quarta-feira, 21 de abril de 2021

O Refúgio (The Nest, 2020)

O Refúgio (The Nest, 2020). Dir: Sean Durkin. Amazon Prime. Tentei fugir um pouco dos filmes depressivos do Oscar e dei play neste filme na Amazon Prime... e é outro filme depressivo de 2020! Rs. Mas é bastante bom. Passado nos anos 80, "O Refúgio" retrata a decadência de uma família que tinha tudo para dar certo, mas é bastante disfuncional. Jude Law é Rory O'Hara, um executivo que mora em uma bela casa em Nova York com a esposa Allison (a grande Carrie Coon), que dá aulas de equitação. Eles têm um casal de filhos bonitos e tudo parece bem. Um dia Jude Law chega para a esposa e diz que tem uma "grande oportunidade" em Londres. Ele é charmoso e convincente, mas a esposa parece meio cansada; "é a quarta mudança em dez anos", ela diz.

Eles se mudam para a Inglaterra e o personagem de Law aluga um verdadeiro castelo no campo ("o Led Zeppelin gravou um álbum aqui"), onde ele promete à esposa que ela pode abrir um haras; os filhos são matriculados em escolas caras. Pequenos detalhes mostram que as aparências podem enganar. A mulher esconde o próprio dinheiro em caixas que ela espalha pela casa. Os cheques do marido começam a voltar. Ele só se preocupa com o trabalho e as aparências; ela é obcecada pelo cavalo. Os filhos são deixados para trás.

É tão fascinante (ou triste) como assistir a um incêndio. Você sabe que vai acabar mal, mas não tira os olhos da tela. Jude Law é sempre bom, e neste filme não é diferente. Carrie Coon é uma camaleoa, ótima atriz que desaparece em seus personagens (ela é a irmã de Ben Affleck em "Garota Exemplar", ou a mãe do garoto na segunda temporada de "The Sinner"). Ela se entrega totalmente a uma personagem que é vítima da ambição do marido, mas não é totalmente inocente. A recriação de época é muito boa e Londres ainda não tinha os "marcos" com os quais associamos à cidade hoje, como a London Eye (a grande roda gigante) ou o prédio em formato de "ovo" do centro financeiro. A trilha sonora toca sucessos da época e os telefones são fixos. O que não muda é a vontade de alguns de viver além dos seus meios e dar um passo maior que a perna. Disponível na Amazon Prime.
 

A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey´s Black Botton, 2020)

"A Voz Suprema do Blues" (Ma Rainey´s Black Botton, 2020). Dir: George C. Wolfe. Netflix. Último trabalho de Chadwick Boseman antes de morrer, precocemente, aos 43 anos, "A voz suprema do blues" é baseado em uma peça de August Wilson. Ao contrário de "Uma Noite em Miami", também baseado em uma peça e que me pareceu muito teatral (no mau sentido), o diretor George C. Wolfe conseguiu um trabalho bastante cinematográfico nesta adaptação. As cores da fotografia de Tobias Schliessler, aliadas à bela recriação de época, retratam uma Chicago do final dos anos 1920 quente e vibrante.

A grande Viola Davis interpreta Ma Rainey, a "rainha do blues". Ela é chamada a Chicago para gravar um disco em um estúdio comandado por brancos, e é daquelas pessoas que não levam desaforo para casa. Todos tentam agradá-la e fazer suas vontades, menos Levee (Chadwick Boseman), um trompetista que sonha em ter a própria banda e gravar seus discos. Ele é criativo e talentoso, mas jovem e impaciente. Os outros membros da banda (muito bem interpretados por Colman Domingo, Glynn Turman e Michael Potts) reconhecem o talento do rapaz, mas tentam fazê-lo entender que quem manda é Ma Rainey. Viola Davis, como sempre, está extraordinária. Ela tem o olhar de quem já engoliu muito sapo mas sabe que está em uma situação de poder, ao menos enquanto os brancos do estúdio não têm sua voz gravada. Com muita maquiagem e a pele suada, Davis comanda cada cena em que aparece. Boseman não fica atrás, e um monólogo em que Levee relata um trauma da infância é de tirar o fôlego.

É um bom filme. Viola Davis e Chadwick Boseman estão indicados ao Oscar e é aposta certa que Boseman leve um prêmio póstumo de melhor ator no próximo domingo. O filme também está indicado aos prêmios de melhor maquiagem, figurino e direção de arte. Tá na Netflix.
 

Os Quatro Paralamas (2020)

 

Os Quatro Paralamas (2020). Dir: Roberto Berliner e Paschoal Samora. Netflix. Documentário que foca na amizade entre os três membros dos "Paralamas do Sucesso", Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro, além de um quarto personagem, o empresário José Fortes. O doc começa com um bate papo entre os quatro na casa de Bi Ribeiro e parte para um monte de imagens de arquivo, algumas com qualidade bastante ruim, mas válidas como registro, de ensaios, turnês, shows e conversas do grupo em quase 40 anos de história. Talvez falte um pouco de profundidade, mas é como ser uma mosca na parede escutando a conversa entre eles, entrecortada por apresentações musicais, cenas de bastidores, etc. Não podia ficar de fora, claro, o trágico acidente de ultraleve de 2001 que matou a mulher de Herbert, Lucy, e deixou o guitarrista à beira da morte. Contra todas as previsões, ele não só sobreviveu como voltou a tocar e cantar e se apresenta até hoje.

Eu vi uma versão um pouco melhor desta história (dirigida pelo mesmo Roberto Berliner) no Festival de Paulínia em 2009; o documentário se chamava "Herbert e eu" e, pelo que me lembro, era mais aprofundado, embora o foco fosse realmente Herbert Vianna, e não os Paralamas. Não que haja muita diferença. "Os Quatro Paralamas" é nostálgico e bem feito. Tá na Netflix. 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Radioactive (2019)

Radioactive (2019). Dir: Marjane Satrapi. Netflix. Biografia da cientista Marie Curie (Rosamund Pike), a primeira mulher a ganhar não só um, mas dois prêmios Nobel. Pena que o filme seja tão quadradinho. A Marie Curie interpretada por Rosamund Pike tem só dois humores: combativa ou sorridente, não há meio termo. Na tentativa de ser didático, o filme se transforma em um "especial de TV" em momentos em que uma arte em computação gráfica aparece na tela para ilustrar algum conceito científico. Vemos representações de átomos e reações físico-químicas como em algum documentário da BBC, por exemplo, enquanto Marie Curie explica para alguém o que ela está estudando.


Mais estranho ainda são cenas que aparecem do nada mostrando acontecimentos no futuro, envolvendo radiação. O problema é que estas cenas são entrecortadas com os acontecimentos no começo do século XX, e para um desavisado vai parecer que o discurso que Pierre Curie fez ao receber o Prêmio Nobel em 1903 aconteceu ao mesmo tempo que o lançamento da bomba de Hiroshima em 1945, por exemplo. Isso é repetido em outros momentos, aleatoriamente, com recriações de testes nucleares em Nevada nos anos 1950 ou mesmo o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986.

Por fim, para uma biografia, há vários problemas históricos. No filme, apenas o marido de Marie, Pierre, vai receber o prêmio Nobel, o que causa uma cena de revolta e ciúmes em Marie. Tenho certeza que Marie Curie sofreu muito preconceito por ser uma mulher, mas por que inventar uma situação que não aconteceu, justamente com o prêmio Nobel? Rosamund Pike faz o que pode com o papel, que é mal escrito. A direção é de Marjane Satrapi, que fez a ótima animação "Persépolis" (2007). Tá na Netflix.

Padrinhos de Tóquio (Tokyo Godfathers, 2003)

 

Padrinhos de Tóquio (Tokyo Godfathers, 2003). Dir: Satoshi Kon. Já tinha começado a ver em cópia ruim há anos, achei agora na Netflix em belo HD e... que delícia de filme. Dirigido por Satoshi Kon, que lamentavelmente morreu aos 47 anos de câncer, "Padrinhos de Tóquio" conta a história de Kyoko, uma bebê que é encontrada no lixo por três moradores de rua na véspera de Natal.

Os três são Gin (Tôru Emori), um alcóolatra também viciado em jogo, Hana (Yoshiaki Umegaki) uma drag queen com sonhos de ser mãe e Miyuki (Aya Okamoto) uma garota que fugiu de casa. Gin e Miuyki querem levar a bebê para a polícia, mas Hana quer tomar conta dela, nem que seja por alguns dias. A animação não é nada infantil e mostra um lado pouco visto do Japão, com moradores de rua enfrentando a neve constante e morando em barracos em parques e praças geladas. Os três descobrem junto da bebê pistas sobre sua origem e decidem procurar pela mãe verdadeira.

O roteiro é baseado em um western de John Ford de 1948 chamado "O Céu Mandou Alguém". A animação têm cenas de drama misturadas a sequências muito engraçadas; há algo de "abençoado" na bebê (que, afinal, nasceu na véspera de Natal) e os três moradores de rua experimentam várias coincidências incríveis. O estilo da animação de Satoshi Kon é mais surreal do que os filmes de Hayao Miyazaki, e os personagens são mais bizarros. Tudo leva a uma grande cena de ação final. Imperdível. Tá na Netflix.

Força Maior (Force Majeure, 2014)

 

Força Maior (Force Majeure, 2014). Dir: Ruben Östlund. Amazon Prime. Comédia dramática desconfortável de se assistir, "Força Maior" é um estudo que trata principalmente da fragilidade masculina (embora também trate da fragilidade dos relacionamentos e da autoridade materna/paterna). Um casal sueco vai passar as férias em uma estação de esqui no Alpes Suíços. Eles levam junto os filhos (uma menina com uns 13 anos e um garoto de uns seis anos), para passar um "tempo em família". Eles parecem a família perfeita, sorrindo para fotos no topo da montanha. No segundo dia de férias, porém, eles estão em um restaurante na montanha e testemunham uma avalanche. O que começa como um belo espetáculo da natureza, no entanto, se transforma rapidamente em uma ameaça. A avalanche se aproxima rapidamente do restaurante onde a família está e parece que todos serão engolidos. As crianças gritam desesperadas e a mãe as abraça. O pai, assustado, sai correndo. Tudo acontece muito rápido mas, ao contrários das aparências, não havia perigo; a avalanche para e eles são apenas cobertos pelo vapor do gelo.

Apesar de tudo terminar "bem", o evento paira desconfortavelmente sobre a família. O pai teria realmente abandonado esposa e filhos e corrido para se salvar? É assim que a esposa, Ebba (Lisa Loven Kongsli) interpreta a situação; já o marido, Tomas (Johannes Kuhnke) não lembra desta forma. As férias continuam mas ninguém mais está se divertindo. O roteiro (do diretor) é muito bom em criar cenas desconfortáveis; o hotel é de luxo e as paisagens são deslumbrantes, mas o clima entre o casal se torna mais frio do que as pistas de esqui. Há um ótimo uso do som (e imagem) das explosões controladas que a estação de esqui faz para soltar a neve das montanhas. Vemos os clarões, à noite, enquanto o casal conversa sobre o ocorrido, e parece que estamos vendo uma cena de guerra. Há muitos sussurros e idas ao corredor do hotel para discussões do casal ("por causa das crianças"), mas o diretor faz questão de mostrar que as crianças sabem que o casamento vai mal e sofrem com isso.

É dramático mas, ao mesmo tempo, curiosamente engraçado. O modo como o marido se recusa a admitir o que fez revela sua fragilidade. A mulher, por outro lado, parece usar a situação para por o casamento em cheque (ela fica muito curiosa sobre a história de uma amiga casada que deixa marido e filhos em casa e sai em férias de vez em quando, acompanhada por outros homens). É um filme bem europeu, muito bem fotografado por Fredrik Wenzel. A última parte se alonga um pouco, com vários "falsos finais". Soube que cometeram uma versão americana com Will Ferrell (imagino que mataram toda a sutileza deste enredo). Disponível na Amazon Prime.

terça-feira, 13 de abril de 2021

O Sócio (The Associate, 1996)

 

O Sócio (The Associate, 1996). Dir: Donald Petrie. Netflix. Nunca havia ouvido falar nesta comédia bobinha com Whoopi Goldberg. Feita nos anos 90, ela lembra mais o clima financeiro dos anos 80, que o cinema festejou em filmes sobre a bolsa de valores, pessoas ganhando muito dinheiro, etc. O filme tem até a obrigatória participação especial de Donald Trump interpretando ele mesmo.

Whoopi Goldberg é Laurel, uma inteligente mulher de negócios que é passada para trás em uma grande firma de Wall Street pelo fato de ser mulher. Ela resolve abrir a próprio firma mas não consegue marcar uma reunião com nenhuma empresa. Até que ela tem a ideia de dizer que ela tem um sócio misterioso chamado Robert Cutty, que seria um gênio nas finanças. O chefe estaria sempre viajando ou "preso em uma reunião em Bangkok", enquanto Whoopi vende suas ideias para grandes empresas. O mercado fica alvoroçado com o investidor misterioso e logo Whoopi Goldberg tem que lidar com um ex companheiro de trabalho (Tim Daly), uma jornalista inescrupulosa e um investidor poderoso (interpretado pelo grande Eli Wallach). Diane Wiest interpreta Sally, a esperta secretária de Whoopi, e Bebe Neuwirth é daquele tipo de executiva que usa o corpo para subir na empresa.

O filme é bem bobinho e é baseado em uma produção francesa. Para passar o tempo. Tá na Netflix.

Coded Bias (2020)

 

Coded Bias (2020). Dir: Shalini Kantayya. Netflix. Bom documentário que segue de perto o que foi apresentado em "O Dilema das Redes" (também na Netflix), mas que acrescenta um viés mais social. O documentário parte da descoberta de uma cientista negra do MIT chamada Joy Buolamwini, que notou que os sistemas de reconhecimento facial da Amazon tinham dificuldade em identificar seu rosto (negro). Quando ela colocava uma máscara branca, o computador facilmente identificava as características de olhos, nariz, boca, etc. Um algoritmo pode ser "preconceituoso"? De acordo com o documentário, sim, principalmente pelo fato de que estudos em Inteligência Artificial sempre foram feitos predominantemente por homens brancos.

O assustador é que o algoritmo de reconhecimento facial da Amazon estava sendo compartilhado pelo FBI. Quantas pessoas foram identificadas erroneamente por causa disso? O documentário alega que "inteligência artificial" nada mais é do que uma criação matemática que reage dependendo dos dados que lhe são "alimentados". O resultado é que preconceitos do mundo "real" acabam sendo absorvidos pela inteligência artificial. Algoritmos são usados de forma não regulamentada cada vez mais no mundo todo. Setores de RH de empresas usam inteligência artificial para selecionar candidatos; cartões de crédito fazem uma previsão de quem vai pagar suas contas ou não; há algoritmos que são usados para determinar qual a chance de alguém se tornar um criminoso, ou voltar a praticar um crime. Não é surpresa que em todas estas situações os resultados têm se mostrados tendenciosos. Bem interessante, e assustador. Tá na Netflix.

Sleepers: A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996)

Sleepers: A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996). Dir: Barry Levinson. Netflix. A última vez que vi este filme foi em VHS, ou seja, faz tempo, rs. Os créditos iniciais impressionam: direção de Barry Levinson, fotografia de Michael Ballhaus, trilha sonora de John Williams. E que elenco: Robert De Niro, Dustin Hoffman, Kevin Bacon, Brad Pitt, Jason Patrick (lembram quando ele ia ser um astro?), Billy Crudup, Minnie Driver, Vittorio Gassman, Bruno Kirby.

Quanto ao filme, ele é bem bom, embora nem tanto quanto eu lembrava. É a história de quatro garotos de 13 anos que fazem uma bobagem (tentam roubar um carrinho de cachorro quente) que quase leva à morte de um homem. Eles são condenados a 18 meses de reclusão em um reformatório barra pesada. Lá eles são constantemente abusados por um cruel guarda, interpretado por Kevin Bacon. Anos depois, nos anos 80, um crime junta os quatro amigos, agora adultos, em um tribunal. Alguns do lado da acusação, outros na defesa, e Jason Patrick no meio de campo. Estou sendo vago para não revelar detalhes.

O que mais me incomodou nesta revisão é a constante narração de Jason Patrick. O roteiro (de Barry Levinson) é adaptado de um livro e dá a impressão que Levinson não deixou nenhuma linha de fora. Não há um momento de silêncio o filme todo, a narração sempre entra para falar, muitas vezes, o óbvio, tipo "dois caras entraram no restaurante", quando estamos VENDO isso acontecer. Há um "esquema" por trás do julgamento que acho meio difícil de acreditar. Já Robert De Niro está bastante bem como um padre que tem que enfrentar uma decisão difícil. Com duas horas e vinte e sete minutos, o filme poderia seria melhor com vinte minutos a menos, fácil. Mas é bom de assistir, o elenco é afinado e muito bem feito. Tá na Netflix (onde um filme de 1996 é quase pré-histórico, rs).
 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Quando Margot encontra Margot (La belle et la belle, 2018)

Quando Margot encontra Margot (La belle et la belle, 2018). Dir: Sophie Fillières. Amazon Prime. Este aqui me lembrou dos tempos em que assistia um monte de filmes franceses no extinto Cine Topázio, em Campinas, vendo filmes bobinhos nos Festivais Varillux, com cortesia de crítico. "Quando Margot encontra Margot" é bem gostoso de assistir, bem francês, em que pessoas fumam e ficam peladas quando dormem juntos. A grande Sandrine Kiberlain é Margot, uma professora de uns 45 anos que vai a Paris ao funeral de uma amiga dos tempos do colégio. Também conhecemos outra Margot (Agathe Bonitzer), uma jovem de 20 anos que tem vários "ficantes" por Paris e mora com a melhor amiga, Esther.
Margot e Margot se encontram em uma festa. Elas são muito parecidas fisicamente (apesar de mais baixa, Agathe é quase uma cópia de Sandrine). Elas descobrem que têm muitas coisas em comum, inclusive vão pegar o mesmo trem na manhã seguinte. De repente, a Margot mais velha começa a dar conselhos à mais nova, como se a conhecesse intimamente. "Não durma com fulano". "Você e Esther não vão mais se ver". É como aquelas comédias americanas em que mãe e filha trocam de corpos, mas de modo bem francês. Não há nenhuma explicação para o fato de que a Margot de 45 anos se encontre com a Margot de 20. Há até certa dúvida se elas são a mesma pessoa, mas o roteiro continua fazendo com que as duas se encontrem; depois de um tempo, a mais nova começa a pedir conselhos para a mais velha.
É um filme sobre a vida e sobre as decisões que tomamos. Faríamos diferente se tivéssemos uma segunda chance? Ou não poderíamos mudar nada, nem que quiséssemos? O curioso é que o filme não é sobre troca de corpos ou viagens no tempo. Margot e Margot convivem no mesmo tempo presente, apesar de uma lembrar do passado, enquanto a outra se vê no futuro. Há toques interessantes como o fato de que, no começo do filme, uma usa sempre vermelho e a outra usa azul; conforme a trama se desenrola, aos poucos elas vão trocando de cores. Roteiro e direção de Sophie Fillières. Divertido. Disponível na Amazon Prime.

sábado, 3 de abril de 2021

Blow the man down (2019)


Blow the man down (2019). Dir: Bridget Savage Cole e Danielle Krudy. Amazon Prime. Há muito dos irmãos Coen ("Fargo" é uma influência óbvia) nesta comédia de humor negro. Passado em uma pequena cidade do gelado estado do Maine, EUA, "Blow the man down" tem de tudo, até cenas musicais. As irmãs Priscilla (Sophie Lowe) e Mary Beth (Morgan Saylor) mal têm tempo de enterrar a mãe, que morreu de uma doença, quando se envolvem em um crime bizarro. Mary Beth sai com um rapaz que tenta se aproveitar dela e acaba morto pela garota. A irmã vem em seu auxílio e elas se livram do corpo (ou assim pensam), mas o crime é só a ponta do iceberg.

O roteiro (das diretoras) explora as atividades "escondidas" da cidade, como um bordel administrado pela formidável Enid (Margo Martindale), que se orgulha de ter conseguido, por anos, manter os homens do porto longe das garotas da cidade. Só que uma de suas "colaboradoras" aparece morta e as mulheres "de bem" da cidade acham que é hora de colocar ordem na casa. Uma delas é a ótima June Squibb (Palmer, Nebraska, As confissões de Schmidt) que, com outras duas amigas, parecem realmente administrar a cidade. Os diálogos são muito bem escritos e há várias sequências irônicas e engraçadas, daquele modo seco que me lembrou os roteiros de Ethan e Joel Coen. De tanto em tanto tempo, um grupo de pescadores interrompe a narrativa e canta uma canção tradicional, rs. Disponível na Amazon Prime.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Meu Pai (The Father, 2020)


O terror está nos detalhes. Na cor e posição de móveis. No tamanho de quartos, salas. Nos quadros da parede. De quem é este apartamento? Quem é essa pessoa? Quem sou...eu? "Meu pai" é, ao mesmo tempo, lindo e assustador. Ao nos colocar no lugar de um homem que, pouco a pouco, está perdendo a memória, o filme mostra como as aparências enganam e como tudo, no fundo, depende da interpretação que fazemos das coisas.

Anthony (um estupendo Anthony Hopkins) é um senhor que mora sozinho em um apartamento enorme em Londres. Sua filha, Anne (Olivia Colman, sempre certeira) vem visitá-lo todos os dias; ela está brava com ele porque ele não consegue se dar bem com nenhuma cuidadora que ela contrata. Ela também lhe diz que está de mudança para Paris porque ela conheceu um homem, com quem vai se casar. Só que, na cena seguinte, Anthony está conversando com um homem que diz ser marido da filha dele. Paris? Não, eles não vão a Paris. A filha chega das compras e Anthony não a reconhece.

"Meu Pai" é escrito e dirigido por Florian Zeller, baseado em uma peça escrita por ele. Não sei como era no teatro, mas Zeller faz um trabalho brilhante e bastante cinematográfico ao puxar o tapete debaixo de nossos pés cena após cena. Pequenas mudanças na direção de arte trocam a posição dos móveis e a cor das paredes. Assim como Anthony, ficamos perdidos espacialmente e, através da edição, temporalmente. Algumas cenas se repetem, com pequenas mudanças; a montagem não é linear.Nada disso funcionaria, porém, sem a brilhante interpretação de Anthony Hopkins, que passa toda gama de emoções através do olhar e da linguagem corporal. O elenco ainda conta com Olivia Williams, Rufus Sewell, Imogen Poots e Mark Gatiss em papéis que se alternam, dependendo da cena.

Este não é, porém, um filme "truque" tipo "Memento", de Christopher Nolan, onde o que importa é a forma. "Meu Pai" usa da técnica para criar empatia. É de cortar o coração, e assustador, ver como toda uma vida, memórias e a própria noção de quem você é vão se perdendo no final da jornada. A última imagem é muito triste, e muito bela. Por todo filme, Anthony fica obsecado por encontrar seu relógio de pulso, é como se ele tentasse segurar o Tempo com as mãos. "Meu Pai" recebeu seis indicações ao Oscar; filme, ator (merecidíssimo, para Hopkins), atriz coadjuvante (Colman), roteiro adaptado, edição e direção de arte. Disponível na Apple TV e, para quem quiser se arriscar, em breve nos cinemas.