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sábado, 31 de dezembro de 2022

Trem Bala (Bullet Train 2022)

Trem Bala (Bullet Train 2022). Dir: David Leitch. HBO Max. Filme de (ultra) ação que lembra aquelas produções estilizadas e cheias de piadinhas de Guy Ritchie, tipo "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" ou "Snatch: Porcos e Diamantes". Múltiplos personagens cheios de manias e frases de efeito mais ação ininterrupta colocados dentro de um trem bala (também estilizado) entre Tóquio e Kyoto, no Japão. O diretor é David Leitch, de filmes como "Deadpool 2" e "Atômica".

O elenco é grande, mas Brad Pitt (por ser Brad Pitt) é o personagem principal, um matador de aluguel que resolveu pegar um "serviço fácil": entrar em um trem bala, roubar uma mala cheia de dinheiro e descer na primeira estação. Claro que não vai ser tão tranquilo. Dentro do mesmo trem estão uma dupla de assassinos (Aaron Taylor Johnson e Brian Tyree Henry), um gângster japonês (Andrew Koji), o pai dele (Hiroyuki Sanada) e uma garota aparentemente inocente (Joey King). Todos estão interligados em uma trama complicada que envolve a tal mala de dinheiro, o sequestro do filho de um chefão do crime e várias pessoas querendo vingança.

Parênteses: eu queria saber o que aconteceu com os editores de cinema. Pelo jeito nenhum deles têm poder para chegar para o diretor e dizer: "Hey, menos é mais". "Trem Bala", como vários filmes recentes, tem aqueles vinte minutos a mais que são desnecessários... o que aconteceu com aqueles filmes de ação de 90 minutos? Enfim, "Trem Bala" é bem feito, estilizado e tem personagens interessantes, embora não seja nenhuma novidade. Se você quiser bons 90 minutos (e desnecessários 30 minutos) de ação desenfreada e diálogos sarcásticos, vai se divertir. Se não... Disponível na HBO Max.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Blonde (2022)

 
Blonde (2022). Dir: Andrew Dominik. Netflix. Curioso que 2022 tenha visto o lançamento das cinebiografias de dois ícones da cultura pop americana: Elvis Presley e Marilyn Monroe. São filmes bastante diferentes e bastante iguais; os dois são bem longos, quase três horas de duração. São também muito estilizados... e bastante exagerados.

"Blonde" é baseado em um livro de Joyce Carol Oates que é descrito como uma "biografia de ficção". Ou seja, não se deve ler o livro (ou ver o filme) esperando uma reportagem jornalística. O que se vê nas telas é uma história baseada, em linhas gerais, na vida e morte de Marilyn Monroe, mas não se apegue a detalhes. É um filme visualmente belo e extremamente difícil. Andrew Dominik, o diretor, fez o belíssimo "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com Brad Pitt, que tinha uma das mais belas fotografias do cinema. "Blonde" é igualmente belíssimo; o diretor usa e abusa de janelas com proporção diferente (tela cheia, tela quadrada, cinemascope, etc) e diversos tipos de cores e texturas. A produção também recriou fielmente enquadramentos de ensaios fotográficos, penteados e figurinos icônicos de Monroe, uma das mulheres mais fotografadas da história, e você é transportado para os anos 1930, durante a infância de Norma Jeane, e depois para os 1950 e 1960.

O problema é que o filme pega (bastante) pesado com a vida e morte de Norma Jeane/Marilyn Monroe. Ana de Armas está excelente no papel e magnética na tela (vem aí uma provável indicação ao Oscar). Só que garota é mostrada como se fosse um "pedaço de carne" (o termo é até usado no roteiro). O filme começa com Norma criança, (mal) criada por uma mãe solteira abusiva, e não lhe dá trégua por quase três horas de duração; acompanhamos estupros, casamentos abusivos, divórcios, abortos e todo tipo de humilhação. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora viajante de Nick Cave e Warren Ellis. É massacrante.

Confesso que precisei de duas sessões para ver o filme inteiro. Voltando à comparação com "Elvis", ao menos naquele filme dá para curtir as músicas do "rei" e ver algumas recriações de shows, etc. Em "Blonde" são pouquíssimas as sequências em que o espectador tem um "respiro" (há algumas passagens idílicas de Marilyn com o dramaturgo Arthur Miller, interpretado por Adrien Brody, mas logo o preto-e-branco retorna e, com ele, a depressão, as drogas, os surtos, etc).

E, sim, há uma parte do filme dedicada ao suposto "romance" entre Marilyn e John Kennedy, mas é a sequência mais bizarra deste filme, o que é dizer muito (e quando a edição comparou a ereção do presidente com imagens de foguetes na TV eu joguei a toalha). Difícil, veja por sua conta e risco. Tá na Netflix. 

terça-feira, 13 de abril de 2021

Sleepers: A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996)

Sleepers: A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996). Dir: Barry Levinson. Netflix. A última vez que vi este filme foi em VHS, ou seja, faz tempo, rs. Os créditos iniciais impressionam: direção de Barry Levinson, fotografia de Michael Ballhaus, trilha sonora de John Williams. E que elenco: Robert De Niro, Dustin Hoffman, Kevin Bacon, Brad Pitt, Jason Patrick (lembram quando ele ia ser um astro?), Billy Crudup, Minnie Driver, Vittorio Gassman, Bruno Kirby.

Quanto ao filme, ele é bem bom, embora nem tanto quanto eu lembrava. É a história de quatro garotos de 13 anos que fazem uma bobagem (tentam roubar um carrinho de cachorro quente) que quase leva à morte de um homem. Eles são condenados a 18 meses de reclusão em um reformatório barra pesada. Lá eles são constantemente abusados por um cruel guarda, interpretado por Kevin Bacon. Anos depois, nos anos 80, um crime junta os quatro amigos, agora adultos, em um tribunal. Alguns do lado da acusação, outros na defesa, e Jason Patrick no meio de campo. Estou sendo vago para não revelar detalhes.

O que mais me incomodou nesta revisão é a constante narração de Jason Patrick. O roteiro (de Barry Levinson) é adaptado de um livro e dá a impressão que Levinson não deixou nenhuma linha de fora. Não há um momento de silêncio o filme todo, a narração sempre entra para falar, muitas vezes, o óbvio, tipo "dois caras entraram no restaurante", quando estamos VENDO isso acontecer. Há um "esquema" por trás do julgamento que acho meio difícil de acreditar. Já Robert De Niro está bastante bem como um padre que tem que enfrentar uma decisão difícil. Com duas horas e vinte e sete minutos, o filme poderia seria melhor com vinte minutos a menos, fácil. Mas é bom de assistir, o elenco é afinado e muito bem feito. Tá na Netflix (onde um filme de 1996 é quase pré-histórico, rs).
 

domingo, 30 de junho de 2013

Guerra Mundial Z

Os zumbis definitivamente estão na moda. A série "The Walking Dead" faz um sucesso enorme na televisão há alguns anos. Mundo afora, são organizadas "marchas zumbis" em que pessoas normais (se é que alguém que sai em uma marcha zumbi possa ser chamada de normal) se fantasiam a caráter e saem às ruas. Vira e mexe o Facebook é infestado por notícias falsas de que o chamado "Apocalipse Zumbi" começou. Nada disso, porém, é novo. O cineasta George A. Romero tem uma legião de fãs de seus filmes de zumbis, que começaram a ser feitos na longínqua década de 1960, com "A noite dos mortos vivos" (1968), seguidos de incontáveis imitações. Em 2002, Danny Boyle (de "Quem quer ser um milionário") fez sua versão do gênero com o interessante "Extermínio" ("28 Days Later"), com Cillian Murphy, com um roteiro bastante similar (embora com centenas de milhões de dólares de diferença no orçamento) do filme com Brad Pitt que chega agora às telas.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Homem da Máfia

"O Homem da Máfia" é o tipo de filme que se acha melhor e mais inteligente do que realmente é. Escrito e dirigido por Andrew Dominik e estrelado e produzido por Brad Pitt, a obra está longe da beleza de outro trabalho feito pela dupla, o ótimo "O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" (2007). O roteiro está cheio daqueles diálogos longos que tentam  soar como Quentin Tarantino e as imagens lembram algum filme de Guy Ritchie, mas sem o mesmo talento.

O elenco, invejável, conta com Pitt, Ray Liotta, James Gandolfini e Richard Jenkins em uma trama passada no sul dos Estados Unidos envolvendo a Máfia e alguns ladrões de segunda classe. Dois deles invadem um jogo de cartas gerenciado por Markie Trattman (Liotta, grande ator desperdiçado há anos pelo cinema) e levam todo o dinheiro. Eles tem um plano "infalível"; Trattman, alguns meses antes, havia roubado a própria casa pra embolsar o dinheiro da Máfia e, bêbado uma noite, havia confessado o golpe para amigos. A lógica dos bandidos é clara; se a casa for roubada novamente, a Máfia irá desconfiar de Trattman e os deixará em paz. Mas as coisas não são tão simples. Após o assalto, Brad Pitt, um assassino profissional, vem à cidade negociar o destino dos bandidos com Richard Jenkins (chamado apenas de "Motorista" nos créditos). Como a trama não tem muito a dizer, o roteiro tentar disfarçar a superficialidade com sarcasmo e muita violência. Há uma cena forte de espancamento que, tecnicamente, é muito bem feita. O bom design sonoro faz o espectador quase sentir no próprio corpo os ossos se partindo; o problema é a gratuidade da coisa. Violência sem substância é apenas pornografia.

O filme desperdiça a presença de um grande ator como James Gandolfini, que interpreta outro assassino profissional; ele é trazido à cidade para matar os ladrões, mas seu personagem poderia ter sido cortado, já que desaparece de cena tão rápido quanto entrou. O roteiro força um paralelo entre a história americana recente e os fatos passados no filme; em todos os bares há um aparelho de televisão mostrando discursos de George W. Bush falando sobre a crise econômica e, no final, a vitória de Barack Obama deveria significar alguma coisa para o roteirista, mas não fica muito claro o que é. Visto no Kinoplex, em Campinas.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Homem que Mudou o Jogo

Filmes sobre esportes seguem sempre a mesma fórmula e são populares no cinema americano. Talvez porque sejam uma representação fácil (mas não necessariamente simplória) dos dramas humanos; lutar, treinar, perseverar, vencer, perder, dar a volta por cima. A sociedade americana adora um vencedor, e "O Homem que Mudou o Jogo", apesar de seguir esta fórmula, não foca necessariamente na vitória, mas em um processo, um modo novo de fazer as coisas. Baseado em um livro de 2003 de Michael Lewis, mostra a trajetória de um time pequeno de baseball que, em 2002, venceu 20 partidas em seguida, estabelecendo um novo recorde, depois de um começo de temporada desastroso. As regras do baseball, mesmo depois de todos os filmes americanos a respeito, ainda soam como grego para o espectador brasileiro, mas "O Homem que Mudou o Jogo" pode ser assistido da mesma forma que se assiste a um filme sobre hackers; os personagens estão falando em um código estranho, mas o que interessa é a história que está sendo contada. Não por acaso, um dos roteiristas do filme é Aaron Sorkin, de "A Rede Social", fazendo dupla de peso com o roteirista Steve Zaillian (de "Millenium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres").

Brad Pitt é Billy Beane, o gerente geral do Oakland Athletics. Billy havia sido um jogador promissor nos anos 80, mas que não conseguiu se destacar. No início da temporada de 2002, o Athletics havia perdido três de seus principais jogadores e Billy precisava de um novo modo para gerenciar o time. Seus assessores e olheiros procuravam pelas soluções de sempre, mas Billy encontrou no jovem Peter Brand (Jonah Hill) o "algo a mais" que procurava. Brand havia se formado em economia em Yale e é o protótipo do nerd. Baseado nas teorias matemáticas de um homem chamado Bill James, Brand tem um modo diferente de escolher jogadores. Ao invés de procurar pelos astros do esporte, caros demais para as finanças do Oakland, Peter alega poder escolher combinações vencedoras formadas por jogadores menos talentosos e mais baratos. Billy Beane resolve apostar nas teorias do rapaz, causando alvoroço na imprensa e problemas com seus colegas de time, em particular o técnico Art Howe (Philip Seymour Hoffman).

A dupla Brad Pitt e Jonah Hill garante os melhores momentos do filme, com diálogos rápidos e inteligentes. Os dois estão concorrendo ao Oscar por sua performance, apesar de não serem necessariamente brilhantes. Pitt sempre foi bom ator e faz de Billy Beane um homem fechado, que apesar de amar o esporte tenta manter certa distância emocional dele. Durante os jogos, por exemplo, ele nunca está no estádio, preferindo ficar dirigindo a esmo ou se exercitando na academia. Um toque a mais de drama é acrescentado pela convivência com sua filha Casey, que fica preocupada quando os rumores sobre a possível demissão do pai circulam pela internet.

O filme é dirigido por Benett Miller (de "Capote") e não tem nada de novo. Mas é um drama esportivo bem construído, com boas interpretações e roteiro bem escrito.



sábado, 20 de agosto de 2011

A Árvore da Vida

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Deus existe? E se existe, como pode permitir que coisas ruins aconteçam? Estamos sós no Universo? O que é estar vivo, afinal? Estas são as perguntas básicas que os seres humanos fazem desde o início dos tempos, e campos de conhecimento como a filosofia, a psicologia ou as religiões tentam responder. São questionamentos fascinantes mas, também, extremamente básicos, e lidar com eles pode resultar em obras baratas de auto-ajuda ou em obras-primas. O diretor Terrence Mallick não se intimidou e fez um filme que é extremamente pretensioso, sim, e lembra os tempos em que diretores como Stanley Kubrick não tinham medo de desafiar o público. Curioso também que o filme de Mallick tenha sido produzido e lançado praticamente no mesmo período que Melancolia, de Lars von Trier, e é uma experiência singular vê-los com poucas semanas de diferença. Há várias ligações, tanto temáticas quanto visuais, entre as duas obras.

A Árvore da Vida era um projeto antigo de Terrence Mallick que, como diretor, se dá ao luxo de só produzir quando está absolutamente pronto para um projeto. O enredo pode ser descrito em poucas palavras. Uma típica família americana do pós guerra perde um de seus três filhos quando ele tem 19 anos. A morte do rapaz provoca reações de dor, consusão, revolta e questionamentos. Mallick, auxiliado pela espetacular fotografia de Emmanuel Lubezki, filma quase tudo com lentes grande angular montadas em câmeras que se movimentam constantemente. Não é aquela movimentação epilética e desnecessária dos filmes de Michael Bay; a câmera de Mallick é como um "espírito" percorrendo os cenários ou circulando os personagens. É, talvez, a visão de "Deus". Cada plano é como um pequeno filme acompanhado pela bela trilha sonora de músicas clássicas ou original, composta por Alexandre Desplat.

Os questionamentos da mãe (Jessica Chastain, sublime) a Deus e ao próprio Universo levam a um flashback que literalmente transporta o espectador para a origem dos tempos. Uma sequência claramente baseada em 2001 enche a tela de galáxias e aglomerados estelares, com efeitos especiais produzidos, em parte, por Douglas Trumbull (lendário técnico de filmes como 2001, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Blade Runner, entre outros). Vale repetir, Mallick não tem medo de ser pretensioso. O resultado é uma obra que, para surpresa negativa de vários frequentadores dos cinemas de shoppings, está longe de ser "um filme do Brad Pitt". É mais apropriado classificar A Árvore da Vida como um filme experimental, uma obra audiovisual que lembra Koyaanisqatsi (de Godfrey Reggio) e Baraka (de Ron Fricke), compostos inteiramente por imagens e música. A diferença é que, ao contrário dos exemplos citados, há um lado humano bastante presente no filme de Mallick. A típica família americana dos anos 50 é representada pelo Sr. O´Brien (Brad Pitt), um self made man que trabalha duro, sustenta (e oprime) a esposa e tenta ensinar aos três filhos o que é "ser homem". Não é uma tarefa fácil. Jack (Hunter McCraken), o filho mais velho, tem que lidar com a rididez do pai e com as dificuldades de se tornar adulto. A Sra. O´Brien, a mãe, é quase uma irmã para os três filhos homens, mas carrega aquela sabedoria e amor que só a maternidade ensina.

Falar mais é desnecessário. "A Árvore da Vida" deve ser mais sentido do que explicado. Não é um filme fácil e Mallick se equilibra em uma linha tênue entre o sublime e o patético. Na comparação com Melancolia, o filme de Terrence Mallick é mais esperançoso, embora também mostre como o Universo, ou a Natureza, ou Deus, ou seja lá como se pode nomear o grande mistério da existência, é ao mesmo tempo generoso e implacável. Seja você humano ou um ser pré-histórico, recém saído do mar e dando os primeiros passos na areia.


sábado, 10 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO ENTRA EM DETALHES DA TRAMA DO FILME
O filme é de uma imoralidade sem limites. Em uma cena, um soldado alemão é interrogado por seus captores americanos sobre o local das tropas nazistas. Ele se nega a responder e, em uma sequência sem cortes, é morto violentamente a golpes de bastão de beisebol. Seus companheiros não são apenas mortos, mas tem seus escalpos cortados à maneira apache, e a suástica nazista desenhada, à ponta de faca, na testa. Este é "Bastardos Inglórios", o mais novo filme de Quentin Tarantino, que é daqueles diretores que devem ser forçosamente citados para que o espectador possa ter um parâmetro sobre o que está assistindo. Ver um "filme de Tarantino" significa, grosso modo, não ver um filme passado no mundo real. O mundo de Tarantino é passado dentro de um fotograma de celulóide de 35mm, seus personagens sabem que são personagens e a História (com H maiúsculo), deve ser vista sob o recorte não do Historiador, mas do Crítico de Cinema. Mas será que isso o exime da responsabilidade pelo que coloca na tela? Seria esta imoralidade própria do filme ou de Tarantino?

Examinando seus filmes anteriores, particularmente Pulp Fiction e Kill Bill, havia certa moral em seus personagens, mesmo que uma "moral cinematográfica". O boxeador interpretado por Bruce Willis chega, por um momento, a lamentar ter matado seu oponente na luta em que ele foi pago para perder. Jules, interpretado por Samuel L. Jackson, é o personagem que passa pela maior mudança da trama. Ele é um frio matador de aluguel que tem uma "iluminação" que o faz deixar a vida de crimes. Já seu colega Vincent (John Travolta) continua igual e morre de forma estúpida, ao deixar a arma na pia da cozinha enquanto vai ao banheiro. Mesmo em Kill Bill, o protótipo do filme de vingança, há o que se poderia chamar de "honra entre ladrões". Bill (David Carradine) mata os presentes a um casamento porque a Noiva (Uma Thurman) o havia abandonado. Mas ela sobrevive e mesmo em coma no hospital tem a vida poupada, no último momento, porque Bill acredita que ela merece algo melhor. Um dos capangas da gangue de Bill, interpretado por Michael Madsen, chega a dizer que a Noiva tem razão e que eles merecem morrer pelo que fizeram.

Os "bastardos inglórios" do novo filme não têm nada disso e, curiosamente, são o ponto fraco da produção. Liderados por Brad Pitt e claramente baseados nos "Doze Condenados", são todos tão inexpressivos que o espectador chega a confundir um com o outro. A exceção é também "tarantinesca", um alemão que entrou no exército apenas para matar (em outra série de cenas violentamente gráficas) companheiros nazistas. O que salva "Bastardos Inglórios" de ser um desastre, além do claro talento de Tarantino em escrever diálogos e dirigir algumas cenas de tirar o fôlego, é seu amor ao cinema. "Bastardos Inglórios" está cheio de referências cinematográficas, a começar pela vinheta antiga da Universal Pictures. O primeiro capítulo (outra das marcas do diretor) é uma clara homenagem ao diretor italiano Sergio Leone, e uma das melhores sequências da produção. É também a que apresenta o vilão do filme, o "caçador de judeus" Hans Landa, muito bem interpretado por Christoph Waltz. Landa é daquele tipo de vilão "charmoso", que me lembrou um pouco o Bellocq de "Caçadores da Arca Perdida". Bem falante, culto, refinado, Landa é um verdadeiro cavalheiro até o momento em que começa a matar.

Do massacre promovido por Landa neste primeiro capítulo foge a jovem judia Shosanna (Mélanie Laurent), que é a personagem mais humana do filme. Ela foge para Paris e se transforma na dona de um cinema que vai se tornar o palco do clímax da história. Assediada por um herói nazista chamado Zoller (Daniel Brühl), ela é obrigada a usar seu cinema para a estréia do novo filme de Joseph Goebbels (Sylvester Groth), Ministro da Propaganda de Adolph Hitler. Shosanna então planeja se aproveitar da ocasião para vingar a morte da família, visto que o cinema estaria cheio de altos oficiais da hierarquia nazista. Tarantino, em uma metalinguagem bem interessante, transforma a própria película cinematográfica (na época altamente inflamável) na arma de vingança de Shosanna. Só que Tarantino apresenta este plano de forma falha, e diria até preguiçosa. Ele usa cenas de um pseudodocumentário para mostrar as propriedades incendiárias da película, algo totalmente desnecessário. Desnecessária também a sequência em que ele mostra como Shosanna faria para conseguir revelar um rolo de filme 35mm, com som, que ela planeja mostrar para os nazistas. Em um filme tão absurdo, qual a necessidade de explicar este detalhe? A resposta está no fato de que Tarantino é um "nerd" cinematográfico.

A estréia do filme de Goebbels também chama a atenção dos Aliados, que enviam os "bastardos", auxiliados por uma atriz alemã (a bela Diane Kruger), para o local. Há uma sequência ótima, passada dentro de uma taverna, que é um primor de roteiro e direção. Notem como Tarantino constrói a sequência tijolo por tijolo, mostrando como tudo vai dar espetacularmente errado.

E chegamos então ao final, em que Tarantino quebra todas as regras possíveis e mergulha fundo em uma realidade alternativa que literalmente reescreve a História. E aqui retornamos à questão do início deste texto. O que Tarantino está querendo dizer? A II Guerra Mundial, que começou há exatos 70 anos, foi um dos eventos mais sangrentos dos últimos séculos e definiu a ordem mundial em que ainda vivemos. Berlim foi liberada pelo exército russo e depois pilhada e dividida entre os americanos e soviéticos. Os ingleses tiveram o país praticamente destruído e perderam milhares de civis e soldados. Hitler se matou longe dos olhos da Humanidade. No filme de Tarantino, tudo muda. Os britânicos quase estragam tudo durante a sequência na taverna. São os heróis americanos, judeus, se servido de um acordo "imoral" com o nazista Landa, que terminam a guerra dando ao mundo do cinema uma das cenas mais delirantes de vingança já mostradas nas telas. O próprio Adolph Hitler é visto sendo varado por milhares de tiros de metralhadora. Ao final, Brad Pitt, e Tarantino, dizem: "Acho que esta foi minha obra prima".

Assim, "Bastardos Inglórios" é um filme que incomoda. O que é ótimo, toda obra que pretende dizer alguma coisa é incômoda. Mas mesmo cinematograficamente falando é falha. Há momentos estupendos isoladamente, mas que não formam um filme bem amarrado como foi Pulp Fiction, por exemplo. Moralmente, o filme é muito discutível. A não ser que Tarantino esteja, no fundo, fazendo uma crítica ao "modo americano" de ser e de agir. Mas quem se importa? O importante é matar da forma mais violenta possível.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

O filme tem uma premissa interessante, que já foi inclusive tema de um comercial do qual me lembro, anos atrás, em que Chico Anísio descrevia uma vida ao contrário; deveríamos nascer velhos e crescer cada vez mais jovens, até voltar ao útero materno. Não haveria a suposta decadência da velhice, pelo contrário, ficariamos cada vez mais em forma, menos enrugados, mais "bonitos". Também me lembro do comediante americano Jerry Seinfeld dizendo que o primeiro e o último aniversário das pessoas é bem parecido; não sabemos direito o que está acontecendo, a festa é preparada pelos outros e, provavelmente, estaremos usando fraldas.

O Curioso Caso de Benjamin Button parte desta premissa. Benjamin (Brad Pitt) é um homem que nasce um bebê "velho" e enrugado. Os ossos estão fracos, os olhos apresentam catarata, todos os sintomas de um idoso de 80 anos. A mãe morre no esforço de dar à luz esta estranha criança e o pai, atormentado, abandona o bebê em uma casa que cuida, justamente, de pessoas idosas. Ele é adotado por uma mulher negra chamada Queenie (a ótima Tarji P. Henson). Ela considera o bebê milagroso e resolve tomar conta dele da mesma forma com que ela trata dos outros habitantes da casa: todos idosos em processo de decadência física e mental. Só que o pequeno Benjamin está no caminho contrário, se tornando mais jovem a cada dia.

O filme é passado no sul dos Estados Unidos e tem vários bons momentos, além de um elenco composto por Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton e Julia Ormond. O diretor é David Fincher, conhecido por filmes pesados e psicológicos como Se7en, Clube da Luta e Zodíaco. Fincher também é famoso como um técnico competente, que experimenta com novas tecnologias e efeitos especiais. "Benjamin Button" é recheado de efeitos digitais que recriam várias épocas da história americana e, de forma extraordinária, dão uma ajuda ao trabalho de maquiagem de envelhecer ou rejuvenescer os atores. Brad Pitt, especialmente, é mostrado desde os 80 anos até a juventude, e imagino que uma grande quantidade de "magia" digital foi empregada para transformá-lo diante dos olhos da platéia. O filme, visualmente, é plasticamente bonito e interessante de se ver.

O problema é que para cada virtude há uma quantidade considerável de problemas. O roteiro é o maior deles. Para começar, é muito, mas muito parecido com "Forrest Gump", que Robert Zemeckis realizou em 1994, escrito pelo mesmo roteirista, Eric Roth. Este video mostra claramente as incríveis semelhanças entre os dois projetos. Tanto Benjamin Button quanto Forrest Gump são crianças com um problema, criados por uma mãe solteira no sul dos Estados Unidos. Ambos conseguem superar as dificuldades (inclusive de locomoção) e se apaixonam por uma amiga, loira, de infância. Ambos crescem e vão para a guerra, e depois passam um tempo em um barco. Ambos têm um amigo negro e depois um amigo bêbado e revoltado. Ambos saem de casa e viajam pelo mundo... e assim por diante. E não só isso, os dois filmes foram feitos por diretores conhecidos pelos seus filmes de efeitos especiais (Zemeckis e Fincher) que resolveram apostar seu talento em um filme tocante e sensível sobre uma "pessoa especial". Forrest Gump ganhou 6 Oscars; Benjamin Button está com 13 indicações ao prêmio.

E os problemas não param por ai. Para poder contar a história de Benjamin em flashbacks o roteiro criou o estratagema de começar a história no passado recente, durante a passagem do furacão Katrina pelo sul dos Estados Unidos. Daisy (Cate Blanchett), está praticamente morrendo em uma cama de hospital assistida pela filha Caroline (a bela Julia Ormond, cujas rugas mostram, mais do que qualquer coisa no filme, o verdadeiro poder do tempo). Mesmo agonizando, a velha senhora consegue arrumar forças para contar o tal caso "curioso" de Benjamin Button, convenientemente auxiliada pelo diário do próprio mais uma série de fotos e documentos que aparecem, como mágica, da bagagem dela. Esta trama paralela é até mais difícil de acreditar do que o estranho "milagre" da vida de Button. Como, e por que, a mãe conseguiria guardar tantos segredos de sua vida para a própria filha? Como ela teria organizado toda aquela "apresentação" com as fotos, o diário, as anotações, agonizando em uma cama de hospital? Para quem o narrador, o próprio Benjamin Button, está contando a história? Para Caroline? Então porque ele muda a pessoa narrativa (de terceira pessoa para primeira pessoa) em determinado ponto do filme?

Assim, O Curioso Caso de Benjamin Button, apesar dos bons momentos e do belo visual, acaba resultando em um filme interessante, mas nada original.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford

Há o caso, em alguns filmes, em que a qualidade técnica de algum aspecto da produção chega a ser superior ao filme como um todo. Isso pode acontecer com a trilha sonora, com os efeitos especiais, com a montagem. No caso do descritivamente chamado "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", é a excepcional fotografia de Roger Deakins que se destaca. Ele é um veterano na arte de filmar, com um currículo invejável. Sua parceria com os irmãos Coen rendeu praticamente todos os filmes da dupla, como "Barton Fink", "O Homem que não estava lá", "Fargo", "Onde os Fracos não Têm Vez", entre outros. É dele também a ótima fotografia de "A Vila", de M. Night Shyamalan, ou "Um Sonho de Liberdade", de Frank Darabont.

O que faz um Diretor de Fotografia? Depois do diretor, ele tem a maior responsabilidade dentro de um set de filmagem. Ele é o responsável pela iluminação, pela escolha da câmera e do tipo de filme, lentes e filtros que serão usados para capturar (fotografar) a imagem. Basicamente, ele é o responsável pelo "look" do filme. Um bom diretor de fotografia pode dar a um filme um tom antigo, ou moderno, "quente", "frio", "sujo". As cores podem ser usadas para distinguir épocas ou locais diferentes dentro de um mesmo filme (como em "Traffic", por exemplo). Tudo isso pode ser feito na pós produção, mas geralmente já é feito na fotografia. No Oscar de 2008, dos cinco filmes indicados para Melhor Fotografia, Roger Deakins estava indicado em dois deles ("O Assassinato de Jesse James..." e "Onde os Fracos não Têm Vez"), perdendo para "Sangue Negro", fotografado por Robert Elswit.

Há alguns momentos em "O Assassinato de Jesse James" que parecem uma pintura. Jesse James foi um dos criminosos mais famosos dos Estados Unidos. É sintomático que ele seja interpretado por Brad Pitt, já que James, a seu modo, pode ser considerado um precursor da "cultura das celebridades" moderna. Jesse James e seu irmão mais velho Frank (o sóbrio Sam Shepard) fizeram fama e fortuna assaltando bancos e trens no século 19. O mais novo, Jesse, de temperamento irrequieto, se tornou estrela principal de vários livros baratos que os jovens da época, ávidos por aventura, liam com interesse. Um desses jovens era Robert Ford (Casey Affleck, muito mais talentoso que seu irmão Ben). Ford mantinha os livros de aventura de Jesse James embaixo da própria cama e, quando apareceu a oportunidade de trabalhar para seu herói, foi como um sonho se tornando realidade. O crítico americano Roger Ebert, em sua resenha sobre o filme, aponta a óbvia conotação homossexual que existe na ligação entre Jesse James e seu seguidor. A sequência do último assalto a trem perpetrado pelos irmãos James é fotografada por Roger Deakins como uma espécie de sonho. Surgindo da escuridão completa, a locomotiva se aproxima da barreira colocada sobre os trilhos e suas luzes iluminam, como fantasmas, os capangas do grupo à espreita na floresta.

Após o assalto, o grupo se desmembra, mas Jesse James mantém Robert Ford por mais uns dias em sua casa, onde mora com a esposa Zee (Mary-Louise Parker) e um casal de filhos. O filme então se alonga por mais de duas horas, basicamente contando a história descrita no título. Sim, é um filme em que Jesse James é assassinado pelo covarde Robert Ford. Mas é quase como se James estivesse cansado da vida, na verdade, e resolvesse arriscar um jogo mórbido com seu maior fã. Há vários momentos de beleza, em que novamente é a direção de fotografia que se destaca, e o elenco faz um bom trabalho (principalmente Sam Rockwell como o irmão mais velho de Robert). Um narrador distante conta a história, desapaixonado, quase que didaticamente, do que aconteceu. O filme ainda segue a vida de Robert Ford após o assassinato e, sem dúvida, sua história é irônica. Ele esperava glória e fortuna por ter matado um criminoso, mas passou para a História como um covarde.

O filme tem direção de Andrew Dominik, baseado no livro de Ron Hansen. É lento, pensativo, por vezes profundo. O tipo de filme, descobri, que acaba fazendo o espectador pensar nele depois. Mas é lento, longo e requer paciência. Disponível em DVD.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Queime depois de ler

"Onde os fracos não têm vez", filme anterior dos irmãos Coen, foi muito elogiado pela crítica e até levou o Oscar de Melhor Filme mas, é fato, não foi nenhum sucesso de público. O estilo lento e principalmente o final em aberto deixou muita gente confusa (ou brava mesmo) com os dois irmãos mais criativos do cinema americano. Pois bem, eles agora retornam com um filme cheio de astros e um estilo bem mais leve e acessível. O que não significa que "Queime depois de ler" seja um filme "convencional". Joel e Etan Coen são famosos por seu estilo meticuloso, ritmo lento e diálogos bem escritos. Tudo está presente na nova produção da dupla, mas em doses menores. Adiciona-se uma boa dose de humor negro e temos esta comédia de erros que satiriza os filmes de espionagem e a paranóia americana.

John Malkovich é Osbourne Cox, um analista da CIA que, no início do filme, está sendo dispensado do trabalho. Um superior lhe diz que ele tem um problema com a bebida. "Vocè é mórmon! Para você todos têm problemas com a bebida!", retruca Cox. Ressentido e muito, muito bravo, Cox vai para casa e conta à eposa que se demitiu, e que pretende escrever um livro de "memórias". A esposa é Katie (Tilda Swinton... quem senão os irmãos Coen para imaginar um casal como John Malkovich e Tilda Swinton?), que está tendo um caso com Harry Pfarrer (George Clooney, se divertindo). Harry é supostamente um policial (nunca o vemos trabalhando) que, em 20 anos de serviço, nunca disparou uma arma. Ele é casado com uma escritora de livros infantis. Recapitulando: Cox (Malkovich) é casado com Katie (Swinton), que tem um caso com Harry (George Clooney), que é casado com uma escritora.

Em uma academia de ginástica, a instrutora Linda Litzke (Frances McDormand), está passando pela crise da meia idade. Ela quer se "reinventar" passando por uma série de cirurgia plásticas caras (que seu plano de saúde não cobre); ela tabém está tentando encontrar um companheiro em anúncios da internet. Ela trabalha com Chad (Brad Pitt), um personal trainer hiperativo que, um dia, está todo animado em frente ao computador: o faxineiro encontrou no vestiário um CD que, supostamente, contém informações sigilosas da CIA. Chad descobre que o dono do CD é um analista chamado Osbourne Cox (lembram-se?), e sugere a Linda que eles tentem trocar o CD por dinheiro.

Com esses personagens e ingredientes os Coen vão construindo um filme que, de início, nem é assim tão cômico mas que, aos poucos, vai se tornando cada vez mais absurdo e engraçado. Clooney e Tilda Swinton, vale notar, interpretaram juntos no drama "Conduta de Risco" (Michael Clayton, 2007), pelo qual Swinton ganhou o Oscar. Brad Pitt está muito engraçado, interpretando um rapaz não muito esperto e que acha que está dando um grande golpe ao chantagear um espião da CIA. E o que dizer de John Malkovich?

"Queime depois de ler" não é nenhuma obra prima, e está distante das tragicomédias anteriores dos Coen como "Barton Fink" e o estupendo "Fargo". Mas ainda é um filme acima da média.