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domingo, 11 de junho de 2023

A Grande Virada (The Company Men, 2010)

 
A Grande Virada (The Company Men, 2010). Dir: John Wells. Netflix. Um daqueles filmes que podem ser classificados como "problemas de primeiro mundo", "A Grande Virada" tem grande elenco e é entretenimento competente, embora bastante raso. Ele se passa depois da crise financeira nos EUA no final da primeira década dos anos 2000. Um filme muito melhor chamado "Margin Call" (J. C. Chandor, 2011) foi feito mais ou menos na mesma época, e é muito menos televisivo e mais realista a respeito.

"A Grande Virada" lida com diversos personagens que trabalhavam em uma empresa chamada GTX, que costumava fabricar navios em grandes estaleiros, contratando milhares de pessoas. Com o tempo, a empresa foi mudando para a exploração financeira e, na época em que se passa o filme, está mais preocupada em "manter os acionistas felizes" e render milhões em bônus para os fundadores do que em produzir alguma coisa. Isso significa que milhares de pessoas devem ser demitidas, em todos os cargos hierárquicos, mas o filme parece mais preocupado com a "nata", gente como o personagem de Ben Affleck, que ganha "só" 150 mil dólares por ano, ou com o personagem de Tommy Lee Jones, que ganha milhões. O filme mostra como Affleck, que dirige um Porshe (não quitado), tem uma casa enorme e joga golfe semanalmente, de repente se vê desempregado aos 37 anos e sem muitas expectativas. Rosemarie DeWitt faz aquelas esposas fiéis e dedicadas, que de vez em quando tem que puxar a orelha do marido porque ele ainda quer pagar o country club, mesmo desempregado e a ponto de perder a casa.

O elenco ainda conta com Kevin Costner como um trabalhador "comum", um homem com um trabalho "real" de construir casas com as próprias mãos, em contraste com o personagem de Affleck, que apenas especula com o dinheiro dos outros. Claro que após meses desempregado, Affleck vai ter que engolir o orgulho e "bater laje" com Costner, aprendendo uma valiosa lição.

O filme é escrito e dirigido por John Wells, que veio da TV americana de séries de prestígio como "The West Wing" ou "E.R.". A direção é competente e o filme conta com a fotografia de Roger Deakins (é o segundo filme em seguida de Deakins que eu vejo, curiosamente), mas o roteiro parece ter sido cortado em algumas partes. A personagem de Maria Belo passa de amante a segunda esposa de Tommy Lee Jones sem muita explicação, para depois ter uma conversa com ele em que, pelo jeito, eles se separaram, mas isso não foi mostrado no filme. O final (a "grande virada" do título nacional) parece ter sido decidido no par ou ímpar. Tá na Netflix.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Air, A História por Trás do Logo (Air, 2023)

Air, A História por Trás do Logo (Air, 2023). Dir: Ben Affleck. Amazon Prime Video. Pouco mais de um mês depois de estrear nos cinemas, o filme de Ben Affleck sobre um tênis chega à Amazon Prime Video. É leve, interpretado por um bom elenco encabeçado por Matt Damon (com participação especial de Viola Davis), mas que não é muito mais do que um comercial de longa metragem.
A tal "história por trás do logo", no subtítulo ridículo brasileiro, é na verdade a história por trás de uma campanha de marketing que transformou um tênis em um dos produtos mais lucrativos da história. Estamos claramente nos anos 80 (como nos mostram um monte de referências a "Um Tira da Pesada", "Ghostbusters", Cindy Lauper e videogames) e a Nike é a empresa "patinho feio" do mundo dos tênis. A alemã Adidas reina suprema e a Converse patrocina as maiores estrelas da NBA. Mas um diretor da divisão de basquete da Nike, Sonny Vaccaro (Matt Damon), resolve investir todas as fichas da empresa em um astro novato, Michael Jordan. O modo como Jordan é tratado pelo filme é quase religioso, como comentou o crítico inglês Mark Kermode. Tanto que Jordan nunca é mostrado de frente (assim como Jesus em Ben-Hur). Ao invés disso, um dublê o interpreta entrando e saindo de reuniões sem mostrar o rosto ou dizer uma palavra, enquanto que a mãe (a grande Viola Davis) e o pai (Julius Tennon) negociam seu contrato com as grandes empresas.
O filme deve ser mais interessante para grandes fãs de Jordan ou, talvez, para estudantes de publicidade. Com o perdão do trocadilho, "Air" é leve como o ar, inofensivo como uma brisa. Mas é tranquilo de se assistir em casa, do sofá. Disponível na Amazon Prime Video.

sábado, 19 de março de 2022

Águas Profundas (Deep Water, 2022)

Águas Profundas (Deep Water, 2022). Dir: Adrian Lyne. Amazon Prime Video. Filme bobo sobre um casal bobo em um roteiro bobo, "Águas Profundas" marca a volta de Adrian Lyne à direção depois de 20 anos. Lyne ficou famoso com uma série de filmes nos anos 80 e 90 que, se não eram obras primas, ao menos eram interessantes, como "Flashdance"(1983), "Nove e meia semanas de amor" (1986), "Atração Fatal" (1987), "Alucinações do passado" (1990) e "Proposta Indecente" (1993).

Aqui ele dirige Ben Affleck e Ana de Armas em um suposto "suspense erótico" baseado em livro de Patricia Highsmith (da série de livros sobre Tom Ripley) de 1957. Affleck e Ana de Armas são um casal em crise. Ele é um milionário que ficou rico com a invenção de um chip usado em drones militares; ela é uma mulher vibrante que está sempre provocando o marido com uma série de "amigos" que ela traz para casa ou exibe para todo mundo. Affleck está em piloto automático, com aquele jeito Ben Affleck de interpretar; suas cenas mais "quentes" não são com Ana de Armas, mas quando ele está interagindo com sua criação de caracóis (sério). Ana de Armas está sempre ligeiramente bêbada, dançando, cantando ou tirando a roupa (em cenas breves, longe dos tempos em que Adrian Lyne fazia filmes com Kim Basinger ou Glen Close).

O personagem de Affleck finge não ligar para as infidelidades da esposa, mas não demora muito para alguns corpos começarem a aparecer. Oh, o suspense! Quem acaba roubando a cena (de todos os modos errados possíveis) é uma garota que interpreta a filha do casal, Grace Jenkins. Ela é uma garota precoce, que tem vários diálogos profundos com o pai ("Por que a mamãe age diferente quando está com outras pessoas?") e chega até a ganhar uma cena nos créditos finais, cantando e dançando. Disponível na Amazon Prime Video.
 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Bar Doce Lar (The Tender Bar, 2021)

 
Bar Doce Lar (The Tender Bar, 2021). Dir: George Clooney. Amazon Prime. Filme bonito, muito bem dirigido por Clooney e com um surpreendente Ben Affleck em um dos papéis principais, "The Tender Bar" não foi muito bem recebido pela crítica. Eu gostei. O roteiro (de William Monaham) é baseado nas memórias de J.R. Moehringer. O bar to título é onde se passa grande parte da história, que revolve ao redor de um garoto chamado JR (Daniel Ranieri, uma graça de menino). Ele e a mãe (Lily Rabe) voltam para a casa dos pais porque ela não consegue mais pagar o aluguel. O pai de JR é um canalha que é "só uma voz na rádio" (ele é um locutor que liga para o menino de tantos em tantos anos). O avô do garoto é interpretado pelo grande Christopher Lloyd, meio sumido das telas ultimamente. Há uma bela sequência em que o avô leva o neto para a escola em um evento de dia dos pais.

Quem rouba a maioria das cenas, no entanto, é Ben Affleck como o Tio Charlie. Ele se torna uma espécie de pai substituto para o garoto, lhe ensinando sobre os fatos da vida e descobrindo o talento dele como escritor. Tye Sheridan interpreta JR quando adolescente e o acompanhamos a Yale, onde se matricula em Direito (sonho da mãe). Lá ele desenvolve uma paixão não correspondida por uma mulher manipuladora chamada Sidney (Briana Middleton), que enrola o rapaz por vários anos.

O filme é bem dirigido por George Clooney, que mantém um ar nostálgico, com uma fotografia quente e a câmera em movimento. Há um plano sequência muito bom que mostra a ideia de "uma volta com o filho" que o pai de JR faz um dia, aparecendo do nada e dirigindo com o garoto em uma volta pelo quarteirão. O foco, no entanto, está sempre na interação entre os atores, nos olhares e reações. Bonito. Disponível na Amazon Prime Video.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O Último Duelo (The Last Duel, 2021)

 
O Último Duelo (The Last Duel, 2021). Dir: Ridley Scott. Superprodução de época que naufragou nas bilheterias, "O Último Duelo" é bastante bom. O roteiro, escrito a seis mãos por Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damon, conta uma mesma história por três pontos de vista (estilo "Rashomon"). Na França do século 14, dois homens duelam até a morte pela honra de uma mulher. Pela lógica da época, quem vencesse o duelo estaria manifestando a própria vontade de Deus.


Os homens são Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques Le Gris (Adam Driver). Carrouges está acusando Le Gris de ter estuprado sua esposa, Marguerite (Jodie Comer). Le Gris não nega ter tido relações com ela, mas alega que não foi estupro. A trama é contada três vezes, primeiro do ponto de vista do personagem de Matt Damon, depois de Adam Driver e finalmente pela visão de Jodie Comer. Nem sempre este "truque" do roteiro funciona. Há uma cena particularmente forte que é vista duas vezes e, apesar dos detalhes serem diferentes, não deixa de parecer exploração.

É um filme de Ridley Scott, o que significa produção classe A, bela direção de fotografia de Dariusz Wolski e trilha sonora de Harry Gregson-Williams. É bastante violento, tanto nas cenas de batalha como na cena do suposto estupro. O que fica é que as mulheres, na época, tinham nenhum controle sobre suas vidas. A decisão do duelo poderia significar não só a morte de um dos combatentes, mas da mulher também, caso "Deus" decidisse pela culpa dela. Jodie Comer (da série "Killing Eve") está excelente. "O Último Duelo" foi mal lançado nos cinemas (e só nos cinemas) e amargou um fracasso enorme. Em época ainda de pandemia, Scott deveria ter fechado um acordo com alguma plataforma de streaming e lançado o filme também na TV.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Manchester à Beira-Mar (2016)

Pense em um filme triste. Pense em um filme bom. Casey Affleck (bem melhor que o irmão Ben) é Lee Chandler, um zelador que mora sozinho em Boston fazendo trabalhos diversos. Um dia ele recebe uma ligação urgente e vai até Manchester, onde descobre que o irmão, Joe (Kyle Chandler) morreu de uma rara doença do coração. Lee é um cara de (bem) poucas palavras e é dado a explosões violentas. A trama, não linear, nos mostra flash backs de uma época em que ele era casado e tinha três filhos pequenos. O que teria acontecido com eles, onde eles estão? No presente, Lee tem que lidar com a logística de contatar funerária, advogados, ler o testamento e descobrir que o irmão lhe deixou a responsabilidade de ser guardião do filho adolescente, Patrick (Lucas Hedges, muito bem).

É um filme lento e bastante frio, quase tão frio quanto as paisagens cobertas de neve mostradas pela ótima fotografia de Jody Lee Lipes. O comportamento ausente e violento do personagem de Casey Affleck, aos poucos, vai sendo explicado por um evento trágico em seu passado. O sobrinho, agora órfão, precisa de uma figura paterna mas Lee está mais do que relutante em assumir a responsabilidade. Várias pessoas na cidade sequer o querem por perto.
"Manchester à Beira-Mar" não está muito interessado em mostrar aquelas grandes cenas de redenção que costumamos ver em dramas deste tipo. Casey Affleck está maravilhosamente contido e todos os personagens, na verdade, parece que estão precisando de um abraço. Não é um filme fácil, mas lentamente ele te conquista e, como na vida, mostra que não há respostas simples para os problemas cotidianos.

João Solimeo

domingo, 30 de outubro de 2016

O Contador (2016)

"O Contador" é o tipo de filme que eu costumo chamar de "bobagem divertida". Imagine um personagem que é um gênio matemático como o John Nash interpretado por Russell Crowe em "Uma Mente Brilhante" (2001), ou o Will Hunting de Matt Damon em "Gênio Indomável" (1997); acrescente a isso o autismo de Dustin Hoffman em "Rain Man" (1988). Para finalizar, imagine que este personagem também é um mestre em artes marciais e um sniper capaz de acertar uma mosca a um quilômetro de distância. Este é Christian Wolff (Ben Affleck), um rapaz discreto e metódico que o resto do mundo conhece como um pacato contador do sul de Chicago.

Acontece que o chefe do Departamento do Tesouro americano (o grande J.K. Simmons) está atrás dele. Wolff aparece anonimamente como uma figura misteriosa em diversas fotos de traficantes e outros criminosos famosos mundo afora e estaria ligado ao massacre de um grupo de mafiosos. Simmons recruta uma jovem analista (Cynthia Addai-Robinson) para descobrir quem é este misterioso "contador" que, milagrosamente, ainda não foi morto por nenhum destes criminosos.

O roteiro (divertidamente absurdo) empilha uma série de tramas e subtramas nos confusos vinte minutos iniciais do filme. Flashbacks nos mostram a infância sofrida do personagem de Affleck, uma criança problemática que acaba afugentando a mãe e provocando no pai (um rigoroso homem do exército) uma forte reação: ele treina o filho autista, mais seu irmão pequeno, em artes marciais, técnicas diversas de defesa e, na escola, a não levar desaforo para casa. "Todo mundo que é diferente acaba assustando as pessoas", recita o pai.

No presente, Ben Affleck é contratado por uma firma de robótica para analisar os livros de contabilidade. Uma jovem funcionária, Dana (Anna Kendrick, que já está um pouco velha para o visual adolescente), havia desconfiado de um desvio no dinheiro da empresa e Affleck é chamado para descobrir se é verdade. Isso dá ao filme a desculpa para mostrar aquelas cenas clichês de gênios matemáticos trabalhando, escrevendo furiosamente fileiras de números nas paredes de vidro de uma sala gigante e fazendo contas impossíveis na cabeça. Quando Affleck descobre que, de fato, alguém estava fazendo "caixa dois" na firma, uma série de assassinatos estranhos começam a acontecer, e logo o filme muda para a fase "Jason Bourne" e Ben Affleck pode mostrar as outras habilidades de seu personagem em grandes cenas de ação.

É tudo, como disse, uma grande bobagem, mas uma bobagem divertida. Há a participação especial de bons atores como John Lithgow, Jeffrey Tambor, Jean Smart e o já citado J.K. Simmons. Jon Bernthal chama a atenção como um assassino contratado para pegar o personagem de Affleck. Uma série de clichês culminam com um grande tiroteio no terceiro ato, em que revelações "surpreendentes" serão feitas. Se você entrar no jogo, pode se divertir com o filme. Se começar a pensar demais, os rombos de lógica vão por tudo a perder. Eu, confesso, me diverti.

João Solimeo

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Garota Exemplar (com SPOILERS)

escrevi sobre este filme aqui no blog, mas após rever o longa de David Fincher resolvi falar mais a respeito. Ao contrário do outro texto, em que tentei ser o mais vago possível, este é um texto voltado a quem já assistiu ao filme. Esta crítica contém spoilers, considere-se avisado.

É possível tecer várias teorias válidas a respeito de "Garota Exemplar". Vou tentar expor algumas ideias que me ocorreram durante as duas vezes que me deixei levar por este filme singular.

Uma imagem me chamou a atenção nesta segunda visita. No terço final do filme, quando Amy volta para casa após ter matado o personagem de Neil Patrick Harris, ela é interrogada pelo FBI e pela polícia. Ela é colocada em xeque pela policial Boney (Kim Dickens), mas consegue se safar. É então que a vemos no banco de trás de um carro, sendo levada para casa. Ela está surpresa com a quantidade de repórteres e curiosos que estão esperando por ela, e podemos ver uma expressão de alegria quase infantil em seu rosto. Após passar pelo inferno (mesmo que um inferno causado por ela mesma), ela retorna para casa como uma espécie de heroína. E, fato importante, as pessoas estão vibrando por ela e não por "Amazing Amy", a personagem de ficção que os pais haviam criado (e feito uma fortuna com ela) em uma série de livros infantis. Eu me pergunto se Amy não fez tudo aquilo apenas para conseguir finalmente superar seu alter-ego literário.


É importante voltar a uma cena no início do filme em que Amy e o futuro marido, Nick, estão em uma recepção para celebrar o casamento fictício da personagem. Amy descreve como os pais haviam transformado a garota fictícia em uma versão perfeita da filha; se a Amy real era ruim em esportes, "Amazing Amy" era uma atleta, e assim por diante. Apesar de filha única, Amy teve que competir a vida toda com uma "irmã" exemplar. O que também nos leva à relação entre Nick e a irmã gêmea dele, Margo (Carrie Coon). Reparem com que desprezo Amy diz ao FBI, na cena descrita acima, que Nick guardava na garagem da irmã as coisas que ele comprou com o cartão de crédito. "Eles são muito próximos", ela sussurra.


Amy quer ser alguém. Ela quer ser uma escritora de verdade, não uma mera colunista de uma revista feminina. Ao mesmo tempo, ela se ressente da família amorosa do marido (que saiu de Nova York para cuidar da mãe doente) e, ao descobrir que ele a está traindo com uma aluna, quer se vingar dele. Mas não creio que vingança seja o único desejo dela. Ela não quer uma simples vingança. Ela quer planejar a história perfeita, o "livro" perfeito. Perceba com que paixão literária ela mergulha na escrita do diário falso em que descreve seu relacionamento. A policial, quando o encontra na cabana do pai de Nick, mal consegue parar de lê-lo. Nós da platéia também embarcamos na ficção de Amy. Ela usa de clichês românticos como o encontro por acaso em uma festa ou a criação de "símbolos" afetivos do casal, como o cobrir do queixo do marido quando está dizendo a verdade. Ela cria "caças ao tesouro" a cada aniversário de casamento, forçando o marido a seguir pistas, como em um ensaio para o crime perfeito que ela fará um dia.

Amy, mesmo em fuga e morando em um motel barato, não consegue ficar longe dos programas sensacionalistas da TV que a transformaram na heroína que ela sempre quis ser. Falhando em ser uma escritora na vida real, ela decidiu se tornar autora do próprio drama doentio, e planeja levar a todos com ela.

Nick, no final, parece estar ciente disto tudo. "Vocês devem estar muito orgulhosos dela", ele diz aos sogros em uma cena em que Amy está há quatro horas dando autógrafos. A ironia do texto de Gillian Flynn e do filme de David Fincher é que, no fundo, as pessoas fariam de tudo para ser bem sucedidas e famosas. E para manter um relacionamento, por mais doentio que seja. Apesar de tudo o que passou com a esposa, Nick Dunne se rende às maquinações de Amy e entra no jogo dela. É o advogado (sempre prático) que diz: "Vocês têm um contrato para fazer um filme, um livro, o bar vai virar uma franquia...você deveria agradecer à ela". E acrescenta: "Só não a irrite".

Kim Novak em "Um Corpo que Cai" (1958)

Janet Leigh em "Psicose" (1963)

Rosamund Pike em "Garota Exemplar"

Um parênteses para as várias referências ao mestre Hitchcock. Rosamund Pike é a perfeita loira de Hitchcock, e estaria à vontade em um filme dele. Há várias referências a "Psicose", como a cena do chuveiro (o sangue escorrendo pelo ralo), ou a cena em que um policial encontra Amy dormindo dentro do carro e ela vai embora. Há toques de "Um Corpo que Cai" também. O filme de Hitchcock ficou famoso por revelar seu segredo no meio da trama, e não no final, e o mesmo acontece em "Garota Exemplar". Há também o tema de alguém querer transformar outra pessoa em um imagem idealizada, como James Stewart faz com Kim Novak em "Um Corpo que Cai". A questão do casamento, suas alegrias e problemas, também foi usado por Hitchcock em "Janela Indiscreta", em que Grace Kelly quer se casar com o fotógrafo James Stewart, que está reticente a respeito. Ele assiste a vários tipos de relacionamentos (inclusive um que termina em morte) pela janela do apartamento, onde está preso com uma perna quebrada, e não acha que é uma boa ideia.  

Várias outras teorias podem ser feitas a partir do filme de Fincher. Assista o filme e desenvolva a sua.

João Solimeo

domingo, 5 de outubro de 2014

Garota Exemplar

Ok, por onde eu começo? Provavelmente, por David Fincher. Que diretor hoje teria a capacidade de pegar uma trama rocambolesca e novelesca como a de "Garota Exemplar" e conseguir, primeiro: lhe  dar coesão; segundo: não entregar uma telenovela? Não conheço o livro de Gillian Flynn que serviu de base para o roteiro (adaptado pela própria Flynn), mas ele parece ter todos os elementos de um best seller de sucesso sensacionalista escrito por figuras como Sidney Sheldon ou Patricia Highsmith.

Fincher é um técnico consumado que construiu sua carreira a partir de videoclips meticulosamente dirigidos (como Vogue, de Madonna), comerciais de TV e como técnico da ILM, a empresa de efeitos especiais de George Lucas. Apesar de uma estréia cinematográfica mal sucedida em "Alien³" (1992), estabeleceu sua visão de mundo um tanto sinistra em filmes como "Se7en - Os Sete Pecados Capitais" (1995), "Clube da Luta"(1997) e o excepcional "Zodíaco" (2007). Apaixonou-se pelo cinema digital (Fincher é um dos principais usuários das câmeras RED) e levou a técnica ao limite em filmes como "A Rede Social" (2010), "Os homens que não amavam as mulheres" (2011) e a série "House of Cards", da Netflix. Fez até algumas bobagens pelo caminho, como "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e filmes divertidos, mas menores, como "Quarto do Pânico" (2002).

Todo este preâmbulo para voltarmos a "Garota Exemplar", do qual é difícil falar da trama (ou das múltiplas tramas) sem revelar seus segredos. Fincher subverte as convenções do thriller e entrega algo a mais, um olhar afiado sobre a sociedade do espetáculo criada pela mídia com a colaboração do público.

No dia do quinto aniversário de casamento de Nick (Ben Affleck, de "Argo") e Amy (Rosamund Pike, de "Jack Reacher - O Último Tiro"), ela desaparece em pleno ar. A polícia encontra traços de sangue pela casa e outras pistas de um suposto crime. Nick é o principal suspeito, mas ele parece tão perdido que, a princípio, a polícia pega leve com ele. Amy era muito bonita e havia sido uma escritora de sucesso; seu desaparecimento poderia ter sido causado por algumas figuras do passado, como um obcecado ex-namorado, Desi (interpretado por Neil Patrick Harris, da série "How I met you mother").


Os pais de Amy, que haviam sido da alta sociedade de Nova York, organizam uma campanha na mídia para encontrar a filha e comovem a nação. O comportamento de Nick é considerado estranho. Ele não parece tão abalado com o sumiço da esposa e não consegue interpretar o papel do "marido desesperado" em frente às câmeras. Ele está escondendo alguma coisa?

Os segredos do casal são revelados aos poucos através de uma montagem paralela que mistura cenas do presente com trechos lidos por Amy diretamente do diário dela. Ela descreve um casamento que começou de forma perfeita mas, aos poucos, foi sendo minado pela crise financeira e supostos atos violentos por parte de Nick.

Fincher e o roteiro de Flynn brincam o tempo todo com a percepção do público. Logo descobrimos que não podemos acreditar piamente nas informações apresentadas, nem mesmo nos supostos flashbacks contando a história do casal (dizem que Hitchcock sempre se arrependeu de ter usado um falso flashback em um de seus suspenses, "Pavor nos Bastidores", de 1950, mas o recurso é muito bem utilizado aqui).

"Garota Exemplar" não tem a seriedade contida de filmes anteriores de Fincher, como "Se7en", cujo roteiro, racionalmente, também não fazia muito sentido. As várias reviravoltas transformam o filme em uma série de episódios cada vez mais absurdos, que Fincher contrabalança com o aumento da sátira e até mesmo com comentários metalinguísticos dos personagens. É bem vinda a entrada de um advogado interpretado muito bem por Tyler Perry, que faz uma espécie de contraponto satírico aos fatos da trama. Todo o elenco, aliás, está muito bem (a começar por Affleck e Pike); destaques para Carrie Coon (muito parecida com Joan Cusack), que interpreta a irmã gêmea de Affleck, e Kim Dickens como a policial que é a "voz da razão" do filme.

O final, bastante irônico, pode decepcionar àqueles que esperam uma resolução tradicional. "Zodíaco" também não terminava da forma "redonda" que muitos queriam. "Garota Exemplar", com sua mistura de suspense, sensacionalismo, sexo e muito sangue, porém, é um dos melhores filmes do ano.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Jesse Eisenberg será Lex Luthor

Depois da polêmica escolha de Ben Affleck como Batman (apesar dos rumores em contrário), a Warner agora testa o público com a escolha de Jesse Eisenberg ("A Rede Social", "Truque de Mestre") para ser o grande inimigo do Superman, Lex Luthor, na continuação do filme "O Homem de Aço". A informação é da Variety.

O personagem foi interpretado muito bem pelo grande Gene Hackman nos filmes do Superman com Christopher Reeve e havia rumores de que Bryan Cranston (da série Breaking Bad) o faria agora. No entanto, Warner parece estar procurando por um elenco mais jovem.

O inglês Jeremy Irons ("Trem Noturno para Lisboa") foi escalado para viver o mordomo Alfred, o mentor do Homem-Morcego (nos filmes de Christopher Nolan, Alfred foi interpretado por Michael Caine).

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Aposta Máxima

A crítica deste filme foi feita em forma de vídeo. Não pretendo abandonar as críticas escritas, até porque nem sempre terei as condições para gravar e editar um vídeo, mas fica este como teste.

Divirta-se!



Câmera Escura

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vencedores Globo de Ouro 2013




Cinema

Melhor Filme – Drama
>>>"Argo"
"Lincoln"
"A hora mais escura"
"Django livre"
"As aventuras de Pi"

Melhor Filme – Comédia ou musical
>>>>"Os Miseráveis"
"O exótico hotel Marigold"
"Moonrise Kingdom"
"O lado bom da vida"
"Amor impossível"

Melhor diretor
>>>>Ben Affleck ("Argo")
Kathryn Bigelow ("A hora mais escura")
Ang Lee ("As aventuras de Pi")
Steven Spielberg ("Lincoln")
Quentin Tarantino ("Django Livre")

Melhor ator – Drama
>>>>Daniel Day-Lewis ("Lincoln")
Joaquin Phoenix ("O mestre")
Denzel Washington ("O voo")
Richard Gere ("A negociação")
John Hawkes ("As sessões")

Melhor ator – Comédia ou musical
>>>>Hugh Jackman ("Os miseráveis")
Jack Black ("Bernie")
Bradley Cooper ("O lado bom da vida")
Ewan McGregor ("Amor impossível")
Bill Murray ("Um fim de semana em Hyde Park")

Melhor atriz – Drama
>>>>Jessica Chastain ("A hora mais escura")
Marion Cotillard ("Ferrugem e osso")
Helen Mirren ("Hitchcock")
Naomi Watts ("O impossível")
Rachel Weisz ("The deep blue sea")

Melhor atriz – Comédia ou musical
>>>>Jennifer Lawrence ("O lado bom da vida")
Emily Blunt ("Amor impossível")
Judi Dench ("O exótico hotel Marigold")
Maggie Smith ("Quartet")
Meryl Streep ("Um divã para dois")

Melhor ator coadjuvante
>>>>Christoph Waltz ("Django livre")
Alan Arkin ("Argo")
Leonardo DiCaprio ("Django livre")
Philip Seymour Hoffman ("O mestre")
Tommy Lee Jones ("Lincoln")

Melhor atriz coadjuvante
>>>>Anne Hathaway ("Os miseráveis")
Amy Adams ("O mestre")
Sally Field ("Lincoln")
Helen Hunt ("As sessões")
Nicole Kidman ("The paperboy")

Melhor trilha original
>>>>Mychael Danna ("As aventuras de Pi")
Alexandre Desplat ("Argo")
Dario Marianelli ("Anna Karenina")
Tom Tyker, Johnny Klimek, Rein Holdheil ("A viagem")
John Williams ("Lincoln")

Melhor canção original
>>>>"Skyfall" ("007: Operação Skyfall")
"For you" ("Ato de valor")
"Not running anymore" ("Amigos inseparáveis")
"Safe and Sound ("Jogos vorazes")
"Suddenly" ("Os miseráveis")

Melhor roteiro
>>>>Quentin Tarantino ("Django livre")
Chris Terrio ("Argo")
Mark Boal ("A hora mais escura")
David O. Russell ("O lado bom da vida")
Tony Kushner ("Lincoln")

Melhor filme estrangeiro
>>>>"Amor" (Áustria)
"Kon-tiki" (Noruega)
"Intocáveis" (França)
"O amante da rainha" (Dinamarca)
"Ferrugem e osso" (França/Bélgica)

Melhor animação
>>>>"Valente" (2012)
"Frankenweenie" (2012)
"Hotel Transilvânia" (2012)
"A origem dos guardiões" (2012)
"Detona Ralph" (2012)


 TV
Melhor série de TV – Drama
>>>>"Homeland"
"Boardwalk empire"
"Breaking bad"
"Downton abbey"
"The newsroom"

Melhor série de TV – Musical ou comédia
>>>>"Girls"
"The big bang theory"
"Episodes"
"Modern family"
"Smash"

Melhor ator em série de TV – Drama
>>>>Damian Lewis ("Homeland")
Steve Buscemi ("Boardwalk empire")
Bryan Cranston ("Breaking bad")
Jeff Daniels ("The newsroom")
Jon Hamm ("Mad men")

Melhor atriz em série de TV – Drama
>>>>Claire Danes ("Homeland")
Connie Britton ("Nashville")
Glenn Close ("Damages")
Michelle Dockery ("Downton abbey")
Julianna Margulies ("The good wife")

Melhor ator em série TV – Comédia ou musical
>>>>Don Cheadle ("House of lies")
Alec Baldwin ("30 Rock")

Louis C.K. ("Louis"
)
Matt LeBlanc ("Episodes")

Jim Parsons ("The big bang theory")

Melhor atriz em série de TV – Comédia ou musical
>>>>Lena Dunham ("Girls")
Zooey Deschanel ("New girl")
Tina Fey ("30 Rock")
Julia Louis-Dreyfus ("Veep")
Amy Poehler ("Parks and recreation")

Melhor minissérie ou filme para TV
>>>>"Virada no jogo"
"The Girl"
"Hatfields & McCoys"
"The hour"
"Political animals"

Melhor ator em minissérie ou filme para a TV
>>>>Kevin Costner ("Hatfields & McCoys")
Benedict Cumberbatch ("Sherlock")
Woody Harrelson ("Virada no jogo")
Toby Jones ("The girl")
Clive Owen ("Hemingway & Gelhorn")

Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV
>>>>Julianne Moore ("Virada no jogo")
Nicole Kidman ("Hemingway & Gelhorn")
Jessica Lange ("American horror story")
Sienna Miller ("The girl")
Sigourney Weaver ("Political animals")

Melhor ator coadjuvante em minissérie ou filme para a TV
>>>>Ed Harris ("Virada no jogo")
Max Greenfield ("New girl")
Danny Huston ("Magic city")
Mandy Patinkin ("Homeland")
Eric Stonestreet ("Modern family")

Melhor atriz coadjuvante em minissérie ou filme para TV
>>>>Maggie Smith ("Downton abbey")
Hayden Panettiere ("Nashville")
Archie Panjabi ("The good wife")
Sarah Paulson ("American horror story")
Sofia Vergara ("Modern family")

domingo, 11 de novembro de 2012

Argo

"Argo" é o terceiro filme dirigido por Ben Affleck que, como ator, é bastante limitado. Como diretor, porém, Affleck atingiu a maturidade com este filme inteligente que, baseado livremente em fatos reais, é uma boa mistura de entretenimento e suspense. Em novembro de 1979, a embaixada americana no Irã foi invadida por uma multidão que apoiava o Aiatolá Khomeini. Vários americanos foram feitos reféns mas, durante a confusão, seis diplomatas conseguiram fugir para a casa do embaixador do Canadá, onde ficaram escondidos por várias semanas, aguardando serem resgatados.

Ben Affleck interpreta Tony Mendez, um especialista da CIA em repatriar reféns. Ele é chamado pelo Departamento de Estado para dar sua opinião e, após refutar vários planos (um deles sugeria que os reféns pedalassem 500 quilômetros até a fronteira ao norte), criou um plano tão absurdo que poderia dar certo. Inspirado pelos filmes de ficção-científica e fantasia que viraram moda nos Estados Unidos no final dos anos 1970 (principalmente após o lançamento de "Star Wars", em 1977), Mendez sugere que a CIA crie uma companhia de cinema fictícia que iria procurar por locações exóticas no oriente para um filme B chamado "Argo". Para dar mais verossimilhança à ideia, Mendez contrata um produtor real de Hollywood chamado Lester Siegel (o ótimo Alan Arkin) e um especialista em efeitos especiais chamado John Chambers (o igualmente competente John Goodman). Os dois ficam responsáveis por espalhar  por Hollywood a notícia de que "Argo" é uma produção real, inclusive promovendo uma leitura de roteiro e publicando cartazes  do filme em jornais e revistas especializadas como a "Variety". Mendez então viaja ao Irã para treinar os seis reféns americanos, que fingiriam ser a equipe de filmagem de "Argo" e, se tudo desse certo, sairiam do país diretamente pelo aeroporto internacional, debaixo dos narizes da polícia fanática do aiatolá.

O filme é uma junção competente de filme de suspense, espionagem e, de quebra, mostra os bastidores de Hollywood. O roteiro (de Chris Terrio) lembra bastante "Mera Coincidência" (1997), de Barry Levinson, em que um produtor de Hollywood (Dustin Hoffmann) era contratado para criar uma guerra fictícia e desviar a atenção da imprensa de um escândalo da Casa Branca. Alan Arkin e John Goodman estão muito bem como produtores reais criando um filme irreal. Hollywood é uma força tão grande na imaginação coletiva mundial que a ideia "maluca" de Mendez de dizer que está no Irã para fazer um filme de ficção-científica em plena crise dos reféns não soa inverossímil. Há uma cena muito boa que mostra os guardas iranianos maravilhados com o "storyboard" de "Argo" enquanto o oficial superior tenta checar a história de Affleck. A recriação de época é muito boa e o filme transporta o espectador para o início dos anos 1980. Ben Affleck ficou tão orgulhoso com este aspecto do filme que "Argo" termina comparando imagens reais da época com outras recriadas para o filme. "Argo" estreou bem no mundo todo e há grandes chances de ser escolhido um dos candidatos ao próximo Oscar. Vale lembrar que Ben Affleck, junto com Matt Damon, já tem um Oscar de "Melhor Roteiro Original" por "Gênio Indomável", filme que escreveu em 1997.

Um aspecto que deve ser mencionado é o fato de que as relações entre os EUA e o Irã hoje vão de mal a pior, com grandes chances de uma intervenção militar por causa de supostas armas nucleares que o Irã estaria fabricando. Um filme como "Argo", que mostra os iranianos como fanáticos ignorantes, cai facilmente no gosto do público no momento político atual. Independente disso, é um ótimo filme de entretenimento, que pode dar a Affleck uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor.

domingo, 21 de junho de 2009

Intrigas de Estado

"Intrigas de Estado" segue a linha de produções que mostram jornalistas investigando casos que envolvem conspirações entre grandes empresas, o poder e subserviência da mídia e o envolvimento de políticos em escândalos. Pode-se citar "Todos os Homens do Presidente" (de Alan J. Pakula), ou "O Informante" (de Michael Mann) como outros exemplos do gênero. Adaptado de uma série da televisão britânica, "Intrigas de Estado" é dirigido por Kevin MacDonald ("O Último Rei da Escócia") e foi escrito por Matthew Michael Carnahan ("Leões e Cordeiros") e Tony Gilroy, ótimo roteirista de toda a série "Bourne" e diretor de "Conduta de Risco" (Michael Clayton). Essa equipe classe "A" é acompanhada por um grande elenco, composto por Russell Crowe, Helen Mirren, Robin Wright Penn, Rachel McAdams, Jeff Daniels e Ben Affleck.

A trama envolve um deputado chamado Stephen Collins (Affleck) que está encabeçando uma CPI sobre a terceirização do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Baseado em fatos reais, a "vilã" do filme é uma empresa chamada Pointcorp, empregada pelo governo americano para agir no Iraque e que fatura bilhões de dólares. Fundada e operada por ex-militares, a empresa é acusada de abusos no campo de batalha e por falcatruas internas. No início do filme, vemos três crimes aparentemente não relacionados que chamam a atenção de um repórter da velha guarda do "Washington Globe", Cal McAffrey (Crowe). Ele e Collins estudaram na faculdade juntos, e quando a principal investigadora de Collins é morta de forma suspeita no metrô, a imprensa cai em cima dele ao descobrir que o deputado estava tendo um caso com a garota. Cal estava investigando o assassinato de um morador de rua e de um simples entregador de pizza e descobriu que estes crimes estão ligados à morte da pesquisadora de Collins. Tudo aponta para uma conspiração da Pointcorp, que estaria interessada em desmoralizar Collins na Comissão de Inquérito.

O filme também toca na questão dos rumos do jornalismo neste milênio. Há uma demanda crescente dos donos do jornal para vender a qualque custo, e Cal torce o nariz para uma novata da redação, Della Frye (McAdamns), que escreve para a parte online do diário. Mas os dois acabam se tornando parceiros na investigação, e Russel Crowe mais uma vez se mostra um grande ator. Seu personagem é um jornalista das antigas, sempre com uma caneta e bloco na mão, com contatos em todo lugar e conhecido de policiais e políticos. Sua mesa na redação é aparentemente uma bagunça, assim como o carro velho que dirige. Interessante que a direção de arte tenha feito a redação do jornal com uma aparência que me lembrou um presídio. Há linhas verticais cortando a tela que lembram barras e o ambiente é escuro, mas Cal ainda acredita que a "verdade" tenha de ser buscada lá fora, nas ruas. Há uma complicação adicional no fato de que ele e a esposa de Collins, Anne (a bela Robin Wright Penn), terem tido um caso que vem desde a época da faculdade, e há um estranho triângulo amoroso entre o jornalista, o congressista e sua esposa, em que todos aparentemente sabem da situação mas nunca a comentam.

O filme é bem escrito, bem interpretado e dirigido. Há bons momentos de suspense e uma idéia de que ainda vale a pena lutar por alguma coisa.


segunda-feira, 5 de maio de 2008

Hollywoodland

Boa opção em DVD é o filme “Hollywoodland”, de Allen Coulter. O filme é uma mistura de fatos reais com ficcionais e conta a história trágica de George Reeves (Ben Affleck), ator que aparentemente cometeu suicídio em 1959. O primeiro papel de Reeves no cinema foi no filme “...E o Vento Levou” (1939), com Clark Gable e Vivien Leigh, e esperava seguir carreira de sucesso. Mas a competição em Hollywood era acirrada e, com o crescimento da televisão na década de 50, Reeves sobrevivia de pequenas pontas na telinha até que emplacou no papel principal na série “Superman”. Ele odiava ter que vestir a roupa e a capa do “homem de aço”, mas ele se tornou um sucesso entre as crianças e era reconhecido nas ruas pelo papel. Hoje é comum atores trabalharem tanto na TV quanto no cinema, mas na época havia uma separação clara entre as duas mídias. Reeves, deprimido, teria se matado com um tiro na cabeça em 1959.

O filme começa com o suicídio e acompanha a carreira de um detetive de segunda classe chamado Louis Simo (Adrien Brody), que é contratado pela mãe de Reeves para investigar sua morte. A reconstituição de época é muito boa e mostra os dois mundos que havia em Hollywood na época: o aparente glamour dos astros e produtores que freqüentavam nightclubs famosos como o “Ciro´s”, e o lado “B” deste mundo, composto por aspirantes a estrelas que faziam de tudo para aparecer e conseguir um lugar entre os astros. O interessante é que há uma semelhança entre Reeves e Simo. Vemos cenas em flashback de Reeves tentando alcançar a fama usando de “truques” como sair em fotos com Rita Rayworth e outras estrelas; Simo usa de artifícios semelhantes (como sair em fotos com a mãe de Reeves) para chamar atenção sobre si. O personagem de Simo é fictício, mas há de fato várias teorias de que a morte de Reeves não tenha sido provocada por ele mesmo. Reeves se tornou amante de Toni Mannix (Diane Lane), esposa de um dos chefões da MGM (interpretado pelo ótimo Bob Hoskins). O caso era conhecido e Reeves era praticamente sustentado pela amante, que lhe comprou uma casa em Hollywood e tentou ajudá-lo em sua carreira no cinema. O problema é que a fama de “Superman” começou a atrapalhar. As pessoas viam Reeves na tela e faziam piadas sobre o homem de aço, o que fez com que ele fosse cortado de “A um passo da Eternidade”, por exemplo.

A escolha de Ben Affleck para interpretar Reeves foi acertada. Assim como o interpretado, Affleck é um ator que, apesar do “charme”, é claramente limitado. “Hollywoodland” tem produção e elenco de uma grande produção, mas passou em branco nos cinemas. Mas é um bom filme para se assistir com calma em DVD. Quanto a George Reeves, há quem diga que ele sofreu a “maldição de Superman”, que deu final trágico a vários dos que se associaram ao personagem. Anos depois, outro ator que o interpretou (e que tinha um nome bem parecido), Christopher Reeve, sofreu um acidente de cavalo que o deixou paralisado e o levou à morte em 2004.