domingo, 3 de maio de 2009

A Janela

O velho escritor Antonio (Antonio Larreta) tem um sonho. De algum lugar de sua memória, ele revê uma imagem que não via há 80 anos: uma figura feminina que estava tomando conta dele, criança, enquanto uma festa acontece no andar de baixo. Onde estaria escondida essa memória? Por que lembrar dela justo hoje? Antonio se encontra em uma cama, se recuperando de um ataque recente do coração. Ele vive em uma casa antiga, em uma fazenda no interior da Argentina, tão afastada que sequer tem um telefone. Duas criadas tomam conta dele, Maria Del Carmen e Emilse, e o velho está ansioso porque o filho, um renomado pianista que mora na Europa, está vindo visitá-lo.

A Janela é dirigido por Carlos Sorin. É um filme pequeno, curto, que é uma contemplação sobre a chegada da morte. Com poucos atores e feito todo em uma locação, Sorin se baseia em um elenco sólido, na bela fotografia de Julián Apezteguia e em um som impressionante. Como praticamente não há música (a não ser na cena do sonho), o som tem uma importância fundamental em nos transportar para aquele mundo privado e instrospectivo do escritor. Há uma cena muito bonita em que Antonio foge de seu quarto para dar uma volta pela fazenda e quase podemos sentir o cheiro do mato, da pequena horta e das flores por onde Antonio anda, tal a perfeição das imagens e da recriação sonora. A figura de um velho piano também é importante para a trama e para o estado de espírito do filme. Como o filho está vindo da Europa, Antonio contrata um afinador para olhar o instrumento, e há um paralelo interessante entre a visita do médico, com suas agulhas e instrumentos, para examinar Antonio, e a figura do afinador tentando trazer o piano à velha forma.

O filho chega ao final do dia, trazendo uma namorada que não se conforma com o fato de seu celular não ter sinal. Os sons da natureza, grilos, sapos, pássaros noturnos e do vento, vão se tornando cada vez mais fortes enquanto a noite cai, trazendo com ela uma escuridão que nós, habitantes do mundo moderno, já nos desacostumamos. Sorin, com seu filme, nos reapresenta a certas verdades esquecidas pelo mundo moderno. O dia é claro, a noite é escura e a morte chega a todos um dia. Aos seres humanos resta saber transformar o tempo entre o nascer e o pôr do sol em algo útil e belo, através do trabalho, da cultura e da arte.



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