terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Rogue One: Uma História Star Wars

Primeiro, aviso de SPOILERS. MUITOS SPOILERS. ESTEJA AVISADO.

Segundo, assisti "Rogue One" no dia da estreia aqui no Brasil mas, curiosamente, não consegui escrever a respeito do filme. Eu o achei fantástico, mas teria sido apenas resultado da baixa expectativa? Resolvi que só escreveria quando o assistisse novamente, o que foi hoje. O que me leva a....

Terceiro: estava a caminho da sala de cinema para rever o filme quando chega uma mensagem enviada por um amigo: "Morreu Carrie Fisher". E lá vou eu rever "Rogue One" com mais esta informação na cabeça. De repente, a cena final toma um significado todo especial. De repente, todas as mortes neste filme (e são muitas) se tornam mais marcantes.

"Rogue One", sem exagero, é um dos melhores filmes já feitos da franquia "Star Wars". O diretor Gareth Edwards (do apenas razoável "Godzilla") e vários roteiristas (Chris Weitz, Tony Gilroy, John Knoll, Gary Whitta) conseguiram a façanha de transformar aqueles títulos iniciais de "Star Wars: Uma Nova Esperança" (1977) em um filmão de guerra e aventura. "É um período de guerra civil. Espaçonaves rebeldes, atacando de uma base escondida, obtiveram sua primeira vitória contra o malvado Império Galáctico", dizia o famoso texto inicial de "Guerra nas Estrelas" (como, por muitos anos, era conhecido o filme). Pois bem, "Rogue One" trata exatamente sobre este feito dos rebeldes em roubar os planos secretos para a famosa "Estrela da Morte", a "destruidora de planetas", como cita um dos personagens. O roteiro vai além, ao explicar até o que sempre foi considerada uma falha na história original de George Lucas, que era a famosa fraqueza na estação espacial, o duto em que  (SPOILER, caso você não tenha crescido neste planeta) Luke Skywalker atira um torpedo e manda pelos ares a "arma final do Império". A fraqueza teria sido colocada lá de propósito pelo construtor da Estrela da Morte, Galen Erso (o grande Mads Mikkelsen), como uma vingança contra o Império que matou sua esposa Lyra e o afastou da filha, Jyn (Felicity Jones).

Não que o filme seja perfeito, veja bem. O começo, principalmente, quando os personagens estão sendo apresentados, patina bastante. É fato que o roteiro passou por grandes mudanças mesmo em estágios avançados da produção. O roteirista Tony Gilroy (dos filmes de Jason Bourne) teria recebido mais de 5 milhões de dólares para reescrever e refilmar grande parte da produção, fazendo mudanças que alteraram vários aspectos da trama, inclusive o final. Quem compara os trailers que foram lançados antes do lançamento com o filme final vai perceber que não só muitas falas foram cortadas como cenas inteiras estão diferentes.

O que importa, claro, é o produto final, e "Rogue One" faz a alegria não só dos novos fãs como dos antigos conhecedores da saga. Esqueça a lenga lenga política e conversas sobre "midichlorians" inventadas por George Lucas nos famigerados Episódios I, II e III. "Rogue One" resgata o ritmo acelerado da estonteante sequência final de "Uma Nova Esperança" e "O Retorno de Jedi" com o lado sombrio e trágico de "O Império Contra Ataca". É melhor até que o bom "Episódio VII", lançado ano passado por J.J. Abrams. Felicity Jones não é grande atriz mas ela está competente como Jyn Erso, uma personagem dividida cujo pai é, aparentemente, um colaborador do Império enquanto a Aliança Rebelde procura sua ajuda. Diego Luna interpreta um rebelde de moral também bastante duvidosa, como se vê em uma cena inicial em que ele mata a sangue frio um companheiro. Há também, claro, espaço para o humor; Alan Tudyk interpreta o robô K2SO, que pode não ser nenhum C3PO, mas tem algumas das falas mais engraçadas do filme. Há também dois atores chineses, Donnie Yen e Wen Jiang, que emprestam ao filme um lado oriental que já estava subliminar nos primeiros filmes de Lucas, fortemente influenciados pelos samurais de Arika Kurosawa. Há diversas sequências tiradas diretamente de filmes sobre o "Dia D", no final da 2ª Guerra Mundial; até o uniforme dos rebeldes lembram o desembarque dos Aliados na Normandia em 1944. 

E temos que falar, claro, da volta de Darth Vader (com a poderosa voz de James Earl Jones); ele faz apenas algumas cenas neste filme, mas o cinema literalmente vem abaixo quando ele luta com os os rebeldes na espetacular sequência final. Quem também está de volta é Grand Moff Tarkin, interpretado além túmulo por um Peter Cushing digital que nem sempre funciona direito, mas impressiona. O compositor Michael Giachinno, que eu sempre considerei o sucessor de John Williams, usa e abusa dos temas originais do mestre mas vai além, criando novos temas em uma das melhores trilhas sonoras de toda saga.

Em suma, "Rogue One" é um grande filme, que serve tanto de homenagem a uma das franquias mais famosas do cinema como também funciona com méritos próprios. As cenas finais, quando testemunhamos o sacrifício dos personagens em prol de "uma nova esperança", são tocantes e muito bem feitas. Curioso que é com uma Carrie Fisher digital, jovem e sorridente, que o filme termina e nos joga em um mar de estrelas, prenunciando o que está por vir.

João Solimeo





domingo, 11 de dezembro de 2016

Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Em 15 de janeiro de 2009, um Airbus 320 partiu do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, carregando 155 passageiros e tripulantes. Apenas 208 segundos depois, com as duas turbinas destruídas por pássaros em voo, o avião pousou gentilmente sobre as águas geladas do Rio Hudson. Helicópteros e barcos da guarda costeira conseguiram resgatar todos com vida. A cidade de Nova York, ainda sofrendo os efeitos dos ataques ao World Trade Center em 2001, transformou o caso em uma grande celebração. O capitão do avião, Chesley "Sully" Sullenberger, foi transformado em herói nacional, fez inúmeras entrevistas e era abraçado por estranhos na rua; mas será que ele, ao pousar na água, teria tomado a decisão certa?

É esta questão que "Sully", o mais novo filme do veterano diretor Clint Eastwood, tenta responder. Sully é interpretado por ninguém menos que Tom Hanks, que aos 60 anos é, provavelmente, o ator mais amado desta geração (há vinte anos, provavelmente, o próprio Eastwood teria interpretado o papel). Hanks, desnecessário dizer, está ótimo e a produção é mais do que competente como entretenimento adulto. Falta, no entanto, um pouco mais de garra ao filme.

Clint Eastwood está com 86 anos e já fez desde obras primas (Os Imperdoáveis, Sobre Meninos e Lobos) a filmes divertidos, mas descartáveis (Cowboys do Espaço) até bobagens (Além da Vida). "Sully" se agarra às costas de Tom Hanks para se manter, literalmente, acima da água. Há alguns vícios antigos que chamam a atenção, como o fato dos burocratas que estão analisando o incidente terem todos cara de "mau" e agirem de forma desagradável. Laura Linney, brilhante em "Sobre Meninos e Lobos", está aqui reduzida à mulher "do lar" que fica apenas chorando no telefone com Tom Hanks ou falando sobre problemas financeiros. Uma trilha sonora açucarada é ouvida cada vez que testemunhamos um ato heroico ou tocante.

Por outro lado, fica claro que estamos diante de um diretor que, em grande parte do tempo, sabe o que está fazendo. Eastwood usa de efeitos criados em computação gráfica de forma discreta e muito eficiente. A direção de atores (a não ser com os "vilões") é boa e Aaron Ekhart, particularmente, está ótimo como Jeff Skyles, o espirituoso co-piloto de Sully. Os 208 segundos do voo são recriados de forma precisa e repetidos por diversas vezes durante o filme, de diferentes pontos de vista. Eastwood optou por contar a história de forma não linear, começando após o acidente e retornando a ele de tempos em tempos, durante o transcorrer da investigação. 

A sequência final se passa em uma daquelas "cenas de tribunal" que, se não fossem os talentos envolvidos, caberiam melhor em um telefilme de sábado à noite. O que fica de Sully é que pessoas são mais importantes do que simulações de computador, e bons atores como Tom Hanks, por enquanto, ainda batem qualquer computação gráfica. O produto final é um filme que merece ser visto, mas está longe de ser memorável.

João Solimeo

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

THX 1138 (1971) - Netflix

A Netflix está com "THX 1138" (1971) disponível no catálogo. É uma ficção científica distópica, claramente baseada em 1984, de George Orwell, e conta a história de um trabalhador chamado THX 1138 que vive em uma sociedade controlada por um Estado ditatorial em que as pessoas são mantidas na linha por calmantes e diversos outros tipos de drogas. Pode ser surpresa para alguns saber que este filme sério e depressivo foi escrito e dirigido por ninguém menos que George Lucas, que seis anos depois lançaria um dos filmes mais "pipoca" de todos os tempos, STAR WARS.
Lucas havia se formado em cinema pela USC e era protegido de Francis Ford Coppola, que estava fundando a própria companhia, a American Zoetrope. Há quem diga que Coppola usou Lucas para conseguir 300 mil dólares da Warner Brothers para fundar sua empresa em troca da promessa de um longa metragem, que seria THX 1138. A Warner teria odiado o filme, exigido o dinheiro de volta e editado o filme contra a vontade de Lucas.
A versão que está na Netflix é uma "edição especial" feita por Lucas em 2004. A imagem está maravilhosamente limpa, mas Lucas, como fez com Star Wars, modificou várias sequências com efeitos especiais digitais que aumentaram cenários, acrescentaram pessoas, trens, etc. Mas são mudanças menos invasivas do que as feitas em Star Wars e o resultado não muda tanto o filme original.
Engraçado notar que, apesar de THX e Star Wars serem tematicamente tão diferentes, há várias semelhanças técnicas entre os dois filmes. Note como as conversas ouvidas pelo rádio dos controladores da cidade em THX são quase idênticas às mensagens trocadas pelos rebeldes pelo rádio quando estão atacando a Estrela da Morte, por exemplo. Semelhante também o fato de que Lucas usou cenários reais de estúdios de televisão e processamento de dados para simular um ambiente futurista nos dois filmes (o controle da Estrela da Morte, que destrói planetas, nada mais é do que um manche de uma controladora de estúdio de TV).
Cerebral, lento e depressivo, THX 1138 não é para o gosto da maioria, mas é um filme bastante interessante. Robert Duvall está ótimo no papel principal. O elenco ainda conta com Donald Pleasense como um rival. O plano final deste filme é das coisas mais lindas já feitas no cinema. Disponível na Netflix.

João Solimeo

For the Love of Spock (2016) - Netflix


"FOR THE LOVE OF SPOCK" é um documentário dirigido por Adam Nimoy, filho de Leonard Nimoy, que ficou famoso internacionalmente por ter interpretado o personagem Spock, da série Star Trek (Jornada nas Estrelas, no meu tempo).

O documentário foi produzido via crowdfunding no Kickstarter e conta com uma série de depoimentos de atores que contracenaram com Nimoy na série de TV e nos filmes de cinema, como William Shatner, George Takei, Nichelle Nichols e George Koenig, além dos atores dos novos filmes de cinema Simon Pegg, Chris Pine, Zoe Saldana, Karl Urban e Zachary Quinto. O filho de Nimoy narra e conduz as entrevistas com os atores e também com membros da família, fãs, diretores e produtores em geral.



Para quem é fã nível avançado (como eu, rs) o documentário não traz muitas novidades. Quem já leu os livros a respeito de Star Trek ou sobre Nimoy vai reconhecer as histórias de sempre, do começo humilde em uma comunidade judaica de Boston ao estrelato em Los Angeles nos anos 1960, a carreira bem sucedida no teatro, os filmes de cinema de Star Trek e uma competente carreira como diretor ("Três Solteirões e um Bebê", dirigido por Nimoy, foi o campeão de bilheteria de 1987).


De novidade mesmo é saber sobre a relação de Leonard Nimoy com o filho Adam, que visitava o pai nos sets de filmagem quando criança mas, com o tempo, acabou se afastando dele até perto do final da vida, quando retomaram o contato. Nimoy acabou morrendo em 27 de fevereiro de 2015, de complicações no pulmão causadas pelo fumo. "For the love of Spock" está disponível na Netflix.

João Solimeo