domingo, 27 de setembro de 2009

Amantes

Leonard (Joaquin Phoenix) acompanha Michelle (Gwyneth Paltrow) até o centro de Manhattan, de metrô. Os dois conversam amigavelmente. Leonard é engraçado, faz piadas, Michelle ri, pede para eles trocarem telefones. Ao saírem para a rua, Leonard a vê entrando em uma Mercedes de luxo, com motorista particular. No rosto de Leonard, por um segundo, vê-se que ele sabe que ela é "areia demais para o seu caminhão", mas ele também sabe que já foi fisgado.
"Amantes" é dirigido por James Gray, que em 2007 fez o competente "Os Donos da Noite" (também com Joaquin Phoenix), um filme que pouca gente viu mas que é muito bom. Enquanto aquele era um filme policial, com muita ação e violência, este é mais íntimo, voltado para os complicados caminhos dos relacionamentos humanos.

Em um bairro do Brooklin, Nova York, Leonard é um homem que ainda mora com a família e que, no início do filme, tenta se matar de maneria estúpida, se jogando nas águas frias da baía, de uma ponte baixa. Não é a primeira vez que ele tenta o suicídio. Seus pulsos carregam cicatrizes de tentativas anteriores, causadas pelo abandono de sua noiva, dois anos antes, e por um transtorno bipolar. Apesar de adulto, Leonard é o filho único de uma família judaica típica de Nova York, com a mãe superprotetora (a excepcional Isabella Rosselini) e o pai amoroso (Moni Moshonov), e ele está sufocado pela presença deles. Eles têm uma lavanderia rápida que está sendo incorporada a uma empresa maior, e os pais de Leonard estão tentando juntá-lo à filha dos donos, Sandra (Vinessa Shaw). Ela é "boa moça", bonita e claramente interessada nele que, por sua vez, está enfeitiçado por Michelle. É um drama muito bem escrito com tons dramáticos e por vezes exagerados. Todos aparentam ter mais de trinta e cinco anos, mas ainda agem como adolescentes inexperientes, à procura do que acham que é o amor.

Michelle, alta, loira e bonita, é amante do chefe, casado e rico, que paga pelo seu apartamento, que fica do outro lado da janela de Leonard. Ela gosta de sair para as baladas, tomar extasy e está acostumada a receber atenção. Leonard, carente e perdido, escuta dela a frase que todo homem odeia, de que ele é "como um irmão" para ela. De Sandra escuta que ela quer "tomar conta dele", o que também não é muito bom de se escutar de uma mulher. Já lhe basta a mãe, que chega a deitar no chão do corredor para vigiá-lo por debaixo da porta do quarto.

A ação acontece geralmente em ambientes internos e há momentos tipicamente teatrais, como quando Leonard se esconde atrás de uma porta para que o namorado de Michelle não o veja. É como se a vida fosse o palco de um drama, ou de uma ópera. E há o terraço do prédio, para onde Leonard e Michelle sobem e acontecem duas cenas chave do filme. Há um contraste importante entre o fundo do mar (o ponto mais baixo para Leonard) e o terraço alto do prédio. No meio do caminho, no que poderia ser chamado de "o mundo real", está Sandra e a promessa de carinho e estabilidade. O final pode ser encarado de várias formas, de cínico a realista. Fica um gosto amargo na boca ao final da sessão, mas é um filme acima da média.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Clube do Filme

O escritor canadense David Gilmour (não confundir com o guitarrista do Pink Floyd, de mesmo nome) estava tendo problemas com o filho adolescente. Jesse, de 16 anos, mostrava total desinteresse pela escola. Um “garoto” de um metro e oitenta de altura, ele faltava às aulas para ir ao cinema, para namorar ou sair com os amigos. Mas, apesar de inteligente e entusiasmado, não encontrava motivação para aguentar a rotina escolar diária.

O pai, em um momento de desespero, lhe fez uma “proposta indecente”: ele gostaria de abandonar a escola? Jesse não pensou duas vezes e aceitou mais rápido do que seu pai gostaria. Mas havia algumas regras: Jesse não poderia se envolver com drogas em hipótese alguma e teria de assistir a três filmes por semana com o pai. Esta é a trama básica de “O Clube do Filme”, livro lançado no Brasil pela Editora Intrínseca após grande sucesso lá fora. Não é um trabalho de ficção. Gilmour, que é roteirista, escritor e crítico de cinema, conta de forma apaixonada, mas leve, como foi este tempo que teve perto do filho adolescente, um luxo que poucos pais têm hoje em dia.

A seleção de filmes (a lista chega a 113 obras) é bem eclética. Filmes clássicos como “Cidadão Kane” ou “Casablanca” são intercalados com mais recentes como “Instinto Selvagem”. Havia os filmes da nouvelle vague francesa, em que a cena final de “Os Incompreendidos”, de François Truffaut, serve de paralelo com a situação de Jesse; suspenses de Alfred Hitchcock (como “Intriga Internacional”, “Os Pássaros” e “Psicose”); comédias e dramas de Woody Allen (“Crimes e Pecados”, “Manhattan”, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”); uma série de filmes de terror para tentar fazer Jesse se esquecer de uma namorada (“O Exorcista”, “O Massacre da Serra Elétrica”, “O Iluminado”). Havia também sessões em que Gilmour escolhia um tema, como “O talento aflora”, e mostrava filmes em que algum desconhecido se destacava, como Samuel L. Jackson em “Febre na Selva”, de Spike Lee, ou Sean Penn em “Picardias Estudantis”, de Amy Heckerling, Audrey Hepburn em “A Princesa e o Plebeu”, de William Wyler ou o enorme talento que um jovem diretor chamado Steven Spielberg mostrou em seu primeiro filme, “Encurralado”.

A linguagem é simples e fluente. Gilmour não só conta os problemas do filho como os próprios. Desempregado por um longo período, um psicólogo provavelmente diria que ele resolveu tirar o filho da escola para lhe fazer companhia. É interessante também notar as semelhanças entre as “falhas” do pai refletindo no filho, como um gosto exagerado pela bebida e, sim, certa irresponsabilidade em lidar com algumas situações. O livro também é um retrato do quão difícil é ser um homem adolescente tendo que lidar com uma série de desilusões amorosas. Uma “personagem” recorrente é uma garota chamada Rebbeca (nome que, provavelmente, Gilmour usou em homenagem ao grande filme de Hitchcock). Ela é estonteante, e sabe disso, e usa o charme para fazer um jogo de sedução com Jesse que dura meses.

Em vários momentos acompanhamos as dúvidas do pai em relação ao tipo de educação que está dando ao filho. Inevitavelmente ele acaba se envolvendo com drogas, principalmente após desilusões amorosas, e em dado momento Jesse confronta o pai sobre o que ele acha ser uma “influencia excessiva” sobre ele. “O Clube do Filme” é uma leitura gostosa e cheia de citações cinematográficas, por vezes profundas, em outras superficiais, mas sempre interessante e divertido.

Persépolis

Persépolis é a versão animada da premiada “graphic novel” autobiográfica de Marjane Satrapi. Indicada ao Oscar de Melhor Animação, o filme está longe do tom infantil associado a desenhos animados. Assim como “Valsa com Bashir”, Persépolis é um filme adulto, denso e que lida com assuntos como intolerância, perseguição e os efeitos da guerra.

Persépolis conta a história de Marjane a partir de sua infância no Irã, na década de 70. O clima político é tenso e o Xá (o monarca do país) está sendo derrubado pelo povo. Os pais de Marjane acreditam que o país será mais democrático com isso, mas a monarquia é substituída pelo fanatismo islâmico. A pequena Marjane, como toda criança, transforma a realidade à sua volta para sua fantasia, e acredita poder falar com Deus e ser sua profetiza. Quando um tio comunista é solto da prisão, ela o vê como herói e se torna sua principal confidente, e sofre quando o vê ser preso pelo novo regime e executado.

O filme é feito em preto e branco, com um traço simples, mas elegante, baseado nos quadrinhos. A própria Satrapi adaptou e dirigiu a versão cinematográfica de sua HQ para a telona. É interessante e revelador ter acesso a um ponto de vista pouco conhecido no ocidente, a vida de uma garota comum em um país em constantes conflitos tanto internos quanto externos. Marjane, quando adolescente, gosta de fitas de rock pesado, que compra no mercado negro, e está sempre falando mais do que deveria na escola. Como mulher, sofre com o rígido código de vestimenta e com a moralidade islâmica. A família, com medo de que ela seja presa pelo governo, a manda estudar em Viena, na Áustria, onde ela se sente um peixe fora d´água. Os colegas se interessam pelo seu lado “exótico” e pelas histórias de terror que ela tem para contar sobre a guerra com o Iraque. Conhece o amor, e sexo e a desilusão de ser traída pelo namorado. Acaba nas ruas, onde quase morre e fome e doenças.

De volta ao Irã, ela descobre que, apesar da guerra ter acabado, o país continua mais retrógrado do que nunca. Há uma cena emblemática em que alunos de uma escola de arte tentam desenhar uma modelo coberta dos pés à cabeça, e a própria Marjane quase é presa por estar usando maquiagem ou por ser vista de mãos dadas com o namorado.

A animação tem as vozes originais de Chiara Mastroiani e Catherine Deneuve, e é falado em francês. “Persépolis”, a propósito, era o nome da capital do antigo Império Persa, atual Irã. Uma região rica em História, guerras e contradições. Os Estados Unidos apoiaram Saddan Russein (que depois seria considerado inimigo) durante a guerra entre o Irã e o Iraque, que durou oito anos. Hoje a situação política ainda é tensa, com a ameaça de existência de armas nucleares e constantes problemas religiosos.


Patrick Swayze

Patrick Swayze estava com a morte anunciada há mais de um ano em decorrência de um câncer, mas ainda assim participou de vários episódios da série de televisão americana "The Beast".

O ápice da fama de Swayze no final dos anos 80 e início dos anos 90. Seu porte atlético e rosto de galã derretia o coração das garotas e atraia a admiração dos rapazes.
Um de seus melhores filmes foi logo no começo de carreira, com "Vidas sem Rumo" (1983), com direção de Francis Ford Coppola. O elenco contava com as grandes promessas de novos talentos do cinema americano, como Tom Cruise, Matt Dillon, Ralph Macchio, C. Thomas Howell, Rob Lowe e Emilio Esteves.
Ele fez de tudo, de lutador de artes marciais (como em "Matador de Aluguel", de 1989), dançarino ("Dirty Dancing", 1987) ou, no que talvez tenha sido seu papel mais famoso, como o fantasma romântico de "Ghost" (1990). Em 1986, estrelou um dos melhores episódios da série de fantasia e ficção científica "Amasing Stories", produção de Steven Spielberg, chamado "Vida no corredor da morte" (Life on the Death Row). Também contracenou com Keany Reeves no filme de ação "Caçadores de Emoção" (Point Break, 1991).
O ator faleceu em Los Angeles, aos 57 anos, de câncer no pâncreas.

sábado, 5 de setembro de 2009

UP - Altas Aventuras

O diretor de "Up", Pete Docter, foi um dos escritores do último animado da Pixar, "Wall-e", e pode-se notar a semelhança estilistica em uma ótima sequência inicial. Assim como no filme do robô, há longos momentos sem diálogos em "Up". Considerando que vivemos em uma época saturada de informação, em que os filmes parecem querer "gritar" o tempo todo pela atenção do espectador, é reconfortante que ainda haja artistas corajosos como os animadores da Pixar. "Up" quebra alguns outros paradigmas das animações modernas. Para começar, é um filme em que o personagem principal é um velho. E apesar de seu coadjuvante em grande parte da trama ser um garoto, ele é um garoto bastante "comum", não é um gênio em computação nem alguém que se transforma em monstros. Tecnicamente, "Up" também embarcou na onda de filmes 3D mas, ao contrário da maioria dos exemplos do gênero, a produção não fica "jogando" objetos em direção ao espectador só para exibir a técnica. O 3D de "Up" é mais sutil e utilitário. O roteiro começa muito bem mas, assim como em Wall-e, a qualidade decai do meio para o final, infelizmente. Ainda assim, estamos diante de mais um exemplar de alto nível técnico e artístico do estúdio que tomou o lugar da Disney como lider mundial na animação.

O filme conta a história de Carl Fredricksen (voz de Chico Anísio na dublagem brasileira), um senhor que vive solitário na última casa de um bairro em constante reconstrução. A melhor sequência do filme é a que mostra a vida feliz que Carl teve com a esposa Ellie, que conheceu quando os dois eram crianças e fãs de um explorador chamado Charles Muntz. Eles prometem que um dia vão viajar à América do Sul em uma aventura, mas o tempo passa e a vida toma outros rumos. Tocante em um desenho animado ver uma história de vida e morte ser contada de forma tão natural assim. Quando Ellie se vai, Carl fica sozinho e se transforma no protótipo do velho ranzinza. Quando os homens de um asilo vem buscá-lo, eles se assustam quando Carl parte rumo às nuvens, com casa e tudo, carregado por centenas de balões de festa. É tudo muito bonito e bem feito, e o filme se torna cheio de possibilidades. Pena que o resultado fique aquém do esperado. Carl parte para a América do Sul com uma carona inesperada, um escoteiro cuja missão na vida é ajudar um idoso para ganhar a última medalha que falta na sua coleção.

O resto do filme envolve alguns momentos muito engraçados e bem escritos, misturados com outros que deixam a desejar. Infelizmente o toque humano acaba se chocando com uma trama que envolve cachorros falantes, um pássaro misterioso e um herói de infância que se revela um vilão. O visual continua impressionante e as máquinas voadoras lembram alguma coisa que o mestre japonês Hayao Miyazaki poderia ter imaginado (ou já fez melhor em filmes como "Láputa, Castelo no Céu"), mas fica a sensação de uma oportunidade perdida. "Up", mesmo assim, é divertimento de alto nível para as crianças e adultos.