segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Robocop

"Robocop" foi lançado em 1987 com direção do holandês Paul Verhoeven. Era uma ficção-científica passada em um futuro próximo, satírica e extremamente violenta. O sucesso gerou duas continuações (bastante inferiores) e até uma série de desenhos animados. O policial meio homem, meio máquina volta agora repaginado pelas mãos do brasileiro José Padilha, "quente" nos Estados Unidos depois do enorme sucesso de "Tropa de Elite". Levando-se em conta a crueza e violência dos filmes de Padilha, até que não era uma má escolha. O problema é que estamos no século 21 e, para os padrões do cinema atual, não cabe fazer um filme sobre um "herói" como Robocop da mesma forma violenta de Verhoeven. O cyborg retorna em um filme tão clean quanto vazio, o que é uma pena.

Os erros começam pela escalação do elenco. Há vários bons atores jovens por aí, mas Padilha escolheu para o papel principal o inexpressivo sueco Joel Kinnaman. O rapaz tem uma voz grave, o que é apropriado para Robocop, mas em um papel em que toda a interpretação depende das expressões faciais, Kinnaman é muito frio. E o que dizer dos vilões? O Robocop de 1987 trazia os ótimos Ronny Cox e Kurtwood Smith como os bandidos que aterrorizavam a cidade de Detroit. Na versão atual, fica até difícil saber quem são realmente os vilões da história. O grande Michael Keaton está desperdiçado como Raymond Sellars, o chefe da empresa que faz fortuna mundo afora com robôs de combate.  Gary Oldman é o Dr. Norton, o responsável pela criação do Robocop. Oldman é bom ator, mas os roteiristas não sabem o que fazer com o personagem dele. Em um momento ele é uma figura paterna para Alex Murphy, o policial transformado em Robocop. Em outro, porém, mexe no cérebro do rapaz para que ele não possa mais sentir emoções. Depois muda de ideia novamente. Há ainda um vilão chamado Antoine Vallon (Patrick Garrow), que entra mudo e sai calado, sendo praticamente irrelevante para a trama (que diferença de Clarence Boddicker). Samuel L. Jackson interpreta um jornalista de direita que, estranhamente, lembra muito o personagem Fortunato, de "Tropa de Elite 2". (leia mais abaixo)



Sem falar que, ao mudar a origem do personagem do Robocop, o filme de Padilha lhe tirou toda a motivação. Enquanto no filme original Alex Murphy (na época interpretado por Peter Weller) era brutalmente mutilado por Boddicker e sua gangue, na versão atual Murphy vai parar no hospital quando seu carro explode, em um impessoal atentado a bomba. Esta versão de Robocop é tão clean que as balas disparadas pela arma do cyborg são elétricas, ou seja, não matam (a não ser quando ele quer). Tudo parte do esforço em fazer um filme  "inofensivo" para pré-adolescentes (que encontram muito mais violência nos games que jogam em casa).

A sátira social presente no filme de Verhoeven se transformou, nesta versão, em um discurso vazio sobre o uso de drones pelos Estados Unidos mundo afora. José Padilha conseguiu levar seus habituais colaboradores, o fotógrafo Lula Carvalho e o editor Daniel Rezende para trabalhar com ele. Pena que o roteiro (escrito por Joshua Zetumer) seja tão fraco e pouco ousado.

Câmera Escura

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão

"12 Anos de Escravidão" é implacável. São 134 minutos acompanhando o sofrimento de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um músico negro de Nova York, nascido livre, que é sequestrado e vendido como mercadoria no estado escravagista de Louisiana, em 1841. Já foram feitos vários outros filmes sobre a escravidão nos Estados Unidos antes, como "Amistad" (Steven Spielberg, 1997), "Lincoln" (Spielberg, 2012) ou mesmo "Django Livre" (Quentin Tarantino, 2012). O tema da escravidão, naturalmente espinhoso e revoltante, se torna ainda mais forte por causa da história peculiar de Northup. Todo espectador acaba por se identificar com a história de um homem comum, com esposa e filhos, que de um dia para o outro acorda com os braços acorrentados e com a liberdade tomada.

O filme é dirigido pelo britânico Steve McQueen (do pesado "Shame"), com roteiro de John Ridley  (baseado na história real de Northup). McQueen gosta de planos longos e de deixar os atores conduzirem as cenas. Chiwetel Ejiofor está ótimo como Northup, mas a principal interpretação do filme é do alemão Michael Fassbender (que já trabalhou com McQueen antes em "Shame" e em "Hunger"). Fassbender interpreta Edwin Epps, um fazendeiro que acredita que a Bíblia lhe dá o direito de ter escravos. É grande o contraste entre ele e o primeiro "dono" de Northup, o gentil Sr. Ford (Benedict Cumberbatch, "Álbum de Família"). Northup defende Ford dizendo que ele é um senhor de escravos devido às circunstâncias mas, no fundo, o que o difere do sanguinário Sr. Epps? Os dois citam a Bíblia para os "empregados" e os tratam como mercadoria. Ford trata Northup um pouco melhor e até lhe salva a vida quando um dos capatazes (interpretado por Paul Dano, especialista em personagens asquerosos) tenta enforcá-lo. Quando Northup lhe explica que não é um escravo e que foi sequestrado, porém, Ford simplesmente diz que tem dívidas a pagar. "Você é um negro excepcional", diz Ford, "temo que nada de bom resultará disso". (leia mais abaixo)


"12 Anos de Escravidão" mostra como o espírito de um homem (e todo um povo, na verdade) pode ser quebrado. Os escravos estavam em maioria e possuíam armas como machados e outras ferramentas, mas como lutar contra o próprio medo? Northup aprende que, para sobreviver, deve ser o menos "excepcional" possível, tendo até mesmo que esconder que é culto e sabe ler e escrever. No caso das mulheres, a beleza podia ser uma vantagem e uma desvantagem. A escrava Patsey (a estreante Lupita Nyong´o, indicada ao Oscar) atrai os olhares do sanguinário mestre Epps, que tem asco dos próprios desejos. A situação também causa ciúmes à esposa de Epps (Sarah Paulson) e tudo culmina na cena mais forte do filme, um longo plano sequência em que Patsey é chicoteada quase até a morte.

A interminável temporada de prêmios, com suas festas, entrevistas coletivas e badalação acabam por tirar o foco do que realmente importa. Seria fácil dizer que o filme é só um produto de manipulação destinado a ganhar prêmios, e "12 Anos de Escravidão" é o principal candidato ao Oscar deste ano. Baixada a poeira, no entanto, fica um filme poderoso, embora difícil de se assistir.

Atualização: "12 Anos de Escravidão" ganhou os Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado (John Ridley) e Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong´o).

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Nebraska

Alexander Payne tem um carinho especial por personagens deslocados. Pense em Paul Giamatti em "Sideways", Jack Nicholson em "As Confissões de Schmidt" ou mesmo George Clooney em "Os Descendentes". Se a história se passar em um road movie, então, melhor ainda. Apesar do roteiro de "Nebraska" não ter sido escrito por Payne (mas por Bob Nelson), o filme está cheio dos personagens característicos do diretor.

Woody Grant (o veterano Bruce Dern, perfeito) é um septuagenário que acredita ter ficado rico. Ele recebeu pelo correio uma carta que diz que ele ganhou um milhão de dólares de uma revista que fica em Lincoln, Nebraska. Apesar dos avisos da família, que lhe garantem que tudo não passa de uma fraude, Woody quer ir até Nebraska de qualquer forma, nem que tenha que andar mais de mil quilômetros. A esposa Kate (June Squibb), sempre com uma frase venenosa na ponta da língua, lhe diz que se tivesse um milhão de dólares o internaria em um asilo. Até que um dos filhos, David (Will Forte), fica com pena do velho e resolve levá-lo até Nebraska. Ele não acredita que o prêmio seja real, mas quer fazer o pai mudar um pouco de ares e, quem sabe, até se aproximar um pouco dele. (leia mais abaixo)


"Nebraska" é filmado em belo preto-e-branco pelo diretor de fotografia Phedon Papamichael (o mesmo de "Caçadores de Obras-Primas"). A trilha sonora de Mark Orton acompanha a dupla enquanto viaja pelas paisagens do Meio-Oeste americano. A sensível interpretação de Bruce Dern transforma Woody Grant em um personagem de carne e osso. A família e os amigos pensam nele como um alcoólatra fracassado mas, aos poucos, percebe-se que Woody foi sendo passado para trás por causa do caráter manso e não confrontador. Pai e filho, no caminho, param na cidade natal dos Grant e encontram o resto da família e os amigos. Alexander Payne mostra os Estados Unidos como um país habitado por figuras ligeiramente patéticas, levando suas vidas em pequenas cidades e guardando rancores do passado. Ed Pegram (outro ator veterano, Stacy Keach), um ex-sócio de Woody, fica sabendo do "prêmio" e começa a pressionar David para receber uma suposta dívida antiga. O resto da família, por trás dos sorrisos, também começam a imaginar o que vão fazer com o dinheiro.

É um filme pequeno, centrado em pessoas e na relação entre elas. Seis indicações ao Oscar: Filme, Diretor, Ator (Bruce Dern), Atriz Coadjuvante (June Squibb), Roteiro Original e Fotografia.

Câmera Escura

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

Adolf Hitler era um admirador de arte. Pintor rejeitado pela escola de Belas Artes da Áustria, o líder de um dos regimes mais sangrentos da História imaginava um museu em sua homenagem, onde ele guardaria todos os tesouros e obras-primas saqueadas durante a 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que ele nunca bombardeou Paris por causa dos quadros e esculturas que lá havia. Nos Estados Unidos, um grupo de especialistas em arte se juntou e foi à Europa tentar resgatar as obras roubadas pelos nazistas. O grupo ficou conhecido como "The Monuments Men".

Esta história real ganhou versão cinematográfica nas mãos de George Clooney ("Tudo pelo Poder"), que escreveu o roteiro, produziu, dirigiu e atuou em "Caçadores de Obras-Primas", ao lado de um ótimo elenco. O filme é leve (até demais) e bastante descompromissado. Mostra aquela versão da 2ª Guerra Mundial pré "O Resgate do Soldado Ryan", em um mundo aparentemente mais simples em que havia um vilão bem definido, os nazistas, e os americanos eram os salvadores do mundo. Há ecos daqueles clássicos em que astros como Steve McQueen, Charles Bronson, James Garner, entre outros, se reuniam em filmes como "Sete Homens e um Destino" ou "Fugindo do Inferno" (a trilha "assobiada" de Alexandre Desplat lembra um pouco este último); sem falar na série "Onze Homens e um Segredo" estrelada por Clooney e Matt Damon. (leia mais abaixo)


O filme peca pela falta de ambição. Com um elenco contando com figuras engraçadas como Bill Murray ("Moonrise Kingdom") e John Goodman ("Argo"), poderia ter sido uma grande comédia. No entanto, é o tipo de filme em que os bastidores devem ter sido muito mais engraçados do que o que se vê na tela. Há bons momentos, como quando Bill Murray e Bob Balaban encontram um soldado nazista perdido na floresta. Há também duas cenas emocionantes bem conduzidas por Clooney, como o sacrifício de um dos membros do grupo para tentar salvar uma escultura valiosa, ou a cena em que Bill Murray escuta, emocionado, uma mensagem de natal enviada pela família. Há, porém, oportunidades perdidas. Matt Damon ("Elysium") e a grande Cate Blanchett ("Blue Jasmine") ficam em um empasse por grande parte da trama. Ele é o curador do Museu Metropolitan de Nova York e está tentando descobrir o que aconteceu com as obras de um museu de Paris em que Blanchett trabalhava. Ela não confia em ninguém e fica guardando as informações por muito tempo. Até mesmo a sugestão de romance entre os dois não dá em nada.

"Caçadores de Obras-Primas" tem ótima direção de fotografia de Phedon Papamichael, que trabalha muito bem com o contraste entre cenas escuras e as cores vivas dos quadros de mestres como Monet e Rembrandt. Um filme que se assiste com um sorriso nos lábios, mas que não é tão bom quanto poderia ser.

Prêmio BAFTA vai para "12 Anos de Escravidão"

O "BAFTA Award" é o prêmio anual dado pela Academia Britânica de Filme e Televisão.

Com o cinema se transformando cada vez mais em uma arte global (dominada pelos Estados Unidos), o BAFTA se tornou mais um dos prêmios que são considerados na hora de se prever quem vai levar o Oscar.

O filme vencedor deste ano foi "12 Anos de Escravidão", dirigido pelo britânico Steve McQueen". O prêmio de direção, no entanto, não foi para McQueen, mas para o imbatível Alfonso Cuarón, por "Gravidade". Chiwetel Ejiofor venceu como Melhor Ator, mas deve-se levar em conta que Matthew McConaughey (que venceu quase todos os outros prêmios que disputou por sua atuação em "Clube de Compras Dallas") não estava indicado ao BAFTA. Já Cate Blanchett, a maior aposta para o Oscar, levou o prêmio de Melhor Atriz por "Blue Jasmine". A cerimônia de entrega dos prêmios foi realizada hoje, em Londres.

Confira abaixo a lista dos vencedores.

Melhor filme

   >>>12 Anos de Escravidão
    Trapaça
    Capitão Phillips
    Gravidade
    Philomena

Melhor diretor

    12 Anos de Escravidão - Steve McQueen
    Trapaça - David O. Russell
    Capitão Phillips - Paul Greengrass
>>>Gravidade - Alfonso Cuarón
    O Lobo de Wall Street - Martin Scorsese

Melhor ator

    Bruce Dern - Nebraska
>>>Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão
    Christian Bale - Trapaça
    Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
    Tom Hanks - Capitão Phillips

Melhor atriz

    Amy Adams - Trapaça
>>>Cate Blanchett - Blue Jasmine
    Emma Thompson - Walt nos Bastidores de Mary Poppins
    Judi Dench - Philomena
    Sandra Bullock - Gravidade

Melhor ator coadjuvante

>>>Barkhad Abdi - Capitão Phillips
    Bradley Cooper - Trapaça
    Daniel Brühl - Rush - No Limite da Emoção
    Matt Damon - Behind the Candelabra
    Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão

Melhor atriz coadjuvante

>>>Jennifer Lawrence - Trapaça
    Julia Roberts - Álbum de Família
    Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão
    Oprah Winfrey - O Mordomo da Casa Branca
    Sally Hawkins - Blue Jasmine

Melhor filme britânico

>>>Gravidade
    Mandela - Long Walk to Freedom
    Philomena
    Rush - No Limite da Emoção
    Walt nos Bastidores de Mary Poppins
    The Selfish Giant

Melhor filme britânico de estreia de um roteirista, diretor ou produtor

    Good Vibrations - Colin Carberry (roteirista), Glenn Patterson (roteirista)
    Walt nos Bastidores de Mary Poppins - Kelly Marcel (roteirista)
>>>Kelly + Victor - Kieran Evans (diretor/roteirista)
    For Those in Peril - Paul Wright (diretor/roteirista), Polly Strokes (produtora)
    Shell - Scott Graham (diretor/roteirista))

Melhor filme em lingua não-inglesa

    O Ato de Matar (Dinamarca)
    Azul é a Cor Mais Quente (França)
>>>A Grande Beleza (Itália)
    Metro Manila (Filipinas)
    O Sonho de Wadjda (Arábia Saudita)

Melhor longa animado

    Meu Malvado Favorito 2
>>>Frozen - Uma Aventura Congelante
    Universidade Monstros

Melhor documentário

>>>O Ato de Matar
    The Armstrong Lie
    Blackfish
    Tim's Vermeer
    We Steal Secrets: The Story of Wikileaks

Melhor roteiro original

>>>Trapaça
    Blue Jasmine
    Gravidade
    Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
    Nebraska

Melhor roteiro adaptado

    12 Anos de Escravidão
    Behind the Candelabra
    Capitão Phillips
>>>Philomena
    O Lobo de Wall Street

Melhor trilha sonora original

    Hans Zimmer - 12 Anos de Escravidão
    John Williams - A Menina que Roubava Livros
    Henry Jackman - Capitão Phillips
>>> Steven Price - Gravidade
    Thomas Newman - Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Melhor fotografia

    Sean Bobbit - 12 Anos de Escravidão
    Barry Ackroyd - Capitão Phillips
>>>Emmanuel Lubezki - Gravidade
    Bruno Delbonnel - Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
    Phedon Papamichael - Nebraska

Melhor edição

    Joe Walker - 12 Anos de Escravidão
    Christoper Rouse - Capitão Phillips
    Alfonso Cuarón e Mark Sanger - Gravidade
>>>Dan Hanley e Mike Hill - Rush - No Limite da Emoção
    Thelma Schoonmaker - O Lobo de Wall Street

Melhor design de produção

    Adam Stockhausen e Alice Baker - 12 Anos de Escravidão
    Judy Becker e Heather Loeffler - Trapaça
    Howard Cummings - Behind the Candelabra
    Andy Nicholson, Rosie Goodwin e Joanne Woodlard - Gravidade
>>>Catherine Martin e Beverley Dunn - O Grande Gatsby

Melhor figurino

    Michael Wilkinson - Trapaça
    Ellen Mirojnick - Behind the Candelabra
>>>Catherine Martin - O Grande Gatsby
    Michael O'Connor - The Invisible Woman
    Daniel Orlandi - Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Melhor som

    Richard Hymns, Steve Boeddeker, Brandon Proctor, Micah Bloomberg e Gillian Arthur - All is Lost
    Chris Burdon, Mark Taylor, Mike Prestwood Smith, Chris Munro e Oliver Tarney - Capitão Phillips
>>>Glenn Freemantle, Skip Lievsay, Christopher Benstead, Niv Adiri, Chris Munro - Gravidade
    Peter F. Kurland, Skip Lievsay e Greg Orloff - Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
    Danny Hambrook, Martin Steyer, Stefan Korte, Markus Stemler e Frank Kruse - Rush - No Limite da Emoção

Melhores efeitos visuais

>>>Tim Webber, Chris Lawrence, David Shirk, Neil Corbould e Nikki Penny - Gravidade
    Joe Letteri, Eric Saindon, David Clayton e Eric Reynolds - O Hobbit - A Desolação de Smaug
    Bryan Grill, Christopher Townsend, Guy Williams e Dan Sudick - Homem de Ferro 3
    Ben Grossmann, Burt Dalton, Patrick Tubach e Roger Guyett - Além da Escuridão - Star Trek

Melhor maquiagem

>>>Evelyne Noraz e Lori McCoy-Bell - Trapaça
    Kate Biscoe e Marie Larkin - Behind the Candelabra
    Debra Denson, Beverly Jo Pryor e Candace Neal - O Mordomo da Casa Branca
    Maurizio Silvi e Kerry Warn - O Grande Gatsby
    Peter Swords King, Richard Taylor e Rick Findlater - O Hobbit - A Desolação de Smaug

Melhor curta animado britânico

    Everything I Can See From Here - Bjorn-Erik Aschim, Friederike Nicolaus e Sam Taylor
    I Am Tom Moody - Ainslie Henderson
>>>Sleeping with the Fishes - James Walker, Sarah Woolner e Yousif Al-Khalifa

Melhor curta britânico

    Island Queen - Ben Mallaby e Nat Luurtsema
    Keeping Up with the Joneses - Megan Rubens, Michael Pearce e Selina Lim
    Orbit Ever After - Chee-Lan Chan, Jamie Stone e Len Rowles
>>>Room 8 - James W. Griffiths e Sophie Venner

    Sea View - Anna Duffield e Jane Linfoot

Melhor atriz/ator em ascensão

    Dane DeHaan
    George MacKay
    Lupita Nyong'o
>>>Will Poulter
    Léa Seydoux


sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Menina que Roubava Livros

Antes de começar, o aviso obrigatório: esta crítica se baseia exclusivamente no filme "A Menina que Roubava Livros", e não no bestseller escrito por Markus Zusak. Não li o livro do Zusak, o que é uma vantagem e uma desvantagem. Por um lado, problemas de roteiro provavelmente seriam menos percebidos se tivesse a bagagem do livro. Por outro, o filme foi visto sem qualquer expectativa quanto a ser fiel ao original ou não.

Isto posto, "A Menina que Roubava Livros", como filme, é apenas razoável. Como pontos positivos, em primeiro lugar está o elenco, seguido por uma boa qualidade técnica, com destaque para a direção de fotografia de Florian Balhaus. O grande mestre John Williams recebeu sua 49ª indicação ao Oscar pela trilha sonora, que infelizmente é bem banal.

Em 1938, na Alemanha nazista, a jovem garota Liesel (Sophie Nélisse), filha de uma mulher comunista, é adotada por um casal alemão, Hans e Rosa Hubermann (Geoffrey Rush, de "O Discurso do Rei", e Emily Watson, de "Cavalo de Guerra"). O irmãozinho de Liesel morrera no caminho para a Alemanha, no trem. O motivo pelo qual ela é adotada pelos Hubermann é um dos vários detalhes que, provavelmente, é melhor explicado no livro. No filme, há uma breve menção a uma "ajuda de custo" que a família receberia pela adoção, mas não fica claro. Liesel, a princípio, não se dá muito bem com a mãe adotiva, Rosa, mas é bem recebida pelo carinhoso Hans, o sempre competente Geoffrey Rush. Liesel também é "adotada" por um garoto vizinho chamado Rudy (Nico Liersch), que gosta dela e passa a segui-la por todos os lados. A garota é analfabeta, mas aprende rapidamente (de forma não muito realista) com o pai adotivo. O primeiro livro que ela lê é um manual funerário que ela roubou do homem que enterrou o irmãozinho dela. Ela se apaixona pela leitura e (após uma hora e dez minutos de filme) começa a roubar alguns livros da biblioteca do prefeito da cidade. Ela rouba os livros para ler para Max (Ben Schnetzer), um rapaz judeu que os Hubermann estão escondendo dos nazistas no porão da casa. (leia mais abaixo)


Apesar de aspectos técnicos como figurino e fotografia serem bem feitos, a rua em que moram os Hubermann é claramente um cenário. Os anos vão se passando, a II Guerra Mundial avança mas, na rua "Paraíso", nada muda muito. A ameaça representada pelos nazistas é mais mencionada do que realmente sentida. Algumas boas cenas se perdem em meio a outras conduzidas sem brilho pelo diretor Brian Percival (da série Downtown Abbey). O pior detalhe do filme, porém, é uma narração monótona feita pela "Morte", que recita as frases com a animação de um GPS. Para complicar, a voz da Morte, feita por Roger Allam, lembra muito a voz de Geoffrey Rush, o que confunde ainda mais o espectador.

Assim, "A Menina que Roubava Livros" resulta em um filme que nunca empolga de verdade e, talvez, só interesse aos fãs do livro original.

Ela

Theodore Twombly (Joaquin Phoenix, de "O Mestre") é ótimo em expressar os sentimentos...dos outros. Ele é o empregado número 612 de uma empresa que, por um preço, escreve  belas cartas de amor. Theodore é um dos melhores escritores da firma. Estamos em um futuro próximo, indeterminado, em uma Los Angeles imaginária (filmada em Shanghai, China) em que tudo é visto em tons pastéis e agradáveis. As pessoas andam pelas ruas aparentemente falando sozinhas, checando e-mails ou navegando pela internet a partir de um fone de ouvido e um aparelho que se parece com um smartphone. "Toque uma música melancólica", pede Theodore ao seu fone de ouvido, no elevador da empresa.

Um dia, Theodore vê o anúncio de um novo sistema operacional que, ao contrário das vozes impessoais no seu ouvido, promete ser consciente e inteligente. O manual parece uma bula de um antidepressivo leve, prometendo sanar todos os seus problemas. Ele instala o sistema e assim nasce "Samantha" (voz de Scarlett Johansson, de "Os Vingadores"), uma voz feminina bonita, divertida e engraçada, que ri das piadas de Theodore, organiza seus e-mails e, aos poucos, vai lhe fazendo companhia. Recém separado de um amor da infância, Catherine (Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres"), por quem ainda está apaixonado, Theodore se agarra à Samantha como a uma tábua de salvação. Não demora muito e "eles" estão apaixonados.

"Ela" é escrito e dirigido por Spike Jonze, que trabalhava no filme desde 2009, quando lançou "Onde Vivem os Monstros". O futuro imaginado por Jonze não está muito distante do presente, em que já se vêem pessoas "falando sozinhas" pelas ruas. Em uma sociedade aparentemente rica e sem problemas materiais, a solidão impera e homens e mulheres como Theodore navegam como fantasmas por um grande mundo virtual. Joaquim Phoenix compõe um personagem que é um retrato sensível do homem do século XXI, bem sucedido e "feliz" por fora, mas deprimido e solitário por dentro. As cenas de Theodore andando pelos corredores vazios do seu prédio, ou à janela olhando a cidade, lembram "Encontros e Desencontros" (2003), filme da ex-mulher de Spike Jonze, Sofia Coppola, também estrelado por Scarlett Johansson. Os dois têm o mesmo clima melancólico, quase depressivo, que caracteriza o novo milênio. (leia mais abaixo)


Curioso também que alguns personagens tenham o mesmo nome dos atores que os interpretam, como Amy Adams (bastante diferente do seu trabalho em "Trapaça") ou mesmo Samantha que, durante as filmagens, foi interpretada por Samantha Morton. Scarlett Johansson foi chamada para substituir Morton durante a edição do filme (que, segundo artigos, teve grande ajuda do diretor Steven Soderbergh). Fico curioso em ouvir a interpretação de Morton, mas Johansson faz um ótimo trabalho usando apenas a voz.

(ATENÇÃO: SPOILERS) O roteiro de Spike Jonze não segue o esperado, principalmente com relação a Samantha. O contato constante com Theodore faz com que ela comece a adquirir características cada vez mais humanas; o que começa como um amor inocente se torna cada vez mais complicado, principalmente quando Samantha começa a também "querer" coisas. Assim, o filme não é apenas a história de um homem solitário que se apaixona por um ser inanimado. Samantha não só se torna "humana" como, por causa da inteligência artificial, evolui rapidamente para algo que, no final, fica difícil definir o que é. Este arco da personagem, apesar de interessante, meio que contradiz a suposta mensagem humanizadora do filme. Há duas ótimas cenas em que Theodore se encontra com mulheres reais; a primeira em um encontro (que termina mal) com Olivia Wilde e uma ótima cena em que ele se encontra com a ex-esposa, Catherine. Rooney Mara está excelente no pouco tempo de filme e, ao saber que o ex-marido está "namorando" um sistema de computador, ela lhe diz umas verdades que, talvez, acabem se perdendo no desenrolar da trama.

É um filme que, desconfio, vá gerar tanto amor quanto ódio. Tem ideias muito interessantes espalhadas pela trama, mas muitos vão considerá-lo "bonitinho" demais. "Ela" está indicado a cinco Oscars, Melhor Filme, Roteiro, Trilha Sonora, Canção e Design de Produção. A ótima fotografia de Hoyte Van Hoytema, infelizmente, foi esquecida.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Eduardo Coutinho, incansável documentarista, morto aos 81

Ao invés de falar sobre a triste e trágica notícia da morte de um dos maiores documentaristas de todos os tempos, prefiro indicar um texto que escrevi em 2008 quando assisti a um debate com Eduardo Coutinho na cidade de Paulínia, interior de São Paulo.


Você pode também ler meus textos sobre os filmes "Moscou" e "Edifício Master".

Philip Seymour-Hoffman (1967-2014)

O grande ator Philip Seymour-Hoffman (46 anos) foi encontrado morto esta manhã em Nova York vítima de uma suposta overdose de heroína.

O ator venceu o Oscar por sua interpretação do jornalista e escritor Truman Capote em filme de 2005, mas era presença marcante em toda produção de que participava.

Entre suas dezenas de filmes, trabalhou com Sidney Lumet em 2008 em "Antes que o diabo saiba que você está morto"; com George Clooney fez "Tudo pelo Poder" (2011); emprestou a voz grave à animação "Mary e Max - Uma Amizade Diferente" (2010); uma de suas últimas e mais marcantes interpretações foi em "O Mestre" (2012), de Paul Thomas Anderson, em que interpretava um personagem baseado em L. Ron Hubbard, o fundador da Cientologia. Ele era figura frequente nos filmes de Anderson, tendo trabalhado em "Jogada de Risco" (1996), "Boogie Nights" (1997), "Magnólia" (1999) e "Embriagado de Amor" (2002)

Seymour-Hoffman encontrou tempo até para participar de "Jogos Vorazes: Em Chamas", e estava agendado para filmar as continuações da saga adolescente.

Grande perda para o cinema.



Trapaça

"O mundo não é preto e branco como você imagina", diz o trapaceiro Irving Rosenfeld (Christian Bale) ao agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper). "Ele é bem cinza".

"Trapaça", dirigido por David O. Russell, não é apenas cinza, mas azul, vermelho, verde, pink e todas as cores pulsantes do final dos anos 1970. É também, possivelmente, o melhor filme de Russell (muito melhor do que "O Lado Bom da Vida", de 2012). É verdade que, assim como Christian Bale (ótimo, gordo, careca) parece estar interpretando uma versão caricata de Robert DeNiro (nos bons tempos), Russell incorporou todo o arsenal do mestre Martin Scorsese ao dirigir este filme. "Trapaça" é filmado e montado com as assinaturas típicas de Scorsese como a câmera em constante movimento, a narração em off (estilo "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "O Lobo de Wall Street") e trilha sonora composta por canções pop da época.

O roteiro (de Russell e Eric Warren Singer) é baseado em uma operação do FBI que, nos anos 1970, levou vários políticos à cadeia, acusados de suborno e fraude. A adaptação é tão livre, porém, que o filme começa com um letreiro que, ao invés de escrever "Baseado em Fatos Reais", diz "Algumas coisas a seguir aconteceram de verdade". Christian Bale e Amy Adams repetem a parceria que tiveram com Russell no bom "O Vencedor" (2011), em que Bale interpretava um esquelético viciado em crack. Em "Trapaça", Bale está muitos quilos mais gordo, careca e muito engraçado como Irving Rosenfeld, um trapaceiro que começou a vida de crimes quebrando vitrines de vidro, quando criança, para ajudar os negócios do pai, que tinha uma vidraçaria. (leia mais abaixo)


Quando Rosenfeld bate os olhos em Sydney Prosser (Amy Adams, em bom ano), é amor à primeira vista. Os dois armam esquemas para tirar dinheiro de pessoas desesperadas, mas um dia são pegos em flagrante por Richie DiMaso (Bradley Cooper), um ambicioso agente do FBI. DiMaso oferece um acordo; se Rosenfeld e Sydney o ajudarem a prender outras pessoas, eles estão livres. Eles então armam um esquema complicado para tentar pegar o prefeito de Camdem (New Jersey), Carmine Polito (Jeremy Renner, de "Guerra ao Terror"), que quer reativar os decadentes cassinos de Atlantic City.

O problema é que, por causa da ambição de agente DiMaso e das trapalhadas da esposa de Rosenfeld, Rosalyn (Jennifer Lawrence, bem melhor aqui do que na série "Jogos Vorazes"), o plano vai se tornando cada vez mais complicado e perigoso, envolvendo políticos poderosos e até mesmo a Máfia. Nada é preto e branco, como disse Rosenfeld, e as motivações dos personagens mudam constantemente. Há até espaço para que um trapaceiro como Rosenfeld se sinta culpado com o que está fazendo com o prefeito Carmine, de quem se tornara grande amigo. E há uma confusão de sentimentos no "quadrado amoroso" composto por Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence que torna os personagens, apesar de caricatos, bastante humanos.

Apesar de um pouco longo (138 minutos) "Trapaça" é vibrante, engraçado e inteligente. Indicado a dez Oscars.