domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vencedores OSCAR 2013

Em ordem de apresentação:

Ator Coadjuvante:

vencedor: Christoph Waltz ("Django Livre")
Philip Seymour-Hoffman ("O mestre")
Robert De Niro ("O lado bom da vida")
Tommy Lee Jones ("Lincoln")
Alan Arkin ("Argo")

Curta de animação:

Vencedor: "Paperman"
"Adam and dog"
"Fresh guacamole"
"Head over heels"
"Maggie Simpson in 'The Longest Daycare'"

Animação
vencedor: "Valente"
"Frankenweenie"
"ParaNorman"
"Piratas pirados!"
"Detona Ralph"

Fotografia
vencedor: Claudio Miranda ("As Aventuras de Pi")
"Anna Karenina"
"Django livre"
"Lincoln"
"007 – Operação Skyfall"


Efeitos especiais
vencedor: "As Aventuras de Pi"
"O hobbit: Uma jornada inesperada"
"As aventuras de Pi"
"Os vingadores"
"Prometheus"
"Branca de Neve e o caçador"

Figurino
vencedor: "Anna Karenina"
"Os miseráveis"
"Lincoln"
"Espelho, espelho meu"
"Branca de Neve e o caçador"

Maquiagem
vencedor: "Os Miseráveis"
"Hitchcock"
"O hobbit: Uma jornada inesperada"

Melhor curta-metragem
vencedor: "Curfew"
"Asad"
"Buzkashi boys"
"Death of a shadow (doos van een schaduw)"
"Henry"

Documentário em curta-metragem
vencedor: "Inocente"
"Kings point"
"Mondays at Racine"
"Open heart"
"Redemption"

Documentário em longa-metragem
vencedor: "Searching for a sugar man"
"5 broken cameras"
"The gatekeepers"
"How to survive a plague"
"The invisible war"

Filme estrangeiro
vencedor: "Amour", de Michael Haneke
"No" (Chile)
"War witch" (Canadá)
"O amante da rainha" (Dinamarca)
"Kon-tiki" (Noruega)

Mixagem de som
vencedor: "Os Miseráveis"
"Argo"
"As aventuras de Pi"
"Lincoln"
"007 – Operação Skyfall"

Edição de som
vencedor: "A hora mais escura" e "007 - Operação Skyfall"
"Argo"
"Django livre"
"As aventuras de Pi"

Atriz coadjuvante
vencedora: Anne Hathaway ("Os Miseráveis")
Sally Field ("Lincoln")
Jacki Weaver ("O lado bom da vida")
Helen Hunt ("As Sessões")
Amy Adams ("O mestre")

Edição
vencedor: "Argo"
"A vida de Pi"
"Lincoln"
"A hora mais escura"
"O lado bom da vida"

Direção de arte/cenários
vencedor: "Lincoln"
"Anna Karenina"
"O hobbit: Uma jornada inesperada"
"Os miseráveis"
"A vida de Pi"

Trilha sonora original
vencedor: Mychael Danna ("As aventuras de Pi")
Dario Marianelli ("Anna Karenina")
Alexandre Desplat ("Argo")
John Williams ("Lincoln")
Thomas Newman ("007 – Operação Skyfall")


Canção original
vencedor: "Skyfall", de "007 - Operação Skyfall" – Adele (música e letra)
"Before my time", de "Chasing ice" – J. Ralph (música e letra)
"Everybody needs a best friend", de "Ted" – Walter Murphy (música) e Seth MacFarlane (letra)
"Pi's lullaby", de "As aventuras de Pi" – Mychael Danna (música) e Bombay Jayashri (letra)
"Suddenly", de "Os miseráveis" – Claude-Michel Schönberg (música), Herbert Kretzmer (letra) e Alain Boublil (letra)

Roteiro adaptado
vencedor: Chris Terrio ("Argo")
Lucy Alibar e Benh Zeitlin ("Indomável sonhadora")
David Magee ("As aventuras de Pi")
Tony Kushner ("Lincoln")
David O. Russell ("O lado bom da vida")

Roteiro original
vencedor: Quentin Tarantino ("Django Livre")
Michael Haneke ("Amor")
John Gatins ("Voo")
Wes Anderson e Roman Coppola ("Moonrise kingdom")
Mark Boal ("A hora mais escura")

Diretor
vencedor: Ang Lee ("As aventuras de Pi")
Michael Haneke ("Amor")
Benh Zeitlin ("Indomável sonhadora")
Steven Spielberg ("Lincoln")
David O. Russell ("O lado bom da vida)


Atriz
vencedora: Jennifer Lawrence ("O lado bom da vida")
Naomi Watts ("O impossível")
Jessica Chastain ("A hora mais escura")
Emmanuelle Riva ("Amor")
Quvenzhané Wallis ("Indomável sonhadora")

Ator
vencedor: Daniel Day-Lewis ("Lincoln")
Denzel Washington ("O Voo")
Hugh Jackman ("Os miseráveis")
Bradley Cooper ("O lado bom da vida")
Joaquin Phoenix ("O mestre")

....e finalmente:

Melhor Filme
vencedor: ARGO
"Indomável sonhadora"
"O lado bom da vida"
"A hora mais escura"
"Lincoln"
"Os Miseráveis"
"As aventuras de Pi"
"Amor"
"Django livre"
"Argo"

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

OSCAR 2013: Os Indicados

Já assistiu a todos os filmes indicados ao Oscar? Veja abaixo a lista dos filmes e artistas em competição e clique nos títulos para ler nossa opinião a respeito deles.

Melhor Filme

"Indomável sonhadora"
"O lado bom da vida"
"A hora mais escura"
"Lincoln"
"Os Miseráveis"
"As aventuras de Pi"
"Amor"
"Django livre"
"Argo"


Diretor
Michael Haneke ("Amor")
Benh Zeitlin ("Indomável sonhadora")
Ang Lee ("As aventuras de Pi")
Steven Spielberg ("Lincoln")
David O. Russell ("O lado bom da vida)

Ator
Daniel Day-Lewis ("Lincoln")
Denzel Washington ("O Voo")
Hugh Jackman ("Os miseráveis")
Bradley Cooper ("O lado bom da vida")
Joaquin Phoenix ("O mestre")


Atriz
Naomi Watts ("O impossível")
Jessica Chastain ("A hora mais escura")
Jennifer Lawrence ("O lado bom da vida")
Emmanuelle Riva ("Amor")
Quvenzhané Wallis ("Indomável sonhadora")

Ator coadjuvante
Christoph Waltz ("Django livre")
Philip Seymour-Hoffman ("O mestre")
Robert De Niro ("O lado bom da vida")
Tommy Lee Jones ("Lincoln")
Alan Arkin ("Argo")


Atriz coadjuvante
Sally Field ("Lincoln")
Anne Hathaway ("Os miseráveis")
Jacki Weaver ("O lado bom da vida")
Helen Hunt ("As Sessões")
Amy Adams ("O mestre")


Roteiro original
Michael Haneke ("Amor")
Quentin Tarantino ("Django livre")
John Gatins ("Voo")
Wes Anderson e Roman Coppola ("Moonrise kingdom")
Mark Boal ("A hora mais escura")

Roteiro adaptado
Chris Terrio ("Argo")
Lucy Alibar e Benh Zeitlin ("Indomável sonhadora")
David Magee ("As aventuras de Pi")
Tony Kushner ("Lincoln")
David O. Russell ("O lado bom da vida")


Filme estrangeiro
"Amor" (Áustria)
"No" (Chile)
"War witch" (Canadá)
"O amante da rainha" (Dinamarca)
"Kon-tiki" (Noruega)


Animação
"Valente"
"Frankenweenie"
"ParaNorman"
"Piratas pirados!"
"Detona Ralph"


Fotografia
"Anna Karenina"
"Django livre"
"As aventuras de Pi"
"Lincoln"
"007 – Operação Skyfall"

Edição
"Argo"
"A vida de Pi"
"Lincoln"
"A hora mais escura"
"O lado bom da vida"

Trilha sonora original
Dario Marianelli ("Anna Karenina")
Alexandre Desplat ("Argo")
Mychael Danna ("As aventuras de Pi")
John Williams ("Lincoln")
Thomas Newman ("007 – Operação Skyfall")


Documentário em longa-metragem
"5 broken cameras"
"The gatekeepers"
"How to survive a plague"
"The invisible war"
"Searching for a sugar man"

Documentário em curta-metragem
"Inocente"
"Kings point"
"Mondays at Racine"
"Open heart"
"Redemption"


Canção original
"Before my time", de "Chasing ice" – J. Ralph (música e letra)
"Everybody needs a best friend", de "Ted" – Walter Murphy (música) e Seth MacFarlane (letra)
"Pi's lullaby", de "As aventuras de Pi" – Mychael Danna (música) e Bombay Jayashri (letra)
"Skyfall", de "007 - Operação Skyfall" – Adele (música e letra)
"Suddenly", de "Os miseráveis" – Claude-Michel Schönberg (música), Herbert Kretzmer (letra) e Alain Boublil (letra)

Efeitos especiais
"As aventuras de Pi"
"Os vingadores"
"Prometheus"
"Branca de Neve e o caçador"


Edição de som
"Argo"
"Django livre"
"As aventuras de Pi"
"A hora mais escura"
"007 – Operação Skyfall"

Mixagem de som
"Argo"
"Os miseráveis"
"As aventuras de Pi"
"Lincoln"
"007 – Operação Skyfall"

Melhor curta-metragem
"Asad"
"Buzkashi boys"
"Curfew"
"Death of a shadow (doos van een schaduw)"
"Henry"

Curta-metragem de animação
"Adam and dog"
"Fresh guacamole"
"Head over heels"
"Maggie Simpson in 'The Longest Daycare'"
"Paperman"

Figurino
"Anna Karenina"
"Os miseráveis"
"Lincoln"
"Espelho, espelho meu"
"Branca de Neve e o caçador"


Direção de arte/cenários
"Anna Karenina"
"O hobbit: Uma jornada inesperada"
"Os miseráveis"
"A vida de Pi"
"Lincoln"

Maquiagem
"Hitchcock"
"Os miseráveis"
"O hobbit: Uma jornada inesperada"

Câmera Escura

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A hora mais escura

Osama Bin Laden, o mentor por trás dos ataques aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, foi morto pelos americanos em 2 de maio de 2011 na cidade de Abbottabad, Paquistão. Há quem diga, porém, que não foi bem assim; ele teria sido morto dez anos antes na Batalha de Tora Bora, Afeganistão, logo após os atentados. Outras teorias dizem que ele nunca foi encontrado e que a pessoa morta em Abbottabad não era Bin Laden. A decisão dos Estados Unidos de não mostrar o corpo (que teria sido sepultado no mar duas horas após a missão) só aumentou as dúvidas a respeito da suposta morte do líder terrorista.

Estas controvérsias provavelmente seriam o tema de algum filme dirigido por  Oliver Stone ou pelo documentarista Michael Moore; nas mãos de Kathryn Bigelow (Oscar de direção por "Guerra ao Terror"), no entanto, "A hora mais escura" deixa de lado as teorias de conspiração e retrata, de forma extremamente séria, a obsessão de uma agente em encontrar e matar Bin Laden. Se é real ou pura ficção não importa; como cinema, "A hora mais escura" é extremamente competente. Maya (Jessica Chastain)  é uma agente da CIA que foi recrutada recentemente e enviada ao Paquistão para acompanhar os interrogatórios aos terroristas da Al Qaeda, a organização terrorista de Bin Laden. Fria, com a pele branca como porcelana, cabelos ruivos e o corpo esguio sempre vestindo roupas escuras e elegantes, Maya é uma estranha representação do "anjo da morte". Os interrogatórios usam de métodos pouco éticos e o filme de Bigelow gerou polêmica por, supostamente, apoiar o uso da tortura. As cenas são bastante gráficas e Bigelow mostra abertamente sessões de afogamento, surras e humilhação de prisioneiros para obter informações para a CIA. Analisando os depoimentos de vários destes prisioneiros, Maya acha ter descoberto o mensageiro pessoal de Bin Laden, Abu Ahmed, que seria seu contato com o mundo exterior. Encontrando Ahmed, Maya acredita que encontrariam Bin Laden. Jessica Chastain foi indicada ao Oscar de melhor atriz por sua interpretação de Maya, mas ela é uma personagem um pouco difícil de acreditar. Não tem amigos, família, namorado, amante, nada. Maya existe para encontrar Bin Laden, e apesar do roteirista Mark Boal ter declarado que ela é baseada em uma agente da CIA de verdade, a informação foi negada pela própria agência americana. Como cinema funciona. Chastain surgiu "do nada" alguns anos atrás e já estrelou uma série de filmes como "A Árvore da Vida", "Histórias Cruzadas" e "Os Infratores", e carrega grande responsabilidade pelo sucesso de "A hora mais escura".

É na direção segura de Bigelow, porém, que o filme tem o maior mérito. Visto na tela grande do cinema, somos transportados para o calor das ruas paquistanesas ou para a frieza das reuniões da CIA. Durante a meia hora final, quando o sinal verde para o ataque é dado, o espectador se torna parte do time de assalto à casa fortificada onde Bin Laden estaria escondido. Aqui também Bigelow não "adoça" a realidade e mostra a forma fria e "profissional" com que os soldados eliminam quem encontram pela frente conforme avançam, sala a sala, andar por andar, casa adentro. O alvo principal é eliminado mas... é Bin Laden? A personagem de Chastain diz que sim, da mesma forma como tinha 100% de certeza desde o início. Mas Bigelow deixa a pergunta para o espectador. Com quase três horas de duração (2012 foi o ano dos filmes longos), "A hora mais escura" é um dos melhores filmes do ano e foi indicado a cinco Oscars: melhor filme, edição de imagens, edição de som, melhor atriz e melhor roteiro. Kathryn Bigelow, surpreendentemente, foi deixada de lado.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As Sessões

Mark O´Brien (John Hawkes, de "Inverno da Alma" e "Lincoln") é poeta, jornalista, tem 38 anos e está paralisado do pescoço para baixo desde criança. Ele usa do bom humor para enfrentar a rotina de ter que dormir dentro de um "pulmão de aço", uma geringonça enorme que o mantem respirando durante a noite, e é dependente dos outros em quase tudo. É católico devoto e frequenta as missas do Padre Brendan (William H. Macy), que é seu confessor e amigo.

A revista onde trabalha lhe telefona e pede que escreva um artigo sobre a vida sexual das pessoas com deficiência, o que o força a encarar os próprios medos . A paralisia e anos de educação católica fizeram com que ele ainda fosse virgem aos 38 anos. É então que ele descobre que existem terapeutas chamados de "substitutos sexuais" ("sex surrogates", no original)  e pensa em experimentar. Como todo bom católico, Mark é cheio de neuras e carrega muita culpa, o que faz com que discuta sua situação com o Padre Brendan, que também fica confuso; afinal, como um padre pode aceitar o sexo fora do casamento? William H. Macy, como sempre, apresenta uma interpretação ótima e seu padre é humano o suficiente para entender a situação de O´Brien. Após a "benção" do padre, O´Brien entra em contato com a terapeuta Cheryl (Helen Hunt) que, com muita paciência, inicia uma série de sessões de "terapia sexual" com Mark. Ela explica que não é uma prostituta. Há um limite de seis sessões, no máximo, com o paciente e ela é muito reservada e profissional. Acontece que Mark é um poeta e, inevitavelmente, surge uma atração entre os dois. O roteiro do diretor Ben Lewin é sensível e trata de um assunto delicado de forma nada vulgar. Helen Hunt foi indicada ao Oscar por sua interpretação e, de fato, ela está muito bem. Cheryl é uma mulher adulta, é casada com um filósofo e tem um filho adolescente. Hunt passa grande parte do filme nua, mas o apelo erótico é muito pequeno dada a situação. Curioso que Helen Hunt já  interpretou cenas de sexo com uma pessoa com deficiência no filme "O Despertar para a Vida" ("The Waterdance", 1992). John Hawkes também está ótimo como Mark O´Brien, tendo que atuar usando apenas a cabeça e as expressões do rosto (lamentavelmente, não foi indicado ao Oscar).

As cenas entre Hunt e Hawkes, apesar de não exibirem nada de forma explícita, ocorrem sem pudores. A terapeuta vai explicando o que está fazendo e o que pretende de forma clara e direta ("no próximo encontro vamos tentar a penetração") e compartilhamos as ansiedades e embaraços de Mark. O roteiro é baseado no artigo que o verdadeiro Mark O´Brien escreveu em maio de 1990, que pode ser lido aqui. Várias frases podem ser reconhecidas nos diálogos do filme.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis

Interessante ver como uma obra pode ser traduzida para diferentes mídias, com diferentes graus de sucesso. "Os Miseráveis" é um livro  escrito por Victor Hugo em 1862. A trama segue a vida de Jean Valjean, um homem condenado a 20 anos de trabalhos forçados por roubar um pedaço de pão. Ao ser solto, ele foge da condicional e assume diversas outras identidades para não ser preso pelo cruel Inspetor Javert. A história de Victor Hugo foi transformada em um musical por Claude-Michel Schönberg e Alains Boublil em 1980, em Paris, e depois ganhou apresentações em Londres, Nova York e, com o grande sucesso, no resto do mundo.

A versão cinematográfica do musical de Schömberg ficou a cargo do diretor britânico Tom Hooper, que ganhou o Oscar de diretor pelo simpático "O Discurso do Rei", em 2010. O filme é uma superprodução pomposa com 157 minutos de duração, é todo cantado e tem um elenco estelar. Hugh Jackman (o eterno "Wolverine") é Jean Valjean, um ex-presidiário que assume outra identidade (o Sr. Madeleine), prospera e se torna o prefeito de uma cidade ao sul da França. Em seu encalço está o Inspetor Javert (Russel Crowe, de "Intrigas de Estado", "72 Horas"), um policial com um firme código de conduta que, mesmo após anos, ainda procura por Valjean. Anne Hathaway (do último "Batman") é Fantine, uma mãe solteira que é levada à prostituição após perder o emprego em uma das fábricas de Valjean; ela se prostitui para enviar dinheiro para um casal que cuida da filha dela, Cossete (Isabelle Allen quando criança, Amanda Seyfried quando adulta). O destino leva Valjean a prometer a Fantine, no leito de morte, que cuidará da filha dela como se fosse sua, e após fugir mais uma vez de Javert, Valjean se refugia em um mosteiro com a menina. A trama pula para 1832, quando um grupo de revolucionários parisienses planeja uma rebelião. Cosette, já adulta, atrai a atenção de um dos rebeldes, o jovem Marius (Eddie Redmayne, de "Sete dias com Marilyn"). Tudo poderia terminar em uma sangrenta batalha em Paris, mas a trama ainda se estende até os últimos suspiros de Jean Valjean, já velho e ainda procurando pela paz.

O diretor Tom Hooper tomou algumas decisões arriscadas nesta versão de "Os Miseráveis". Uma, que deu certo, foi fazer os atores cantarem ao vivo durante as filmagens, ao invés de dublarem uma trilha pré-gravada. Isso trouxe mais realismo para as interpretações, que soam mais naturais do que geralmente se vê em musicais. Outra decisão, que não funcionou bem, foi aproximar a câmera o máximo possível dos atores durante as quase três horas de filme. Anne Hathaway tem grandes chances de levar o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua interpretação de "I dreamed a dream", a melhor música do filme, realizada em um plano ininterrupto de mais de três minutos de duração. A câmera fechada em Hathaway, sem cortes, passa todo o desespero da mãe que um dia teve uma vida feliz e que agora chegou ao fundo do poço, cabelos e dentes arrancados, trabalhando como prostituta e longe da filha. O problema é que o diretor usa a mesma tática em quase todos os números musicais, o que torna o filme desnecessariamente claustrofóbico. Percebe-se por trás dos atores grandes cenários (ou a sugestão deles) que simplesmente não são vistos, porque o diretor insiste em filmar em plano fechado. Há um solo de Russell Crowe em que a cidade de Paris está em segundo plano, mas é noite e podemos ver apenas as torres da Notre Dame, o resto da cidade fica na penumbra (o que é um velho truque para disfarçar efeitos especiais). O filme é longo e melodramático, o que causa tanto o choro de parte da platéia quanto a falta de paciência de outros, que abandonaram a sessão. "Os Miseráveis" foi indicado a oito Oscars, incluindo melhor filme, ator (Hugh Jackman) e atriz coadjuvante (Anne Hathaway).

ps: o longo plano de Hathaway já ganhou uma paródia no youtube em que a atriz Emma Fitzpatrick (cantando muito bem) brinca com a cena. A letra diz coisas como "eu perdi metade do meu peso, mas eles não fizeram nenhum plano aberto". Veja aqui.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Voo

É bom ver o diretor Robert Zemeckis de volta ao cinema com atores de carne e osso. Desde o ano 2000, quando lançou "O Náufrago" e "Revelação", Zemeckis trabalhou apenas com animações ("O Expressso Polar", "A Lenda de Beowulf" e "Os Fantasmas de Scrooge"). Diretor da série "De Volta para o Futuro" e de filmes como "Forrest Gump", Zemeckis sempre esteve envolvido com produções que lidavam com muitos efeitos especiais ou novas tecnologias. "O Voo", apesar de uma sequencia espetacular de desastre aéreo, mostra um cinema mais humano de Zemeckis, principalmente pela escolha de Denzel Washington para interpretar o papel principal.

Washington é William Whitaker, um piloto de avião que é alcoolatra e também usa drogas. Na noite anterior a um voo para Atlanta, Whitaker passa a noite com uma comissária de bordo e aparece no avião com claros sinais de embriaguez, assustando o co-piloto. Apesar do estado, Whitaker é bom piloto e, após uma falha mecânica na aeronave, consegue evitar um desastre maior realizando uma manobra ousada e pousando em um campo aberto. Quatro passageiros e dois tripulantes morrem no acidente, mas Whitaker consegue salvar mais de 90 passageiros da morte e, normalmente, seria considerado um herói. O problema é que seu exame de sangue revela alta quantidade de alcool e drogas e o advogado do sindicato dos pilotos tenta, a todo custo, proteger a companhia aérea da má publicidade e, ainda por cima, impedir que Whitaker seja condenado a prisão perpétua por homicídio. A sequência do acidente aéreo é muito bem feita, apesar da manobra absurda utilizada por Whitaker para estabilizar a aeronave (ele coloca o avião para voar de cabeça para baixo a poucos metros do solo). O cena do acidente é tão forte que causa um problema de ritmo ao resto do filme que, em comparação, fica muito lento. A ação dá lugar a várias cenas em que o alcoolismo do personagem de Washington o coloca em situações cada vez piores. Ele se junta a uma outra viciada chamada Nicole (Kelly Reilly) que tenta levá-lo a reuniões do AA, sem sucesso. Enquanto isso, Don Cheadle e Bruce Greenwood tentam mantê-lo longe da bebida até que a investigação criminal chegue ao fim. John Goodman faz uma participação especial muito engraçada como o traficante que fornece drogas ao piloto.

Denzel Washington mantém o filme nos eixos, apesar de algumas turbulências no roteiro. Washington consegue transmitir os problemas causados pelo alcoolismo e o dilema moral pelo qual tem que passar no final, quando tem que decidir se assume sua doença ou não. O roteiro de John Gatins está concorrendo ao Oscar, assim como Denzel Washington. É o filme mais adulto feito por Robert Zemeckis, com cenas de nudez, consumo de drogas e álcool.

Câmera Escura

Obs: O trailer abaixo revela praticamente o filme todo. Esteja avisado.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O lado bom da vida

Há uma generosa dose de clichês em "O lado bom da vida". É daqueles filmes feitos para casais modernos, cheios de problemas (como todos os casais), em que as dificuldades serão superadas e tudo vai terminar no beijo final. Acrescenta-se uma dose de remédio tarja preta (também "na moda"), menções (mas não imagens) de sexo, cenas chorosas entre pais e filhos e, claro, uma competição a ser vencida. Ou melhor: duas. É de se admirar que o filme tenha sido feito pelo mesmo diretor de "Três Reis" (1999) e "O Vencedor" (2010), David O. Russell.

O roteiro (de Russell, baseado no livro de Matthew Quick) conta a história de Pat (Bradley Cooper), um cara que foi condenado a passar 8 meses em uma instituição psiquiátrica após ter surrado o amante da esposa. Ele sofre da versão hollywoodiana de "transtorno bipolar" e acredita piamente que a ex-esposa, Nikki (Brea Bee) vai voltar para ele. Ao sair da instituição ele vai morar com os pais, interpretados por Robert DeNiro e Jacki Weaver. DeNiro está um pouco melhor do que nos papéis fracos que tem feito ultimamente, embora ainda seja apenas uma sombra do talento do passado. Ele também tem problemas como transtorno obsessivo compulsivo e vício em apostas. Pat não perde tempo e, apesar de uma ordem judicial que o obriga a ficar longe da ex-esposa, tenta o tempo todo retomar o contato. Seria trágico se, neste filme, não fosse cômico. O roteiro arruma um par para Pat na figura também conturbada de Tiffany (Jennifer Lawrence, de "Inverno da Alma" e "Jogos Vorazes", mais adulta e bonita). O marido policial morreu recentemente e ela compensou a solidão transando com todos os homens (e mulheres) que encontrou pela frente, e tenta fazer sexo com Pat assim que o conhece. Ele, convicto, aponta para a aliança no dedo e diz que é casado. "Eu também sou", diz ela.

O roteiro de Russell perde oportunidades mas não perde a piada, e várias situações que poderiam render melhor dramaticamente são desperdiçadas. Não fica muito claro porque Tiffany deseja passar tanto tempo com Pat, a não ser pelo fato dele ser Bradley Cooper. O caso é que surge uma competição de dança que Tiffany quer participar e ela usa de chantagem emocional para transformar Pat, que nunca dançou na vida, em seu parceiro no torneio. Segue-se então aquelas montagens musicais em que vemos os dois ensaiando passos de dança no estúdio de Tiffany e, claro, os dois começam a se apaixonar. Só que ao invés de partir logo para um final "bonitinho" de comédia romântica, o filme estica mais meia hora misturando a trama do torneio de dança com uma aposta absurda feita pelo pai de Pat, que pode levar todos à ruína financeira. O lado sério do problema de jogo do personagem de DeNiro é esquecido em favor da piada fácil, e uma cena que deveria ser emocionante, em que DeNiro chora ao pedir para que o filho assista a um jogo com ele, perde o significado. Assim, "O lado bom da vida" é filme fácil para se assistir a dois em um sábado à noite, no DVD e comendo uma pizza. Apesar disso, ele foi indicado a oito Oscars: filme, direção, ator (Bradley Cooper), atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (DeNiro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver), edição e roteiro adaptado.


Indomável Sonhadora

O cenário em que se passa "Indomável Sonhadora" (o sul dos Estados Unidos) e o ponto de vista adotado para mostrá-lo (o de uma garota de seis anos) passam a impressão de que estamos assistindo a algum filme de ficção científica distópico, estilo Mad Max. Trata-se, porém, do mundo contemporâneo, representado por uma pequena comunidade que vive em extrema pobreza em uma região conhecida como "Banheira", na Louisiana. Lá vive uma garota chamada Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) e seu pai Wink (Dwight Henry), um alcoólatra que tem uma doença incurável; ele cuida da garota desde que a mãe dela foi embora. Uma grande tempestade se aproxima da região e quase todos se mudam para áreas mais altas além do dique, mas Wink, Hushpuppy e um punhado de vizinhos resolvem enfrentar a natureza. A chuva vem, inunda ainda mais a "Banheira" e os sobreviventes tem que pescar peixes, crustáceos e qualquer outra coisa que conseguirem encontrar para comer. No alto, helicópteros da Defesa Civil procuram por sobreviventes, mas eles se recusam a sair.

O filme é visto do ponto de vista fantástico de Hushpuppy, que gosta de escutar o som do coração dos animais e tem visões de grandes bestas pré-históricas que vagam pela região. O filme foi escrito e dirigido por Benh Zeitlin, que adaptou a peça de Lucy Alibar. A garota, com o nome impronunciável de Quvenzhané Wallis, é realmente boa atriz, mas há muitos "truques" que fazem sua interpretação melhor do que realmente é. Grande parte do tempo, por exemplo, apenas vemos a garota andando de um lado para o outro, ou olhando para a câmera, pensativa. É uma narração em off que cria emoções e traz significados para os olhares da menina. Os americanos ficaram impressionados o suficiente para indicá-la, aos nove anos de idade, ao próximo Oscar de Melhor Atriz. "Indomável Sonhadora" é um filme independente, feito em 16mm por pouco mais de um milhão de dólares, e foi ganhando fama nos festivais pelos quais passou. Sua mistura de pobreza com fantasia infantil conquistou os críticos e o filme também foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Melhor Diretor. "Indomável Sonhadora" é o "Ou Tudo ou Nada" (filme de baixo orçamento de 1997 que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, competindo com a superprodução "Titatic") de 2012.

O filme é lento e, apesar de ter uma proposta aparentemente "social", não tem muito compromisso com a realidade. Cenas bastante poéticas são intercaladas com planos discutíveis ou apelativos. "Indomável Sonhadora", o patinho feio do Oscar 2013, é interessante, mas não é para todos os gostos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Mestre

Um homem carismático, bem sucedido, capaz de convencer as pessoas das teorias mais improváveis. O outro é um veterano de guerra alcoólatra e com sérios problemas. Entre os dois surge uma amizade que é uma mistura de relação paternal, busca por aceitação, admiração mútua e, talvez até, interesse amoroso. "O Mestre" é o mais novo filme de um dos diretores americanos mais interessantes dos últimos 20 anos. Paul Thomas Anderson escreve e dirige os próprios filmes, caracterizados por uma estética apurada, duração longa e grandes interpretações. Filmes como "Boogie Nights" (1997), "Magnólia" (1999) e "Sangue Negro" (2007) exploraram temas adultos de forma ousada e, por vezes, bizarra.

"O Mestre" é a visão de Anderson sobre o criador da Cientologia, religião criada nos anos 1950 pelo escritor de ficção-científica L. Ron Hubbard; é citada frequentemente na mídia por causa de seguidores famosos como Tom Cruise ou John Travolta. No filme de Anderson, o personagem de Hubbard é chamado de Lancaster Dodd (o excelente Philip Seymour Hoffman, de "Tudo pelo Poder"), mas o foco principal está em Freddie Quell (Joaquin Phoenix, de "Amantes"). É do ponto de vista de Freddie que o espectador conhece Dodd, um homem bem falante, carismático e que conquistou um grupo de seguidores. Dodd escreveu um livro chamado "A Causa", que é uma filosofia que mistura autoconhecimento, cura de doenças e até "viagens no tempo" para buscar explicações para os problemas do presente. Dodd prega que os seres humanos são espíritos do passado que apenas mudam de corpos através do tempo, e que somos muito superiores aos animais, com seus instintos e desejo por prazer. Os dois se conhecem quando Freddie invade  o barco em que Dodd está celebrando o casamento da filha, e os dois (opostos completos) se tornam amigos. Há uma cena extremamente bem interpretada por Joaquin Phoenix e por Hoffman em que Dodd, em uma espécie de sessão de terapia, repete a mesma pergunta várias vezes: "Qual é o seu nome? Qual é o seu nome? Qual é o seu nome?". Dodd pode ser um charlatão, mas passa suas idéias com a confiança e charme dos vendedores de carros usados. Mais assustadora é a esposa, a aparentemente doce Peggy Dodd, interpretada por Amy Adams. O rosto angelical e a barriga grávida passam um ar de fragilidade, mas não conseguem mascarar seu fanatismo quando ela começa a pregar.

A trilha sonora de Johnny Greenwood (do Radiohead) é um capítulo a parte; ao invés do acompanhamento tradicional, a música compete com a imagem, causando um choque. A narrativa lenta e enigmática levou alguns críticos a julgar que o filme não tem o que dizer, mas o fato é que "O Mestre" é tão ilusório ou redentor quanto o culto criado por seu protagonista. É constantemente intrigante, tem um belo visual (filmado originalmente em 70mm, apesar da exibição ruim e sem foco vista aqui) e interpretações acima da média (Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix e Amy Adams foram indicados ao Oscar). Paul Thomas Anderson pode não ter feito um filme perfeito, mas recria o mundo do pós-guerra americano, com seus contrastes, riqueza, traumas e promessas vazias com maestria.