últimas Estrelas de Cinema (The Last Movie Stars, 2022). Dir: Ethan Hawke. HBO Max. Belíssimo documentário idealizado pelo ator Ethan Hawke sobre a vida, obra e casamento (não necessariamente nesta ordem) do casal formado por Paul Newman e a atriz Joanne Woodward. Só o primeiro episódio (de seis) está disponível na HBO Max, mas já é interessante o suficiente para render uma resenha. Hawke foi convidado por uma filha de Newman e Woodward para fazer o documentário, que é baseado em centenas de horas de gravações feitas por Newman, amigos, empresários, ex-esposa e vários outros. Só que havia um problema: Newman havia destruído todas as fitas, deixando para trás apenas as transcrições. Ethan Hawke resolve a situação de modo interessante; em plena pandemia, ele entrou em contato com atores e amigos como George Clooney, Laura Linney, Vincent D'Onofrio, Sam Rockwell, Karen Allen, entre outros, para gravar trechos dessas transcrições. Estas vozes, gravadas via Zoom, são ilustradas com dezenas de imagens de arquivo, fotos e cenas dos filmes de Paul Newman e Joanne Woodward. O resultado é não só um retrato da vida das "últimas estrelas do cinema" como é também uma metalinguagem sobre como fazer um documentário.

Newman e Woodward foram casados por cinquenta anos, fizeram grandes filmes e doaram milhões de dólares para a caridade. Eram bonitos, talentosos e, também, ativistas políticos. No começo, Newman parecia que ia ficar eternamente na sombra de astros como Marlon Brando, com quem era frequentemente comparado, e James Dean. A morte prematura de Dean deu a Newman a chance de bilhar e tentar sair da sombra de Brando. Nem tudo eram flores na relação do casal. Newman era casado e tinha três filhos quando começou um tórrido caso com Woodward, que durou cinco anos. Ethan Hawke entrevista uma das filhas dele com a esposa anterior e ela diz que o divórcio acabou com a vida da mãe dela. O documentário também mostra os bastidores do famoso Actor´s Studio, que formou toda uma leva de lendas do cinema. Pena que a HBO Max não lançou todos os episódios ao mesmo tempo.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Pai Nosso? (Our Father, 2022)

Pai Nosso? (Our Father, 2022). Dir: Lucie Jourdan. Netflix. Documentário com uma história tão bizarra que um dos produtores é Jason Blum, especializado em filmes de terror, "Pai Nosso?" começa com o depoimento de Jacoba Ballard. Loira de olhos azuis, ela desconfiou que não fosse filha biológica de seus pais e descobriu que a mãe havia passado por um tratamento de fertilidade com um especialista chamado Donald Cline. Até aí, tudo bem. A coisa começou a ficar estranha quando ela fez um teste de DNA que apontou que ela teria outros sete meio irmãos listados no banco de dados de um site especializado em árvores genealógicas. O especialista em fertilidade havia assegurado à mãe de Jacoba que os doadores de esperma eram usados em, no máximo, três fecundações. Investigando mais a fundo, Jacoba e seus meio irmãos chegaram à uma suspeita assustadora; tudo indicava que eles compartilhavam o mesmo DNA do Dr. Cline, o médico que havia feito o "tratamento" de fertilidade nas mães deles.

O documentário entrevista vários destes meio irmãos, todos bastante parecidos fisicamente, que descobriram que não eram filhos biológicos de quem chamavam de pais. As mães, horrorizadas, se deram conta de que foram inseminadas não com o esperma dos maridos, ou doadores anônimos, mas do próprio médico. Há um "contador" que aparece de tanto em tanto tempo na tela mostrando o número, cada vez maior, de pessoas que se descobriram filhos do médico. Para piorar, a comunidade em que eles viviam era relativamente pequena, o que aumentava a chance de que pessoas que nem sabiam serem irmãos haviam se conhecido, talvez até mesmo namorado ou tido filhos.

O áudio original das conversas do Dr. Cline com Jacoba, que o denunciou publicamente, é ouvido diversas vezes. Ela levou o caso às autoridades mas, bizarramente, os promotores não encontravam na lei uma forma de condenar o médico; o que ele fez foi estupro? Fraude? Ou as mães haviam apenas conseguido o que foram buscar, ou seja, uma gravidez bem sucedida? O documentário poderia ser mais aprofundado nos motivos que levaram o médico a fazer o que fez. Há menções a uma sociedade religiosa que prega que as pessoas tenham o maior número de filhos possível. O Dr. Cline era frequentador da igreja e benquisto na comunidade. Andava, também, com uma arma na cintura. Assustador. Tá na Netflix.
 

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Confisco (2021)

Confisco (2021). Dir: Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli. HBO Max. Documentário que tenta mostrar as consequências do Plano Collor (março de 1990), que confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança e investimentos acima de 50 mil cruzados novos (dinheiro da época), jogando o país no caos. O objetivo era derrubar uma inflação galopante que fazia com que as lojas mudassem os preços diariamente, as maquininhas de etiquetar funcionando a todo vapor.

Para tentar humanizar a história, o documentário foca em duas famílias: a da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello (uma das idealizadoras do plano) e de uma família "típica" brasileira. A ex-ministra mora em Nova York e é vista em atividades do dia a dia como caminhando no Central Park ou assistindo a um jogo da seleção brasileira com a família. Do outro lado, a família de Dorival Silva lembra o baque que o plano causou aos negócios e à vida em casa. Dorival havia trabalhado anos como caminhoneiro e, com muito suor, havia crescido, comprado outros caminhões e planejava uma aposentadoria tranquila. Às vésperas do plano econômico, Dorival havia vendido uma casa e um caminhão e colocado tudo no banco. Fernando Collor era visto como a salvação do Brasil contra a ameaça vermelha do PT (história familiar?) e estava sempre na TV com o apelido de "caçador de marajás".

A jornalista Lillian Witte Fibe, uma das entrevistadas, diz que ninguém conseguiu entender o plano, quando ele foi lançado. Segundo ela, a ministra Zélia Cardoso parecia muito tranquila quando foi dar entrevista na Globo e até teria feito piada sobre pegar o dinheiro de todo mundo; mas não soube explicar o plano na TV. Jornalistas como Joelmir Betting e Paulo Henrique Amorim são vistos tentando explicar as medidas econômicas.

O documentário peca em não mostrar melhor as consequências do confisco. Apesar da história da família de Dorival, seria interessante ver outros exemplos de como o dia a dia da população foi afetada. Há imagens de correria aos bancos e manchetes que falam até em suicídio, mas nada muito aprofundado. Quando a Zélia Cardoso de Melo, hoje ela diz que deveria ter recusado o cargo e "deixado um homem fazer este plano". Ela alega que foi perseguida por ser mulher e o documentário mostra reportagens da época que falavam desde sobre a falta de maquiagem da ministra até sua vida amorosa. O documentário termina com a eleição de Bolsonaro à presidência da república e uma cena da família Silva dançando no carnaval de 2020 (às portas da pandemia). Interessante. Disponível na HBO Max.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Four hours at the Capitol (2021)

Four hours at the Capitol (2021). Dir: Jamie Roberts. HBO Max. Bom documentário sobre a invasão ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021. O filme é montado com entrevistas e muitas imagens reais do evento, tiradas de câmeras e celulares dos envolvidos, câmeras de segurança, câmeras de policiais, etc. É um passo a passo de um dos eventos mais bizarros (e potencialmente perigosos) da história americana. No dia 6 de janeiro de 2021, os congressistas americanos deveriam fazer a contagem oficial dos votos dos colégios eleitorais e chancelar a eleição, declarando a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump. Só que Trump já estava falando sobre fraude meses antes das eleições em si, então milhares de apoiadores, naquele dia, achavam que o congresso americano estava roubando as eleições. Para piorar, o próprio Trump fez um discurso naquela manhã incitando os apoiadores, pedindo que eles marchassem até o Capitólio e impedissem o "roubo".


No documentário, vemos tudo isso do ponto de vista de vários desses apoiadores, como imagens de um grupo de manifestantes de uma organização de direita chamada "Proud Boys" (só homens são permitidos). Eles marcharam até o Capitólio e encontraram bem pouca resistência na entrada (havia bloqueios e meia dúzia de seguranças). Aos poucos, porém, milhares de outros apoiadores foram chegando e tomando a frente do lugar, derrubando uma a uma as barreiras e chegando próximo ao prédio. Tudo culminou com um grupo que conseguiu entrar no prédio depois de quebrar janelas e portas, interrompendo a contagem dos votos e quase jogando os EUA em uma situação de "lei marcial".

A força (e fraqueza) do documentário está em não tomar partido. Escutamos depoimentos tanto do lado dos insurgentes quanto dos policiais e políticos. A falta de contexto, às vezes, prejudica o entendimento da situação. O que fala mais alto são as imagens impressionantes, principalmente de um embate entre uns 30 policiais e milhares de manifestantes que tentavam conquistar um túnel que dava acesso ao prédio. Os policiais fizeram uma barricada humana e tentaram segurar, com a força dos próprios corpos, milhares de manifestantes que empurravam do outro lado. É surpreendente que, diante de tudo isso, só uma pessoa foi baleada (uma manifestante) e um policial morreu por falta de ar. Fica meio sem explicação a morte de quatro policiais que teriam se matado dias depois do conflito, além de manifestantes que teriam morrido por questões "não relacionadas à invasão". O pior, no final, é a sensação de que essa situação não terminou. Milhares (talvez milhões) de americanos acham que a eleição foi roubada e estão dispostos a retomar o poder à força. Disponível na HBO Max.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Tokyo Trial (2016)

Tokyo Trial (2016). Dir: Rob W. King e Pieter Verhoeff. Netflix. Minissérie em quatro capítulos que encontrei por acaso no catálogo da Netflix, "Tokyo Trial" é uma coprodução da NHK (TV Japonesa) com a Holanda e o Canadá. O roteiro trata de um período da História que, apesar de muito importante, não é muito falado; ao contrário do famoso julgamento de Nuremberg, que condenou os nazistas ao final da 2ª Guerra Mundial, o julgamento de Tokyo é pouco conhecido. Após a rendição do Japão, o país foi ocupado por forças aliadas lideradas pelo General McArthur (Michael Ironside). Um tribunal internacional composto por 11 juízes foi formado para julgar políticos e militares japoneses por crimes de agressão e contra a humanidade. Planejado para durar inicialmente seis meses, o julgamento levou dois anos e meio e os resultados foram mais complexos e dissidentes do que os de Nuremberg.

A minissérie não é um documentário mas, aparentemente, se mantém bem próxima dos fatos. Em vários momentos são usadas imagens reais do julgamento da época, entrecortadas com imagens dos atores. Textos e até um narrador completam a parte mais "documental" da série. Creio que os episódios se destinem mais a pessoas interessadas em História (e/ou Direito) do que como simples diversão.

Apesar de, inicialmente, se acreditar que o julgamento iria seguir Nuremberg e levar à condenação rápida dos japoneses, o julgamento de Tokyo levantou vários questionamentos sobre as acusações ou mesmo sobre a validade do tribunal. Irrfan Khan interpreta o Juiz Pal, indiano que não acreditava que os japoneses pudessem ser condenados por ações que, na época, não eram consideradas crime. O juiz holandês (interpretado por Marcel Hensema) também tinha suas dúvidas. Grande parte dos episódios se passa em uma sala de reuniões em que os juízes debatem seus argumentos. Os japoneses seriam culpados por atrocidades só por terem iniciado a guerra? E quanto às milhares de vítimas japonesas que morreram em bombardeios americanos (incendiários ou pelas bombas atômicas)? E o Imperador japonês, poderia ser responsabilizado? A pena de morte deveria ser aplicada? São quatro episódios de 45 minutos. Tá na Netflix.

 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Val (2021)

Val (2021). Dir: Ting Poo e Leo Scott. Amazon Prime. Bom documentário sobre a vida do ator Val Kilmer. O filme apareceu sem nenhuma propaganda na Amazon Prime, mas eu o aguardava há algum tempo. Val Kilmer nunca chegou ao status de "astro" como Tom Cruise ou Harrison Ford, longe disso, mas foi sempre um ator marcante mesmo nas produções "B" que fizeram parte de seu currículo nos últimos anos. Recentemente foi atacado por um câncer de garganta que acabou com sua voz forte e debilitou sua aparência. Ele sobreviveu, mas é triste ver o que a doença fez com sua figura.

Sem poder falar (a não ser tampando um buraco na garganta com os dedos), Val Kilmer resolveu contar a própria história, usando centenas de horas de filmagens feitas por ele mesmo desde criança. Sim, é um projeto cheio de vaidade, mas Kilmer é um ator, acostumado à própria imagem a vida inteira. Ele e os irmãos brincavam de fazer filmes amadores em um rancho na Califórnia e Kilmer continuou gravando a própria vida; bastidores de filmes, testes para diretores como Scorsese (ele tentou o papel de Ray Liotta em "Os Bons Companheiros") e Stanley Kubrick, ensaios, conversas com a família, etc. Há cenas curiosas dos bastidores de "Top Gun", "Batman", "The Doors", "Fogo contra Fogo", "Tombstone" e o caos que foram as filmagens de "A Ilha do Dr. Moreau", com Marlon Brando.

Todo o "glamour" do passado contrasta com a situação presente de Kilmer. Há uma sequência bem desconfortável em que o vemos assinando centenas de autógrafos para fãs em uma convenção qualquer; Kilmer passa mal e tem que interromper a sessão de autógrafos. Sem poder fazer mais filmes, ele agora depende de aparições públicas para ganhar algum dinheiro. O documentário é narrado pelo filho de Kilmer, Jack, que tem a voz bem parecida com a do pai. O trabalho de edição é muito bem feito, misturando centenas de imagens de várias décadas diferentes para contar a história de um grande ator. Disponível na Amazon Prime.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Três Estranhos Idênticos (Three Identical Strangers, 2018)

Três Estranhos Idênticos (Three Identical Strangers, 2018). Dir: Tim Wardle. Netflix. Bom documentário que conta uma história bizarra. Quando tinha 19 anos, Bobby Shafran foi ao seu primeiro dia na faculdade e percebeu uma coisa estranha: todos o cumprimentavam como se já o conhecessem. Um rapaz lhe perguntou a data de nascimento e se ele era adotado. "Você não vai acreditar, mas você tem um irmão gêmeo". Bobby então conheceu Eddy Galland, um gêmeo que ele não sabia que tinha. A história fica mais bizarra: um jornal publicou a foto dos dois e um terceiro gêmeo, David Kellman, apareceu. Os três rapazes haviam sido separados quando bebês e adotados por três famílias diferentes.

O documentário então mostra como os trigêmeos viraram estrelas da mídia e apareceram em vários programas de TV. Eles não só eram idênticos na aparência como fumavam a mesma marca de cigarro, praticaram luta na escola e tinham irmãs mais velhas, com a mesma idade. Tudo parece bastante festivo e engraçado até que o documentário dá uma guinada sombria. Não vou revelar detalhes, mas um jornalista acabou descobrindo que a história dos irmãos era mais sinistra do que parecia. Outros gêmeos acabaram se descobrindo da mesma forma, só depois de adultos, e tinham jornadas parecidas com a dos trigêmeos.

O documentário mistura entrevistas com os gêmeos, familiares e amigos, além de recriar cenas com atores. O roteiro funciona como um filme de suspense, revelando cada nova descoberta conforme a trama avança. O resultado é um filme intrigante e muito bem feito. Tá na Netflix.