segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pais e filhos

Ryota (Masaharu Fukuyama) e Midori (Machiko Ono) Nonomiya são um casal japonês moderno. Ele é um arquiteto que trabalha duro praticamente sete dias por semana para sustentar a casa, enquanto ela desistiu da carreira para cuidar do filho de seis anos, Keita. Ryota não é mal pai, é amoroso e visivelmente ama o filho, mas espera do menino o mesmo perfeccionismo com que ele encara a vida. O filme abre com o garoto sendo entrevistado em uma escolha particular onde os pais estão procurando por uma vaga. Quando perguntado sobre os pais, o pequeno Keita inventa uma história de que o pai é um ótimo empinador de pipa.

O garoto é aceito na escola e tudo parece bem, quando a família recebe uma notícia bombástica do hospital onde Keita nasceu. Houve uma troca de bebês na maternidade, seis anos antes, e Keita não é filho biológico deles. Exames de DNA são feitos e os médicos informam que Keita é filho de Yudai e Yukari Saiki. Ryusei,  o mais velho deles, seria o filho biológico de Ryota e Midori. O que fazer?

"Pais e filhos" é escrito e dirigido por Hirokazu Koreeda, diretor do ótimo "Ninguém pode saber" (2004), em que ele também lidava com crianças (embora em um filme muito mais trágico e pesado). O dilema apresentado por "Pais e filhos", surpreendentemente, não resulta no dramalhão barulhento que seria de se esperar se a história se passasse no Brasil ou em algum outro país de "sangue quente". É preciso tomar cuidado quando se lida com estereótipos, mas o filme serve também como uma aula sobre como a cultura japonesa, mais contida e racional, lida com uma situação como esta. E quando se diz "racional" não significa que não haja sentimentos envolvidos, pelo contrário. É visível o amor imenso que os dois casais retratados têm pelos filhos de criação e como é dolorosa a possibilidade de separação. O hospital, também de forma racional, sugere que os casais façam a troca dos filhos o mais rapidamente possível mas, claro, não é tão simples. (ler mais abaixo)


O personagem mais complexo é o de Ryota, orgulhoso, bem-sucedido e rico, cuja relação conturbada com o próprio pai acaba se refletindo nos sentimentos que tem pelo filho. "O filho deles vai ficar cada vez mais parecido com você", diz o pai de Ryota, que acredita que "sangue" seja tudo. Já a mãe, Midori, olha para Keita e não consegue ver nada além do filho dela, seja biológico ou não. Há uma cena muito simbólica em que um biólogo conta para Ryota como os ovos de uma Cigarra podem nascer até 15 anos depois de terem sido colocados.

A situação é tão complexa que o próprio Koreeda parece não saber exatamente como desenvolvê-la. Os casais ficam se encontrando e desencontrando, os filhos passam um tempo na casa ora de uma família, ora na da outra, e o dilema parece ser insolúvel. Há também alguns lugares comuns como a maneira desleixada como se comporta Yudai (Lily Franky), que é de uma classe social bastante inferior à Ryota, e clichês como o fato de Ryota aprender uma "lição" sobre o que significa ser um pai de verdade. De qualquer forma, "Pais e filhos" tem momentos extremamente comoventes e destaque deve ser dado à excelente direção dos atores mirins. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

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