quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Blonde (2022)

 
Blonde (2022). Dir: Andrew Dominik. Netflix. Curioso que 2022 tenha visto o lançamento das cinebiografias de dois ícones da cultura pop americana: Elvis Presley e Marilyn Monroe. São filmes bastante diferentes e bastante iguais; os dois são bem longos, quase três horas de duração. São também muito estilizados... e bastante exagerados.

"Blonde" é baseado em um livro de Joyce Carol Oates que é descrito como uma "biografia de ficção". Ou seja, não se deve ler o livro (ou ver o filme) esperando uma reportagem jornalística. O que se vê nas telas é uma história baseada, em linhas gerais, na vida e morte de Marilyn Monroe, mas não se apegue a detalhes. É um filme visualmente belo e extremamente difícil. Andrew Dominik, o diretor, fez o belíssimo "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com Brad Pitt, que tinha uma das mais belas fotografias do cinema. "Blonde" é igualmente belíssimo; o diretor usa e abusa de janelas com proporção diferente (tela cheia, tela quadrada, cinemascope, etc) e diversos tipos de cores e texturas. A produção também recriou fielmente enquadramentos de ensaios fotográficos, penteados e figurinos icônicos de Monroe, uma das mulheres mais fotografadas da história, e você é transportado para os anos 1930, durante a infância de Norma Jeane, e depois para os 1950 e 1960.

O problema é que o filme pega (bastante) pesado com a vida e morte de Norma Jeane/Marilyn Monroe. Ana de Armas está excelente no papel e magnética na tela (vem aí uma provável indicação ao Oscar). Só que garota é mostrada como se fosse um "pedaço de carne" (o termo é até usado no roteiro). O filme começa com Norma criança, (mal) criada por uma mãe solteira abusiva, e não lhe dá trégua por quase três horas de duração; acompanhamos estupros, casamentos abusivos, divórcios, abortos e todo tipo de humilhação. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora viajante de Nick Cave e Warren Ellis. É massacrante.

Confesso que precisei de duas sessões para ver o filme inteiro. Voltando à comparação com "Elvis", ao menos naquele filme dá para curtir as músicas do "rei" e ver algumas recriações de shows, etc. Em "Blonde" são pouquíssimas as sequências em que o espectador tem um "respiro" (há algumas passagens idílicas de Marilyn com o dramaturgo Arthur Miller, interpretado por Adrien Brody, mas logo o preto-e-branco retorna e, com ele, a depressão, as drogas, os surtos, etc).

E, sim, há uma parte do filme dedicada ao suposto "romance" entre Marilyn e John Kennedy, mas é a sequência mais bizarra deste filme, o que é dizer muito (e quando a edição comparou a ereção do presidente com imagens de foguetes na TV eu joguei a toalha). Difícil, veja por sua conta e risco. Tá na Netflix. 

Lou (2022)

 
Lou (2022). Dir: Anna Foerster. Netflix. Em um (raro) bom filme de suspense e ação produzido pela Netflix. Allison Janney (The West Wing, Eu Tônia) é uma ex agente da CIA que está escondida em uma ilha isolada na costa dos EUA (embora, vamos combinar, se ela está se escondendo, está fazendo um péssimo trabalho; todos na cidadezinha próxima a conhecem pelo nome). Estamos nos anos 1980, como mostram imagens do presidente Reagan na TV e pela trilha sonora composta por sucessos como "Africa", do Toto.

Uma vizinha, Hannah (Jurnee Smollett), tem a filha pequena sequestrada por um homem misterioso, Phillip (Logan Marshall-Green, que é um CLONE de Tom Hardy) e é então que Lou se revela como uma especialista em armas e em seguir rastros em uma floresta encharcada. Lou e Hannah partem em busca da menina debaixo de uma tempestade e, no caminho, as peças do quebra cabeça vão se juntando para revelar quem é quem, de verdade.

Janney, que geralmente interpreta personagens cômicas ou sarcásticas, está bem em um filme de ação. Ela carrega marcas físicas e psicológicas no corpo das coisas que teve que fazer em décadas na CIA. Hannah também carrega marcas pelo corpo, resultado de um relacionamento tóxico. É um filme de ação de um ponto de vista feminino, o que inclui discussões sobre maternidade e relacionamentos abusivos. Tá na Netflix. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Late Night (2019)

Late Night (2019). Dir: Nisha Ganatra. Netflix. Comédia leve que mais parece o piloto de alguma série não produzida pela Netflix. Ela é escrita, produzida e interpretada pela comediante Mindy Kaling, que criou e escreveu várias séries de TV e faz aqui sua estreia em longa metragens. Ela interpreta Molly, uma mulher que trabalhava em uma empresa química mas acaba contratada como roteirista de um "talk show" em Nova York (nada muito realista). O programa está no ar há muitos anos e é comandado por Katherine Newbury (a grande Emma Thompson), mas os números do ibope não estão bons. Os executivos da emissora querem trocá-la por um comediante jovem e com um humor mais "moderno". Claro que a roteirista novata (apesar de fazer uma coisa errada atrás da outra) vai ser a salvação da apresentadora veterana.

Como disse, é um filme bem leve. Há referências a temas sérios como sexismo no local de trabalho, a superficialidade da mídia e outros assuntos relevantes, mas o roteiro nunca vai muito a fundo em nenhum deles. As cenas de stand-up também não são muito engraçadas, o que é um problema em um filme sobre comediantes. Emma Thompson está competente, como sempre; sua personagem uma hora é um monstro como a Meryl Streep de "O Diabo Veste Prada" (clara influência aqui), para em seguida agir como uma pessoa humana e compreensiva. Vale como comédia leve. Tá na Netflix.

sábado, 17 de setembro de 2022

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022)

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022). Dir: Matt Sobel. Amazon Prime Video. Filme de suspense que é a versão americana de uma produção austríaca de 2014 (que eu não vi). Não posso comparar esta versão com a original, mas este filme estrelado por Naomi Watts é apenas razoável.

Dois garotos gêmeos, Elias e Lukas (Cameron Crovetti e Nicholas Crovetti) são levados pelo pai até uma casa de campo isolada (daquele tipo que só existe em filmes de terror). Lá eles se encontram com a mãe (Naomi Watss), que não viam há algum tempo. A mãe está com a cabeça coberta por bandagens; só os olhos, nariz e a boca podem ser vistos. Há um clima tenso entre a mãe e os garotos; ela estabelece regras (não brincar em um celeiro próximo, manter as janelas fechadas) e é fria com Elias quando este lhe dá um desenho que fez. Os garotos, por sua vez, começam a achar que aquela mulher, com o rosto coberto, talvez não seja realmente a mãe deles.

Como disse, não vi o filme original, mas algo me diz que a versão europeia é mais interessante. O clima inicial de suspense acaba substituído por uma série de situações bizarras em que não sabemos o que é real ou imaginação das crianças. A trama esconde um segredo que, sinceramente, não é muito difícil de descobrir. Naomi Watss, que andava meio subida das telas, passa grande parte do filme com o rosto coberto. Não é um filme ruim, mas também não é grande coisa (fiquei com vontade de ver o original). Disponível na Amazon Prime Video.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Não! Não Olhe! (Nope, 2022)

Não! Não Olhe! (Nope, 2022). Dir: Jordan Peele. "Nope" é o terceiro (e estranho) filme de Jordan Peele (dos também estranhos e fascinantes "Corra!" e "Nós"). Difícil de classificar, "Nope" é oficialmente ficção-científica com toques de terror; é também uma comédia de humor negro que homenageia/parodia filmes como "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (e "Guerra dos Mundos"), de Steven Spielberg, ou mesmo "Sinais", de Shyamalan.


Peele, desde o começo, brinca com a própria história do cinema, mostrando a famosa sequência de fotos de um cavalo cavalgando feita por Eadweard Muybridge em 1877; pois bem, quase 150 anos depois, "Nope" trata de uma família especializada em treinar cavalos para filmes e séries de TV. Daniel Kaluuya é OJ Haywood, um cara de poucas palavras que, com a irmã (Keke Palmer), tenta manter os cavalos em um rancho na Califórnia. Só que coisas bem estranhas começam a acontecer na região. Objetos começam a cair do céu. Formas estranhas são vistas atrás das nuvens. Cavalos (e pessoas) desaparecem em pleno ar. Auxiliados por um rapaz de uma loja de materiais elétricos (Brandon Perea), eles instalam várias câmeras por todo rancho, tentando gravar a "coisa" que está por trás de tudo isso.

Eu (como sempre) tentei ficar o mais longe possível de trailers e detalhes da produção, embora tivesse uma vaga ideia de se tratar de algo extraterrestre (assisti a um trailer agora, depois do filme, e mostram simplesmente TUDO). Há, como disse, grandes influências de "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", principalmente na deslumbrante direção de fotografia de Hoyte van Hoytema (de vários filmes de Nolan), feita em Kodak 65mm. Há uma bizarra história paralela envolvendo o personagem de Steven Yeun (Minari, The Walking Dead) que, a princípio, pode parecer não ter nada a ver com o tema principal, mas envolve TV, cinema, espetáculo e, sim, um predador.

No fim das contas, "Nope" é muito mais sobre cinema do que sobre supostos extraterrestres. Note como o objetivo dos protagonistas nem é derrotar um inimigo, mas capturar sua imagem. Há até uma auto ironia no fato de que eles chamam um grande diretor de fotografia estrangeiro (Michael Wincott) para tentar filmar (em IMAX), uma cena boa do dito cujo. Fascinante. Nos cinemas.

A Luz é para Todos (Gentleman´s Agreement, 1947)

 
A Luz é para Todos (Gentleman´s Agreement, 1947). Dir: Elia Kazan. Star+. De vez em quando gosto de ver algum filme antigo, principalmente quando está escondido em um serviço de streaming. Este é de 1947 e venceu os Oscars de "Melhor Filme", "Diretor" (Kazan) e "Melhor Atriz Coadjuvante" (Celeste Holm). Gregory Peck é um jornalista da Costa Oeste que se muda para Nova York para escrever um artigo sobre antissemitismo para uma revista. Cristão, ele passa algumas semanas sem saber como abordar o tema quando... eureka! Ele decide que vai se apresentar como judeu a todos que encontrar, incluindo companheiros de trabalho e os familiares da nova namorada, Kathy (Dorothy McGuire). O roteiro, escrito por Moss Hart e adaptado de um livro de Laura Z. Hobson, é cheio daqueles "discursos" que você escuta de personagens em filmes mais antigos (ou alguns filmes brasileiros, hoje, rs). Não é uma reclamação, é só um fato... interpretação, diálogos e a própria cadência das falas eram mais teatrais naquela época (Hollywood havia saído dos filmes mudos há duas décadas).

Gregory Peck nasceu para fazer personagens íntegros e ele está muito bem no papel. O filme causou certa polêmica na época por expor o "acordo de cavalheiros" (título original do filme) que havia entre as pessoas de discriminar judeus no mercado de trabalho, nas escolas ou em contratos imobiliários. O personagem de Peck começa a ter problemas com a namorada porque, apesar dela apoiar a ideia, a coisa muda de figura quando ela tem que fingir que está se relacionando com um judeu.

É um bom filme, embora, visto hoje, pareça um pouco ingênuo. Como disse o crítico Peter Bradshaw no "The Guardian", simplesmente dizer que é judeu não torna uma pessoa um. Em nenhum momento Gregory Peck enfrenta problemas com a cultura judaica, a comida, religião, costumes, etc. Um judeu de verdade provavelmente perceberia que ele estava fingindo, mas ele interage com vários e ninguém percebe. O filme, hoje, provavelmente seria acusado de "lacração". A propósito: a cópia no Star+ está ótima, provavelmente passou por uma restauração.