sexta-feira, 30 de junho de 2023

Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, 2023)


Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, 2023). Dir: James Mangold. ATENÇÃO: AVISO DE SPOILERS Não me lembro há quantos anos estão falando deste filme... mas são muitos. Meu filme favorito é "Caçadores da Arca Perdida" (1981) e gosto muito de "Indiana Jones e a Última Cruzada" (1989). Não sou muito fã de "O Templo da Perdição" (1984), embora tenha várias ótimas sequências “legítimas” de Indiana Jones. O quarto filme, "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" (2008) é... ok; tem partes boas, tem partes muito ruins. Todos estes foram dirigidos por Steven Spielberg e produzidos por George Lucas e, na real, a série deveria ter terminado com a cavalgada em direção ao pôr-do-sol do final de “A Última Cruzada”.

Bom, o tempo passou, a Disney comprou a Lucasfilm e um novo Indiana Jones chega agora aos cinemas. É bom? Hmmmm. A direção é de James Mangold, um cara bem competente, e Harrison Ford está de volta ao papel, com quase 80 anos. O começo do filme, passado no final da II Guerra Mundial, é bastante bom e seria tudo que a gente gostaria de ver em um filme de Indiana Jones. Com um detalhe que atrapalha um pouco: Harrison Ford foi rejuvenescido digitalmente, e é bastante estranho olhar para ele. O rosto dele está bem mais jovem e, no geral, está bom, mas o seu cérebro sabe que alguma coisa está errada. A cabeça às vezes é grande demais, o olhar é meio perdido. Mas é um bom começo de filme. O mestre John Williams (91 anos!) compôs a trilha e James Mangold faz o que pode para emular o estilo de direção de Steven Spielberg. E é sempre um prazer ver Indiana Jones esmurrando nazistas.

Pulamos então para 1969, o ano do pouso dos astronautas na Lua, e Indiana já é um senhor. Os colegas da faculdade em que ele leciona fazem uma festa de aposentadoria ao som de "Garota de Ipanema", de Tom Jobim. É então que uma figura do passado reaparece na vida de Indy, Helena (Phoebe Waller-Bridge), uma afilhada de Jones e filha de um amigo. Ela está procurando por uma "máquina" criada por Arquimedes que estaria em poder de Indy (ou metade de uma máquina). Ao mesmo tempo, os nazistas estão na cidade, também à procura do mesmo artefato. O líder deles é interpretado pelo grande Mads Mikkelsen.

É um começo promissor... parece haver uma ligação afetiva entre Indy e a moça; os nazistas são apropriadamente maus e ameaçadores. Phoebe Waller-Bridge (de "Fleabag") é boa atriz e um bom páreo para Indiana Jones, só que a personagem dela, ao invés de ser a companheira de Indy que imaginamos que ela seria, acaba se tornando uma estranha antagonista. Ela rouba a peça de Indy para tentar vender em um leilão no Marrocos, e há um bocado de conflito desnecessário entre ela e Indiana Jones. É estranho também que Indy carregue seu chapéu, camisa e chicote em uma malinha, como se fosse um uniforme de super-herói, que ele veste quando precisa "virar Indiana Jones". Há várias sequências em que se nota a falta que Spielberg faz (pouca gente sabe movimentar uma câmera como ele).

A tal "relíquia do destino" não me pareceu um objetivo tão interessante quanto os dos outros filmes e, sinceramente, nunca havia ouvido falar sobre ela. Embora tente emular os Indiana Jones anteriores, o filme tem falhas estranhas, como não começar usando o símbolo da Paramount no cenário; as icônicas cenas dos mapas não aparecem por metade do filme e, de repente, são usadas aleatoriamente. E apesar de todos os filmes terem um momento “sobrenatural” em que questões como fé e razão são questionadas, há uma cena no terceiro ato deste filme que, para mim, forçou demais a barra. Tá, Indiana Jones já presenciou nazistas serem destruídos pela Arca da Aliança, já conversou com um cavaleiro medieval “imortal” , já viu um cara ter o coração arrancado do peito e coisas do tipo... mas há uma sequência em “Relíquia do Destino” em que tudo é simplesmente absurdo demais (assim como o rosto em computação gráfica de Harrison Ford parece fora de lugar, a cena simplesmente não cola). Mas...ok, acho que depende da tolerância de cada espectador. 

Valeu a pena ver “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”? Mais ou menos. É bom ver Harrison Ford vestido de Indy novamente? Sim... embora seja um pouco triste também. Heróis de verdade desaparecem no pôr-do-sol, como Spielberg queria ao final de “A Última Cruzada”. Lucas insistiu tanto que acabaram fazendo o “Indiana Jones vs Aliens” que ele sempre quis fazer em “Reino da Caveira de Cristal”. O pior pecado neste novo Indy é o fato de ser totalmente desnecessário, mas isso a gente já sabia desde que a ideia foi levantada. Harrison Ford, consciente da própria mortalidade, reviveu seus principais personagens nos últimos anos, seja Han Solo, Deckard ou, agora, Indiana Jones. É nostálgico e agridoce. Nos cinemas. 

sábado, 24 de junho de 2023

Era uma vez um gênio (3000 years of longing, 2022)

Era uma vez um gênio (3000 years of longing, 2022). Dir: George Miller. Amazon Prime Video. A classificação para este filme na Amazon está como "Infantil - Romance - Excitante - Estranho". Bom, a censura é 16 anos e, definitivamente, este não é um filme infantil. Estranho, sem dúvida. "Era uma vez um gênio" pode ser chamado de um conto de fadas adulto, feito por um dos diretores mais ecléticos de todos os tempos (George Miller dirigiu filmes tão diferentes quanto "Mad Max: Estrada da Fúria" e "Happy Feet").

Tilda Swinton é Alithea, uma acadêmica especializada em narrativas que vai participar de uma conferência em Istambul. Em um lojinha local ela encontra uma garrafa de vidro distorcida, que ela leva ao hotel. Ao limpar a garrafa na pia do banheiro, a tampa se solta e sai um gênio gigante interpretado por Idris Elba (com orelhas pontudas). Sim, pode até parecer o começo de uma história infantil, mas está longe disso.

O gênio, com de costume, oferece satisfazer três desejos da personagem de Swinton, mas a experiência dela diz que, geralmente, essas histórias não acabam bem. Ao invés de fazer os desejos, Alithea passa então a escutar a história de vida do gênio, que começa literalmente com a Rainha de Sabá. George Miller recria as histórias de Elba com atores e muitos efeitos especiais, que nem sempre funcionam direito. Grande parte do filme é passada dentro deste quarto de hotel, enquanto Alithea tenta decidir seus desejos e o gênio vai contando suas histórias. É bastante estranho, a bem da verdade.

Há muito simbolismo e mais de um toque de que a intelectual vivida por Swinton talvez não esteja bem da cabeça. Há ecos de uma tragédia no passado, envolvendo uma criança chamada Enzo. Na terceira parte, em Londres, quadros na parece e caixas no porão dão mais dicas sobre a vida de Alithea, mas nada fica muito claro. Se você embarcar no romance "infantil, excitante e estranho" da descrição, é um filme interessante, mas difícil, de encarar até o final. A direção de fotografia é do grande John Seale ("Estrada da Fúria", "O Paciente Inglês", "O ano em que vivemos em perigo") e a trilha sonora de Tom Holkenborg é bonita. Disponível na Amazon Prime. 

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Black Mirror, 6ª Temporada (2023)

Black Mirror, 6ª Temporada (2023). Criado por Charlie Brooker. Netflix. "Black Mirror" volta à Netflix para mais uma temporada, quatro anos após a última. São cinco episódios... e a série voltou um pouco diferente. Depois de uma pandemia, Donald Trump no poder e outras bizarrices, Charlie Brooker, o criador da série, havia falado até em parar com a série. Dos cinco episódios desta temporada, diria que apenas dois ("Joan is Awful" e "Beyond the Sea") mantém o mesmo estilo e temas que fizeram a série famosa (em geral, histórias envolvendo a extrapolação de alguma tecnologia existente hoje). Os outros tendem ao terror ou comédia. Esta temporada traz também uma empresa de streaming fictícia que se parece MUITO com a mesma Netflix em que a série é apresentada, e não é vista de forma elogiosa.

Episódio 1: "Joan is Awful". Dir: Ally Pankiw. Roteiro: Charlie Brooker. Um dos melhores (e mais legítimos) episódios da temporada, "Joan is Awful" conta a história de Joan (Annie Murphy), uma moça comum que um dia descobre que a vida dela está sendo transmitida por uma empresa de streaming chamada "Streamberry". A atriz Salma Hayek interpreta Joan no "episódio dentro do episódio", e a moça fica desesperada por ver sua vida e sua intimidade expostas ao público. "Eles não podem fazer isso!", ela grita para a advogada. "Podem sim, você aceitou quando assinou o serviço de assinatura", responde ela. No melhor estilo Black Mirror, o episódio explora a própria Netflix e tecnologias como Inteligência Artificial e Deepfake.

Episódio 2: "Loch Henry". Dir: Sam Miller. Roteiro: Charlie Brooker. Um rapaz escocês (Samuel Blenkin) volta para a pequena cidade natal com a namorada, Pia (Myha'la Herrold). Os dois trabalham com cinema e a namorada fica muito interessada em fazer uma série "true crime" sobre um psicopata que havia morado na região. Ele havia torturado e matado várias pessoas de modo brutal, o que afastou os turistas, deixando a cidade às moscas. O episódio explora o fenômeno dos documentários sobre crimes reais que existem aos montes na Netflix (novamente, representada pela "Streamberry"). O episódio é tenso e o final é brutal.

Episódio 3: "Beyond the Sea". Dir: John Crowley. Roteiro: Charlie Brooker. Estrelado por Aaron Paul, Josh Hartnett e Kate Mara, este episódio se passa em um 1969 alternativo, em que dois astronautas estão indo para o Espaço profundo em uma nave. Eles mantém contato com a Terra e suas famílias através de cópias robóticas idênticas. Só que a esposa e as filhas de Hartnett são brutalmente assassinadas por um grupo muito parecido com Charles Manson e seu bando. A cópia robótica de Hartnett é destruída e ele fica "preso" na nave, desesperado e perdendo o juízo. Em um ritmo lento, o episódio mostra como o personagem lida com a morte da família usando o corpo robótico de Aaron Paul para "visitar" a Terra e manter contato com outras pessoas. O roteiro tem alguns furos, mas este é, talvez, o melhor episódio da temporada. Kate Mara está ótima como um mulher que era negligenciada pelo marido mas, estranhamente, se ente atraída por ele quando o corpo está "possuído" pela mente de outro homem. O final poderia ter sido melhor.

Episódio 4: "Mazey Day". Dir: Uta Briesewitz. Roteiro: Charlie Brooker. Difícil falar do episódio sem revelar spoilers, mas este me pareceu baseado naqueles filmes de terror dos anos 1980. Zazie Beetz (da série "Atlanta" e de "Joker") é uma fotógrafa de celebridades que resolve deixar a profissão depois que uma foto dela causou o suicídio de um ator. Só que um colega lhe diz que estão oferecendo 30 mil dólares pela foto de uma atriz que estava desaparecida depois de uma filmagem na Europa. Como disse, não dá para revelar muita coisa além disso. O episódio discute a cultura das celebridades e a invasão da privacidade.

Episódio 5: "Demon 79". Dir: Toby Haynes. Roteiro: Charlie Brooker e Bisha K. Ali. Talvez o episódio mais fraco da temporada (junto com o quarto), a trama se passa em 1979, em Londres. Uma imigrante indiana, Nida (Anjana Vasan) trabalha em uma loja de sapatos. Ela está almoçando no porão da loja (porque a preconceituosa da companheira de trabalho não a suporta) quando ela encontra um "talismã" mágico em uma gaveta. Ao chegar em casa ela descobre que, sem querer, ela invocou um demônio que aparece encarnado na figura de um cantor pop (Paapa Essiedu). É uma mistura de comédia com terror. O demônio diz que ela tem que matar três pessoas, uma por dia, ou o mundo vai terminar em chamas.

A série está na Streamberry, ou melhor, Netflix. 

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (Professor Marston and the Wonder-Women, 2017)

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (Professor Marston and the Wonder-Women, 2017). Dir: Angela Robinson. Netflix. O filme conta a estranha história por trás da mais famosa heroína das histórias em quadrinhos (e séries de TV e filmes), a Mulher-Maravilha. William Moulton Marston (Luke Evans) é um psicólogo de Harvard que, nos anos 1930, tinha ideias progressistas com relação a feminismo e relações poli amorosas. A esposa, Elizabeth (a ótima Rebecca Hall), era ainda mais brilhante, mas tinha a carreira atrapalhada pelo fato de ser mulher. Os dois acabam se envolvendo em uma relação complicada (e, na época, ilegal) com uma aluna chamada Olive (Bella Heathcote, um clone de Heather Grahan). O filme mostra como este "trisal", mais a fascinação por mulheres poderosas, mitologia grega e até sadomasoquismo acabaram culminando na criação de uma heroína que era amazona, vinha de uma ilha habitada só por mulheres e mantinha uma identidade secreta.

O maior problema, a meu ver, é que o filme lida com esses temas ousados de forma convencional. Sim, há cenas em que os três estão juntos, com fantasias e até cordas envolvidas, mas tudo é banhado por uma luz dourada e trilha sonora melosa. Outro fato curioso, Marston e a esposa foram os criadores do detector de mentiras, mas ele é usado em cenas de ciúmes novelescas. O roteiro e direção são de Angela Robinson, que teria tomado muitas liberdades com relação à história real (descendentes de Marston até contestam o relacionamento amoroso entre os personagens mostrado do filme). Fantasia ou realidade, é um filme interessante, apesar dos clichês de filmes biográficos (como os obrigatórios textos finais e fotos das pessoas reais) e certo sentimentalismo. Tá na Netflix. 

65 Ameaça Pré-Histórica (65, 2022)

65 Ameaça Pré-Histórica (65, 2022). Dir: Scott Beck e Bryan Woods. HBO Max. A Crítica desse filme foi tão ruim que eu estava com a expectativa lá embaixo; não sei se foi por isso, mas não é que achei o filme bom? É curto, enxutos 90 minutos, tem o sempre competente Adam Driver e a premissa é simples e direta.

Driver é um piloto de uma espaçonave que está transportando vários passageiros em estado de hibernação. A nave acaba entrando em um campo de asteroides e sofre um acidente. Por sorte, há um planeta bem perto e Driver cai nele. Todos a bordo estão mortos, a não ser Driver e uma garota de uns nove anos, Koa (Ariana Greenblatt). Ela não fala inglês e os dois têm que se comunicar por gestos e algumas palavras em comum. A nave se partiu em dois e o "bote salva vidas" está na outra metade da nave, a 15 km de distância, e os dois têm que fazer esse trajeto se quiserem escapar do planeta. Ah sim, um detalhe: o planeta é a Terra, só que há 65 milhões de anos, com dinossauros famintos vagando pelas paisagens.

Não é das ideias mais originais. Em muitos aspectos, lembra muito "Depois da Terra" ("After Earth", M. Night Shyamalan, 2013), em que o filho do Will Smith também tem que achar a outra metade de uma nave acidentada para chamar por socorro. O roteiro e direção de "65" é da mesma dupla que escreveu o ótimo "Um Lugar Silencioso" (John Krasinski, 2018). Quase ninguém foi ver o filme e crítica reclamou que ele é parado demais. Ele até poderia ser mais agitado para um filme de dinossauros estrelado por um Adam Driver empunhando um rifle espacial; mas há boas cenas de suspense provocadas por diversas ameaças à dupla de humanos. Há um lado mais "emocional" provocado pelo fato de que Driver perdeu uma filha, que obviamente vai ser "substituída" emocionalmente por esta nova garota que ele tem que cuidar ("The Last of Us" mandou lembranças). O final é bastante absurdo mas, ei, é um filme de dinossauros e Adam Driver. Disponível na HBO Max. 

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of Water, 2022)

Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of Water, 2022). Dir: James Cameron. Disney+. O filme tem três horas e quinze minutos de duração que, confesso, assisti em três capítulos de uma hora, como uma série de TV. James Cameron lançou o primeiro Avatar em 2009, tanto tempo atrás, cinematograficamente falando, que sinceramente não imaginei que alguém ainda estivesse interessado no tema. Cameron tem a habilidade de provar que a gente está errado e, quem diria, muita gente foi assistir a esta continuação; não só isso, esses dias a Disney anunciou que o último filme da saga (a quinta parte, creio) vai ser lançada em 2031.

Ok, quanto ao filme. "O Caminho da Água" me pareceu mais um documentário da National Geographic sobre a vida marítima do planeta Pandora do que um filme de ficção. Há uma trama (bem leve) dramática, mas Cameron está tão apaixonado por seu planeta (e pelo aparato tecnológico necessário para criá-lo) que grande parte das três horas de filme é composta por longas sequências passadas nos oceanos de Pandora, observando sua vida marinha, seres que piscam e brilham no escuro, ou gigantescos animais chamados Tulkun, ou seres híbridos (marinhos e aéreos), que os habitantes usam para se locomover, etc. Há também todo um lado "espiritual" de propaganda do Boticário sobre a "Grande Mãe", e a comunhão entre todos os seres, e como o ser humano (chamado de Sky People) é uma espécie de praga que destrói tudo que toca.

O visual é realmente impressionante. A computação gráfica hoje pode criar qualquer coisa que você imaginar e Pandora é visualmente rica, cheia de cenários grandiosos, eclipses no céu e paisagens submarinas. Em meio a tudo isso, Cameron tem que contar uma história, que é bem simples; o vilão do primeiro filme (interpretado por Stephen Lang) está de volta a Pandora, só que agora habitando um corpo azul dos Na´vi, e ele jurou vingança contra Jake Sully. Jake pega a família e sai da região de florestas vista no primeiro filme e vai para a região aquática. Zoe Saldaña, que faz a esposa Na´Vi de Jake, Neytiri, fala bem pouco durante todo o filme (imagino que ela estava ocupada com outras produções e só seu avatar, literalmente, aparece aqui).

Cameron sabe criar boas cenas de batalha e perseguição e a hora final é composta por uma longa cena de luta. Há vários momentos em que ele recicla filmes anteriores, como "Titanic" (quando um grande navio militar está afundando e os personagens estão presos dentro) ou "Exterminador do Futuro" (o cenário clichê de luta em um ambiente escuro e industrial). Vale a pena assistir? Confesso que tive zero vontade de ver nos cinemas. Na TV, como disse, vi em capítulos. É visualmente bem feito e, naquele modo National Geographic de ser, tem belas imagens submarinas. Mas mal me lembro do nome dos personagens e, sinceramente, não me deixou com vontade de ver o que vai acontecer em seguida. Disponível na Disney+. 

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Arnold (2023)

 
Arnold (2023). Netflix. Dir: Lesley Chilcott. Documentário em três partes sobre Arnold Schwarzenegger (ufa, sem copiar do Google), que focam nas três carreiras do astro: Atleta, Ator e Político. O tom é extremamente egocêntrico e autocongratulatório; Arnold narra o documentário e ocupa quase toda a duração do filme, seja falando direto para a câmera, narrando ou em centenas de imagens de arquivo. É inegável que ele teve uma vida e tanto.

Nascido em uma pequena cidade da Áustria, Arnold sempre se sentiu fora de lugar; o pai era veterano da 2ª Guerra Mundial e um policial rígido. A mãe também era dominadora. Um irmão mais velho era motivo constante de competição. Um dia Arnold estava no cinema e viu "Hércules", estrelado por Reg Park. Park era um fisiculturista inglês que venceu o título de Mr. Universo e foi descoberto pelo cinema. Arnold viu nele um modelo a ser seguido e passou a treinar todos os dias na academia. Ganhou tamanho, músculos e, ao longo dos anos, o mundo, vencendo diversos campeonatos de Mr. Universo e Mr. Olimpia.

Foi para os EUA e, depois de anos vencendo competições, decidiu mudar de rumo e se tornar ator. O físico e sotaque carregado (que tem até hoje) eram obstáculos mas, depois de alguns filmes sem importância, foi escalado para ser "Conan, O Bárbaro" (John Milius, 1982) e começou uma série de sucessos que incluiriam filmes de ação como a série "Exterminador do Futuro" e até comédias como "Irmãos Gêmeos" e "Um Tira no Jardim da Infância". O fato de que ele não sabia atuar era secundário. Com um carisma enorme e confiança tão grande quanto os músculos, Arnold surfou na onda nacionalista da era Reagan e conquistou Hollywood; teve também um adversário à altura, Sylvester Stallone. Stallone diz que não suportava o austríaco nos anos 1980. "Se eu fazia 'Rambo', ele fazia 'Comando para Matar', se eu matasse 15 pessoas em um filme, ele matava 30 no próximo". Pessoalmente, acho que Stallone era melhor (é diretor, roteirista e produtor, além de um ator menos ruim que Arnold), mas o próprio Stallone admite que Schwarzenegger se tornou o "rei".

O terceiro episódio, intitulado "Americano", fala da vida política de Arnold. Cansado dos sets de filmagens e depois de quase morrer em uma cirurgia cardíaca, o austríaco decidiu "defender o público da Califórnia" e se candidatou ao governo do estado (em uma eleição "diferente"; o governador da época estava com a popularidade em baixa e foi tirado do cargo em um plebiscito). Vale dizer que ele já havia se envolvido com a política ao se casar com uma herdeira da família Kennedy, Maria Shriver. A campanha para o governo de Arnold se tornou um verdadeiro circo, mas ele venceu a eleição (e se reelegeu alguns anos depois).

Apesar de bastante elogioso, o documentário não foge de algumas polêmicas que envolveram o astro. Cinco dias antes da eleição na Califórnia, o Los Angeles Times publicou uma reportagem em que mulheres acusaram Arnold e tê-las "apalpado" sem consentimento. A campanha ficou abalada por um momento, mas Arnold pediu desculpas e conseguiu se eleger de qualquer forma. No presente, ele diz para a câmera que o que fez foi errado, não importa há quanto tempo tivesse acontecido. Houve também um caso extraconjugal que terminou com o casamento com Maria Shriver.

Fiquei com a sensação, ao final do documentário, de que o Arnold atual é um homem rico, que realizou muitas coisas, mas que parece alguém sozinho em um grande castelo (o próprio modo como ele é filmado, sozinho em uma mansão enorme, reforça isso). As duas primeiras partes achei mais interessantes do que a terceira. Há depoimentos de James Cameron, Danny DeVito, Jamie Lee Curtis, Linda Hamilton e várias outras celebridades. Ninguém da família. Tá na Netflix.

domingo, 11 de junho de 2023

A Grande Virada (The Company Men, 2010)

 
A Grande Virada (The Company Men, 2010). Dir: John Wells. Netflix. Um daqueles filmes que podem ser classificados como "problemas de primeiro mundo", "A Grande Virada" tem grande elenco e é entretenimento competente, embora bastante raso. Ele se passa depois da crise financeira nos EUA no final da primeira década dos anos 2000. Um filme muito melhor chamado "Margin Call" (J. C. Chandor, 2011) foi feito mais ou menos na mesma época, e é muito menos televisivo e mais realista a respeito.

"A Grande Virada" lida com diversos personagens que trabalhavam em uma empresa chamada GTX, que costumava fabricar navios em grandes estaleiros, contratando milhares de pessoas. Com o tempo, a empresa foi mudando para a exploração financeira e, na época em que se passa o filme, está mais preocupada em "manter os acionistas felizes" e render milhões em bônus para os fundadores do que em produzir alguma coisa. Isso significa que milhares de pessoas devem ser demitidas, em todos os cargos hierárquicos, mas o filme parece mais preocupado com a "nata", gente como o personagem de Ben Affleck, que ganha "só" 150 mil dólares por ano, ou com o personagem de Tommy Lee Jones, que ganha milhões. O filme mostra como Affleck, que dirige um Porshe (não quitado), tem uma casa enorme e joga golfe semanalmente, de repente se vê desempregado aos 37 anos e sem muitas expectativas. Rosemarie DeWitt faz aquelas esposas fiéis e dedicadas, que de vez em quando tem que puxar a orelha do marido porque ele ainda quer pagar o country club, mesmo desempregado e a ponto de perder a casa.

O elenco ainda conta com Kevin Costner como um trabalhador "comum", um homem com um trabalho "real" de construir casas com as próprias mãos, em contraste com o personagem de Affleck, que apenas especula com o dinheiro dos outros. Claro que após meses desempregado, Affleck vai ter que engolir o orgulho e "bater laje" com Costner, aprendendo uma valiosa lição.

O filme é escrito e dirigido por John Wells, que veio da TV americana de séries de prestígio como "The West Wing" ou "E.R.". A direção é competente e o filme conta com a fotografia de Roger Deakins (é o segundo filme em seguida de Deakins que eu vejo, curiosamente), mas o roteiro parece ter sido cortado em algumas partes. A personagem de Maria Belo passa de amante a segunda esposa de Tommy Lee Jones sem muita explicação, para depois ter uma conversa com ele em que, pelo jeito, eles se separaram, mas isso não foi mostrado no filme. O final (a "grande virada" do título nacional) parece ter sido decidido no par ou ímpar. Tá na Netflix.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Império da Luz (Empire of Light, 2022)

Império da Luz (Empire of Light, 2022). Dir: Sam Mendes. Star+. Superficialmente, "Império da Luz" é um filme belíssimo. Passado, em grande parte, em um luxuoso cinema, a direção de arte de Mark Tildesley e a fotografia de Roger Deakins transformam cada plano em uma pintura. Tudo isso embalado por uma bela trilha de Trent Reznor e Atticus Ross. A grande Olivia Colman encabeça um elenco que ainda conta com Colin Firth e Toby Jones, entre outros. Tudo é ricamente mostrado, interpretado e bonito de se ver.

No entanto, nem tudo funciona direito. O roteiro de Sam Mendes atira para todos os lados. O filme lida com vários assuntos relevantes como saúde mental, racismo e feminismo. No meio destes assuntos pesados, tenta também encaixar uma "carta de amor ao cinema" aos moldes de "Cinema Paradiso" (Giuseppe Tornatore, 1981) ou, talvez, "A Rosa Púrpura do Cairo" (Woody Allen, 1985). O resultado, no entanto, soa artificial. Colman interpreta Hillary, a gerente de um cinema em uma cidade costeira da Inglaterra. Ela é solitária, toma ansiolíticos e tem um "relacionamento" com o dono do cinema (Colin Firth), que mais parece uma série de abusos sexuais.

Um dia começa a trabalhar no cinema um rapaz negro e bonito chamado Stephan (Micheal Ward). Hillary se apaixona pelo moço, que corresponde, mas fica difícil entender a relação entre os dois. É amor? Carência? Há uma cena (até bonita) envolvendo um pombo com a asa quebrada que carrega demais no simbolismo. O fato de Stephan ser negro rende algumas cenas de racismo, mas o filme não perde o tom de um belo cartão postal nem em uma cena que deveria ser violenta. Há subtramas que não vão a lugar algum (como uma ex-namorada de Stephan que aparece e desaparece sem efeito nenhum). Há alguma cenas melodramáticas quando Hillary para de tomar os remédios.

No meio de tudo isso ainda há o "amor pelo cinema", em sequências perdidas como uma premiere de "Carruagens de Fogo" (Hugh Hudson, 1981) ou quando Hillary assiste, sozinha, a "Muito Além do Jardim" (Hal Ashby, 1979). Enfim, um filme tecnicamente belíssimo mas, ao contrário da fotografia do mestre Roger Deakins, bastante sem foco. Disponível na Star+.