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quinta-feira, 4 de julho de 2024

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, 2024)

 

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, 2024). Dir: Mark Molloy. Netflix. "Um Tira da Pesada" foi lançado há inacreditáveis 40 anos e foi um sucesso estrondoso. Originalmente escrito para Sylvester Stallone, o papel acabou indo para Eddie Murphy, que tinha só 22 anos mas já era um comediante famoso no cinema e na TV. O filme teve uma continuação dirigida por Tony Scott em 1987 (que era razoável) e uma terceira parte feita por John Landis em 1994 (que era bem ruim).

Axel Foley volta para uma quarta aventura agora em uma produção da Netflix (sinal dos tempos). Considerando o baixo nível do segundo e do terceiro filme, até que este não se sai tão mal. "Um Tira da Pesada 4" é previsível e carregado de clichês, mas tem uma boa dose de nostalgia e, se você não criar muitas expectativas, é divertido. O marketing tenta vender a volta dos companheiros de Axel dos filmes anteriores, os policiais Billy (Judge Reinhold) e Taggart (John Ashton), mas eles não têm muito tempo de tela, na verdade. O filme pertence a Eddie Murphy e traz como novidades a personagem da filha de Axel Foley, Jane (Taylour Paige) e um policial chamado Bobby (Joseph Gordon-Levitt). Ah, e o grande Kevin Bacon traz sua bagagem de astro dos anos 1980 como um policial corrupto.
Há perseguições de carro, tiroteios, cenas de tensão entre pai e filha e citações nada sutis ao filme original. Para uma produção da Netflix, está de bom tamanho.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Eric (2024)

 

Eric (2024). Dir: Lucy Forbes. Netflix. "Eric" é uma minissérie em seis capítulos que é tão ambiciosa quanto decepcionante. A princípio, "Eric" trata do desaparecimento de um menino de uns dez anos, Edgar (Ivan Howe), na Nova York de 1985. O pai, Vincent (Benedict Cumberbatch) é um "bonequeiro" estilo Jim Henson que tem um programa infantil de sucesso na televisão educativa. Vincent é um gênio na criação de bonecos, mas é um "mala" profissional. Insuportável, ele briga com tudo e com todos, dos companheiros de trabalho à esposa, Cassie (Gaby Hoffmann), com quem tem um relacionamento conturbado. Uma manhã o menino vai sozinho à escola e desaparece no caminho.

O que parece ser o início de uma série sobre o sequestro de uma criança, estilo "O Resgate" ou "Os Suspeitos", acaba se transformando em várias outras coisas. Entra o personagem do policial Ledroit (McKinley Belcher III), um detetive negro que esconde um segredo (ele é homossexual); nos EUA dos anos 1980, Ledroit esconde a vida privada, que divide com um namorado à beira da morte (é o auge da epidemia de AIDS) e vive culpado por não ter encontrado outro garoto perdido, que sumiu há quase um ano.

As tramas, ao invés de trabalharem juntas, por vezes competem entre si e parece que estamos vendo séries diferentes. Em uma, Cumberbatch procura pelo filho, mas também quer lançar um personagem novo no programa infantil, quer tentar salvar o casamento e batalha com o alcoolismo. Há também uma trama envolvendo a relação difícil dele com o pai, um rico empreendedor imobiliário. Na outra trama, o policial Ledroit procura pelo garoto branco, investiga policiais corruptos, tenta lidar com a mãe do outro garoto desaparecido e ainda tem que lidar com a própria identidade. Há também outra trama lidando com um político corrupto e o combate aos moradores de rua no submundo de Nova York. A série, de seis capítulos, tenta equilibrar todos esses temas mas nem sempre consegue.

Destaque para a ótima reconstituição de época, que mostra Nova York nos anos 1980 em bela fotografia e efeitos visuais. A série, na verdade, foi rodada em estúdios em Budapeste, mas você acredita que está na "Big Apple" o tempo todo. Tá na Netflix. 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ripley (2024)

 Ripley (2024). Direção: Steven Zaillian. Ótima minissérie em oito capítulos baseada em um série de livros escritos por Patricia Highsmith entre os anos 1950 e 1980. O primeiro livro teve várias adaptações, a mais famosa talvez seja "O Talentoso Ripley", dirigido por Anthony Minghella e estrelado por Matt Damon, Jude Law e Guinneth Paltrow. Esta nova versão da Netflix é esteticamente bastante diferente da do cinema. A série é filmada em belíssimo preto e branco com direção de fotografia de Robert Elswit, que fez vários filmes de Paul Thomas Anderson (Magnólia, Sangue Negro, etc). Steven Zaillian, que é um dos roteiristas mais ocupados de Hollywood (ganhou o Oscar com "A Lista de Schindler", de Spielberg), dirige "Ripley" como um filme dos anos 1950 e 1960. A câmera é quase sempre fixa e o movimento é dado pelos personagens, em tela. A edição também não é o corta/corta/corta das produções atuais.

Tom Ripley é interpretado por Andrew Scott, que já brilhou em séries como "Sherlock" e "Fleabag" anteriormente. Seu Ripley talvez seja mais velho do que o ideal, mas Scott está ótimo, sutil e quase sempre calado. Quando seu personagem fala, porém, é quase sempre uma mentira. A série tem um prólogo em Nova York e parte para as belas paisagens da Itália do pós guerra. Tom Ripley é enviado para lá para tentar convencer Robert Greenleaf (Johnny Flynn) a retornar aos EUA. O pai, construtor de navios, o quer de volta. Greenleaf, porém, quer distância da família, mas não do dinheiro deles. Ele diz que é "artista", mas pinta muito mal alguns retratos e paisagens. A namorada, Marge (Dakota Fanning), também tem dinheiro e diz que está escrevendo um livro. O personagem de Tom Ripley escancara a hipocrisia dessas pessoas, conquistando a amizade de Greenleaf e, aos poucos, criando raízes na Itália.

Há mortes e bastante suspense, mas Ripley não é exatamente um super vilão. Há um episódio inteiro dedicado a mostrar como é complicado se livrar de um corpo em Roma, por exemplo. Imagino que Ripley seria preso em questão de dias se vivesse na sociedade de hoje, com exames de DNA e técnicas forenses. Na época da série, um bom pano de chão resolvia bastante coisa. Os roteiros (todos adaptados por Zaillian) cobrem o primeiro livro e dá pistas para os seguintes. Eu li os dois primeiros e, além do filme com Matt Damon, vi também uma versão interpretada por John Malkovitch ("Ripley´s Game", de 2002), mas diria que esta minissérie traz a melhor versão do personagem. Tá na Netflix. 

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Holy Spider (2022)

Holy Spider (2022). Dir: Ali Abbasi. Netflix. Filme bastante pesado baseado na história real de um assassino em série que, entre 2000 e 2001, matou dezesseis prostitutas na cidade de Mashad, no Irã. O assassino não se considerava um criminoso, mas sim alguém que estava "limpando a cidade do pecado". Uma jornalista de Teerã, Arezoo Rahimi (Zar Amir Ebrahimi), vai até Mashad investigar as mortes e se depara com uma polícia inerte e um jornalismo amador.

A moça também tem que enfrentar o machismo da cultura local; quando chega em um hotel, sozinha, o gerente lhe diz que houve um erro na reserva dela e que ela deve ir embora. Quando ela revela ser jornalista, o "erro" desaparece e acabam dando um quarto a ela. O filme não tenta fazer suspense sobre quem é o assassino. Ele é mostrado logo no início, um pedreiro comum, com esposa, duas filhas e um filho, Saeed Azimi (Mehdi Bajestani) é ex-combatente na guerra Irã-Iraque e religioso fanático. Ele pega as prostitutas de moto, à noite, e as leva para seu apartamento. As cenas em que ele as estrangula são bem fortes e violentas.

Além de ser um thriller de suspense, o filme também é um retrato de uma sociedade machista/religiosa. Quanto mais mulheres Saeed mata, mais apoio ele tem da população em geral, que acha que ele está fazendo um bem para a sociedade. A mãe de uma das vítimas diz à jornalista que a polícia não tem interesse em prendê-lo pois ele está limpando a cidade para eles. Ebrahimi, que faz a jornalista, ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes e recebeu centenas de ameaças de seu país de origem. O filme foi feito fora do Irã (filmado na Jordânia) e foi condenado pelo governo.

"Holy Spider" é pesado e difícil de assistir, mas poderoso. Tá na Netflix

Descanse em paz (Descansar en paz, 2024)

 
Descanse em paz (Descansar en paz, 2024). Dir: Sebastián Borensztein. Suspense dramático razoável que começa em Buenos Aires no ano de 1994. Sergio (Joaquín Furriel) tem uma família perfeita; é casado com Estela (Griselda Siciliani) e tem dois filhos. Só que ele está com um problemão, está afundado em dívidas, não paga os funcionários há meses, a escola dos filhos está cobrando as mensalidades e um agiota, Hugo (Gabriel Goity) lhe deu um ultimato, pague ou sofra as consequências.

Fica difícil falar mais sobre o filme sem dar SPOILERS, o caso é que Sergio tem um seguro de vida que, caso ele morresse, resolveria os problemas financeiros da família. A direção é de Sebastián Borensztein, que fez o ótimo "Um Conto Chinês", com Ricardo Darín (com quem também fez "A Odisseia dos Tontos"). O roteiro é baseado em um livro de Martin Baintrub, que fala sobre um atentado a bomba real acontecido contra uma associação judaica em Buenos Aires nos anos 1990.

O filme é bem feito, embora um tanto melodramático. A trama se baseia muito na interpretação de Joaquín Furriel, que está bem e carrega as dores do mundo nos olhos. Há boa reconstrução de época mostrando Buenos Aires nos anos 1990. O suspense cresce bastante na parte final mas, pessoalmente, não acho que a resolução faça jus ao que foi construído antes. Tá na Netflix.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Stillwater - Em busca da verdade (Stillwater, 2021)

Stillwater - Em busca da verdade (Stillwater, 2021). Dir: Tom McCarthy. Netflix. "Stillwater" é daqueles filmes que não sabem o que querem ser. Há duas boas histórias convivendo aqui, mas não há muita liga entre elas. Matt Damon é Bill, o típico americano médio, trabalhador braçal, boné, cavanhaque, dirigindo um utilitário e rezando antes de toda refeição. Bill vai para Marselha, França, visitar a filha. Allison (Abigail Breslin) está presa pelo assassinato da namorada, Linda, há cinco anos. A filha alega ter descoberto novas evidências de sua inocência, mas como a promotora não quer reabrir o caso, cabe a Bill investigar por conta própria.

Bill não fala francês (claro) e está hospedado em um pequeno hotel, onde conhece uma mãe solteira, Virginie (Camille Cottin, ótima) e a filha pequena, Maya (Lilou Siauvaud). É conveniente demais que Virginie saiba falar inglês e, do nada, resolva ajudá-lo na investigação, mas... ok. O problema é que o filme não sabe se vai ser sobre a investigação do caso de assassinato da filha ou sobre a relação de Bill com essa francesa e a filha. Há momentos em que as duas histórias convergem mas, por grande parte do filme (que é longo demais, com duas horas e vinte de duração), parece que estamos vendo uma estranha comédia romântica. Virginie é atriz de teatro e tenta fazer o americano ignorante gostar de arte. Bill se apaixona pela garotinha, Maya, e passa a buscá-la na escola e até arruma um emprego na construção civil. Logo todos estão morando juntos, Bill faz comida para as mulheres da casa, Virginie arruma um emprego na televisão e.... que filme estamos vendo mesmo?

Damon, mais "gordo", de cavanhaque e boné, tenta fazer a gente esquecer que ele é Jason Bourne, mas é estranho vê-lo andando pelas ruas da França sem saber muito o que fazer. Lá pelo final o filme se lembra da trama de assassinato e muda drasticamente, partindo para um final estranho demais. A direção é de Tom McCarthy, que dirigiu o vencedor do Oscar "Spotlight". Tá na Netflix.

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, 2024)

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, 2024). Dir: Bao Nguyen. Netflix. Bom documentário sobre os bastidores da gravação do hit "We Are the World", um single composto por Lionel Ritchie e Michael Jackson em janeiro de 1985. A música fez parte de uma das ações da época contra a fome na África, particularmente na Etiópia. O ator, cantor e ativista Harry Belafonte teve a ideia e coube ao produtor musical Quincy Jones fazer o trabalho.

O documentário é costurado com entrevistas de vários envolvidos com a música na época, como Lionel Ritchie, que também produz o filme. O pesadelo logístico de juntar um grupo de super artistas famosos era enorme, então decidiram gravar o single depois de um prêmio musical em Los Angeles (que Lionel Ritchie ia apresentar), já que muitos estariam na cidade. Ritchie e Jackson compuseram a música em poucos dias. A melhor parte do documentário é quando eles mostram os bastidores da gravação em si, compilados de horas de fitas. Como lidar com o ego de mais de quarenta estrelas do pop, rock e até mesmo do country? "Deixem o ego na porta", dizia um cartaz escrito por Quincy Jones. Estavam presentes astros como Bruce Springsteen, Michael Jackson, Tina Turner, Ray Charles, Stevie Wonder, Paul Simon, Bob Dylan, Billy Joel, Al Jarreau, Cyndi Lauper, Diana Ross, Kenny Loggins e dezenas de outros.

Apesar do aviso de Jones, lidar com os artistas não era fácil. Stevie Wonder achou que deveriam cantar algumas frases em Swahili, língua falada em algumas partes da África (mas não na Etiópia). Michael Jackson, para não ficar atrás, quis acrescentar algumas frases em outra língua africana. Eles só tinham aquela noite para gravar a canção e ideias como essas causavam vários atrasos (resolveram cantar tudo em inglês mesmo). Prince, que havia ganhado vários prêmios naquela noite, era dúvida se iria participar ou não. Ele exigiu gravar sozinho, em outra sala, e acabou dispensado. Huey Lewis (que fez muito sucesso com as canções de "De Volta para o Futuro"), acabou pegando os vocais dele.

Engraçado ver os vários takes que os artistas tiveram que gravar para chegar às partes que conhecemos na música (e clipe) final. Tenho minhas dúvidas se "We are the World" trouxe algum benefício às crianças famintas da África mas, como canção pop, foi um enorme sucesso. Tá na Netflix.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Poder sem limites (Chronicle, 2012)

Poder sem limites (Chronicle, 2012). Dir: Josh Trank. Netflix. Já havia ouvido falar nesta ficção-científica mas nunca havia tido a oportunidade de vê-la, até agora. "Chronicle" foi o filme de estreia de Josh Trank, na época com 26 anos. Um tempo depois ele teria a reputação destruída por sua direção de "Quarteto Fantástico" (2015), mas essa é outra história.

"Poder sem limites" foi feito com um orçamento bem inferior ao que se gasta em um filme da Marvel (uns 200 milhões de dólares), por "apenas" 15 milhões. É daqueles filmes feitos com "found footage" (imagens encontradas), ou seja, o que você vê na tela é porque algum personagem está filmando. Andrew (Dane DeHaan, de "O Espetacular Homem-Aranha 2") é um jovem tímido que sofre bullying na escola. Um dia ele resolve que vai carregar uma câmera por aí para registrar tudo, o que nem sempre faz sentido mas, assim, o filme é sobre o ponto de vista da câmera dele. Ao ir a uma festa da escola, Andrew, o primo Matt (Alex Russell) e um amigo, Steve (um jovem Michael B. Jordan), encontram um buraco estranho no meio da floresta. Eles descem no buraco e encontram "alguma coisa" lá.

Acontece que, dali para frente, eles descobrem que têm "poderes". A princípio, conseguem mover pequenas coisas com a mente. Conforme vão treinando os poderes, eles ficam mais fortes e, claro, mais perigosos. No começo, no entanto, é tudo diversão; eles usam os poderes para levantar as saias das garotas, fazer shows de mágica e, mais para frente, descobrem que podem até voar. Os efeitos especiais são razoáveis, mas passam o recado. O filme fica mais sério e dramático mais para o final. O grande Michael Kelly (Doug Stamper em "House of Cards") interpreta o pai alcoólatra de Andrew, que resolve usar seus poderes para o "mal". É um filme interessante, embora por vezes pareça meio amador. Lembra um pouco aquela série "Heroes", em que adolescentes descobriam superpoderes. Tá na Netflix.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Maestro (2023)

Maestro (2023). Dir: Bradley Cooper. Netflix. "Maestro" não é um filme fácil de avaliar. Segundo longa metragem do ator e diretor Bradley Cooper, "Maestro" é tecnicamente lindo, mas falho em diversos outros pontos. Ficam claras a garra e dedicação de Cooper ao papel, se transformando fisicamente no compositor e condutor Leonard Bernstein, um dos músicos americanos mais renomados de todos os tempos.

Não é uma biografia convencional. Ao invés de contar a história como uma série de eventos interligados, "Maestro" foca em determinados momentos da vida de Bernstein e família. Há também algumas entrevistas do compositor em diversos pontos da vida, recriadas de cenas reais; escutamos da voz do próprio personagem seus pontos de vista sobre composição, regência e a vida em geral. O filme foi rodado em película Kodak em maravilhosa fotografia de Matthew Libatique, que vai do preto-e-branco dos anos 1940 às cores fortes do Technicolor dos anos 1960 e 1970. Há a recriação de uma apresentação de Bernstein e orquestra na Ely Cathedral que é maravilhosa.
O filme falha, no entanto, em nos mostrar quem foi, de fato, Leonard Bernstein. Se você espera ver cenas dos bastidores de "Amor, Sublime Amor" (West Side Story), por exemplo, vai ficar desapontado. Se quiser saber detalhes mais íntimo ou "picantes" da vida pessoal dele, também. Há várias cenas que deixam claro que Bernstein era gay (ou, talvez, bissexual), mas o tema é tratado com certa distância. Quem sofre, calada, é a personagem de Carey Mulligan (ótima), como a esposa de Bernstein, Felicia. Ela era uma atriz que passou décadas ao lado do marido, com quem teve três filhos. O filme mostra que ela sabia das indiscrições do marido, mas mantinha as aparências. Há quem diga que o filme é muito "chapa branca", até porque teve apoio e aprovação da família. Talvez.
De qualquer forma, há sequências muito belas por toda a produção. Cooper parece possuído por Bernstein nas cenas em que está regendo (dizem que ele estudou por anos para conseguir fazer a cena na catedral). Mas falta recheio, falta contexto. Para quem não conhece a vida e obra de Leonard Bernstein, não vai ser com este filme que vai ficar sabendo. Tá na Netflix.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets (Chicken Run: Dawn of the Nugget, 2023)

 
A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets (Chicken Run: Dawn of the Nugget, 2023). Dir: Sam Fell. Netflix. Quase 24 anos depois do lançamento de "A Fuga das Galinhas", produção da britânica Aardman com a americana Dreamworks, a Netflix lança uma continuação. É até melhor do que eu esperava, embora esteja longe do charme e originalidade do primeiro.

Depois de liderar a fuga das companheiras da granja no primeiro filme, a galinha Ginger vive em paz com o marido, Rocky, em uma ilha no interior da Inglaterra. Ela e as amigas construíram um pequeno paraíso e vivem muito bem, até que Ginger e Rocky têm uma filha, Molly. A menina é tão rebelde quanto a mãe e, ao chegar à adolescência, quer saber o que existe no mundo "lá fora". Ela acaba fugindo da ilha e indo parar em uma granja industrial em que ela e outras centenas de galinhas correm o risco de virarem nuggets crocantes. Cabe a Ginger e às companheiras tentar resgatar a filha.

É uma continuação direta do primeiro filme e os personagens estão todos lá, embora a maioria com vozes novas; Mel Gibson, que fazia Rocky, foi substituído por Zachary Levi. Thandiwe Newton tomou o lugar de Julia Sawalha como Ginger. Bella Ramsey (de The Last of Us) é a filha Molly. O roteiro é bem menos inspirado que o do primeiro, mas tem bons momentos. Interessante como os britânicos não fogem de situações "desconfortáveis", como mostrar algumas galinhas morrendo, mesmo em um filme infantil. Quanto a Molly, pelo que vi ela é a única criança no bando todo... acho que não quiseram mostrar Rocky como promíscuo (rs). A boa trilha sonora é de Harry Gregson-Williams, que no primeiro fez parceria com John Powell.

A produção durou vários anos, visto que a animação é feita na trabalhosa técnica do stop-motion. Dá para notar que usaram computação gráfica em cenários e, provavelmente, para replicar as dezenas de galinhas. É divertido, embora pouco memorável. Tá na Netflix.

O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, 2023)

 O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, 2023). Dir: Sam Esmail. Netflix. Suspense pós-apocalíptico bem interessante que estreou hoje na Netflix. O elenco é ótimo, Ethan Hawke, Julia Roberts, Mahershala Ali, entre outros. É aquele tipo de suspense que Shyamalan poderia ter feito (me lembrou bastante "Sinais", de 2002). Pena que o filme comece muito bem mas vá "esvaziando" para o final.

O filme começa com uma família indo para uma casa na praia. Ela é enorme e moderna, muito bem decorada e com uma bela piscina. Tudo muito bonito, mas algumas coisas estão erradas; a internet está com problemas; o celular começa a falhar e, em seguida, a televisão sai do ar. Na praia, em uma bela sequência, um petroleiro enorme sai de curso e invade a areia. À noite, há uma batida na porta e um homem negro (Mahershala Ali) muito bem vestido, está na varanda, acompanhado da filha. "Essa é nossa casa", ele diz. Ele explica que houve um blecaute em Nova York e eles gostariam de passar a noite.

O que se segue é uma série de situações cada vez mais estranhas e assustadoras. Assim como em "Sinais", em que a família de Mel Gibson estava isolada em uma casa enquanto "alguma coisa" estava acontecendo no mundo, aqui não é diferente. O clima de tensão vai ficando cada vez maior conforme coisas inexplicáveis acontecem, como ruídos ensurdecedores que acontecem no meio da noite; algumas poucas notícias, desencontradas, aparecem em forma de mensagem de texto.

Há uma tensão racial (e sexual) constante na relação entre a família branca e "perfeita" e a outra, de pai e filha negros. A personagem de Julia Roberts, em um racismo pouco velado, não consegue acreditar que Mahershala Ali seja o dono de uma casa tão grande, e seja tão culto e rico. Ele, por outro lado, claramente sabe mais do que ele está falando, e tenta proteger a filha, Ruth (Myha'la). Já os filhos de Ethan Hawke e Julia Roberts vivem sob uma bolha; Rose, a menina, está desesperada porque queria ver o episódio final de "Friends" e a internet não está funcionando. Há referências a outras séries de TV como "The West Wing" (e uma cena me lembrou bastante "Lost"). É um bom suspense, que lida com nossas paranoias como a pandemia e imagina como seríamos inúteis se acordássemos, um dia, sem internet e celular. Tá na Netflix.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O Assassino (The Killer, 2023)

O Assassino (The Killer, 2023). Dir: David Fincher. Netflix. Michael Fassbender é um assassino profissional. Pelos primeiros vinte minutos do filme, nós o vemos em um apartamento de Paris esperando por sua vítima. Em uma narração em off, o assassino descreve seu método, seu perfeccionismo. Fincher, sendo Fincher, filma tudo imaculadamente. Cada plano é uma pintura, cada corte preciso. O áudio é excelente. Criador e criatura parecem uma máquina precisa de matar/filmar. E aí dá tudo errado.
Acho que gostar de "O Assassino" depende do modo como você vê filmes. Esse não é daquele tipo de filme para se ver com a luz acesa, levantando para ir ao banheiro ou olhando o celular (na real, nenhum filme é). É um balé lindamente coreografado por Fincher e seu grupo habitual de colaboradores (Kirk Baxter na edição, Erik Messerschmidt na fotografia, Atticus Ross e Trent Reznor na trilha sonora). Há poucos diálogos e uma ação leva à outra. Fassbender está excelente. Há uma cena com Tilda Swinton que é tão boa que parece que o filme vai terminar. E aí acontece uma coisa estranha... o filme não termina e se estende por uma meia hora que me pareceu desnecessária. O final é meio irônico, meio anticlimático.
Assim como seu personagem, Fincher parece querer mostrar que, no fundo, também é humano. "O Assassino" não é ótimo como um "A Rede Social" ou "Garota Exemplar", mas é bonito pra caramba de se ver. Tá na Netflix.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Sly (2023)

Sly (2023). Dir: Thom Zimny. Netflix. Documentário estranhamente melancólico sobre a vida e carreira de Sylvester Stallone. Conhecido por personagens "musculosos" como Rocky e Rambo, pouca gente sabe que Stallone é, antes de tudo, um roteirista. É, também, produtor e diretor. Cansado de ser rejeitado pelos estúdios nos anos 1970, Stallone escreveu "Rocky" e se recusou a vender o roteiro a não ser que ele próprio interpretasse o personagem principal. "Rocky" ganharia o Oscar de Melhor Filme e Stallone seria indicado tanto como roteirista quanto por ator.
É uma história fascinante e, aos trancos e barrancos, Stallone conseguiu se manter no topo de Hollywood por décadas. Por que, então, este documentário acaba decepcionando? O próprio Stallone conta sua história em uma série de entrevistas, grande parte delas dadas dentro de uma de suas mansões, cercado por figuras dele mesmo. Bustos e estátuas de Rocky, Rambo e outros personagens cercam o ator; nas estantes, roteiros dos seus filmes. Nas paredes, quadros dele mesmo. Achei carregado demais. Há momentos intimistas, principalmente quando ele fala da relação complicada com o pai, um homem competitivo e violento. A morte do filho, Sage Stallone, no entanto, passa meio batida e sem muitas explicações. Há poucos depoimentos de outras pessoas (Quentin Tarantino, Talia Shire e Schwarzenegger os maiores destaques).
Há diversos trechos de seus filmes (principalmente Rocky e Rambo) mas, por questões de direitos autorais, as icônicas trilhas sonoras não são usadas. Faltou um olhar mais crítico sobre o papel de Stallone na cultura pop do cinema dos anos 1980. Há, porém, diversos bons momentos, principalmente nas cenas de bastidores das filmagens de Rocky (que tinha orçamento bastante modesto) e na ligação biográfica entre a vida de Stallone e seus personagens. Pessoalmente, achei mais interessante a minissérie recente sobre Schwarzenegger. Tá na Netflix.

domingo, 22 de outubro de 2023

Jogo Justo (Fair Play, 2023)

Jogo Justo (Fair Play, 2023). Dir: Chloe Domont. Netflix. Há uma cena de sexo no começo de "Jogo Justo" que mistura paixão, romantismo, fruto proibido e sangue menstrual que estabelece o tom do filme. Essa, definitivamente, não é uma comédia romântica. Nunca ouvi falar de Phoebe Dynevor (estrela de série "Bridgerton", da Netflix), mas ela está ótima aqui como Emily, uma analista em uma firma financeira de Nova York. Alden Ehrenreich, sempre competente, é Luke; ele é colega de trabalho de Emily e os dois têm um romance por baixo dos panos (é contra a política da empresa).

"Jogo Justo" se passa quase o tempo todo nesta empresa, com suas jogadas financeiras movendo milhões de dólares para lá e para cá como em um cassino. O chefe, interpretado por Eddie Marsan, observa a tudo como um tubarão. A paixão de Emily e Luke é abalada por uma promoção que coloca Emily em um cargo alto na empresa. A princípio, a diferença de cargos não parece atrapalhar o casal, mas a adulação, responsabilidade e comissões altas transformam paixão em ressentimento.

O roteiro, da diretora Chloe Domont, mostra como o companheirismo se transforma em competição ou sabotagem (e auto sabotagem). Luke se sente castrado. Emily tenta compensar buscando uma promoção para ele, mas o mundo das finanças não perdoa os menores erros. Em um mundo masculino, sua promoção é questionada pelo próprio companheiro. Assim como na cena inicial, o filme vai mais fundo do que a gente imagina e não é nada confortável. Tá na Netflix.

Camaleões (Reptile, 2023)

Camaleões (Reptile, 2023). Dir: Grant Singer. Netflix. Filme policial que vale a pena quase que exclusivamente por causa de Benicio Del Toro. O porto-riquenho carrega o filme nas costas com uma interpretação e tanto, quieto, inteligente, observador. Ele é um policial chamado a investigar a morte brutal de uma corretora de imóveis. De cara ele desconfia do namorado dela, um sujeito interpretado por Justin Timberlake; mas há outros suspeitos promissores, como o ex-marido da moça e um vizinho estranho interpretado (pelo estranho) Michael Pitt.

É o tipo de filme policial que vai se desenrolando aos poucos. Del Toro tem uma esposa esperta interpretada por Alicia Silverstone, que estava sumida das telas há um tempo. Os dois fazem um grande casal e ela o ajuda a pensar sobre o caso e a manter sua sanidade. A direção é de Grant Singer, especialista em video clips que estreia no longa metragem. Ele é bem seguro e cria cenas com bastante clima e suspense.

Uma pena que o roteiro se perca bastante mais para o final. Há descobertas e reviravoltas interessantes que são mal aproveitadas e, acabado o filme, você fica tentando entender exatamente o que aconteceu, ou como. Diversas pistas ficam sem explicação e dá a impressão que tiveram que terminar o filme sem se importar muito com o que veio antes. Vale a pena? Como disse, no mínimo vale pela presença de Del Toro e suas cenas com Silverstone. Tá na Netflix.

sábado, 14 de outubro de 2023

A Garota na Fita (La Chica de Nieve, 2023)

A Garota na Fita (La Chica de Nieve, 2023). Dir: David Ulloa e Laura Alvea. Netflix. Minissérie de suspense em seis capítulos na Netflix. Em 2010, em Málaga, Espanha, uma garota de seis anos é sequestrada durante uma festividade. Os pais (Loreto Mauleón e Raúl Prieto) se desesperam, naturalmente, e colocam a polícia para investigar (o ator que faz o pai da menina parece um clone do Vladimir Brichta). A personagem principal da série, no entanto, é uma jovem jornalista chamada Miren (Milena Smit, de "Mães Paralelas", de Almodóvar). A moça carrega um trauma pesado e acaba se envolvendo, talvez mais do que deveria, no sumiço da menina. Ela tem um mentor, um jornalista mais experiente, interpretado por Jose Coronado.


A séria é boa em criar suspense e apresentar uma série de suspeitos plausíveis do rapto da criança. Há os clichês habituais como os pais dando coletivas de imprensa emocionantes ou a investigadora parada na frente de uma parede cheia de fotos, recortes de jornal e linhas vermelhas se cruzando. Milena Smit está muito bem como uma jovem traumatizada, de poucas palavras, que procura no trabalho um modo de se salvar. O mistério não é assim tão complicado e se a polícia não fosse tão incompetente saberia onde procurar, mas o objetivo da série é menos solucionar um crime e mais criar bom suspense em uma rede de personagens e tramas. A minissérie tem um final, mas fica a impressão de que poderemos ver outros casos no futuro. Tá na Netflix.

domingo, 13 de agosto de 2023

Império da Dor (Painkiller, 2023)

Império da Dor (Painkiller, 2023). Dir: Peter Berg. Netflix. Minissérie em seis capítulos que mostra as origens da epidemia de opioides que atingem os EUA. "Opioide" é uma droga sintética baseada nos compostos da morfina e heroína. Nos anos 1990, a empresa Purdue Pharma lançou um analgésico chamado OxyContin que se tornou um fenômeno de vendas. Sua fórmula era basicamente a mesma da heroína, mas a droga era vendida como um remédio milagroso que era mais seguro do que os outros e prometia trazer vida nova a pacientes com dor. O problema é que não foram feitos estudos relacionados à dependência e abuso do remédio (ou melhor, os estudos foram escondidos das autoridades reguladoras e aprovados com propinas). O resultado foram milhares de pessoas viciadas no composto. Famílias foram destruídas e pessoas morriam de overdose diariamente.


A minissérie é contada a partir do ponto de vista de uma investigadora da promotoria chamada Edie Flowers (Uzo Aduba, muito bem). Investigando o que acreditava serem fraudes médicas, Edie descobriu que o OxyContin estava sendo prescrito pelos médicos aos milhares. Matthew Broderick, o eterno Ferris Bueller, interpreta aqui um sujeito asqueroso chamado Robert Sackler, o presidente da Purdue Pharma. Robert aprendeu com o tio, Arthur Sackler (Clark Gregg), a vender drogas com uma estratégia de marketing que envolvia contratar garotas jovens e bonitas que convenciam centenas de médicos a prescrever OxyContin. O modelo de negócio recompensava com bônus, carros de luxo e apartamentos os vendedores que conseguissem convencer os médicos a aumentar cada vez mais a dose do remédio. Quando pacientes começaram a se viciar ou morrer, a empresa alegava que viciados sempre existiram e não era culpa da Purdue se eles abusavam do remédio.

Cada episódio começa com a declaração de uma pessoa real dizendo que a série modificou alguns fatos por motivos dramáticos; então a pessoa mostra a foto de algum ente querido que morreu em decorrência do uso de OxyContin. Há vários momentos em que a série é superficial ou irônica demais por motivos dramáticos mas, no geral, ela pinta um retrato bem assustador do poder das empresas farmacêuticas, que basicamente são traficantes legais de drogas. Tá na Netflix. PS: a série foi baseada em um longo e ótimo artigo do "The New Yorker" chamado "The Family That Built an Empire of Pain", que vale muito a leitura.

Paraíso (Paradise, 2023)

Paraíso (Paradise, 2023). Dir: Boris Kunz. Netflix. Ficção-científica alemã que lembra bastante a premissa de "O Preço do Amanhã" (2011, Andrew Niccol). Em um futuro próximo, um procedimento médico permite que as pessoas vendam anos da vida delas para os super ricos que, assim, permanecem sempre jovens. A estrela da empresa é Max (Kostja Ullmann), que tem a vida perfeita com a esposa, Elena (Marlene Tanczik). Só que um incêndio destrói o apartamento deles e a companhia de seguros se recusa a pagar. A única saída é Elena vender 40 anos da vida dela para pagar a dívida, o que destrói o casal.

Há várias boas ideias aqui e a produção é bem feita. A criação de mundo é interessante e claro que há uma simbologia no fato dos ricos literalmente sugarem a vida dos pobres em troca da juventude eterna. Há um grupo terrorista chamado "Adão" que promete assassinar todos as pessoas que se beneficiarem do procedimento, que eles consideram blasfemo. Como disse, a ideia já foi explorada por Andrew Niccol (de "Gataca") em "O Preço do Amanhã", em que o Tempo era uma espécie de moeda corrente que era vendida ou trocada entre as pessoas, separadas em castas.

O filme dá uma derrapada no terceiro ato. Há uma cena de tiroteio muito mal filmada entre mercenários da empresa farmacêutica e os "terroristas" do grupo Adão. A motivação dos personagens também muda conforme o vento e o final deixa bastante a desejar. Talvez funcionasse melhor como um episódio de uma hora de "Black Mirror" mas, sendo uma produção da Netflix, até que o resultado é melhor do que o esperado.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Rei dos Clones (King of Clones, 2023)

Rei dos Clones (King of Clones, 2023). Dir: Aditya Thayi. Netflix. Documentário interessante, mas um tanto superficial, sobre um cientista da Coréia do Sul chamado Hwang Woo-Suk. Especialista em células tronco, ele se tornou uma "celebridade" em seu país por causa de avanços do controverso campo da clonagem. Logo no começo descobrimos que, depois do sucesso, ele caiu em desgraça e foi preso por fraude e questões éticas. Hoje, no entanto, ele ainda é um dos principais expoentes no assunto e ganha fortunas clonando camelos de corrida nos Emirados Árabes ou animais de estimação para clientes ricos mundo afora. Um italiano fala sobre como se apegou ao seu buldogue francês e ficou devastado quando ele morreu de um tumor. O filme tem uma cena estranha que mostra o italiano enterrando o cachorro no jardim enquanto, ao seu lado, o clone do animal brinca e pula alegremente.

O que fica em aberto no documentário é até que ponto a clonagem humana (teoricamente) não foi para frente por questões éticas ou se foi algum impedimento científico mesmo. No começo dos anos 2000, Hwang Woo-Suk fazia promessas duvidosas a cadeirantes e outras pessoas com problemas físicos, dizendo que as faria andar novamente. Até o eterno Superman, Christopher Reeve, havia ouvido falar no médico "milagroso" coreano, que recebia milhões de dólares em investimento governamental e privado. É fato que os métodos do cientista eram questionáveis e ele gostava um pouco demais da fama que tinha; o caso é que ele não prometia clonar seres humanos, mas criar embriões que poderiam ser usados para gerar "órgãos de reposição" para seus doadores. Houve forte resistência internacional pelo medo da criação de "seres híbridos" e outras aberrações, mas qual o limite ético para a medicina? O documentário não explora muito as questões que levanta. Tá na Netflix. 

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Nimona (2023)

Nimona (2023). Dir: Nick Bruno e Troy Quane. Netflix. Esta animação teve uma produção bem conturbada. Originalmente, "Nimona" seria produzido pela "Blue Sky Studios", que pertencia à Fox, e seria lançado em 2020. A toda poderosa Disney, porém, comprou a Fox e o projeto foi cancelado em 2021. A produtora "Anapurma" acabou comprando os direitos do filme e, com o estúdio inglês DNEG, finalizou a animação (que seria distribuída pela Netflix). Baseado em uma HQ de ND Stevenson, "Nimona" tem uma primeira metade bastante corrida e "barulhenta" demais para o meu gosto; a partir do meio, porém, o filme "se encontra" e fica bastante bom.

A trama se passa em um reino de fantasia. É um mundo futurista e tecnológico, mas há rainhas e cavaleiros medievais. Um destes cavaleiros, Ballister (voz de Riz Ahmed), é acusado de um crime que não cometeu e jogado na prisão. Ele acaba sendo solto por uma menina chamada Nimona (voz de Chloë Grace Moretz), que é bastante irritante rs e que tem poderes mágicos; ela pode se transformar em diversos animais, do tamanho de um camundongo a uma baleia gigante. A personagem me lembrou um pouco, em design e comportamento, a menina de "Detona Ralph" (2012). A motivação de Nimona, no começo, é só causar confusão e "quebrar coisas". O comportamento dela contrasta com o de Ballister, que ainda acredita na honra de ser um cavaleiro. O filme fica bem melhor quando Nimona, cansada de não ser aceita pelo que ela é, para um pouco de gritar e fica introspectiva. Há um belo flashback que mostra o porquê dela agir dessa forma e o tom da animação se torna mais sério e interessante.

O tema da "aceitação", aliás, está por toda trama. Há um lado LGBT bastante presente na animação; ao contrário das tentativas modestas da Disney/Pixar em introduzir estes temas em seus filmes, fica bastante claro aqui, desde o início, que o cavaleiro Ballister tem como companheiro outro cavaleiro, Ambrósio (voz de Eugene Lee Yang). Há declarações de amor, mãos dadas e, perto do final, até um beijo entre os personagens. Há quem diga que a Disney abandonou o projeto por causa disso (embora seja discutível). Apesar de evidente, a questão LGBT também não é o tema central do filme. Questões de aceitação de tolerância estão presentes em várias animações recentes (eu me lembro de "Valente", da Pixar, entre outras). Como disse, a primeira parte pode ser um pouco irritante e barulhenta demais para um cara como eu (um velho do século XX), mas "Nimona" fica bastante bom mais para o final. Há quase 17 minutos de créditos! Tá na Netflix.