segunda-feira, 31 de julho de 2017

Neve Negra

Neve Negra (Nieve Negra, 2017). Dir: Martin Hodara. Este é daqueles filmes em que os personagens, ao entrar em um quarto escuro, não acendem a luz. É como se a escuridão os protegessem de segredos muito pesados, que deveriam sempre se manter no escuro.

Marcos (Leonardo Sbaraglia) é um homem que volta da Espanha para a Argentina com a esposa grávida, Laura (Laia Costa) por causa da morte do pai. O resto da família (um irmão mais velho e uma irmã mais nova) moram em um povoado nas montanhas argentinas. Além do enterro do pai, Marcos tem que resolver uma questão importante: uma mineradora canadense quer comprar as terras da família (por nove milhões de dólares) mas o irmão mais velho, Salvador (o sempre competente Ricardo Darín) se recusa a vender sua parte. A irmã, Sabrina (Dolores Fonzi) está internada em um sanatório.

Marcos e a esposa vão até a cabana onde mora Salvador, em um lugar eternamente coberto por neve; o diretor Martin Hodara encena a viagem deles até a cabana com uma solenidade que me lembrou o começo de O Iluminado, de Kubrick. Há um bocado de subtramas e segredos por todo o filme, revelados aos poucos. Quem é Juan, um dos irmãos de Marcos, e como é que ele morreu? Por que Sabrina está internada e seus cadernos de desenho estão cheios de imagens sangrentas? Por que Marcos se recusa a empunhar uma arma quando Salvador o convida para caçar? Tudo isso é entrecortado por flashbacks bem costurados na narrativa que, a conta gotas, vão revelando o passado. É um bom filme, um tanto pretensioso, talvez, e por vezes desnecessariamente hermético. Leonardo Sbaraglia está muito bem como o complicado Marcos e Darín, sujo e barbudo, faz o bom trabalho de sempre. Em cartaz nos cinemas.


João Solimeo

Sete Minutos depois da Meia Noite

Sete Minutos Depois da Meia Noite (A Monster Calls, 2016). Dir: J.A. Bayona. Disponível na Netflix. Está classificado como "infantil", mas é um bom drama com toques fantásticos que conta a história de Connor (Lewis MacDougall, ótimo) um garoto que está passando por maus bocados; a mãe (Felicity Jones) está com uma doença terminal, mas os médicos ainda estão tentando alguns tratamentos.

Na escola, Connor é surrado diariamente pelo valentão da sala. O pai, que mora nos Estados Unidos, vem visitar e diz que não há lugar para ele nos EUA. A avó (a grande Sigourney Weaver) é rígida, exigente e quer que Connor se mude para a casa dela. Diante de tantos problemas, Connor se refugia nos desenhos que faz à noite. É então que ele começa a ser visitado por um enorme monstro que sai de uma árvore centenária que Connor vê da janela. O monstro tem a voz de Lian Neeson e começa a contar algumas histórias para Connor, lindamente ilustradas em belas sequências de animação. É verdade que, às vezes, a mensagem do filme fica evidente demais e o filme poderia ter sido mais sutil na fantasia, mas é extremamente bem feito, triste e sério.


João Solimeo

domingo, 30 de julho de 2017

Ruína Azul

Ruína Azul (Blue Ruin, 2013). Dir: Jeremy Saulnier. Ótimo “filme de vingança” feito praticamente na raça por Saulnier, que escreveu, dirigiu e fez a belíssima direção de fotografia. Jeremy Saulnier dirigia filmes comerciais e institucionais de empresas, mas tinha a ambição de dirigir um filme para cinema. Fez uma comédia de terror independente, que não deu em nada, em 2007. Resolveu se tornar câmera e diretor de fotografia de filmes independentes, juntou uma grana com o fundo de pensão próprio e da esposa, ganhou uns trocados em uma campanha no Kickstarter e fez “Blue Ruin” com pouco mais de 400 mil dólares.

O filme é estrelado por Macon Blair, um amigo de infância. Nada disso transparece no filme, que é extremamente bem feito e profissional. “Blue Ruin” acabou indo para o Festival de Cannes onde ganhou um prêmio de crítica. O filme acompanha a vida de Dwight (Macon Blair), que no início vive como morador de rua em uma cidade de praia. Ele dorme em um carro todo enferrujado e vive de restos de comida. Um dia ele fica sabendo que o homem que foi condenado por matar seus pais vai ser solto da prisão, em Virgínia. Dwight empacota suas coisas, põe o carro para funcionar, arruma uma arma e volta à sua terra natal para vingar a morte dos pais.

O que se segue é um suspense sangrento, com toques de humor negro que me lembraram dos irmãos Coen, realista e extremamente bem fotografado. Também me pareceu uma crítica à quantidade de armas que o americano comum tem. Quando tudo for “olho por olho, dente por dente”, restarão apenas cegos e banguelas.



João Solimeo
Câmera Escura