sábado, 11 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street

Depois de flertar com a fantasia com o infantil "A Invenção de Hugo Cabret", Martin Scorsese está de volta ao estilo que o consagrou. "O Lobo de Wall Street" é seu melhor filme em muitos anos, feito com a garra e a ousadia de um diretor jovem. Scorsese, no entanto, já está com 71 anos, não tem mais nada a provar e realizou pelo menos três obras-primas, Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990). Estão de volta os belos movimentos de câmera minuciosamente coreografados (fotografia de Rodrigo Pietro, de "Argo"), a edição nervosa e magistral da antiga colaboradora Thelma Schoonmacher, o uso constante de clássicos do rock na trilha sonora e um personagem que narra a própria história.

Há muito de Henry Hill (personagem de Ray Liotta em "Os Bons Companheiros") em Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, em sua quinta colaboração com Scorsese). Os dois são jovens ambiciosos que não querem viver a vida de "otários" que as pessoas comuns vivem. Os dois se juntam a organizações cujo principal objetivo é ganhar dinheiro por qualquer meio possível, não se importando com a lei. Henry Hill se juntou aos mafiosos; Jordan Belfort se juntou à Wall Street. Em "O Lobo de Wall Street", Scorsese deixa um pouco de lado a violência física e investe pesado no triângulo sexo, dinheiro e drogas. DiCaprio está constantemente "chapado", seja com cocaína, bebida ou centenas de pílulas de remédios controlados. Há também uma grande dose de cenas de sexo e nudez. Há também uma surpreendente dose de humor. Hugo Cabret, pelo jeito, foi só uma brincadeira passageira de Scorsese com o cinema em 3D.

O roteiro, escrito por Terence Winter, é baseado na vida real de Jordan Belfort, um corretor de valores que tinha o dom de vender qualquer coisa. Depois da "Segunda-feira Negra" (19 de outubro de 1987, quando Wall Street teve a maior queda desde o "crash" de 1929), Belfort foi trabalhar em uma corretora de fundo de quintal. As ações valiam apenas centavos, mas a comissão dos corretores era de 50%. Há uma ótima cena em que Belfort, em sua primeira ligação, convence um comprador a adquirir 4 mil dólares em ações de uma empresa de garagem, e seus companheiros ficam todos assistindo seu desempenho. Em pouco tempo ele se junta a Donnie Azzof (um ótimo Jonah Hill, de "O Homem que Mudou o Jogo") e funda a empresa Stratton Oakmont, cujo logo e propagandas sugerem uma tradicional firma de Wall Street, quando na verdade funcionava em uma garagem improvisada; os corretores, todos antigos amigos de Belfort, se transformaram de vendedores de maconha a milionários em poucos meses. (mais abaixo)


O elenco conta com várias participações especiais. O diretor Rob Reiner faz o pai de Belfort, "Mad Max" Belfort. O também diretor Jon Favreu (da série "Homem de Ferro") interpreta um advogado. Kyle Chandler (de "Super 8" e "Argo") é um agente do FBI que quer colocar Belfort atrás das grades. Jean Dujardin (de "O Artista"), é um sofisticado banqueiro suíço a quem Jordan recorre para tentar esconder sua fortuna. A australiana Margot Robbie é Naomi, uma ex-modelo que faz com que Jordan Belfort largue da mulher para se casar com ela (a cena em que DiCaprio a pede em casamento lembra um pouco DeNiro pedindo Sharon Stone em casamento em "Cassino", aliás). A participação mais marcante, porém, é de Matthew McConaughey (de "Obsessão"), em um pequeno mas importante papel no início do filme. A cena em que ele e um jovem DiCaprio almoçam juntos dá o tom para toda a trama, e McConaughey está ótimo.

Claro que a vida de excessos de Belfort não poderia acabar bem. "Não há nobreza em ser pobre", diz DiCaprio em um de seus vários discursos para seus corretores. "O Lobo de Wall Street" mostra que ser rico a qualquer custo também tem seu preço.

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