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domingo, 22 de outubro de 2023

Que horas eu te pego? (No hard feelings, 2023)

 
Que horas eu te pego? (No hard feelings, 2023). Dir: Gene Stupnitsky. HBO Max. O marketing deste filme prometia um retorno às comédias escrachadas dos anos 80/90, com censura 18 anos, sexo, nudez e outros ingredientes que fizeram o sucesso de filmes como "American Pie". "Que horas eu te pego?", no entanto, é curiosamente tradicional, com vários dos clichês de comédias românticas; a única cena de nudez, curiosamente, não tem nada a ver com sexo (ou sensualidade) e parece estar lá só para justificar o "Rated R" da censura americana.

Jennifer Lawrence é uma motorista de Uber chamada Maddie que perde o carro por falta de pagamento de impostos. Ela precisa pagar a dívida ou vai perder a casa em que morou a vida toda. Em uma daquelas coincidências que só acontecem em filmes, ela vê um anúncio na internet que promete um carro à mulher que tirar a virgindade do filho de um casal de ricaços. O rapaz é Percy (Andrew Barth Feldman), um adolescente de 19 anos que não sai de casa, não sabe dirigir, nunca esteve com ninguém e está para entrar em Princeton. Os pais querem que ele "saia do casulo" antes de enfrentar o mundo lá fora.

A trama se parece bastante com "Armações do Amor" (2006), em que os pais de Matthew McConaughey contratam Sarah Jessica Parker para tirar o filho de casa. Jeniffer Lawrence está bem como Maddie; ela é despojada e boca suja, mas o roteiro é difícil de engolir, além de contraditório. O rapaz é descrito como solitário e tímido, mas há uma cena em que ele está jantando com Maddie e uma garota bonita não só o reconhece como o abraça em público, o convida para uma festa e ainda diz que "mal pode esperar para estudar com ele em Princeton". Oi? A suposta ousadia dá lugar à uma segunda parte quase piegas e formulaica. Lawrence é uma das produtoras do filme e é válido que tenha tentado fazer uma personagem diferente, mas poderia ter rendido muito mais. Disponível na HBO Max.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Não olhe para cima (Don´t look up, 2021)

Não olhe para cima (Don´t look up, 2021). Dir: Adam McKay. Netflix. Lançado na véspera do Natal, este filme ficou na minha lista de "a assistir" por alguns dias, devido a compromissos familiares, festas, etc. Só que era impossível abrir qualquer rede social sem ver algum comentário sobre "Não olhe para cima"; memes, spoilers, críticas positivas, negativas, gente me perguntando o que eu achei. Ufa, assisti. Tanto se falou do filme que, acho, não tenho muito a acrescentar. É melhor do que eu esperava (eu tenho medo quando a Netflix junta um monte de atores famosos e faz uma porcaria qualquer para movimentar o algoritmo).

O diretor/roteirista Adam McKay já havia feito uma grande sátira com "A Grande Aposta", também cheio de atores famosos e muito veneno, sobre a crise gerada pela bolha imobiliária. "Não olhe para cima" começou como uma sátira ao aquecimento global. Só que nosso "amigo" Covid apareceu em plena produção e o filme tomou outro rumo. O cometa descoberto por dois cientistas desconhecidos (Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) acabou se tornando um símbolo para muito do que vimos nos últimos anos, como o negacionismo, os movimentos anti vacina e contra as máscaras, etc. É como se o vírus estivesse ali, brilhando no céu e vindo em nossa direção, mas muita gente fica dizendo que não devemos olhar para cima.

"Não olhe para cima", aliás, tem outro significado. Quando você olha para cima, você tira os olhos do celular. Um dos personagens do filme, interpretado com muita ironia por Mark Rylance, é um magnata das comunicações que é uma mistura de Jeff Bezos, Elon Musk, Steve Jobs, entre outros. Enquanto DiCaprio e Lawrence tentam convencer a todos de que o mundo vai acabar se nada for feito, Rylance vê no cometa uma oportunidade de "monetizar". A mídia, cheia dos sorrisos de Tyler Perry e Cate Blanchett, está mais preocupada com a "separação" de uma estrela teen (interpretada por Ariana Grande) do que em realmente escutar os cientistas. DiCaprio é classificado como um AILF (procure no google) enquanto que a personagem de Lawrence se torna um meme "engraçado".

Em meio a tudo isso, me surpreendi emocionado com os momentos finais. A Natureza é bela, mas pode ser letal. Há uma cena de jantar em família que vale o filme. E a Netflix segue surpreendendo... fazendo porcarias como "Alerta Vermelho" e "Imperdoável" mas lançando bons filmes como "Ataque de Cães", "A Mão de Deus" e "Não olhe para cima". Faz parte do jogo.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Trapaça

"O mundo não é preto e branco como você imagina", diz o trapaceiro Irving Rosenfeld (Christian Bale) ao agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper). "Ele é bem cinza".

"Trapaça", dirigido por David O. Russell, não é apenas cinza, mas azul, vermelho, verde, pink e todas as cores pulsantes do final dos anos 1970. É também, possivelmente, o melhor filme de Russell (muito melhor do que "O Lado Bom da Vida", de 2012). É verdade que, assim como Christian Bale (ótimo, gordo, careca) parece estar interpretando uma versão caricata de Robert DeNiro (nos bons tempos), Russell incorporou todo o arsenal do mestre Martin Scorsese ao dirigir este filme. "Trapaça" é filmado e montado com as assinaturas típicas de Scorsese como a câmera em constante movimento, a narração em off (estilo "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "O Lobo de Wall Street") e trilha sonora composta por canções pop da época.

O roteiro (de Russell e Eric Warren Singer) é baseado em uma operação do FBI que, nos anos 1970, levou vários políticos à cadeia, acusados de suborno e fraude. A adaptação é tão livre, porém, que o filme começa com um letreiro que, ao invés de escrever "Baseado em Fatos Reais", diz "Algumas coisas a seguir aconteceram de verdade". Christian Bale e Amy Adams repetem a parceria que tiveram com Russell no bom "O Vencedor" (2011), em que Bale interpretava um esquelético viciado em crack. Em "Trapaça", Bale está muitos quilos mais gordo, careca e muito engraçado como Irving Rosenfeld, um trapaceiro que começou a vida de crimes quebrando vitrines de vidro, quando criança, para ajudar os negócios do pai, que tinha uma vidraçaria. (leia mais abaixo)


Quando Rosenfeld bate os olhos em Sydney Prosser (Amy Adams, em bom ano), é amor à primeira vista. Os dois armam esquemas para tirar dinheiro de pessoas desesperadas, mas um dia são pegos em flagrante por Richie DiMaso (Bradley Cooper), um ambicioso agente do FBI. DiMaso oferece um acordo; se Rosenfeld e Sydney o ajudarem a prender outras pessoas, eles estão livres. Eles então armam um esquema complicado para tentar pegar o prefeito de Camdem (New Jersey), Carmine Polito (Jeremy Renner, de "Guerra ao Terror"), que quer reativar os decadentes cassinos de Atlantic City.

O problema é que, por causa da ambição de agente DiMaso e das trapalhadas da esposa de Rosenfeld, Rosalyn (Jennifer Lawrence, bem melhor aqui do que na série "Jogos Vorazes"), o plano vai se tornando cada vez mais complicado e perigoso, envolvendo políticos poderosos e até mesmo a Máfia. Nada é preto e branco, como disse Rosenfeld, e as motivações dos personagens mudam constantemente. Há até espaço para que um trapaceiro como Rosenfeld se sinta culpado com o que está fazendo com o prefeito Carmine, de quem se tornara grande amigo. E há uma confusão de sentimentos no "quadrado amoroso" composto por Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence que torna os personagens, apesar de caricatos, bastante humanos.

Apesar de um pouco longo (138 minutos) "Trapaça" é vibrante, engraçado e inteligente. Indicado a dez Oscars.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Jogos Vorazes: Em Chamas

A continuação do filme de 2012, "Jogos Vorazes", chega com todas as características de um "filme do meio" de uma trilogia (a terceira parte, na verdade, será dividida em dois filmes). É mais sério, mais pesado e termina sem uma resolução. Baseado na série de livros adolescentes escritos por Suzanne Collins, "Em Chamas" é, também, um daqueles filmes à prova de crítica. Ele foi criado para um público cativo (jovens garotas, em sua maioria) que vão ao cinema sabendo exatamente o que os espera, e acompanham cada cena com gritinhos de prazer; na fileira de trás, uma garota recitava todas as frases dos personagens.

Dirigido por Francis Lawrence ("Eu sou a Lenda", "Constantine"), "Jogos Vorazes: Em Chamas" traz um elenco composto por grandes atores, como Philip Seymour Hoffman (que faz Plutarco, o novo organizador dos Jogos), Stanley Tucci (se divertindo ao interpretar um alucinado apresentador de TV), Woody Harrelson (Haymitch) e Donald Sutherland (Presidente Snow), mas as adolescentes foram ao cinema suspirar pelo "irmão do Thor", Lian Hemsworth, que interpreta Gale, um dos vértices do triângulo amoroso completado por Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen) e Josh Hutcherson (Peeta Mellark). Após vencerem os 74º Jogos Vorazes (uma mistura de Coliseu romano com reality show), Katniss e Peeta precisam continuar a farsa de que eles se amam, enquanto visitam os distritos que fazem parte de Panen. Só que a vitória, ao invés de acalmar os distritos, como originalmente planejado, está sendo vista como um sinal de esperança pelo povo que sofre sob o jugo da Capital. O Presidente Snow planeja matá-los convocando-os para uma nova edição dos Jogos, que agora terão como competidores os vencedores anteriores do evento.


Grande parte do filme é uma repetição do capítulo anterior. Há a apresentação dos competidores em um desfile de bigas romanas (Katniss e Peeta entram novamente com as roupas em chamas), há sequências que mostram os competidores treinando para os Jogos, há entrevistas na TV apresentadas por Stanley Tucci (e, novamente, Peeta faz uma "revelação" bombástica), há diálogos quase idênticos entre Lawrence e Lenny Kravitz (que interpreta Cinna, o estilista de Katniss) e cenas de ciúmes entre o triângulo amoroso. De novidade há o novo design do "cenário" em que se passam os Jogos e os novos competidores. O público, claro, adorou o filme. Em uma cena climática, perto do final, uma garota no cinema gritou "Chupa, Snow!", e toda sala aplaudiu. Ano que vem tem mais.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O lado bom da vida

Há uma generosa dose de clichês em "O lado bom da vida". É daqueles filmes feitos para casais modernos, cheios de problemas (como todos os casais), em que as dificuldades serão superadas e tudo vai terminar no beijo final. Acrescenta-se uma dose de remédio tarja preta (também "na moda"), menções (mas não imagens) de sexo, cenas chorosas entre pais e filhos e, claro, uma competição a ser vencida. Ou melhor: duas. É de se admirar que o filme tenha sido feito pelo mesmo diretor de "Três Reis" (1999) e "O Vencedor" (2010), David O. Russell.

O roteiro (de Russell, baseado no livro de Matthew Quick) conta a história de Pat (Bradley Cooper), um cara que foi condenado a passar 8 meses em uma instituição psiquiátrica após ter surrado o amante da esposa. Ele sofre da versão hollywoodiana de "transtorno bipolar" e acredita piamente que a ex-esposa, Nikki (Brea Bee) vai voltar para ele. Ao sair da instituição ele vai morar com os pais, interpretados por Robert DeNiro e Jacki Weaver. DeNiro está um pouco melhor do que nos papéis fracos que tem feito ultimamente, embora ainda seja apenas uma sombra do talento do passado. Ele também tem problemas como transtorno obsessivo compulsivo e vício em apostas. Pat não perde tempo e, apesar de uma ordem judicial que o obriga a ficar longe da ex-esposa, tenta o tempo todo retomar o contato. Seria trágico se, neste filme, não fosse cômico. O roteiro arruma um par para Pat na figura também conturbada de Tiffany (Jennifer Lawrence, de "Inverno da Alma" e "Jogos Vorazes", mais adulta e bonita). O marido policial morreu recentemente e ela compensou a solidão transando com todos os homens (e mulheres) que encontrou pela frente, e tenta fazer sexo com Pat assim que o conhece. Ele, convicto, aponta para a aliança no dedo e diz que é casado. "Eu também sou", diz ela.

O roteiro de Russell perde oportunidades mas não perde a piada, e várias situações que poderiam render melhor dramaticamente são desperdiçadas. Não fica muito claro porque Tiffany deseja passar tanto tempo com Pat, a não ser pelo fato dele ser Bradley Cooper. O caso é que surge uma competição de dança que Tiffany quer participar e ela usa de chantagem emocional para transformar Pat, que nunca dançou na vida, em seu parceiro no torneio. Segue-se então aquelas montagens musicais em que vemos os dois ensaiando passos de dança no estúdio de Tiffany e, claro, os dois começam a se apaixonar. Só que ao invés de partir logo para um final "bonitinho" de comédia romântica, o filme estica mais meia hora misturando a trama do torneio de dança com uma aposta absurda feita pelo pai de Pat, que pode levar todos à ruína financeira. O lado sério do problema de jogo do personagem de DeNiro é esquecido em favor da piada fácil, e uma cena que deveria ser emocionante, em que DeNiro chora ao pedir para que o filho assista a um jogo com ele, perde o significado. Assim, "O lado bom da vida" é filme fácil para se assistir a dois em um sábado à noite, no DVD e comendo uma pizza. Apesar disso, ele foi indicado a oito Oscars: filme, direção, ator (Bradley Cooper), atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (DeNiro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver), edição e roteiro adaptado.


sábado, 24 de março de 2012

Jogos Vorazes

O fictício país de Panem, na América do Norte, é formado pela capital e por 12 distritos. Por conta de uma rebelião causada pelo antigo 13º Distrito, todos os anos acontecem os "Jogos Vorazes", espécie de "reality show" em que os participantes, um casal de cada distrito, devem competir até a morte. Esta é a premissa da mais recente sensação literária adolescente criada pela escritora Suzanne Collins. Seguindo a linha de adaptações cinematográficas como "Harry Potter", "Percy Jackson" e mesmo a série "Crepúsculo", "Jogos Vorazes" tem uma legião de seguidores fanáticos que fazem verdadeira peregrinação ao cinema. Isso significa assistir a uma sessão de cinema escutando gritos de excitação cada vez que um personagem aparece na tela ou alguma frase conhecida é dita. Fica difícil, assim, julgar a obra do ponto de vista puramente cinematográfico.

Não há nada de novo em "Jogos Vorazes". A trama é baseada em um sem número de livros e filmes de ficção científica que pintam um futuro distópico em que uma classe dominante oprime a população pobre. "Jogos" tem traços do "1984" de George Orwell, de "A máquina do tempo", de H.G. Wells, de séries de TV como "Logan´s Run" e de filmes como "O Show de Truman", de Peter Weir. E, claro, o roteiro é baseado nas dezenas de "reality shows" que surgiram nos últimos anos. Há também inspiração do Império Romano e dos duelos travados pelos gladiadores no Coliseu. Os habitantes da capital de Panem têm nomes romanos como César ou Seneca. Esta familiaridade com material reciclado, no entanto, não significa que o filme seja ruim. Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar pelo sombrio "Inverno da Alma", está bem como Katniss Everdeen, jovem de 16 anos que, quando a irmã mais nova é sorteada para os "Jogos Vorazes", pede para trocar de lugar com ela; ao lado dela está Peeta Mellark (Josh Hutcherson, de "Minhas Mães e meu Pai"), o tributo masculino. A direção de Gary Ross (do superior "Pleasantville - A Vida em Preto e Branco", 1998) não é muito afinada; ele se perde em algumas cenas de ação em que a câmera balança tanto que fica difícil saber o que está acontecendo.

Há uma analogia óbvia com o mundo midiático moderno. Stanley Tucci interpreta um apresentador de televisão que é uma mistura de Pedro Bial com Sílvio Santos, que tenta atrair a atenção dos espectadores para detalhes da vida pessoal dos competidores. É ele, por exemplo, que arranca do companheiro de Katniss, Peeta, que ele tem uma paixão secreta por ela ("revelação" que, novamente, causou gritos adolescentes na sala de cinema). Woody Harrelson interpreta um homem bêbado e decadente que já foi o vencedor dos jogos há muitos anos e, agora, é o conselheiro dos competidores do Distrito 12. Harrelson está muito bem no papel, mas o roteiro é superficial com a psicologia dos personagens. Vencer um dos "Jogos Vorazes" significa ter matado os outros 23 participantes; o que isso causou em um homem como Harrelson? Quando os jogos finalmente começam, o filme não foge da natureza sangrenta do espetáculo e mostra cenas bastante violentas para um filme infanto-juvenil. Pena que o suspense e a ação vão se esvaziando conforme o filme avança, que termina em um anti-clímax. E onde está a audiência? Por que o filme não os mostra, uma vez começados os jogos? Fala-se sobre "patrocinadores" e, em duas cenas, os competidores são ajudados por remédios que eles mandam. Mas a platéia pode eliminar um concorrente, caso não simpatize com ele? E será que esta sociedade rica e elitista se importaria em seguir um programa protagonizado por figuras da classe baixa?

São perguntas que, provavelmente, não cabem fazer sobre um filme adolescente de entretenimento, mas fica a sensação de que poderia ter sido melhor. Visto como cortesia no Kinoplex Campinas.

Box Trilogia Jogos Vorazes

Câmera Escura

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Inverno da Alma

Este é um lado dos Estados Unidos que raramente é visto no circuito comercial. "Inverno da Alma" venceu o Festival de Sundance, tradicional reduto de filmes independentes, e teve fôlego para chegar a quatro indicações ao Oscar (melhor roteiro adaptado, atriz, ator coadjuvante e melhor filme). Escrito e dirigido por Debra Granik e rodado no estado do Missouri, "Inverno da Alma" é um retrato de uma região onde, aparentemente, o "sonho americano" nunca chegou.

A jovem Ree Dolly (Jennifer Lawrence), de 17 anos, carrega a responsabilidade de cuidar de dois irmãos mais novos e da mãe com problemas psicológicos. O pai era um fabricante de "crack" que foi solto sob fiança, mas seu paradeiro é desconhecido. O xerife visita a casa de Ree e lhe avisa que o pai havia colocado o imóvel como garantia da fiança; se ele não se apresentar para sua audiência, Ree, a mãe e as crianças vão perder a propriedade. "Eu vou achar meu pai", diz a garota. Jennifer Lawrence faz um trabalho sério e convincente e a indicação ao Oscar foi merecida. A garota começa então a procurar pelo pai foragido mas, aos poucos, percebemos que ninguém está disposto a ajudá-la. Teria o pai fugido? Estaria escondido na casa de algum parceiro? Ou, o que se torna cada vez mais provável, estaria morto? Quem se incomodaria com um traficante a mais naquela região pobre e miserável?

A maioria dos personagens têm dificuldades financeiras ou com a lei. Suas casas não passam de cabanas ou trailers caindo aos pedaços. A família de Ree depende da ajuda de uma vizinha para não passar fome, ou então tem que comer esquilos que caçam na floresta. Granik faz um filme bastante feminino, mas não no sentido "frágil" ou "delicado", pelo contrário. As marcas da vida estão nos rostos de todas as mulheres de "Inverno da Alma". Os poucos homens mostrados na tela também parecem sobreviventes. O tio de Ree, chamado de Teardrop ("Lágrima"), é um sujeito assustador interpretado por John Hawkes, que me lembrou um jovem Dennis Hopper.

Há uma passagem que mostra como o exército americano consegue membros vindos da camada pobre da população. Ree tenta se alistar por causa dos 40 mil dólares prometidos aos novos recrutas, e só não consegue por ainda não ter os 18 anos exigidos. Mas não é difícil imaginar um exército de miseráveis indo perder suas vidas no Iraque em troca de 40 mil dólares. "Inverno da Alma" é baseado no livro de Daniel Woodrell, com roteiro adaptado por Debra Granik e Anne Rosellini. Um filme sério e honesto, cuja indicação ao Oscar tornou possível sua divulgação mundo afora.