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domingo, 11 de junho de 2023

A Grande Virada (The Company Men, 2010)

 
A Grande Virada (The Company Men, 2010). Dir: John Wells. Netflix. Um daqueles filmes que podem ser classificados como "problemas de primeiro mundo", "A Grande Virada" tem grande elenco e é entretenimento competente, embora bastante raso. Ele se passa depois da crise financeira nos EUA no final da primeira década dos anos 2000. Um filme muito melhor chamado "Margin Call" (J. C. Chandor, 2011) foi feito mais ou menos na mesma época, e é muito menos televisivo e mais realista a respeito.

"A Grande Virada" lida com diversos personagens que trabalhavam em uma empresa chamada GTX, que costumava fabricar navios em grandes estaleiros, contratando milhares de pessoas. Com o tempo, a empresa foi mudando para a exploração financeira e, na época em que se passa o filme, está mais preocupada em "manter os acionistas felizes" e render milhões em bônus para os fundadores do que em produzir alguma coisa. Isso significa que milhares de pessoas devem ser demitidas, em todos os cargos hierárquicos, mas o filme parece mais preocupado com a "nata", gente como o personagem de Ben Affleck, que ganha "só" 150 mil dólares por ano, ou com o personagem de Tommy Lee Jones, que ganha milhões. O filme mostra como Affleck, que dirige um Porshe (não quitado), tem uma casa enorme e joga golfe semanalmente, de repente se vê desempregado aos 37 anos e sem muitas expectativas. Rosemarie DeWitt faz aquelas esposas fiéis e dedicadas, que de vez em quando tem que puxar a orelha do marido porque ele ainda quer pagar o country club, mesmo desempregado e a ponto de perder a casa.

O elenco ainda conta com Kevin Costner como um trabalhador "comum", um homem com um trabalho "real" de construir casas com as próprias mãos, em contraste com o personagem de Affleck, que apenas especula com o dinheiro dos outros. Claro que após meses desempregado, Affleck vai ter que engolir o orgulho e "bater laje" com Costner, aprendendo uma valiosa lição.

O filme é escrito e dirigido por John Wells, que veio da TV americana de séries de prestígio como "The West Wing" ou "E.R.". A direção é competente e o filme conta com a fotografia de Roger Deakins (é o segundo filme em seguida de Deakins que eu vejo, curiosamente), mas o roteiro parece ter sido cortado em algumas partes. A personagem de Maria Belo passa de amante a segunda esposa de Tommy Lee Jones sem muita explicação, para depois ter uma conversa com ele em que, pelo jeito, eles se separaram, mas isso não foi mostrado no filme. O final (a "grande virada" do título nacional) parece ter sido decidido no par ou ímpar. Tá na Netflix.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Império da Luz (Empire of Light, 2022)

Império da Luz (Empire of Light, 2022). Dir: Sam Mendes. Star+. Superficialmente, "Império da Luz" é um filme belíssimo. Passado, em grande parte, em um luxuoso cinema, a direção de arte de Mark Tildesley e a fotografia de Roger Deakins transformam cada plano em uma pintura. Tudo isso embalado por uma bela trilha de Trent Reznor e Atticus Ross. A grande Olivia Colman encabeça um elenco que ainda conta com Colin Firth e Toby Jones, entre outros. Tudo é ricamente mostrado, interpretado e bonito de se ver.

No entanto, nem tudo funciona direito. O roteiro de Sam Mendes atira para todos os lados. O filme lida com vários assuntos relevantes como saúde mental, racismo e feminismo. No meio destes assuntos pesados, tenta também encaixar uma "carta de amor ao cinema" aos moldes de "Cinema Paradiso" (Giuseppe Tornatore, 1981) ou, talvez, "A Rosa Púrpura do Cairo" (Woody Allen, 1985). O resultado, no entanto, soa artificial. Colman interpreta Hillary, a gerente de um cinema em uma cidade costeira da Inglaterra. Ela é solitária, toma ansiolíticos e tem um "relacionamento" com o dono do cinema (Colin Firth), que mais parece uma série de abusos sexuais.

Um dia começa a trabalhar no cinema um rapaz negro e bonito chamado Stephan (Micheal Ward). Hillary se apaixona pelo moço, que corresponde, mas fica difícil entender a relação entre os dois. É amor? Carência? Há uma cena (até bonita) envolvendo um pombo com a asa quebrada que carrega demais no simbolismo. O fato de Stephan ser negro rende algumas cenas de racismo, mas o filme não perde o tom de um belo cartão postal nem em uma cena que deveria ser violenta. Há subtramas que não vão a lugar algum (como uma ex-namorada de Stephan que aparece e desaparece sem efeito nenhum). Há alguma cenas melodramáticas quando Hillary para de tomar os remédios.

No meio de tudo isso ainda há o "amor pelo cinema", em sequências perdidas como uma premiere de "Carruagens de Fogo" (Hugh Hudson, 1981) ou quando Hillary assiste, sozinha, a "Muito Além do Jardim" (Hal Ashby, 1979). Enfim, um filme tecnicamente belíssimo mas, ao contrário da fotografia do mestre Roger Deakins, bastante sem foco. Disponível na Star+.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dúvida

A Irmã Aloysius (Meryl Streep) vê "monstros" em todo lugar. Diretora do colégio católico St. Nicholas, no Bronx, Nova York, ela vigia a todos com olhar de falcão, em busca de "irregularidades". Uma menina é punida por usar uma presilha no cabelo; um garoto é castigado por ter simplesmente tocado no braço de uma freira. Ela é contra uma canção de natal sobre um homem de neve que ganha vida sob a alegação que se trata de "bruxaria". É o ano de 1964 e os Estados Unidos e o mundo estão passando pelas mudanças culturais dos anos sessenta. Não na opinião da Irmã Aloysius, que diz que "não há nada de novo sob o Sol". O filme "Dúvida" levanta a questão: poderia uma mulher como ela, propensa a ver pecado em todo lugar, estar certa a respeito do Padre Flynn?

Interpretado por Philip Seymour-Hoffman, o Padre Flynn é o contrário da Irmã Aloysius. Ele é querido pelos alunos, a quem ensina coisas tão diferentes quanto basquete ou o que fazer quando todas as garotas do baile se recusarem a dançar com você: "Você vira padre!", diz ele, com um sorriso no rosto. Ele está sempre tendo idéias para seus sermões, e as anota em um caderninho que carrega consigo. Na abertura do filme, nós o escutamos dizer que a dúvida pode ser uma ligação tão grande entre as pessoas quanto a certeza. Um dia a Irmã James (Amy Adams), que é professora de História, recebe um chamado do Padre Flynn. Ele quer ver Donald Miller, o único aluno negro da escola, em particular. Para a Irmã Aloysius, esse fato já é o suficiente para que uma grave acusação se forme.

O filme é escrito e dirigido por John Patrick Shanley (baseado em sua própria peça) e é claramente um filme de atores. Falar bem de Meryl Streep (indicada novamente ao Oscar de Melhor Atriz) e Philip Seymour-Hoffman pode parecer redundante, mas os dois estão perfeitos. Ambos colocam nuances e sutilezas em suas interpretações que, dependendo da questão (ou "dúvida") levantada pelo filme, nos levam a ver seus personagens de forma diferente. Seria a Irmã Aloysius assim tão má? O Padre Flynn é perseguido injustamente ou seu comportamento é sim sinal de que seja um pedófilo? Amy Adams, como a jovem e inocente Irmã James, também merece elogios. Colocada entre o padre e a diretora da escola, Adams constrói uma personagem ingênua que tem sua fé e seu prazer em dar aulas colocados em cheque. É interessante que o roteiro a coloque justamente como a pessoa que levante a dúvida sobre o Padre Flynn. Dúvida que é forte o suficiente para que ela leve o caso até a Irmã Aloysius, mas não o bastante para que ela o considere realmente culpado.

"Dúvida" é algo que não tem vez na religião católica tradicional. Foi a dúvida que deixou Moisés de fora da Terra Prometida. O tempo e as mudanças no mundo acabaram forçando a própria Igreja a questionar certezas inabaláveis como a da Irmã Aloysius. Mas e se, contra todas as evidências, ela estiver certa?


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford

Há o caso, em alguns filmes, em que a qualidade técnica de algum aspecto da produção chega a ser superior ao filme como um todo. Isso pode acontecer com a trilha sonora, com os efeitos especiais, com a montagem. No caso do descritivamente chamado "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", é a excepcional fotografia de Roger Deakins que se destaca. Ele é um veterano na arte de filmar, com um currículo invejável. Sua parceria com os irmãos Coen rendeu praticamente todos os filmes da dupla, como "Barton Fink", "O Homem que não estava lá", "Fargo", "Onde os Fracos não Têm Vez", entre outros. É dele também a ótima fotografia de "A Vila", de M. Night Shyamalan, ou "Um Sonho de Liberdade", de Frank Darabont.

O que faz um Diretor de Fotografia? Depois do diretor, ele tem a maior responsabilidade dentro de um set de filmagem. Ele é o responsável pela iluminação, pela escolha da câmera e do tipo de filme, lentes e filtros que serão usados para capturar (fotografar) a imagem. Basicamente, ele é o responsável pelo "look" do filme. Um bom diretor de fotografia pode dar a um filme um tom antigo, ou moderno, "quente", "frio", "sujo". As cores podem ser usadas para distinguir épocas ou locais diferentes dentro de um mesmo filme (como em "Traffic", por exemplo). Tudo isso pode ser feito na pós produção, mas geralmente já é feito na fotografia. No Oscar de 2008, dos cinco filmes indicados para Melhor Fotografia, Roger Deakins estava indicado em dois deles ("O Assassinato de Jesse James..." e "Onde os Fracos não Têm Vez"), perdendo para "Sangue Negro", fotografado por Robert Elswit.

Há alguns momentos em "O Assassinato de Jesse James" que parecem uma pintura. Jesse James foi um dos criminosos mais famosos dos Estados Unidos. É sintomático que ele seja interpretado por Brad Pitt, já que James, a seu modo, pode ser considerado um precursor da "cultura das celebridades" moderna. Jesse James e seu irmão mais velho Frank (o sóbrio Sam Shepard) fizeram fama e fortuna assaltando bancos e trens no século 19. O mais novo, Jesse, de temperamento irrequieto, se tornou estrela principal de vários livros baratos que os jovens da época, ávidos por aventura, liam com interesse. Um desses jovens era Robert Ford (Casey Affleck, muito mais talentoso que seu irmão Ben). Ford mantinha os livros de aventura de Jesse James embaixo da própria cama e, quando apareceu a oportunidade de trabalhar para seu herói, foi como um sonho se tornando realidade. O crítico americano Roger Ebert, em sua resenha sobre o filme, aponta a óbvia conotação homossexual que existe na ligação entre Jesse James e seu seguidor. A sequência do último assalto a trem perpetrado pelos irmãos James é fotografada por Roger Deakins como uma espécie de sonho. Surgindo da escuridão completa, a locomotiva se aproxima da barreira colocada sobre os trilhos e suas luzes iluminam, como fantasmas, os capangas do grupo à espreita na floresta.

Após o assalto, o grupo se desmembra, mas Jesse James mantém Robert Ford por mais uns dias em sua casa, onde mora com a esposa Zee (Mary-Louise Parker) e um casal de filhos. O filme então se alonga por mais de duas horas, basicamente contando a história descrita no título. Sim, é um filme em que Jesse James é assassinado pelo covarde Robert Ford. Mas é quase como se James estivesse cansado da vida, na verdade, e resolvesse arriscar um jogo mórbido com seu maior fã. Há vários momentos de beleza, em que novamente é a direção de fotografia que se destaca, e o elenco faz um bom trabalho (principalmente Sam Rockwell como o irmão mais velho de Robert). Um narrador distante conta a história, desapaixonado, quase que didaticamente, do que aconteceu. O filme ainda segue a vida de Robert Ford após o assassinato e, sem dúvida, sua história é irônica. Ele esperava glória e fortuna por ter matado um criminoso, mas passou para a História como um covarde.

O filme tem direção de Andrew Dominik, baseado no livro de Ron Hansen. É lento, pensativo, por vezes profundo. O tipo de filme, descobri, que acaba fazendo o espectador pensar nele depois. Mas é lento, longo e requer paciência. Disponível em DVD.