domingo, 17 de maio de 2015

Mad Max: Estrada da Fúria



O herói dos aos 1980 está de volta nas mãos do diretor original, George Miller, com Tom Hardy no papel que foi de Mel Gibson. Charlize Theron também está no elenco e quase rouba o filme. Confira o vídeo!

Câmera Escura

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Cake: Uma Razão para Viver



Jennifer Aniston, a eterna "Rachel" do seriado Friends, dá uma guinada na carreira e investe em um personagem sofrido, que lida com um trauma do passado. Aniston está bem no papel, pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática. Confira a crítica completa no vídeo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Vencedores OSCAR 2015



A cerimônia do Oscar 2015 foi apresentada por Neil Patrick Harris, que começou o show com uma apresentação musical. "Precisamos voltar a amar os filmes", disse Harris. Jack Black interrompeu a música de abertura com uma intervenção bem humorada.

Segue abaixo os vendecores do Oscar, na ordem em que foram apresentados:

Melhor Ator Coadjuvante: JK Simmons (Whiplash)

Melhor Figurino: Milena Canonero (O Grande Hotel Budapeste)

Melhor Maquiagem: Frances Hannon e Mark Coulier (O Grande Hotel Budapeste)

Melhor Filme Estrangeiro: Ida

Melhor Curta-Metragem Live Action: "The phone call"

Melhor documentário curta-metragem: "Crisis Hotline: Veterans Press 1"

Melhor mixagem de som: Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley ("Whiplash")

Melhor edição de som: Alan Robert Murray e Bub Asman ("Sniper americano")

Melhor Atriz Coadjuvante: Patricia Arquette ("Boyhood")

Melhores efeitos visuais: Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher ("Interestelar")

Melhor animação em curta-metragem: "Feast"

Melhor animação longa metragem: "Operação Big Hero"

Melhor design de produção: "O grande hotel Budapeste"

Melhor fotografia: Emmanuel Lubezki ("Birdman")

Melhor Edição: Tom Cross ("Whiplash")

Melhor documentário longa-metragem: "Citizen Four"

Melhor canção: "Glory", de John Stephens e Lonnie Lynn ("Selma")

Melhor Trilha Sonora: Alexandre Desplat ("O grande hotel Budapeste")

Melhor Roteiro Original: Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo ("Birdman")

Melhor Roteiro Adaptado: Graham Moore ("O Jogo da Imitação")

Melhor Diretor: Alejandro Gonzáles Iñárritu ("Birdman")

Melhor Ator: Eddie Redmayne ("A Teoria de Tudo")

Melhor Atriz: Julianne Moore ("Para Sempre Alice")

Melhor Filme: Birdman


João Solimeo


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ida

Cada frame de "Ida", se ampliado e colocado em uma moldura, poderia vencer um concurso de fotografia. Dirigido por Pawel Pawlikowski, "Ida" é um dos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro (pela Polônia) e, claro, ao Oscar de melhor fotografia, de Ryszard Lenczewski e Lukasz Zal (segundo o site da American Society of Cinematographers, Lukasz Zal fotografou a maior parte do filme). Captado em digital com uma Arri Alexa 4:3 em cores, o filme foi cuidadosamente tratado para resultar na belíssima imagem final em preto e branco e em uma proporção quadrada que remete aos filmes feitos antes da invenção do Cinemascope, nos anos 1950.

Pode parecer apenas preciosismo técnico, mas o formato ajuda a transportar o espectador para a Polônia do pós-guerra, no início dos anos 1960. Anna (Agata Trzebuchowska, em seu primeiro papel) é uma noviça órfã que passou a vida toda em um convento gelado e austero. Ela está para fazer seus votos de castidade e obediência quando a madre superiora lhe diz que ela deve visitar a única parente viva, uma tia. Anna parte para a cidade grande e conhece Wanda Cruz (Agata Kulesza), sua tia. "Você sabe quem eu sou? O que eu faço da vida?", pergunta Wanda. Com um cigarro na mão, um homem desconhecido no quarto e vestindo roupas de baixo, Wanda parece uma prostituta barata, mas neste filme as aparências enganam. Wanda é, na verdade, uma juíza e Anna também não é quem achava que fosse. A tia lhe informa que seu nome verdadeiro é Ida Lebenstein, ela é judia e os pais foram mortos na 2ª Guerra Mundial. (leia mais abaixo)


Relutantemente, Wanda resolve ajudar Ida a descobrir seu passado; as duas partem em direção ao interior e o filme se torna um road movie. Elas formam um par estranho. Wanda é carnal, alcoólatra e fuma um cigarro atrás do outro. Ida, criada como freira, fala apenas o necessário e reza antes de fazer qualquer coisa. No caminho elas dão carona para um jovem músico (Dawid Ogrodnik) que fica encantado com a beleza de Ida. A adição do saxofonista à trama também muda a trilha sonora, inicialmente composta por clássicos, para o jazz. Passo a passo, sempre seguida por Ida, Wanda vai descobrindo o paradeiro dos pais da garota, cujos corpos estariam enterrados em uma floresta no interior. Ela também, logo descobrimos, está atrás de respostas para seu passado.

Encabeçado por grandes interpretações e maravilhosamente filmado por Pawlikowski, "Ida" é tão belo quanto profundo. A personagem principal é como uma tela em branco onde, aos poucos, formas e sombras são projetadas. A inocência dá lugar a questionamentos e descobertas. O plano em que Trzebuchowska solta os cabelos, olhando diretamente para a câmera, vai ficar na sua memória.

João Solimeo

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sniper Americano

Independente de toda controvérsia gerada a respeito do protagonista deste filme, Chris Kyle, um sniper que teria matado oficialmente 160 pessoas (mais de 200 extra-oficialmente), a questão que fica é: "Sniper Americano" é um bom filme? A resposta é não. Clint Eastwood, que já fez o ótimos "Os Imperdoáveis" e "Sobre Meninos e Lobos", entrega um filme de guerra bastante convencional.

O inimigo iraquiano é sempre chamado de "selvagem" ou classificado como o "mal". Há um vilão caricato que é tão ruim que mata criancinhas com uma furadeira elétrica. Há incontáveis e repetitivas "DR" toda vez que o marido volta para a esposa chorona e solitária (Sienna Miller). Há balas voando em câmera lenta para o destino sangrento. Há aquela cena passada no cemitério, com salva de tiros, marcha fúnebre e bandeira americana sendo dobrada solenemente. Enfim, era de se esperar que Clint Eastwood pudesse fazer um filme de guerra sem seguir tantos clichês. "Guerra ao Terror", de Katherine Bigelow, fez muito melhor alguns anos atrás.

Chris Kyle é interpretado por Bradley Cooper, que apesar de estar muito bem dificilmente mereceria uma indicação ao Oscar (seu nome foi a surpresa entre os indicados a ator). Jake Gyllenhaal, não indicado, está muito melhor em "O Abutre". Kyle, personagem que realmente existiu e é considerado um herói nos Estados Unidos, é daqueles texanos típicos; machão, amante de armas e mulheres e que dizem em voz alta que os EUA são "o melhor país do mundo". Após os atentados de 11 de setembro de 2001 ele se vê na obrigação de defender seu país e se alista nos SEALS, o que gera outra onda de cenas clichês de recrutas sofrendo com um treinamento exaustivo. (leia mais abaixo)



No Iraque, o trabalho de Kyle era se posicionar no topo de prédios e matar friamente qualquer pessoa que ele julgasse uma ameaça aos comboios americanos. Ele é visto matando homens, mulheres e até crianças que, sempre, são mostrados por Eastwood como uma ameaça real, justificando, assim, as mortes. Kyle ganha o apelido de "Lenda" entre os companheiros pela impressionante quantidade de mortes inimigas. Chega a ser engraçado que um sniper iraquiano conhecido como "Mustafá" (Sammy Sheik) seja visto como um grande vilão por fazer exatamente a mesma coisa que Kyle faz, ou seja, matar covardemente, de longe, soldados inimigos.

É verdade que, na parte final, "Sniper Americano" chega a questionar a guerra e tenta mostrar os efeitos que ela tem nos soldados que voltam para casa. Bradley Cooper busca alguma humanidade em Kyle nas cenas em que ele não consegue lidar com o dia-a-dia "normal" e com as exigências da mulher. Em nenhum momento, porém, ele duvida de suas ações. Soa falsa a tentativa do filme de mostrar alguma ambiguidade em um personagem que foi mostrado o tempo todo como um matador frio e eficiente. E o final é tão abrupto que parece que Jason Hall, o roteirista, não sabia como finalizar a trama. O já citado "Guerra do Terror" e mesmo "A Hora mais Escura" são muito mais eficientes em retratar um conflito que se estende por anos e está longe de uma solução.

ps: e se o seu objetivo for ver uma boa briga entre snipers assista "Círculo de Fogo" (não o filme de robôs, mas "Enemy at the Gates", produzido em 2001), que mostra Ed Harris e Jude Law na 2ª Guerra Mundial.

João Solimeo


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Tangerinas (Mandariinid)

Este pequeno filme da Estônia é passado no espaço entre as poucas casas de um vilarejo. É o início dos anos 1990 e há uma guerra acontecendo, mas é daquelas guerras europeias em que é difícil saber quem está lutando e porquê. Um letreiro no início informa que a região da Abecácia, ao norte da Geórgia, foi ocupada no século 19 por imigrantes da Estônia. Em 1992 a Geórgia quis retomar o território e quase todos os estonianos fugiram. Apenas alguns permaneceram para trás.

É o caso de Ivo (o ótimo Lembit Ulfsak), um senhor que tem uma pequena madeireira, e de Margus (Elmo Nüganen), que tem um pomar de tangerinas e quer fazer uma última colheita antes de também fugir para a Estônia.

A paz dos dois é perturbada quando um tiroteio acontece no vilarejo. Ivo e Margus conseguem resgatar dois sobreviventes, um mercenário checheno chamado Ahmed (Giorgi Nakhashidze) e um soldado da Geórgia chamado Nika (Michael Meskhi). Os dois, inimigos mortais, se recuperam em quartos separados da casa de Ivo, que tem que lidar não só com os ferimentos deles mas com a rivalidade entre os soldados. "Você perdeu seu tempo tentando salvá-lo, velho", diz Ahmed. "Eu vou matar o georgiano na primeira oportunidade". (leia mais abaixo)


Ivo os trata como um avô trataria dois moleques mal educados, com firmeza, e consegue que eles prometam que, ao menos dentro da casa, não se matariam. Há uma cena engraçada que Margus questiona esta promessa e Ivo lhe diz que ainda há quem cumpra com sua palavra. "E você tem os dois em sua casa?", pergunta Margus.

O filme, escrito e dirigido por Zaza Urushadze, é um dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015. Com uma hora e vinte e três minutos de duração, "Tangerinas" é simples e direto, passando uma mensagem pacifista clara. Ahmed e Nika se odeiam por princípio, mas a convivência, aos poucos, vai quebrando seus preconceitos com relação ao outro. Todo o filme é passado no vilarejo, seja na casa de Ivo ou no pomar de Margus. Eles falam a mesma língua e têm um passado em comum, mas estão em guerra por um pedaço de terra.

A direção de Urushadze é elegante e econômica. A câmera está sempre fazendo movimentos lentos e precisos e os ótimos atores conduzem a narrativa. O final não chega a ser surpreendente, mas é melhor executado do que esperava. É um bom filme que mostra a estupidez da guerra sem precisar de grandes discursos.

João Solimeo
Câmera Escura

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação

É sempre complicado falar sobre um filme feito sobre uma pessoa real. Deve-se encará-lo como uma obra de ficção qualquer, analisando apenas sua lógica interna, execução técnica, direção e elenco? Ou se deve levar em conta a relação do produto final com a história real que o inspirou? Creio que um pouco das duas coisas.

"O Jogo da Imitação" se baseia em três momentos da vida do matemático britânico Alan Turing; no final dos anos 1920, quando era um estudante; nos anos 1940, durante a 2ª Guerra Mundial e nos anos 1950, quando ele foi condenado por "indecência" por ser homossexual. 

Cinematograficamente falando, a fase passada durante a guerra é a melhor. O mundo estava sob a ameaça nazista e os alemães ganhavam a guerra. Milhares de civis britânicos morriam com os constantes bombardeios e a inteligência britânica montou uma força tarefa para tentar quebrar um código alemão criado por uma máquina chamada de Enigma. Os melhores matemáticos e criptologistas do país foram chamados para trabalhar com a máquina e tentar quebrar o código.

Benedict Cumberbatch ("12 Anos de Escravidão") interpreta o matemático Alan Turing como um gênio arrogante e de poucos amigos. Como o Sr. Spock de Star Trek, Turing não tem senso de humor e entende tudo de forma literal e lógica. Ele fica fascinado com a máquina Enigma, capaz de gerar trilhões de combinações possíveis; os alemães trocavam o código todos os dias à meia-noite, tornando impossível que seres humanos conseguissem decifrá-lo em tão pouco tempo. A lógica de Turing é de que apenas uma máquina conseguiria combater outra máquina e ele começa a construir o protótipo dos primeiros computadores, que ele chama de "Christopher". A máquina de Turing realmente existiu, embora não tenha sido criação única dele nem tenha surgido do "nada", como o filme sugere, mas foi baseada em uma máquina polonesa chamada "Bombe". De qualquer forma, o filme reconstrói a máquina de forma impressionante e é fascinante vê-la funcionando, embora demorasse horas para chegar a algum resultado. É provável que qualquer calculadora de bolso hoje tenha mais poder de processamento que a máquina de Turing, mas ela foi responsável por quebrar o código alemão e sem dúvida ajudou a terminar a guerra. (leia mais abaixo)


As outras duas fases do filme, que lidam com a infância de Turing e sobre o período pós-guerra, são decepcionantes. Há um vai e vem destas cenas, montadas com a fase da guerra, que por vezes mais servem para confundir do que para explicar a trama. Turing quando garoto (Alex Lawther) é ainda mais tímido e fechado e é constantemente atacado pelos colegas de turma. Seu único amigo (e amor precoce) é um garoto chamado Christopher, com quem troca mensagens criptografadas. O fato de Turing chamar sua máquina de "Christopher", mais tarde, é uma licença poética bastante previsível dos roteiristas. Nos anos 1950, um policial começa a suspeitar que Turing seja um espião soviético depois de investigar um roubo na casa dele. O suspense se torna um anticlímax quando ele descobre o que o espectador já sabia faz tempo, que o segredo de Turing era ser homossexual e não um agente duplo.

Assim, "O Jogo da Imitação" acaba se tornando bastante irregular, mesclando bons momentos de suspense e paranoia durante a guerra com outros que não chegam a lugar algum. Interessante também notar que, assim como na outra biografia de um gênio matemático britânico que está nos cinemas, "A Teoria de Tudo", "O Jogo da Imitação" usa de vários elementos de "Uma Mente Brilhante", filme em que Russell Crowe interpretou outro gênio matemático que era bom em decifrar códigos.

João Solimeo


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Grandes Olhos

"Grandes Olhos" começa com a fuga de Margaret (Amy Adams) de sua casa, localizada em uma rua que parece ter saído diretamente do cenário de "Edward Mãos de Tesoura". Ela arruma as malas rapidamente, coloca a filha única no banco de trás do carro e parte para São Francisco, fugindo de um casamento problemático. O que este começo nos diz? Que Margaret é uma mulher que luta pelo que quer; que, em plenos anos 1950, teve coragem de largar um casamento ruim e tentar a vida sozinha na cidade grande. Certo?

Pois é, este é só um dos grandes problemas do roteiro de "Grandes Olhos" (não, não é a biografia de Emma Stone), filme dirigido por um Tim Burton tentando ser diferente. "Grandes Olhos" conta a história de uma mulher que se submeteu a um homem por vários anos, que tomou crédito pelo trabalho dela e a escondeu do mundo. Por que, então, começar o filme desta maneira?

Margaret era uma artista de um trabalho só. Sua marca registrada era pintar quadros mostrando crianças tristes com olhos enormes, que ninguém queria comprar. Ela então conheceu Walter Keane (Christoph Waltz), outro suposto artista que, charmoso e vendedor nato, pintava quadros de Paris, onde dizia que havia morado e estudado Belas Artes. Ele convence o dono de um bar de jazz a expor seus trabalhos e os da esposa no corredor do banheiro da casa. Ninguém liga para suas paisagens parisienses, mas aos poucos os quadros da esposa começam a chamar a atenção e Walter, egocêntrico, diz que ele é o autor das obras. (leia mais abaixo)


Margaret, a mulher que foi apresentada como alguém independente e mãe solteira, inexplicavelmente aceita o papel de coadjuvante na farsa criada por Walter, que sequer era violento (ainda não, pelo menos) com ela ou a filha. O roteiro (escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski, de filmes muito melhores como "O Povo contra Larry Flynt", "O Mundo de Andy" e "Ed Wood") quer que o espectador acredite também que nem a filha de Margaret, que morava com ela e o pai adotivo em um apartamento pequeno, sabia que era a mãe que pintava os famosos quadros.

Christoph Waltz ("Django Livre"), que é ótimo ator, está completamente errado como Walter Keane, um americano do Nebraska que Waltz interpreta com seu sotaque europeu. Amy Adams ("Trapaça") está um pouco melhor, embora passe quase todo o filme com a mesma expressão desesperada. O roteiro perde ótimas oportunidades de discutir o que é "Arte" no século XX, ou "na era da reprodutibilidade técnica", como diz o famoso ensaio de Walter Benjamin. O tema é apenas sugerido de forma superficial na abertura, que mostra uma gravura de Keane sendo produzida em série e em algumas referências a Andy Warhol. Há apenas um crítico de arte (interpretado por Terence Stamp) que chega a discutir o valor dos quadros, mas tudo termina com uma cena de briga com Keane que beira o ridículo (com direito até a um close de Stamp segurando um garfo perto do rosto).

Lá pelas tantas Margaret foge novamente com a filha, que pergunta à mãe como é que elas vão sobreviver, já que não têm sequer roupas. Margaret responde "vamos ao Havaí, lá é um paraíso e não precisaremos de roupas". Se Margaret era tão submissa e controlada pelo marido, como ela tinha acesso ao dinheiro? Como conseguiu se mudar com a filha para uma casa enorme no Havaí e se manter lá escondida do marido? Tudo termina em uma sequência passada no tribunal, onde (finalmente) o óbvio é feito; quem conseguir provar que sabe pintar um quadro com os "grandes olhos" é o autor original.

É bom saber que Tim Burton tenha tentado fazer algo diferente do seu estilo convencional (nem Johnny Depp está neste filme, o que me deixou curioso em saber como ele faria Walter Keane). Pena que Burton tenha escolhido um roteiro tão fraco. Sua outra biografia, "Ed Wood" (1994), era muito melhor e mais adequada ao seu estilo. Para terminar, você fica se perguntando qual a importância de tudo aquilo. E se descobrissem que Romero Britto não pintou seus quadros? Pois é.

João Solimeo
Câmera Escura

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Um Santo Vizinho

Bill Murray. Precisa dizer mais? Com 64 anos, poucos atores são tão desencanados com a própria imagem quanto Murray, que pode ser tão ranzinza e engraçado quanto seus personagens. 

Ele é Vincent, um cara que é o que os americanos gostam de chamar de "loser" (um fracassado). Tem mais que cinquenta anos, está desempregado, devendo para todo mundo e ainda age como um adolescente. Bate ponto em um bar todas as noites, gasta o que não tem nas corridas de cavalos e, uma vez por semana, transa com Daka, uma prostituta russa que está grávida; Daka é interpretada por uma irreconhecível Naomi Watts ("Birdman"), "feia", boca suja e com um sotaque carregado.

Um dia Vincent  ganha vizinhos novos, a mãe solteira Maggie (Melissa McCarthy) e o filho dela, Oliver (Jaeden Lieberher). Maggie trabalha até tarde em um hospital e não tem com quem deixar Oliver depois da escola. Precisando de dinheiro, Vincent se oferece para ser "babá" do garoto. É bastante duvidoso que uma mãe deixaria o filho nas mãos dele, mas a relação entre Vincent e o menino, principalmente por mérito de Bill Murray, é engraçada e frequentemente tocante. Escrito e dirigido por Theodore Melfi (em seu primeiro longa metragem), "St. Vincent" é um filme pequeno e despretensioso, o que é bem vindo.


Se ele pode ser acusado de alguma coisa (e realmente pode) é de sentimentalismo. Há uma subtrama envolvendo a esposa de Vincent (que tem Alzheimer) que poderia estar em outro filme. Vincent visita a mulher em uma casa de repouso e só consegue conversar com ela se fazendo passar por médico, já que ela não o reconhece. O homem mal humorado desaparece e surge um marido com o coração partido e completamente devotado à esposa. Ponto para Bill Murray por conseguir fazer com que as contradições do personagem pareçam plausíveis. O modo como ele olha para a mulher conta histórias inteiras.

Há várias semelhanças com "Gran Torino", em que Clint Eastwood também interpreta um velho turrão que não quer contato com ninguém. O final, bastante açucarado, também é bastante previsível, o que não é ruim, mas o filme funciona melhor quando mostra o mundo de forma irônica.

João Solimeo
Câmera Escura

sábado, 31 de janeiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Há um momento em "Birdman" em que o diretor de uma peça de teatro precisa substituir um ator e começa a sugerir alguns nomes como Michael Fassbender ou Jeremy Renner, entre outros, e descobre que estão todos ocupados fazendo filmes de super-heróis. Ele entra no camarim e vê Robert Downey Jr., na TV, dando uma entrevista sobre o novo "Homem de Ferro".

Este é só um dos vários momentos em que o extraordinário "Birdman" (que tem o subtítulo peculiar de "A Inesperada Virtude da Ignorância") toca em temas bastante pertinentes sobre o estado das coisas em Hollywood hoje. Dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu, é pura metalinguagem, fotografado e montado de forma tecnicamente assombrosa.

O diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, famoso pelos longos planos-sequência que fez com Alfonso Cuarón em "Filhos da Esperança" e "Gravidade", leva o recurso às últimas consequências em "Birdman, que passa como se tivesse sido feito em um único plano, sem cortes de câmera. Pode parecer um detalhe gratuito, mas a forma tem ligação com o conteúdo, já que "Birdman" mostra os bastidores de uma peça de teatro. O plano contínuo faz com que o espectador se sinta parte da companhia teatral, participando dos ensaios, dos testes de figurino, montagem de cenários, etc, até o momento em que tudo tem que dar certo, ao vivo, diante da platéia. É emocionante.

A metalinguagem inclui a escolha de Michael Keaton para representar Riggan Thomson, um ator que havia sido um astro de Hollywood interpretando um herói mascarado no início dos anos 1990, assim como Keaton foi o "Batman" dos filmes de Tim Burton. Thomson está decadente há alguns anos e resolve apostar tudo na produção de uma peça de Raymond Carver ("De que falamos quando falamos de Amor") na Broadway, o templo do teatro de Nova York. A câmera onisciente de Lubezki acompanha os dias finais de ensaio que antecedem a grande estréia, que pode significar a glória ou o fracasso para Thomson e sua equipe.

Ele é o típico artista amargurado, constantemente inseguro do próprio talento e preocupado com seu legado. "Você sabia que Farrah Fawcett morreu no mesmo dia que Michael Jackson?", pergunta Thomson à ex-mulher. Seu alter ego, o personagem Birdman, fica conversando com ele em sua cabeça, lembrando-o constantemente de que é uma fraude. "Você não é um ator, é uma celebridade", lhe diz uma poderosa crítica do New York Times. (leia mais abaixo)


O elenco ainda conta com o ótimo Edward Norton ("A Última Noite"), que também parece uma versão caricata dele mesmo. Seu personagem, Mike Shiner, é um ótimo ator, metódico e aplicado, mas alguém com quem é difícil de se trabalhar. Emma Stone ("Amor a toda prova"), interpreta a filha de Thomson; Naomi Watts ("Você vai conhecer o homem de seus sonhos") é outra atriz amargurada que sempre sonhou em se apresentar na Broadway; Andrea Riseborough é a namorada atual de Thomson e o comediante Zach Galifianakis é seu agente e produtor.

O roteiro foi escrito por Iñarritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo, que tiveram não só que criar uma trama original mas ainda bolar uma maneira para que ela pudesse acontecer como em uma sequência contínua. É irônico como um filme tecnológico como este, que usa e abusa da manipulação da imagem digital e dos efeitos especiais, seja também uma crítica à Hollywood atual. Pelo menos dois personagens chamam os blockbusters de hoje, com suas cenas de explosões, tiros e sangue, de "pornográficos". Seria fácil para Riggan Thomson voltar a fazer seu personagem famoso e embolsar um cheque milionário, mas ele procura uma forma de ser novamente relevante (alguém se lembra de Harrison Ford, com quase 70 anos, voltando a interpretar Indiana Jones? E ele vai ser novamente Han Solo agora no final de 2015).

"Birdman" é ousado, tecnicamente brilhante e bastante relevante nos dias de hoje. O filme recebeu nove indicações ao Oscar e é o favorito ao prêmio principal, já que venceu a premiação do PGA, o sindicato dos produtores americanos (os últimos sete vencedores do PGA foram, também, vencedores do Oscar de Melhor Filme). Pessoalmente eu gostaria de "Boyhood" levasse o prêmio, mas "Birdman" é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano.

João Solimeo
Câmera Escura

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Homens, Mulheres e Filhos

Em 14 de fevereiro de 1990 a sonda espacial Voyager, nos limites do Sistema Solar, virou sua câmera para trás e tirou uma foto da Terra. Na imagem, nosso planeta aparece como um ponto azul na imensidão do Espaço, o que inspirou o astrônomo e escritor Carl Sagan a escrever um livro chamado "Pequeno Ponto Azul" (Pale Blue Dot). O objetivo de Sagan era mostrar como somos pequenos diante da imensidão do Universo e como nossas brigas por credos, raças e dinheiro são insignificantes. O que não significa que nós não tenhamos importância; pelo contrário, Sagan sempre enfatizou que nós somos feitos da mesma matéria de que são feitas as estrelas.

E aqui estamos nós, em pleno século XXI, cercados por tecnologia por todos os lados e capazes de nos comunicar (e nos fotografar) com o apertar de um botão. E, talvez, nunca estivemos tão solitários. É o que "Homens, Mulheres e Filhos", o novo filme de Jason Reitman, tenta nos dizer. Imagine "Beleza Americana" (Sam Mendes, 1999) na era da internet e dos smartphones. O filme de Reitman tem o mesmo olhar cínico sobre a sociedade branca, rica e entediada americana que a obra de Mendes. Há também ecos de "Pecados Íntimos" (Little Children), filme de 2006 em que o diretor Todd Field mostra como os adultos também podem agir como crianças mimadas. "Homens, Mulheres e Filhos" empresta de "Pecados Íntimos" o recurso de ter um narrador externo que, como um locutor de um documentário científico, conta a história para o espectador (na voz da atriz britânica Emma Thompson).

Reitman faz uso de "segundas telas" dentro da moldura do cinema para que o espectador possa visualizar o que os personagens estão digitando em seus smartphones ou vendo na tela de computadores. Há uma cena, por exemplo, em que enquanto acompanhamos o diálogo entre três adolescentes, também vemos o que duas delas estão falando, via mensagem de texto, entre si. (Leia mais abaixo. Obs: o trailer conta quase todo o filme)


Adam Sandler (em um papel "não Adam Sandler") é Don, o marido frustrado de Helen (Rosemarie DeWitt). Eles não fazem sexo há meses e ele só consegue consolo em sites de pornografia. Um dia o computador dele está com problemas, ele entra no quarto do filho e descobre que o rapaz de 15 anos já está vendo coisas muito mais pesadas do que ele online. Helen também se sente solitária e procura alternativas em um site que promove encontros sexuais entre pessoas casadas.

Em outra trama, o adolescente Tim (Ansel Elgort, de "A culpa é das estrelas") era o astro do time de futebol americano da escola, mas um dia ele decidiu parar porque "não via mais sentido em nada". A mãe trocou a família por um namorado novo na Califórnia, deixando Tim e o pai, Kent (Dean Morris, de "Breaking Bad" e "Under the Dome") sozinhos. O filho acompanha a nova vida da mãe pelo Facebook.

Falando em mães, há uma super protetora, vivida por Jennifer Garner, que vasculha o celular da filha todos os dias, conhece todas as senhas da garota e tem um sistema de GPS que mostra onde ela está o tempo todo. Por outro lado, há outra mãe que, na tentativa de promover a filha, posta fotos sensuais da garota em poses provocantes em um website e tenta, a todo custo, colocá-la em um programa de TV.

As tramas são entrecortadas por imagens da sonda Voyager vagando pelo espaço, bem distante, alheia a todos os dramas. As palavras inspiradoras de Carl Sagan chegam à nova geração de forma distorcida. Enquanto o ex jogador de futebol americano acha que nada vale apena (afinal, somos apenas poeria cósmica), garotas como a modelo se acham o centro do Universo (e quebram a cara quando descobrem a realidade).

O filme está bem longe do tom leve e divertido usado anteriormente por Jason Reitman em filmes como "Juno" e "Amor sem escalas". "Homens, Mulheres e Filhos" é atual e bastante realista, deixando um gosto amargo na boca.

Ps: enquanto escrevia este texto, mantinha uma conversa no Whatsapp e, de vez em quando, checava o Facebook. Pois é.


João Solimeo

domingo, 25 de janeiro de 2015

A Teoria de Tudo

Albert Einstein, em seu tempo, era uma das pessoas mais famosas do planeta. Seu fascínio superava barreiras linguísticas, geográficas, religiosas, filosóficas e científicas. No entanto, quantas pessoas, de verdade, seriam capazes de dizer que entenderam a Teoria da Relatividade?

O mesmo pode se dizer de Stephen Hawking, décadas depois. O astrofísico inglês tem a fama de um astro do rock. Seu livro "Uma Breve História do Tempo" foi um bestseller avassalador, mesmo que poucos dos seus leitores faziam ideia do que ele estava falando. O que faz figuras como Einstein, Hawking, Carl Sagan ou Neil deGrasse Tyson fascinantes? Talvez seja exatamente seu mistério. Talvez seja nossa fascinação com o desconhecido, com a "mágica" que parece existir atrás de números e fórmulas que não sabemos como funcionam.

O cinema, ávido por figuras heroicas e mágicas, de tempos em tempos lança filmes sobre estes seres sobre-humanos e seu domínio sobre os números. Assim, olhamos com espanto para Matt Damon desenhando fórmulas na lousa em "Gênio Indomável" (1997) ou Russell Crowe imaginando números em pleno ar em "Uma Mente Brilhante" (1991) e esquecemos nossas dificuldades em fazer aquele cálculo simples de porcentagem.

Em "A Teoria de Tudo" é a vez de vermos Eddie Redmayne visualizando o início do Universo em uma xícara de café com leite. Ele interpreta Stephen Hawking desde os tempos em que apostava corrida de bicicletas com os colegas em Cambridge. Redmayne está muito bem como Hawking, com seus famosos óculos de aro grosso e expressão curiosa. O arco do seu personagem, aliás, é bastante parecido com o vivido por Russell Crowe em "Uma Mente Brilhante"; um matemático que conquista o amor de uma garota especial e se torna um gênio da ciência, tendo que superar um problema de saúde grave. (leia mais abaixo)


Enquanto John Forbes Nash, o matemático vivido por Crowe, sofria de esquizofrenia (fato desconhecido de grande parte do público), a atrofia nervosa apresentada por Hawking já faz parte do imaginário dos espectadores, que sempre o "conheceram" sentado naquela cadeira de rodas e "falando" com aquele sintetizador de voz robótico. Assim, não deixa de ser interessante vê-lo, através da interpretação de Redmayne, andando e correndo pelos corredores da universidade antes que os primeiros sintomas da doença se manifestem.

O roteiro, escrito por Anthony McCarten, é baseado no livro de Jane Hawking (vivida por Felicity Jones), a garota religiosa por quem Hawking se apaixonou. As cenas do primeiro encontro entre eles, em uma festa de Cambridge, são filmadas como em um conto de fadas, com bela fotografia de Benoît Delhomme. Com o perdão da palavra, o casal Hawking mostrado no filme é um dos mais "fofos" do cinema, mas há bons diálogos trocados por Redmayne e Jones a respeito do Universo e da existência (ou não) de Deus, etc. Poderia ser piegas, mas a interpretação dos dois é honesta, muito bem dirigidos por James Marsh (que fez o ótimo documentário "O Equilibrista").

O resto do filme trata da decadência física de Hawking, a quem o médico deu apenas dois anos de vida depois do primeiro ataque, e seus triunfos científicos. Não é por menos que o físico decidiu se dedicar ao estudo do Tempo, que ele conseguiu superar até os atuais 72 anos de idade. O roteiro trata de desconstruir também (embora de forma leve), o casamento de conto de fadas e Stephen e Jane. Há um professor de canto (interpretado por Charlie Cox) que se torna algo mais na vida de Jane, assim como uma enfermeira no caso de Hawking.

Não é um filme brilhante nem inovador, mas é extremamente bem feito, e a vida de Stephen Hawking é, sem dúvida, fascinante. "A Teoria de Tudo" conquistou cinco indicações ao Oscar: Filme, Ator (Eddie Redmayne), Atriz (Felicity Jones), Roteiro Adaptado (Anthony McCarten) e Trilha Sonora (Jóhann Jóhannsson).

Observação: Benedict Cumberbatch, que está concorrendo com Redmayne a melhor ator por "O Jogo da Imitação", interpretou Stephen Hawking em um especial para a BBC em 2004. O filme pode ser visto clicando aqui.

João Solimeo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dois dias, uma noite

Sandra (Marion Cotillard, de "Ferrugem e Osso") é uma mulher belga que sofre de depressão. Após passar um tempo afastada do trabalho, ela volta e descobre que está para ser demitida. Seu emprego depende de uma cruel votação sugerida pelo encarregado da empresa. Ele dá aos empregados duas opções: demitir Sandra e receber um bônus de mil euros ou abrir mão do bônus para mantê-la na equipe. A votação será na segunda-feira de manhã e Sandra tem um final de semana (dois dias e uma noite) para convencer 16 companheiros de trabalho a abrirem mão de mil euros e votarem por sua permanência na empresa.

Sandra precisa do salário para manter a casa que divide com o marido e dois filhos, mas sente-se muito mal por ter que passar pela humilhação de ir de casa em casa, no final de semana, importunar os companheiros e implorar para que não a demitam. O filme é dirigido pelos irmãos Dardenne e há ecos na situação de Sandra com a da garota Rosetta, protagonista do filme de mesmo nome dirigido pelos belgas em 1999. O emprego, para Sandra, não é só um meio de se sustentar financeiramente, mas uma forma de lutar contra a depressão e mostrar que ela é "alguém". O marido Manu (Fabrizio Rongione) a ama e quer ajudá-la, mas sua insistência em tirá-la de casa e ir falar com os companheiros, por vezes, mais atrapalha do que ajuda. (leia mais abaixo)


Os irmãos Dardenne (de "O Filho" e "O Garoto da Bicicleta") têm experiência em documentários e seu cinema é extremamente realista. Eles fazem poucos cortes com a câmera, que acompanha Marion Cotillard passo a passo conforme ela visita os outros trabalhadores. A sensação de se estar lá, junto com a personagem, faz com que o espectador tenha que passar pela mesma experiência dela, que alterna momentos de humilhação com outros de esperança. Os diretores mostram todo o trajeto de Sandra até a casa de cada uma das pessoas que ela tem que convencer, fazendo sempre o mesmo "discurso" e explicando o porquê dela precisar que eles abram mão do dinheiro para que ela mantenha seu emprego.

O filme, apesar da crescente angústia e do suspense quanto ao final, não me pareceu tão forte quanto os trabalhos anteriores dos Dardenne. O dilema moral apresentado pela trama é relevante, principalmente nesta época de crise mundial, mas a peregrinação de Sandra de casa em casa se torna repetitiva. Cotillard é ótima atriz e conseguiu uma indicação ao Oscar pelo papel de Sandra, muito embora sua interpretação de uma mulher depressiva era melhor ainda em "Ferrugem e Osso", papel pelo qual ela deveria ter sido indicada no ano passado. Mas é interessante ver como cada um dos companheiros de Sandra reage quando está frente a frente com ela. O que vale mais, o companheirismo ou dinheiro no banco? A insistência de Sandra é válida ou ela está importunando os companheiros com uma situação que não é culpa deles? Como ela reagiria se estivesse do outro lado?

João Solimeo
Câmera Escura

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Juiz

"O Juiz" é um drama; é também um filme sobre família, sobre divórcio, sobre voltar para casa, sobre amores antigos e sobre o atrito entre pais e filhos. Como se não bastasse, é também um suspense e um filme de tribunal. Tudo isso se desenrola de forma nem sempre harmoniosa em longos 141 minutos, mas o elenco é bom, a parte técnica é competente e o filme tem tão boas intenções que, no fim das contas, o saldo é positivo.

Hank Palmer (Robert Downey Jr, excelente) é um advogado bem sucedido e antiético. Ele está defendendo um crápula qualquer na cidade grande quando recebe um telefonema. Sua mãe faleceu e ele tem que abandonar tudo e partir para a cidade natal. Antes dele partir, porém, ficamos sabendo que ele tem uma filha que o ama muito e uma esposa de quem está se divorciando.

Palmer volta então para Carlinville, Indiana, onde o funeral da sua mãe o espera. Mas ele parece mais preocupado com o fato de que vai reencontrar o pai, o venerável Juiz Palmer (Robert Duvall, em interpretação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante) do que com a morte da mãe. Os dois não se falam há anos por causa de problemas no passado. Hank tem um irmão mais velho, Glenn (Vincent D´Onofrio) e outro mais novo, Dale (Jeremy Strong), que tem deficiência intelectual e está sempre com uma câmera de Super-8 nas mãos. (leia mais abaixo)


Até este ponto imaginamos que vamos ver um típico filme de reunião de família. Hank passeia pela cidade natal, encontra uma ex-namorada (Vera Farmiga, de "Amor sem Escalas") e, com o corpo da mãe ainda quente, entra em discussões com o pai. É então que, em uma reviravolta, o filme familiar se transforma em um filme policial. Um ciclista é encontrado morto atropelado na estrada. Ele havia sido julgado pelo Juiz Palmer há mais de vinte anos em um caso complicado que terminou em assassinato. A polícia vai investigar e encontra o carro do Juiz todo amassado e com manchas de sangue. Entra então o filme de tribunal, em que tanto Hank quanto o pai têm que engolir o orgulho e trabalhar juntos para convencer o juri de que o Juiz não é culpado.

"O Juiz" é dirigido por David Dobkin com roteiro de Nick Schenk e Bill Dubuke. O filme tem uma aparência incrível, cortesia da direção de fotografia de Janusz Kaminski, tradicional colaborador de Steven Spielberg. Kaminski adora raios de luz que criam sombras dentro do tribunal, iluminam o rosto dos atores ou são lançados pelo projetor de Super-8 de Dale. A interpretação de todo o elenco é impecável; é bom ver Robert Downey Jr fora do uniforme do "Homem de Ferro" de vez em quando. Billy Bob Thornton faz uma participação como o advogado de acusação e vários coadjuvantes são conhecidos por quem é fã de cinema.

Pena que o roteiro queira abraçar o mundo. Há subtramas demais (inclusive um caso de paternidade que pode significar um incesto por parte de Hank) e momentos claramente construídos para tirar uma lágrima do espectador. É um mau filme? Longe disso. Basta não ter pressa, apreciar as interpretações e não levar a trama criminal muito a sério.

João Solimeo
Câmera Escura

sábado, 17 de janeiro de 2015

O Conto da Princesa Kaguya

"O Conto da Princesa Kaguya" é o quinto filme dirigido por Isao Takahata para o estúdio Ghibli, gigante da animação japonesa fundado por ele e pelo mestre Hayao Miyazaki (de "Vidas ao Vento"). É também, provavelmente, o último longa do diretor, que vai completar 80 anos. "Kaguya" foi um dos indicados ao Oscar de "Melhor Animação", ao lado de filmes como "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Os Boxtrolls" e "Song of the Sea".

A história é baseada em uma lenda japonesa do século 10 sobre um cortador de bambu que encontra na floresta uma linda princesa que, de tão pequena, cabe em sua mão. Ele leva a menina para casa e, junto com a esposa, a adota como filha. A animação é lindamente desenhada por Takahata e seus animadores, em uma técnica que parece feita com lápis de cor, carvão e aquarela. Em um mundo em que as animações tentam ser cada vez mais foto-realistas é um prazer ver a linda palheta de cores que Takahata pinta na tela.

As primeiras cenas que mostram a menina sendo adotada pelo velho casal e se transformando de princesa em um bebê são de grande beleza e sensibilidade. Note a habilidade dos animadores em desenhar a bebê se desenvolvendo e descobrindo o mundo em um ótima cena em que ela começa a engatinhar e seguir alguns animais da floresta, como sapos e insetos. Ela cresce como mágica, aprende a andar e a falar em pouco tempo e logo está correndo pela floresta na companhia de um grupo de garotos liderados por Sutemaru.

Eles levam uma vida feliz até que o pai da garota encontra ouro e roupas requintadas no mesmo bosque de bambus onde descobriu a filha. Ele acredita que os deuses da floresta estão lhe dizendo que a filha merece uma vida melhor e parte com a família para a capital, onde compra uma enorme mansão cheia de empregados e professores de etiqueta. A garota se transforma, a contragosto, na Princesa Kaguya (nome que significa "brilhante", "radiante") e tem que seguir uma série de regras em uma vida bem diferente da que ela levava na floresta. Sua beleza atrai um grande número de admiradores, mas Kaguya exige tarefas impossíveis de seus pretendentes, para desespero do pai, que a quer casada com algum príncipe. Até o Imperador do Japão tenta conquistar Kaguya, sem sucesso. Saudosa da liberdade, Kaguya se torna cada vez mais deprimida. (leia mais abaixo)


O ritmo do filme acompanha o estado de espírito de Kaguya. A primeira parte, passada na floresta e nas montanhas, é alegre e cheia de vida. A vida na corte, com suas obrigações e deveres, é mostrada de forma lenta e, por vezes, entediante. Como na maioria dos contos de fada originais, a história da Princesa Kaguya termina de forma agridoce. Sua melancolia cresce até a descoberta de que, de fato, ela não é deste mundo, levando a um final triste e trágico.

Vale lembrar que Isao Takahata dirigiu o que considero um dos filmes (animados ou não) mais trágicos de todos os tempos, "Cemitério de Vagalumes" (Hotaru no Haka, 1988), a história de um casal de irmãos durante a 2ª Guerra Mundial, que é implacável na descrição dos horrores da guerra. "O Conto da Princesa Kaguya" não está neste nível de dramaticidade, mas não tem o final feliz que geralmente se espera de um filme de princesas feito no ocidente.

Maravilhosamente desenhado e animado, com bela trilha sonora de Joe Hisaishi e direção de Takahata, "O Conto da Princesa Kaguya" é dos melhores animados do estúdio Ghibli. A indicação ao Oscar deve torná-lo mais acessível nos cinemas por aqui. Enquanto isso, você pode vê-lo na íntegra, com legendas em português, neste link.

João Solimeo

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Confira os indicados ao OSCAR 2015



Foram anunciados esta manhã em Los Angeles, Califórnia, os indicados ao prêmio máximo da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, o Oscar.

"Birdman", de Alejandro G. Iñarritu e "O Grande Hotel Budapeste", de Wes Anderson, lideram as indicações com nove cada. "O Grande Hotel Budapeste" venceu o último Globo de Ouro como Melhor Filme de musical ou comédia. 

O ótimo "Boyhood: Da Infância à Juventude", está indicado a seis Oscars. O filme independente de Richard Linklater já recebeu vários prêmios por sua combinação de ousadia técnica (a produção levou 12 anos para ser filmada) e sensibilidade artística, vencendo inclusive o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático. 

O comediante Steve Carell recebeu uma indicação como Melhor Ator pelo papel dramático em "Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo". O favorito ao prêmio é Michael Keaton, muito elogiado em "Birdman", mas não se surpreenda se o prêmio for para Eddie Redmayne, que interpretou o astrofísico Stephen Hawking em "A Teoria de tudo". O grande esnobado foi Jake Gyllenhaal pela ótima interpretação no chocante "O Abutre" (que só tem uma indicação, a Melhor Roteiro Original, de Dan Gilroy). Bradley Cooper, de "Sniper Americano", acabou ficando com a vaga de Gyllenhaal.

Rosamund Pike recebeu a única indicação do ótimo "Garota Exemplar", de David Fincher (que foi esnobado até nos prêmios técnicos como fotografia, edição e trilha sonora). Jennifer Aniston, eternamente lembrada pelo seriado "Friends", não convenceu a Academia por seu papel dramático no filme "Cake" e ficou de fora das indicações. Já a onipresente Meryl Streep recebeu a 19ª indicação da carreira, já tendo vencido em três ocasiões anteriores. Esperemos que deixem alguma outra atriz levar o prêmio este ano. Entre os coadjuvantes homens, J.K. Simmons é aposta certa ao prêmio por sua excelente performance em "Whiplash: Em busca da perfeição", em que faz um exigente professor de música.

Falando em música, Alexandre Desplat concorre contra ele mesmo na categoria de Melhor Trilha Sonora. Ele concorre pelas trilhas de "O Grande Hotel Budapeste" e "O Jogo da Imitação".

A categoria "Melhor Animação" surpreendeu pela ausência de "Uma Aventura Lego", que foi muito elogiado durante todo o ano. Entre os indicados estão "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Song of the sea", "Os Boxtrolls", além da animação japonesa "O Conto da Princesa Kaguya".

A cerimônia de entrega do Oscar 2015 acontece no dia 22 de fevereiro.

Confira a lista dos indicados:

Melhor filme
"Selma"

Melhor diretor
Alejandro Gonzáles Iñárritu ("Birdman")
Richard Linklater ("Boyhood")
Bennett Miller ("Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo")
Wes Anderson ("O grande hotel Budapeste")
Morten Tyldum ("O jogo da imitação")

Melhor ator
Steve Carell ("Foxcatcher")
Bradley Cooper ("Sniper americano")
Benedict Cumbertatch ("O jogo da imitação")
Michael Keaton ("Birdman")
Eddie Redmayne ("A teoria de tudo")

Melhor atriz
Marion Cotillard ("Dois dias, uma noite")
Felicity Jones ("A teoria de tudo")
Julianne Moore ("Para sempre Alice")
Rosamund Pike ("Garota exemplar")
Reese Whiterspoon ("Livre")

Melhor ator coadjuvante
Robert Duvall ("O juiz")
Ethan Hawke ("Boyhood")
Edward Norton ("Birdman")
Mark Ruffalo ("Foxcatcher")

Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette ("Boyhood")
Laura Dern ("Livre")
Keira Knightley ("O jogo da imitação")
Emma Stone ("Birdman")
Meryl Streep ("Caminhos da floresta")

Melhor roteiro original
Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo ("Birdman")
Richard Linklater ("Boyhood")
E. Max Frye e Dan Futterman ("Foxcatcher")
Wes Anderson e Hugo Guinness ("O grande hotel Budapeste")
Dan Gilroy ("O abutre")

Melhor roteiro adaptado
Jason Hall ("Sniper americano")
Graham Moore ("O jogo da imitação")
Paul Thomas Anderson ("Vício inerente")
Anthony McCarten ("A teoria de tudo")

Melhor filme estrangeiro
"Ida" (Polônia)
"Leviatã" (Rússia)
"Tangerines" (Estônia)
"Timbuktu" (Mauritânia)
"Relatos selvagens" (Argentina)

Melhor documentário longa-metragem
"O sal da terra"
"CitizenFour"
"Finding Vivian Maier"
"Last days"
"Virunga"

Melhor documentário curta-metragem 
"Crisis Hotline: Veterans Press 1"
"Joanna"
"Our curse"
“The reaper (La Parka)"
"White earth"

Melhor animação longa metragem
"Song of the sea"

Melhor animação em curta-metragem
"The bigger picture"
"The dam keeper"
"Feast"
"Me and my moulton"
"A single life"

Melhor fotografia
Emmanuel Lubezki ("Birdman")
Robert Yeoman ("O grande hotel Budapeste")
Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski ("Ida")
Dick Pope ("Sr. Turner")
Roger Deakins ("Invencível")

Melhor edição
Joel Cox e Gary D. Roach ("Sniper americano")
Sandra Adair ("Boyhood")
Barney Pilling ("O grande hotel Budapeste")
William Goldenberg ("O jogo da imitação")

Melhor curta-metragem em 'live-action'
"Aya"
"Boogaloo and Graham"
"Butter lamp (La lampe au beurre de Yak)"
"Parvaneh"
"The phone call"

Melhor design de produção
"Caminhos da floresta"
"Sr. Turner"

Melhores efeitos visuais
Dan DeLeeuw, Russell Earl, Bryan Grill e Dan Sudick ("Capitão América 2: O soldado invernal")
Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist ("Planeta dos macacos: O confronto")
Stephane Ceretti, Nicolas Aithadi, Jonathan Fawkner e Paul Corbould ("Guardiões da Galáxia")
Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher ("Interestelar")
Richard Stammers, Lou Pecora, Tim Crosbie e Cameron Waldbauer ("X-Men: Dias de um futuro esquecido")

Melhor figurino
Milena Canonero ("O grande hotel Budapeste")
Mark Bridges ("Vício inerente")
Colleen Atwood ("Caminhos da floresta")
Anna B. Sheppard e Jane Clive ("Malévola")
Jacqueline Durran ("Sr. Turner")

Melhor maquiagem e cabelo
Bill Corso e Dennis Liddiard ("Foxcatcher")
Frances Hannon e Mark Coulier ("O grande hotel Budapeste")
Elizabeth Yianni-Georgiou e David White ("Guardiões da Galáxia")


Melhor trilha sonora
Alexandre Desplat ("O grande hotel Budapeste")
Alexandre Desplat ("O jogo da imitação")
Hans Zimmer ("Interestelar")
Gary Yershon ("Sr. Turner")
Jóhann Jóhannsson ("A teoria de tudo")

Melhor canção
"Everything is awesome", de Shawn Patterson ("Uma aventura Lego")
"Glory", de John Stephens e Lonnie Lynn ("Selma")
"Grateful", de Diane Warren ("Além das luzes")
"I'm not gonna miss you", de Glen Campbell e Julian Raymond ("Glen Campbell…I'll be me")
"Lost Stars", de Gregg Alexander e Danielle Brisebois ("Mesmo se nada der certo")


Melhor edição de som
Alan Robert Murray e Bub Asman ("Sniper americano")
Martín Hernández e Aaron Glascock ("Birdman")
Brent Burge e Jason Canovas ("O hobbit: A batalha dos cinco exércitos")
Richard King ("Interestelar")
Becky Sullivan e Andrew DeCristofaro ("Invencível")


Melhor mixagem de som
John Reitz, Gregg Rudloff e Walt Martin ("Sniper americano")
Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga ("Birdman")
Gary A. Rizzo, Gregg Landaker e Mark Weingarten ("Interestelar")
Jon Taylor, Frank A. Montaño e David Lee ("Invencível")
Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley ("Whiplash: Em busca da perfeição")