quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Juiz

"O Juiz" é um drama; é também um filme sobre família, sobre divórcio, sobre voltar para casa, sobre amores antigos e sobre o atrito entre pais e filhos. Como se não bastasse, é também um suspense e um filme de tribunal. Tudo isso se desenrola de forma nem sempre harmoniosa em longos 141 minutos, mas o elenco é bom, a parte técnica é competente e o filme tem tão boas intenções que, no fim das contas, o saldo é positivo.

Hank Palmer (Robert Downey Jr, excelente) é um advogado bem sucedido e antiético. Ele está defendendo um crápula qualquer na cidade grande quando recebe um telefonema. Sua mãe faleceu e ele tem que abandonar tudo e partir para a cidade natal. Antes dele partir, porém, ficamos sabendo que ele tem uma filha que o ama muito e uma esposa de quem está se divorciando.

Palmer volta então para Carlinville, Indiana, onde o funeral da sua mãe o espera. Mas ele parece mais preocupado com o fato de que vai reencontrar o pai, o venerável Juiz Palmer (Robert Duvall, em interpretação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante) do que com a morte da mãe. Os dois não se falam há anos por causa de problemas no passado. Hank tem um irmão mais velho, Glenn (Vincent D´Onofrio) e outro mais novo, Dale (Jeremy Strong), que tem deficiência intelectual e está sempre com uma câmera de Super-8 nas mãos. (leia mais abaixo)


Até este ponto imaginamos que vamos ver um típico filme de reunião de família. Hank passeia pela cidade natal, encontra uma ex-namorada (Vera Farmiga, de "Amor sem Escalas") e, com o corpo da mãe ainda quente, entra em discussões com o pai. É então que, em uma reviravolta, o filme familiar se transforma em um filme policial. Um ciclista é encontrado morto atropelado na estrada. Ele havia sido julgado pelo Juiz Palmer há mais de vinte anos em um caso complicado que terminou em assassinato. A polícia vai investigar e encontra o carro do Juiz todo amassado e com manchas de sangue. Entra então o filme de tribunal, em que tanto Hank quanto o pai têm que engolir o orgulho e trabalhar juntos para convencer o juri de que o Juiz não é culpado.

"O Juiz" é dirigido por David Dobkin com roteiro de Nick Schenk e Bill Dubuke. O filme tem uma aparência incrível, cortesia da direção de fotografia de Janusz Kaminski, tradicional colaborador de Steven Spielberg. Kaminski adora raios de luz que criam sombras dentro do tribunal, iluminam o rosto dos atores ou são lançados pelo projetor de Super-8 de Dale. A interpretação de todo o elenco é impecável; é bom ver Robert Downey Jr fora do uniforme do "Homem de Ferro" de vez em quando. Billy Bob Thornton faz uma participação como o advogado de acusação e vários coadjuvantes são conhecidos por quem é fã de cinema.

Pena que o roteiro queira abraçar o mundo. Há subtramas demais (inclusive um caso de paternidade que pode significar um incesto por parte de Hank) e momentos claramente construídos para tirar uma lágrima do espectador. É um mau filme? Longe disso. Basta não ter pressa, apreciar as interpretações e não levar a trama criminal muito a sério.

João Solimeo
Câmera Escura

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