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sábado, 17 de setembro de 2022

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022)

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022). Dir: Matt Sobel. Amazon Prime Video. Filme de suspense que é a versão americana de uma produção austríaca de 2014 (que eu não vi). Não posso comparar esta versão com a original, mas este filme estrelado por Naomi Watts é apenas razoável.

Dois garotos gêmeos, Elias e Lukas (Cameron Crovetti e Nicholas Crovetti) são levados pelo pai até uma casa de campo isolada (daquele tipo que só existe em filmes de terror). Lá eles se encontram com a mãe (Naomi Watss), que não viam há algum tempo. A mãe está com a cabeça coberta por bandagens; só os olhos, nariz e a boca podem ser vistos. Há um clima tenso entre a mãe e os garotos; ela estabelece regras (não brincar em um celeiro próximo, manter as janelas fechadas) e é fria com Elias quando este lhe dá um desenho que fez. Os garotos, por sua vez, começam a achar que aquela mulher, com o rosto coberto, talvez não seja realmente a mãe deles.

Como disse, não vi o filme original, mas algo me diz que a versão europeia é mais interessante. O clima inicial de suspense acaba substituído por uma série de situações bizarras em que não sabemos o que é real ou imaginação das crianças. A trama esconde um segredo que, sinceramente, não é muito difícil de descobrir. Naomi Watss, que andava meio subida das telas, passa grande parte do filme com o rosto coberto. Não é um filme ruim, mas também não é grande coisa (fiquei com vontade de ver o original). Disponível na Amazon Prime Video.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Kimi: Alguém está escutando (Kimi, 2022)

 

Kimi: Alguém está escutando (Kimi, 2022). Dir: Steven Soderbergh. HBO Max. Zoë Kravitz é Angela, uma mulher que trabalha como técnica de uma empresa estilo Amazon, que tem um aparelho chamado "Kimi". O aparelho, como uma Alexa, obedece comandos verbais dos usuários; só que, de vez em quando, a máquina não entende o comando e um ser humano (como Angela) tem que intervir, escutando a gravação e modificando o código da programação para facilitar o trabalho da máquina. Angela mora em um apartamento enorme em Seattle e nunca sai dele; ela tem problemas com espaços abertos e a pandemia só piorou seu trauma. Um dia ela está ouvindo os áudios da "Kimi" e ela escuta algo perturbador: gritos abafados de "socorro", em meio a uma música alta. Soderbergh é um mestre na parte técnica e a investigação que Angela faz com o áudio é algo bonito de se ver (eu até reconheci uma placa de áudio e um equalizador que ela usa para melhorar o som). E agora? Para quem ela denuncia o que parece ser um caso de abuso ouvido por acaso?

"Kimi" é um bom suspense de Soderbergh, muito bem escrito pelo veterano David Koepp (Quarto do Pânico). Além de diretor, Soderbergh também faz a direção de fotografia e a edição dos seus filmes, que ele produz aos montes. "Kimi" tem referências tão diferentes quanto "Janela Indiscreta", "A Conversação" e até "Esqueceram de Mim" (juro, rs). Zoë Kravitz está muito bem como uma mulher traumatizada que está tentando fazer a coisa certa. Ela poderia simplesmente ignorar o áudio entre as centenas de chamadas que ela resolve por dia, mas o áudio mexe com ela de forma especial. O filme tem enxutos 90 minutos muito bem aproveitados. Disponível na HBO Max.

sábado, 7 de setembro de 2013

Jobs

Filmes sobre figuras históricas costumam tratar de líderes religiosos ou políticos, pacifistas ou estrelas de rock. Filmes sobre empresários já foram feitos antes (como "Tucker, Um Homem e seu Sonho", 1988, de Francis Ford Coppola), mas poucos apresentaram seu protagonista de forma tão religiosa quanto "Jobs". Em se tratando da marca "Apple", no entanto, não é de se estranhar, já que a fábrica de computadores, desde seu início, não tinha apenas "clientes", mas "seguidores", e Steve Jobs era seu profeta. Jobs morreu de câncer em 2011, deixando um legado impressionante de inovações tecnológicas como o iPod, o iPad, o iPhone e tantos outros que mudaram o modo como as pessoas interagem com os aparelhos eletrônicos.

Diante disso, é uma pena que a primeira cinebiografia a respeito do californiano seja tão "quadrada" e sem brilho. A melhor surpresa é a interpretação de Ashton Kutcher, que praticamente carrega o filme sozinho, com um bom trabalho ao emular Jobs. Financiado de forma independente, o filme foi feito às pressas para chegar às telas antes da produção da Sony Pictures que será baseada na biografia oficial de Steve Jobs, escrita por Walter Issacson. O filme da Sony, além de ter um orçamento muito superior, está sendo escrito pelo premiado roteirista Aaron Sorkin, que ganhou o Oscar em 2011 por "A Rede Social". Foram os diálogos rápidos e inteligentes de Sorkin que tornaram o filme sobre o Facebook interessante. Enquanto isso, em "Jobs" (dirigido por Joshua Michael Stern e escrito por Matt Whiteley), o roteiro se arrasta e o espectador assiste a longas sequências em que "nerds" em uma garagem ficam soldando circuitos em uma placa de computador, ou executivos tramam vinganças ao redor de mesas de reunião.

É verdade que não só o lado bom de Jobs é mostrado. De temperamento difícil, o futuro criador do iPod é visto humilhando técnicos que não se comprometiam 100% com sua "visão" da empresa. No lado pessoal, ele negou a paternidade de uma menina que teria tido com a namorada. Era frequente também que ele tomasse para si o crédito por criações e inovações que não eram dele; o primeiro computador Apple, por exemplo, teria sido criado por Steve Wosniak (Josh Gad), seu amigo e sócio. A Apple Computer começou na garagem dos pais de Jobs e, nos primeiros meses, era tocada por Jobs, Wosniak e um grupo de técnicos que trabalhavam praticamente de graça. Quando a empresa cresceu, no entanto, Jobs se recusou a ceder ações para os antigos companheiros. Há uma cena em que Jobs é visto provando do próprio veneno, quando Bill Gates teria copiado o sistema operacional do Macintosh e criado o Windows, passando a perna na Apple. A rivalidade duraria décadas, mas o filme apenas mostra um telefonema de Jobs ameaçando processar Gates. Steve Jobs foi afastado da própria empresa em 1985 e criou a Next. (O filme não mostra como, em um golpe de "sorte", ele comprou de George Lucas uma pequena produtora de animações chamada Pixar, em 1986, e a transformou em uma empresa bilionária). Com altos e baixos, "Jobs" se apoia muito na interpretação de Kutcher para se manter em pé, e apesar de ser um bom trabalho do ator, não é o suficiente.

domingo, 1 de setembro de 2013

Frances Ha

Frances (Greta Gerwig) é uma mulher de 27 anos que divide um apartamento em Nova York com a melhor amiga, Sophie (Mickey Summer). As duas se conhecem desde a época da faculdade e, segundo Frances, são "a mesma pessoa com cabelos diferentes". Fumam e bebem juntas, frequentam os mesmos lugares, brincam na rua como duas crianças. Um dia o namorado de Frances pede para ela vir morar com ele. Ela diz que não pode, pois mora com Sophie. O caso é que, ao contrário dos desejos de Frances, o tempo passa, as pessoas crescem e assumem responsabilidades, e talvez os planos de Sophie não sejam exatamente como Frances gostaria que eles fossem.

"Frances Ha" é escrito e dirigido por Noah Baumbach e por Greta Gerwig, e parece um filme francês dos anos 1960 que alguém achou enterrado em uma cápsula do tempo. Filmado digitalmente (com uma Canon 5D, uma câmera fotográfica) em maravilhoso preto-e-branco (direção de fotografia de Sam Levy) e contento várias trilhas sonoras de Georges Deleure (que colaborou frequentemente com François Truffaut), o filme só faltava ser falado em francês para a ilusão de se tratar de um exemplar perdido da nouvelle vague se completar. É tão francês que a personagem principal, claro, se chama "Frances". Greta Gerwig está soberba; não há um momento sequer em que ela não seja natural como uma aspirante a bailarina que perdeu o bonde da própria vida (mas não se deu conta disso ainda). É um filme sobre uma amizade que se mistura com amor (mais sobre isso em breve), sobre ilusões, sobre arte e sobre a realidade, que teima em aparecer de vez em quando para jogar um banho de água fria nos sonhos de Frances.

Noah Baumbach é colaborador frequente de Wes Anderson (diretor de "Moonrise Kingdom", "Os Excêntricos Tenenbauns", "O Fantástico Sr. Raposo", etc) e diretor de um filme que admiro muito, "A Lula e Baleia", com Jeff Daniels e Jesse Einsenberg. A colaboração com Greta Gerwig trouxe a "Frances Ha" um ponto de vista extremamente feminino. A influência francesa está presente em cada plano. Quando Sophie muda de apartamento, deixando Frances sem ter como pagar o aluguel, ela vai morar com dois artistas, o mulherengo Lev (Adam Driver) e Benji (Michael Zegen), em uma situação que lembra muito, claro, "Uma Mulher para Dois" (1962), de Truffaut. Há também uma sequência em que Frances, em um impulso, usa um cartão de crédito para passar um final de semana em Paris, e uma amiga lhe diz que conhece um rapaz muito parecido com Jean-Pierre Léaud, ator símbolo da nouvelle vague. O ar francês continua firme mesmo quando o ritmo contagiante de "Modern Love", de David Bowie, se torna a trilha sonora principal do filme.

E há a "amizade" entre Frances e Sophie. Apesar de uma frase no início dizer que elas são como "um velho casal de lésbicas que não faz sexo", e elas serem chamadas de heterossexuais por todo o filme, a atração de Frances por Sophie beira a obsessão. Ela fala sobre a amiga o tempo todo, com quem estiver próximo e disposto (ou não) a ouvir. As duas são vistas na mesma cama em diversas cenas (em uma delas, Frances tira a calcinha antes de se deitar). Sophie tem um namorado, que depois se torna seu noivo, mas Frances está sempre sozinha (a não ser pelo "namorado" com quem ela briga, no início do filme, por causa de Sophie) mesmo quando está morando em um apartamento com dois homens ativos sexualmente. Por mais "gracinha" que o filme seja, em sua exaltação à amizade, fica a sensação incômoda de que se está assistindo a um casal homossexual que não quer assumir o relacionamento e ser feliz. Mas é um filme gostoso de se ver, com interpretações sinceras e ótimo nível técnico. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

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