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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Medieval (2022)

Medieval (2022). Dir: Petr Jákl. Netflix. Filme tcheco falado em inglês e com atores hollywoodianos, "Medieval" é uma espécie de "Coração Valente" com toques de "Gladiador". A trama é um tanto confusa, aquele tipo de filme que, de tanto em tanto tempo, você se pega perguntando "Quem é esse cara mesmo?".

Europa, início do século 15; o grande Michael Caine, em uma narração, conta como a Igreja está com problemas. Dois papas foram oficialmente anunciados (um em Roma, outro na França) e o rei Wenceslau da Boêmia (antiga República Tcheca) tem que ir a Roma para ser coroado imperador. Ben Foster é um mercenário chamado Jan Žižka; ele é contratado para sequestrar a Lady Catarina (Sophie Lowe), que seria usada para forçar o apoio de um nobre ao novo rei. Complicado? Pois é.

Toda a parte política serve de pano de fundo para sangrentas batalhas corpo a corpo. A câmera adora pegar em detalhes cenas de membros decepados e cabeças cortadas. O roteiro tenta, em vão, criar algum "romance" entre o mercenário Jan e Lady Catarina. Ben Foster é um ótimo ator, mas seu personagem é monossilábico demais para ser o líder popular que o filme quer que ele seja. Há vários ecos de cenas de "Coração Valente" e batalhas de "Gladiador", mas sem o carisma de um Mel Gibson ou Russell Crowe. Michael Caine melhora o nível do filme em todas as cenas que participa e "Medieval" tem vários bons momentos, mas poderia ser bem melhor. Tá na Netflix.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022)

 
A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022). HBO Max. Eis que, depois de um final considerado desastroso, "Game of Thrones" está de volta. Não é exatamente "Game of Thrones", mas quase a mesma coisa; lá está a bela abertura com a música de Ramin Djawadi, os cenários medievais, intrigas palacianas, cenas de nudez e sexo, mortes violentas e uns dragões voando. Criada por

Ryan J. Condal e George R.R. Martin, "A Casa do Dragão" tem dez episódios e se saiu bem melhor do que eu esperava. A trama se passa uns duzentos anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), a "mãe de dragões" da série anterior.

Os efeitos especiais são bastante bons, mas fiquei com a impressão de que a série é mais "light" em termos de orçamento. Grande parte dos episódios se passa dentro dos castelos e o foco me pareceu mais nas pessoas (apesar dos dragões) do que em grandes paisagens ou milhares de soldados feitos em computação gráfica. O elenco é ótimo. Há alguns pulos temporais e vários personagens são interpretados por atores e atrizes diferentes, conforme a idade. No elenco fixo, Paddy Considine faz um Rei Viserys muito bom. Quem rouba todas as cenas, no entando, é Matt Smith como o príncipe Daemon Targaryen; ele, que já foi o Doutor em "Doctor Who" e o Príncipe Philip em "The Crown", faz aqui um personagem totalmente sem escrúpulos e que vive conforme as próprias regras.

A série é, também, mais feminina, particularmente focada no enorme fardo (e beleza) da maternidade. Desde o primeiro episódio já vemos uma cena pesada de parto seguida de morte, tema que se repete por toda a temporada. A princesa Rhaenyra Targaryen é interpretada por Milly Alcock, quando criança e por Emma D´Arcy quando adulta. As duas são ótimas (Alcock, particularmente, é uma revelação). Já a Rainha Alicent Hightower é interpretada por Emily Carey quando criança e por Olivia Cooke quando adulta. Às vezes fica meio confuso entender quem é filho, tio, tia ou sobrinho de quem; ainda mais com nomes parecidos e com a mania desse povo de transar/casar com parentes (bem) próximos.

Peter Dinklage faz falta? Sem dúvida. A trama, às vezes, parece uma novela de luxo? Sim. Mas é tudo bem feito e, por enquanto, vale a pena acompanhar. A segunda temporada, pelo jeito, só em 2024. Disponível na HBO Max.  

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Lou (2022)

 
Lou (2022). Dir: Anna Foerster. Netflix. Em um (raro) bom filme de suspense e ação produzido pela Netflix. Allison Janney (The West Wing, Eu Tônia) é uma ex agente da CIA que está escondida em uma ilha isolada na costa dos EUA (embora, vamos combinar, se ela está se escondendo, está fazendo um péssimo trabalho; todos na cidadezinha próxima a conhecem pelo nome). Estamos nos anos 1980, como mostram imagens do presidente Reagan na TV e pela trilha sonora composta por sucessos como "Africa", do Toto.

Uma vizinha, Hannah (Jurnee Smollett), tem a filha pequena sequestrada por um homem misterioso, Phillip (Logan Marshall-Green, que é um CLONE de Tom Hardy) e é então que Lou se revela como uma especialista em armas e em seguir rastros em uma floresta encharcada. Lou e Hannah partem em busca da menina debaixo de uma tempestade e, no caminho, as peças do quebra cabeça vão se juntando para revelar quem é quem, de verdade.

Janney, que geralmente interpreta personagens cômicas ou sarcásticas, está bem em um filme de ação. Ela carrega marcas físicas e psicológicas no corpo das coisas que teve que fazer em décadas na CIA. Hannah também carrega marcas pelo corpo, resultado de um relacionamento tóxico. É um filme de ação de um ponto de vista feminino, o que inclui discussões sobre maternidade e relacionamentos abusivos. Tá na Netflix. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O Predador: A Caçada (Prey, 2022)

O Predador: A Caçada (Prey, 2022). Dir: Dan Trachtenberg. Star+. Curiosa versão do "Predador" passada no século 18. Ao contrário de Schwarzenegger e seu companheiros musculosos e armados até os dentes, este Predador tem vítimas aparentemente mais fáceis de derrotar (será?). O filme se passa no norte da América no começo dos anos 1700. A nação comanche divide a terra com ursos, grandes felinos, lobos e exploradores franceses. A índia Naru (Amber Midthunder) quer se tornar uma caçadora assim como seu irmão, Taabe (Dakota Beavers) e é ótima com um pequeno machado (que funciona como o martelo do Thor às vezes, rs). Rastros de um grande animal surgem na floresta e Naru quer caçá-lo, mas o bicho, claro, é o tal caçador extraterrestre que já estrelou tantos filmes.


É uma premissa interessante. O Predador já foi visto em vários cenários e épocas (até em bombas como "Predador versus Alien" e suas continuações). Este filme segue a tendência de colocar mulheres em papéis geralmente masculinos, e a personagem Naru é uma boa antagonista pro monstrão. Há boas sequências passadas nas florestas e de luta contra diversos tipos de animais (inclusive humanos), além do Predador. Há bastante violência explícita nos embates entre o bichão e suas presas. Se a moda pegar, qual o próximo passo? O Predador lutando contra samurais no Japão medieval? Cavaleiros na Idade Média? Só o tempo dirá. Disponível no Star+.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Passado Violento (Clean, 2022)

 
Passado Violento (Clean, 2022). Dir: Paul Solet. Netflix. O filme é o típico "vanity project", aquele tipo de projeto feito por algum ator para exibir seu talento ou mostrar como é sério e relevante. Adrien Brody, no caso, assina interpretação, roteiro, produção e, vejam só, até a trilha sonora deste filme sombrio e violento. Brody é conhecido como Clean ("limpo"), um cara que trabalha como lixeiro (entendeu?) durante a noite. Quieto e com a cara fechada, ele esconde um passado violento (como explica o título) e um lado de bom samaritano; ele usa as horas vagas para pintar e limpar as casa abandonadas da vizinhança. Também é o protetor de uma garota negra chamada Dianda (Chandler DuPont), para quem cozinha e leva para a escola. Todos os dias ele acorda do mesmo pesadelo/flashback, em que o vemos mais novo, abraçado a uma garotinha negra, sua filha.


Como se vê, o filme é cheio de clichês. A inspiração óbvia é "Taxi Driver", de Scorsese; Brody até narra algumas partes, enquanto dirige pelas ruas desertas (dá quase para escutar De Niro falando sobre como ele deseja que, um dia, uma chuva lave toda a sujeira da cidade). Outra inspiração é aquele filme com Joaquin Phoenix em que ele também parte para a violência para proteger uma garota, "Você nunca esteve realmente aqui" (2017). Reconhecendo tudo isso, até que não é um filme ruim. A direção de fotografia (de Zoran Popovic) faz bom uso das sombras. A sequência final é um banho de sangue que, também, faz referência a Scorsese. Tá na Netflix.

domingo, 22 de maio de 2022

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022)

 

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022). Netflix. Volta a série animada criada por Tim Miller, com produção executiva de David Fincher. Tive a impressão de que esta temporada veio ainda mais violenta e perturbadora. São nove episódios, com várias técnicas de animação. Há ao menos uma obra prima e vários episódios bons; por vezes, fica aquele gosto de algo inacabado, como se não fossem curtas-metragens com começo, meio e fim, mas como se pegássemos uma história no meio e saíssemos antes do final.


1 - Os três robôs. Direção de Patrick Osborne, é uma espécie de continuação de um episódio da primeira temporada, creio, em que três robôs falam sobre os antigos mestres do planeta, os seres humanos. Engraçado, mas bobinho.

2 - Viagem Ruim. Direção de David Fincher, é meu segundo favorito desta temporada. Um grupo de marinheiros luta contra uma espécie de caranguejo gigante e carnívoro que quer ser levado a uma ilha povoada. Lento e bem dirigido por Fincher, é também um dos mais violentos.

3 - O mesmo pulso da máquina. Diração de Emily Dean, tem um visual incrível e é passado em Io, um dos satélites de Júpiter. Uma astronauta (voz de Mackenzie Davis) tenta sobreviver a um acidente enquanto arrasta o corpo de uma companheira por quilômetros. Os mesmos remédios que a mantém viva iniciam uma série de alucinações psicodélicas. Bem interessante.

4 - Noite dos minimortos. Direção de Robert Bisi & Andy Lyon. É o episódio mais engraçado; tecnicamente é muito interessante. Um apocalipse zumbi visto em miniatura, com situações clichês deste tipo de filme visto como se estivesse acontecendo em um minimundo.

5 - Matança em grupo. Direção de Jennifer Yuh Nelson. Falando em clichês, este tem todos os clichês do filme militar, em que um grupo de soldados machões enfrentam uma arma secreta da CIA. Muito sangue, vísceras e frases de efeito.

6 - Enxame. Direção de Tim Miller. Computação gráfica fotorrealista mostra dois seres humanos em uma espécie de colônia de cupins espacial. Para quem tem problemas com insetos pode ser um tanto nojento.

7 - Ratos de Mason. Direção de Carlos Stevens. Animação cartunesca sobre a luta de um fazendeiro contra os ratos que invadiram seu celeiro. Há um bocado de pedaços de rato voando pela tela.

8 - Sepultados na caverna. Direção de Jerome Chen. Outro curta militar; um grupo de soldados entra em uma caverna em busca de um refém e encontram uma série de coisas estranhas, que vão se tornando cada vez mais sombrias. Pesadão.

9 - Fazendeiro. Direção de Alberto Mielgo. É o melhor de todos, de longe. O visual é impressionante, confesso que fiquei em dúvida se era computação gráfica ou uma técnica mista com imagens reais. Um grupo de conquistadores espanhóis, nas Américas, enfrentam uma espécie de sereia do lago, coberta de escamas de ouro. Simplesmente maravilhoso, tanto no visual quanto no roteiro, uma alegoria à invasão europeia na América. O curta foi feito por uma produtora espanhola que já havia feito outro episódio impressionante chamado "A Testemunha", em uma das temporadas anteriores. Este vale pela terceira temporada toda. Tá na Netflix.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O Último Duelo (The Last Duel, 2021)

 
O Último Duelo (The Last Duel, 2021). Dir: Ridley Scott. Superprodução de época que naufragou nas bilheterias, "O Último Duelo" é bastante bom. O roteiro, escrito a seis mãos por Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damon, conta uma mesma história por três pontos de vista (estilo "Rashomon"). Na França do século 14, dois homens duelam até a morte pela honra de uma mulher. Pela lógica da época, quem vencesse o duelo estaria manifestando a própria vontade de Deus.


Os homens são Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques Le Gris (Adam Driver). Carrouges está acusando Le Gris de ter estuprado sua esposa, Marguerite (Jodie Comer). Le Gris não nega ter tido relações com ela, mas alega que não foi estupro. A trama é contada três vezes, primeiro do ponto de vista do personagem de Matt Damon, depois de Adam Driver e finalmente pela visão de Jodie Comer. Nem sempre este "truque" do roteiro funciona. Há uma cena particularmente forte que é vista duas vezes e, apesar dos detalhes serem diferentes, não deixa de parecer exploração.

É um filme de Ridley Scott, o que significa produção classe A, bela direção de fotografia de Dariusz Wolski e trilha sonora de Harry Gregson-Williams. É bastante violento, tanto nas cenas de batalha como na cena do suposto estupro. O que fica é que as mulheres, na época, tinham nenhum controle sobre suas vidas. A decisão do duelo poderia significar não só a morte de um dos combatentes, mas da mulher também, caso "Deus" decidisse pela culpa dela. Jodie Comer (da série "Killing Eve") está excelente. "O Último Duelo" foi mal lançado nos cinemas (e só nos cinemas) e amargou um fracasso enorme. Em época ainda de pandemia, Scott deveria ter fechado um acordo com alguma plataforma de streaming e lançado o filme também na TV.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Kate (2021)

Kate (2021). Dir: Cedric Nicolas-Troyan. Netflix. Comecei a ver achando que iria parar depois de uns dez minutos, mas "Kate" é bem melhor do que esperava. Passado no Japão moderno, parece que estamos vendo um "anime" em live action. O roteiro é uma bobagem, mas o diretor francês tem bastante estilo e entrega alguns planos bem feitos seja em cenas de correria pelas ruas de Tokyo ou nas várias lutas corpo a corpo em restaurantes, ruelas escuras ou arranha-céus. A fotografia noturna usa luzes neon, projeções em prédios e luminosos que lembram um pouco "Akira" ou "Ghost in the Shell".

Mary Elizabeth Winstead cresceu e não é mais (faz tempo) aquela adolescente de "Scott Pilgrim". Aqui ela é uma assassina profissional chamada Kate, que trabalha para uma espécie de figura paterna interpretada por Woody Harrelson, que a treinou desde criança. (Meio spoiler, mas é a premissa do filme>>) Kate acaba envenenada mortalmente após assassinar o membro de um clã da Yakuza. Com apenas alguma horas de vida, ela parte para se vingar pelas ruas de Tokyo, matando um bocado de gente mesmo com a saúde se deteriorando a olhos vistos.

Winstead está bem no papel. Ela é boa atriz e se garante tanto nas cenas dramáticas quanto nas de ação. Há bastante violência em cenas de tiroteio, lutas com facas e até katanas. Kate acaba formando uma parceria (meio forçada) com uma adolescente (Miku Martineau) que é a sobrinha do chefão que ela pretende matar. Eu acho que o filme poderia terminar uns 15 minutos antes (como sempre) mas há um clímax bem feito, com muita pancadaria e tiros em um arranha-céu. Bobagem clichê divertida. Tá na Netflix. 
 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

The Pacific (2010)

The Pacific (2010). Vários diretores. HBO Max. Assinar a HBO Max, para mim, tem mais a ver com explorar o acervo passado do canal do que o presente. "The Pacific" é um dos motivos. É uma minissérie irmã de "Band of Brothers" (2001), espetacular retrato da reconquista da Europa pelos soldados aliados na 2ª Guerra Mundial. Como diz o título, "The Pacific" foca nas batalhas travadas pelos americanos contra os japoneses nas centenas de ilhas do Oceano Pacífico. Não é tão boa quanto "Band of Brothers", mas chega perto. São dez capítulos com produção executiva de Tom Hanks e Steven Spielberg, o que garantiu um alto orçamento e cenas de batalhas quase tão espetaculares quanto "O Resgate do Soldado Ryan" (1998).

Baseada em relatos de combatentes reais, a série acompanha uma série de Fuzileiros Navais (os famosos "Marines") em ferozes lutas travadas no mar, nas praias e selvas de diversos arquipélagos dominados pelos japoneses. Spielberg estabeleceu um padrão de realismo (e violência) em "Soldado Ryan" que revolucionou o modo como o cinema retratou a 2ª Guerra, e "The Pacific" recria isso em violentas cenas de combates. Entre uma batalha e outra, porém, o roteiro trata do lado humano dos fuzileiros, focando em três personagens, Robert Leckie (James Badge Dale), Eugene Sledge (Joseph Mazzello) e John Basilone (Jon Seda). Curioso que Joseph Mazzello divida a tela com um jovem Rami Malek. Os dois trabalhariam juntos, anos depois, interpretando John Deacon e Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody".

Há mais episódios "parados" do que "Band of Brothers", creio; o combate no Pacífico estava mais para um guerrilha na selva do que a guerra na Europa. Por outro lado, "The Pacific" é mais ousada em cenas de nudez e sexo (o que, se não me engano, não havia em "Band of Brothers"). Há um episódio passado na Austrália em que vemos vários soldados americanos se envolvendo com as mulheres locais. É uma série americana, então claro que os americanos são vistos como heróis que salvaram o mundo, apesar de haver várias cenas em que o comportamento deles é questionável. Os japoneses pouco são vistos, a não ser como centenas de alvos, morrendo (e matando) às centenas. Os americanos se referem a eles com uma série de nomes racistas e preconceituosos (o que, provavelmente, é uma recriação realista de como se falava na época), embora seja aparente certo respeito como combatentes ferozes. O último episódio mostra a volta para casa dos soltados, a maioria com uma expressão de "e agora?" no rosto. PS: uma terceira série está sendo feita pelos mesmos produtores; aparentemente, vai tratar dos aviadores, mas não será veiculada pela HBO, mas pela Apple. Sinal dos tempos.

 

domingo, 25 de julho de 2021

Jolt: Fúria Fatal (Jolt, 2021)

Jolt: Fúria Fatal (Jolt, 2021). Dir: Tanya Wesler. Amazon Prime. Filme tonto. Kate Beckinsale é Lindy, uma mulher que tem um problema genético; desde criança, ela não consegue controlar a fúria. Depois de passar por vários tratamentos, ela agora vive com um colete elétrico que ela aciona toda vez que fica com raiva. Beckinsale está sempre com a boca semi aberta, como uma modelo em uma sessão de fotos, e fica fazendo poses do começo ao final do filme.

O psiquiatra dela (interpretado por Stanley Tucci) sugere que ela saia com alguém, namore, tente ser "normal" por um tempo. Entra então Justin (Jai Courtnay), um contador por quem ela se apaixona loucamente depois de apenas uma noite juntos. Só que o cara aparece morto no dia seguinte, o que faz com que Lindy jure vingança. Bocejos.

O filme é todo estilizado, com cores fortes e visual de história em quadrinhos. Lindy é uma espécie de John Wick feminino, dando porrada em todos que aparecem pela frente. Os vilões (obviamente envolvidos com a máfia russa, ou algum clichê do tipo) poderiam simplesmente dar um tiro na cabeça dela, mas aí não teria filme, então há várias cenas em que eles ameaçam torturá-la, etc. Bobby Cannavale e Laverne Cox interpretam dois policiais incompetentes. Cenas violentas são intercaladas com sequências ridículas, como uma em que Lindy pega bebês recém nascidos e fica jogando em direção a uma policial. Sério. Disponível na Amazon Prime.
 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021)

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021). Netflix. Chega à Netflix a segunda temporada dos curtas animados (para adultos) de "Love, Death & Robots". Esta temporada está bem mais enxuta (8 episódios, contra 18 da primeira temporada) e menos ousada, embora ainda muito interessante. Os episódios, por vezes, parecem apenas portfólio de alguma produtora de animação, mas os roteiros também podem ser bons, como no episódio "Pop Squad", de Jennifer Yuh Nelson, que é MUITO inspirado em Blade Runner, seja no visual ou "clima" melancólico. Há até uma cena que só pode ser descrita como "tears in rain" (lágrimas na chuva), frase clássica de Rutger Hauer ao final de Blade Runner.

Cada episódio tem uma técnica diferente de animação, seja 2D, computação gráfica e até um episódio com stop motion. Em alguns capítulos, como "Neve no deserto" e "Live Hutch", a imagem é tão realista que parece um filme com atores de verdade. "Drowned Giant" (Gigante Afogado), curta que finaliza a série, é ao mesmo tempo estranho e poético. O corpo de um gigante aparece, nu, em uma praia da Inglaterra (a cena lembra "Viagens de Gulliver"). O locutor conta a história como quem narra uma memória antiga, acontecida há muitos anos. O roteiro foi baseado em um conto de J.G. Ballard, escritor de ficção-científica que escreveu "Império do Sol" (que virou filme de Steven Spielberg).

A série foi criada por Tim Miller (de "Deadpool") e o diretor David Fincher é um dos produtores. Muito boa, pena que são poucos episódios. Tá na Netflix.
 

A Sacada (The Trust, 2016)

A Sacada (The Trust, 2016). Dir: Alex Brewer e Benjamin Brewer. Netflix. Filme de assalto que vale só por Nicolas Cage (sendo Nicolas Cage) e o Frodo Elijah Wood como dois policiais corruptos. Passado em Las Vegas, o filme dá a impressão que a polícia local é pura fachada. Elijah Wood usa drogas, pega prostitutas e não liga para o trabalho. Nicolas Cage é um policial que cansou de tentar trabalhar direito e resolve ir atrás de uma bolada. Jerry Lewis, em seu último papel, faz uma ponta como o pai de Cage.

O roteiro é cheio de humor negro e vale mais pela viagem do que pelo destino. Nicolas Cage parece estar se divertindo e faz suas caretas e exageros de sempre, em contraste com Elijah Wood, que leva tudo a sério demais. Os dois planejam roubar um cofre em que eles nem sabem o que tem dentro, mas parece valer a pena. É interessante, embora seja um filme um tanto excêntrico, o que pode decepcionar muita gente. Tá na Netflix.
 

sábado, 4 de março de 2017

Logan (2017)

Há uma sequência em "Logan", o mais novo filme do Wolverine, que se passa em uma fazenda. É possível dividir o filme entre antes e depois desta sequência. A primeira é um filme excelente, adulto, muito bem escrito, dirigido e interpretado. Depois desta sequência é como se começasse outro "Logan", infelizmente inferior. Vamos por partes (como diria Wolverine)

Diz a lenda que "Logan" é o último filme estrelado por Hugh Jackman como Wolverine. Se for verdade (alguém acredita?) será uma pena, porque Jackman É Wolverine. O ator encarna o personagem desde o primeiro filme dos "X-Men", há longos 17 anos, mas você nunca o viu como neste filme. A direção é de James Mangold, competente artesão de filmes como "Cop Land", "Garota, Interrompida", "Identidade", "Os Indomáveis" e o bom filme anterior do herói, "Wolverine: Imortal" (2013). Mangold traz para "Logan" um tom adulto, grave e reflexivo. A violência (muita violência) é consequência natural de um personagem que tem garras afiadas nas mãos.

ATENÇÃO: AVISO DE SPOILERS DAQUI PARA FRENTE. NÃO LEIA CASO NÃO QUEIRA SABER DETALHES SOBRE A TRAMA.

O ano é 2029. Os X-Men são coisa do passado e os últimos sobreviventes daquela era são Logan e o Professor Xavier (o grande Patrick Stewart). Logan trabalha como motorista de limousine na fronteira com o México. O filme já mostra a que veio nas primeiras cenas, quando Logan faz em pedaços um infeliz grupo de ladrões que tentam levar seu carro. A violência é explícita como nunca antes mostrada em um filme de super heróis (a não ser, de forma cômica, em "Deadpool"). Logan está velho e aparenta estar doente. Do outro lado da fronteira ele mantém o Professor Xavier como prisioneiro, tomando pílulas que o impedem de usar os poderes mentais (um grande desastre, não explicado integralmente, teria sido causado pelo Professor no passado). Eles são auxiliados por um mutante chamado Caliban (o comediante Stephen Merchant, irreconhecível). O filme tem um visual tão árido e seco quanto a situação dos personagens. Não há nada de heroico na vida destes mutantes.

A situação de Logan se torna mais complicada com a entrada em cena de uma estranha garota mexicana chamada Laura (Dafne Keen), que está sendo perseguida por um grupo de mercenários liderados por Boyd Holbrook (da série Narcos). Há uma ótima sequência de violência quando um enorme grupo armado tenta capturar a garota e descobre que ela tem os mesmo poderes que o Wolverine. Após um banho de sangue, Logan, o professor Xavier e a garota correm pelas estradas do meio-oeste americano tentando fugir de uma multinacional que está criando novos mutantes para fins militares.

Mangold deixa explícitas suas referências do Western em uma cena em que o professor Xavier e a garota assistem ao clássico "Shane" ("Os Brutos Também Amam", 1953) na TV de um hotel. O tema se desenvolve na sequência que falei no começo deste texto, quando o trio vai parar em uma fazenda. A família que ali vive passa pelas mesmas dificuldades dos colonos do clássico de 1953, um rico dono de terras quer expulsa-los dali. As cenas passadas nesta fazenda dão um respiro bem vindo à correria das sequências anteriores (Patrick Stewart, como o Professor Xavier, está especialmente bem nessas cenas).

É então que, em minha opinião, o filme muda para pior. (REPITO, SPOILERS). Se até aqui ele havia sido, se não "realista", ao menos verossímil, o roteiro força a barra com a aparição de um "clone" de Wolverine (também interpretado por Jackman), criação de um tal Dr. Rice, interpretado por Richard E. Grant (bom ator, mas um tanto caricato). O núcleo "familiar" formado por Logan, Xavier e a garota é destruído bruscamente em uma sequência que culmina com a morte do Professor Xavier. Ou melhor, o pobre Professor Xavier, que merecia uma despedida melhor, é morto em meio a uma confusa sequência em que o clone mau de Wolverine despedaça um grupo de fazendeiros, luta com o Wolverine "do bem" e tenta sequestrar a garota. Com o fim do Professor Xavier, a garota (que não havia dito uma palavra até então) magicamente ganha não só a habilidade de falar, mas de falar em espanhol e inglês. Logan e Laura acabam indo se encontrar com um grupo de crianças mutantes (com quem não temos nenhuma empatia e, portanto, pouco ligamos para o que pode acontecer com elas). O filme termina em um embate violento entre Logan, o Wolverine "mau", dezenas de figurantes e as crianças. É um final tão confuso e clichê que pouco se parece com o filme adulto e inovador do início.

Apesar dos pesares, "Logan" ainda é superior à média dos filmes do gênero. Hugh Jackman encarna o personagem de corpo e alma e é uma pena se, de fato, este for seu último filme como Wolverine. O tom adulto, que não fica só na violência mas também nos diálogos, é bem vindo e mostra que mesmo em filmes de super heróis, ações têm consequências.

João Solimeo

sábado, 28 de janeiro de 2017

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016)

O sangue tem um papel muito importante em "Até o Último Homem", o primeiro filme dirigido por Mel Gibson em dez anos. Quando Desmond Doss (Andrew Garfield) conhece a mulher que vai ser sua futura esposa, ele está coberto do sangue de um rapaz que havia sofrido um acidente. Ela é enfermeira e ele se apaixona imediatamente; para ficar um pouco mais de tempo com ela, diz que veio doar sangue. No primeiro encontro dos dois, no cinema, ele pergunta qual a diferença entre uma veia e uma artéria.

Mel Gibson, super astro de filmes de ação dos anos 1980 ("Mad Max", "Máquina Mortífera") e diretor vencedor do Oscar nos anos 1990 ("Coração Valente") ficou na "geladeira" em Hollywood por vários anos por conta de declarações racistas e anti semitas. O antigo galã de filmes de ação revelou um lado religioso até então desconhecido no blockbuster "A Paixão de Cristo" (2004) em que a morte de Jesus foi mostrada da forma mais sangrenta da história do cinema. Em 2006, lá estava o sangue presente em abundância nos sacrifícios humanos de "Apocalypto". Gibson retorna como grande diretor em um belo filme de guerra, naturalmente coberto de sangue, que conta a história real de Desmond Doss (Garfield), um Adventista do Sétimo Dia que, na 2ª Guerra Mundial, se recusou a tocar em armas. É o tema perfeito para o retorno de Mel Gibson, um filme que mistura religião, sacrifício e muita, muita violência.

Desde "O Resgate do Soldado Ryan" (Steven Spielberg, 1998) que a guerra não era mostrada de forma tão gráfica. Ao contrário do filme de Spielberg, Gibson não mergulha imediatamente na carnificina. O filme passa um bom tempo mostrando a vida de Doss antes da guerra, na Virgínia, em que as belas paisagens campestres contrastavam com a violência doméstica causada pelo pai bêbado (Hugo Weaving, em boa interpretação). Há também um bom período passado no treinamento no quartel e na luta ético/jurídica que Desmond enfrentou por causa de sua decisão de não só se recusar a matar, mas em sequer tocar em uma arma. Um bom grupo de coadjuvantes (liderado por Vince Vaughn e Sam Worthington) interpreta os companheiros de farda de Desmond e, a princípio, concordamos com eles que a atitude de Desmond parece uma maluquice. O bom roteiro e principalmente a interpretação de Andrew Garfield, porem, acabam por convencer a todo mundo que talvez exista lugar no campo de batalha para alguém que, ao invés de matar, quer salvar vidas (Desmond havia se alistado como médico, embora não fique muito claro o nível de conhecimento exigido para o trabalho, já que o filme o mostra como um auto-didata esforçado).

A carnificina começa quando os soldados desembarcam em Okinawa, Japão, e enfrentam um inimigo violento e obstinado. Gibson não desvia a câmera ao mostrar centenas de soldados sendo baleados, mutilados, atravessados por baionetas ou explodidos por granadas. Há um bocado de cenas mostrando vísceras e membros humanos espalhados pelo campo de batalha. Curiosamente, a origem sulista e o modo simples de Desmond Doss me lembrou de Forrest Gump. A sequência passada na Guerra do Vietnam, quando Gump volta continuamente para o campo de batalha para buscar companheiros feridos, aliás, parece uma sinopse do terceiro ato de "Até o Último Homem". A diferença é que Gump era um "idiota" que agia (ou melhor, reagia) ao mundo de forma inocente e sem conhecer as consequências de seus atos, enquanto que Doss sabe o inferno em que está se metendo cada vez que retorna para buscar mais um ferido.

"Até o Último Homem" foi indicado a seis Oscars, incluindo "Melhor Filme", "Melhor Diretor" (Gibson) e "Melhor Ator" (Garfield). 

João Solimeo

domingo, 30 de novembro de 2014

De Volta ao Jogo

"De Volta ao Jogo" é só clichês. Apesar disso, ou melhor, por causa disso, é um filme muito bom de se ver. Considere a sinopse: um assassino profissional chamado John Wick (Keanu Reeves, "Side by Side") havia se aposentado por causa do amor de uma mulher (Bridget Moynahan, vista apenas em flashbacks). Poucos dias depois dela morrer de uma doença, a casa de Wick é invadida por três membros da máfia russa. Eles não só roubam o Mustang 1969 de Wick como também matam seu cachorro. Pior: o cachorro havia sido um presente de despedida da esposa. Está armada a fórmula para um dos melhores filmes de vingança dos últimos anos.

Reeves está muito bem. Com inacreditáveis 50 anos, ele empresta ao personagem sua personalidade zen e várias das habilidades em artes marciais mostradas em filmes como "Matrix", há 15 anos. John Wick é puro profissionalismo. Em poucas horas ele descobre que quem roubou seu carro e matou seu cachorro foi Iosef Tarasov (Alfie Allen, da série "Game of Thrones"), filho do chefe da máfia russa, Viggo Tarasov (Michael Nyqvist, aquele tipo de vilão sofisticado que faz longos monólogos ao invés de simplesmente matar o inimigo). Há aqui outro clichê que remonta a filmes como "Duelo de Titãs" ("Last Train from Gun Hill", de John Sturges, 1959), em que a mulher de Kirk Douglas havia sido morta pelo filho de um antigo companheiro, interpretado por Anthony Quinn, e ele parte para a vingança. Alfie Allen também está muito bem, embora esteja praticamente reprisando Theon Greyjoy, seu personagem covarde e fraco de "Game of Thrones". (leia mais abaixo)


O que transforma a lista de clichês de "De Volta ao Jogo" em um bom filme? O elenco, que também conta com nomes como Willem Dafoe e John Legizamo, ajuda bastante. O filme brilha de verdade, porém, na ótima coreografia das cenas de tiroteio e luta, executadas como uma dança por Reeves e um exército de dublês (contei pelo menos cinquenta nos créditos). Há uma mistura de artes marciais e armas de fogo que lembra "Equilibrium", ficção-científica com Christian Bale de 2002. John Wick se move como um samurai; ao invés de ter uma katana nas mãos, empunha uma automática. E nestes tempos em que a maioria dos filmes americanos têm a classificação PG-13 (que significa violência disfarçada) é bom ver um filme feito diretamente para adultos. John Wick nunca dá apenas um tiro em seus opositores e geralmente finaliza com um tiro na cabeça. Há uma sequência passada em uma casa noturna em que os tiros parecem até pipocar em sincronia com a música.

"De Volta ao Jogo" é dirigido por dois ex-dublês de Hollywood, Chad Stahelski e David Leitch, o que explica a quantidade e precisão das cenas de ação. Filme macho das antigas (Steve McQueen estaria à vontade nele há 40 anos), o filme é diversão garantida.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Uma Noite de Crime

Em 2022, os Estados Unidos estão vivendo dias com baixo desemprego e criminalidade graças a uma nova lei instituída pelos novos "Pais da Nação" (referência aos "Founding Fathers", os revolucionários do século 18 que libertaram o país do domínio britânico); a lei institui que, um dia por ano, todos os crimes são permitidos, incluindo assassinato. Na teoria, este dia de expurgo (tradução melhor para o título original, "The Purge") serviria para "limpar" o país da violência ao permitir que todo cidadão liberasse sua "besta interior", em um efeito catártico. Na prática, a lei permite uma limpeza social e racial uma vez por ano, uma vez que os mais atingidos são os pobres e indefesos.

Visto desta forma, a premissa de "Uma Noite de Crime" até promete um filme com alguma profundidade. Puro engano. Produzido por Jason Blum (da série "Atividade Paranormal") com baixíssimo orçamento (US$ 3 milhões de dólares), a trama é só uma justificativa para um "slasher" de terror B, daqueles em os personagens agem da forma menos inteligente possível para garantir os sustos da platéia. O elenco conta com Ethan Hawke, que adora fazer filmes de baixo orçamento e é amigo pessoal dos produtores, além de Lena Headey, a rainha Cercei Lannister de "Game of Thrones", no papel da esposa em perigo. Hawke interpreta James Sandin, o principal vendedor de uma empresa que instala equipamentos de segurança. Por causa da "noite do crime", ele enriquece rapidamente ao vender portas blindadas e sistemas de alarme avançados para toda a vizinhança onde mora. Para ele, tudo está correndo às mil maravilhas em sua família, composta por esposa dedicada e um casal de filhos adolescentes. Acontece que nesta "noite do crime" em especial algo dá errado; o filho de James, Charlie (Max Burkholder) fica com pena de um mendigo que vê pelas câmeras de segurança da casa e o deixa entrar para se proteger.


Alguns minutos depois a casa é cercada por um grupo de jovens vizinhos, todos ricos e educados, mas assassinos sanguinários que vieram reclamar seu direito de matar. Todos eles vem vestidos com seu "kit de filme de terror" particular, ou seja, com máscaras horrendas e facões pingando sangue. Eles conseguem cortar a luz da casa, a invadem, e então se desenrolam todos aqueles clichês que fazem a delícia dos fãs do gênero. Casa às escuras, a família resolve se separar (naquela lógica de filmes de terror) e ir cada um para um canto para enfrentar os invasores. Há várias cenas de corpos sendo atingidos por tiros de grosso calibre, machadadas, facadas, correrias no escuro e entes queridos salvos (ou não) no último instante. No fim das contas, um filme que tinha uma premissa interessante se desenrola como dúzias de outros filmes de suspense/terror que existem por aí. De qualquer forma, "The Purge" fez grande sucesso nas bilheterias americanas (e mais ainda mundo afora), recuperando várias vezes seu baixo orçamento, o que significa que continuações estão a caminho.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Tese sobre um Homicídio

"Filme argentino com Ricardo Darín" já se tornou praticamente um chavão. O competente ator de 56 anos é figura quase obrigatória no cinema de nossos vizinhos (ou, talvez, só venham para cá os filmes em que ele interpreta?). O caso é que só neste site, nos últimos anos, resenhamos "Elefante Branco", "O Segredo dos seus Olhos", "Abutres", "Um Conto Chinês", "Amorosa Soledad", "A Dançarina e o Ladrão" e "O Filho da Noiva".

Darín está de volta com o mesmo visual e praticamente o mesmo personagem que fez em "O Segredo dos seus Olhos", ou seja, um advogado que se envolve com a investigação de um crime brutal cometido contra uma moça. Ele é Roberto Bermudez, um professor de Direito Criminal que testemunha, junto com sua sala de pós-graduação, a cena de um crime: em pleno estacionamento da imponente Faculdade de Direito de Buenos Aires é encontrado o corpo de Valeria Di Natale, uma garçonete que foi violentada, estrangulada e ainda esfaqueada. Um detalhe chama a atenção de Roberto; um pingente em forma de borboleta lhe faz lembrar de uma conversa que teve com um de seus alunos, Gonzalo (Alberto Ammann), que lhe dissera que "todos os dias uma borboleta é morta sem que seja feita justiça". Em uma daquelas montagens que lembram o seriado americano "CSI", Roberto imagina a cena do assassinato e fica convencido de que o criminoso é Gonzalo. O aluno é filho de um conhecido de Roberto e há uma suspeita de que, no passado, Roberto teria tido um caso com a mãe do rapaz.

O filme, dirigido por Hernán Goldfrid, é tecnicamente competente (o trabalho sonoro é muito bem feito) e se baseia nas fórmulas clássicas do suspense. O roteiro de Patricio Vega pretende deixar uma dúvida na platéia: Roberto tem razão em suas suspeitas contra Gonzalo ou é tudo fruto da sua imaginação? Estaria Roberto agindo contra o aluno simplesmente pela arrogância do rapaz? Ou por estar obcecado com a garota morta? Suas ações se tornam ainda mais duvidosas quando ele se envolve com a irmã da vítima, Laura (Calu Rivero), a quem ele quer, ao mesmo tempo, proteger e usar para pegar o assassino. Há várias referências ao mestre do gênero, Alfred Hitchcock, como a cena em que Darín dá o pingente da morta para a irmã usar (em um plano tirado diretamente de "Um Corpo que Cai", de 1958). O último plano, então, é praticamente uma refilmagem do final de "Cidadão Kane", clássico de Orson Welles, de 1941. O final é problemático. É interessante a ideia de deixar o espectador na dúvida sobre o que aconteceu ou não, mas um thriller de suspense pede, mesmo que clichê, uma resolução, e fica a impressão que os realizadores não quiseram se comprometer. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Game of Thrones - 3ª Temporada

Passado quase um mês da exibição do capítulo final da terceira temporada de "Game of Thrones", imagino que quem estava interessado na série já a assistiu. Para quem não viu ainda, fica o aviso de que o texto a seguir contém vários SPOILERS, ou seja, detalhes sobre o enredo e o destino dos personagens.

A terceira temporada de "Game of Thrones", ao contrário das duas anteriores, não segue inteiramente um livro de George R. R. Martin, autor da série "As Crônicas de Gelo e Fogo". O terceiro livro da saga, "A Tormenta de Espadas" ("A Storm of Swords"), foi considerado muito longo pelos produtores D.B. Weiss e David Benioff e dividido em duas temporadas. São dez episódios com quase uma hora de duração, em uma superprodução da HBO ao custo aproximado de 50 milhões de dólares. Há muito a HBO é reconhecida por ser um reduto de filmes e séries adultas na televisão americana. Enquanto os filmes de Hollywood sofrem por terem que atingir um público cada vez maior (o que resulta em uma infantilização crescente), a HBO ousa em produtos que abusam na quantidade de cenas de violência, nudez e sexo. E poucas séries têm tanta violência, nudez e sexo como "Game of Thrones".

A terceira temporada representa também um grande avanço em termos visuais. É visível

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Renato Russo vive. Dezessete anos depois da morte do líder da Legião Urbana, o cinema brasileiro exibe, ao mesmo tempo, dois filmes relacionados ao cantor. A cinebiografia "Somos tão jovens", de Antonio Carlos de Fontoura, conta a vida de Russo em Brasília, nos tempos da banda Aborto Elétrico. Agora estréia "Faroeste Caboclo", filme de René Sampaio baseado na música de 1979 (mas lançada em 1987), de quase dez minutos, que fazia parte do álbum "Que País é Este", do Legião.

Ao contrário da leveza de "Somos tão jovens", "Faroeste Caboclo" surpreende pela forma adulta e violenta com que é contada a história de "João de Santo Cristo", o anti-herói criado por Renato Russo. O roteiro, do mesmo Marcos Bernstein de "Somos tão jovens", pode não ser exatamente fiel à letra da música, mas oferece uma interpretação muito boa dela. João (Fabrício Boliveira, intenso) é um rapaz pobre, negro (que "não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa da sua classe e sua cor"), que sai do sertão da Bahia e vai para Brasília. Lá ele entra em contato com um primo distante chamado Pablo (César Troncoso), um traficante da periferia, e arruma trabalho como carpinteiro. Logo, porém, a habilidade de João com uma "Winchester 22" lhe garante um lugar como assistente de Pablo no tráfico de drogas. Uma noite, quando vai fazer uma venda em uma quadra nobre de Brasília, João é perseguido pela polícia e se refugia no apartamento de Maria Lúcia (Ísis Valverde), a filha de um senador. Ela é a típica adolescente da capital, entediada, "maconheira" e rebelde, e os dois começam um romance que, apesar de improvável, é escrito de forma verossímil pelo roteiro.

Quase todos os outros elementos da canção aparecem na trama de forma natural. Há o traficante Jeremias (Felipe Abib), que é apaixonado por Maria Lúcia e se torna inimigo de Santo Cristo, que estava roubando sua clientela com um produto melhor. A trilha sonora de Phillippe Seabra (da banda "Plebe Rude", que surgiu na mesma época da Legião) é boa, mas melhor uso é feito dos clássicos da época, como as bandas "The Clash" ou "Sex Pistols". Há uma boa cena em que Ísis Valverde está em uma casa noturna e uma banda (o Aborto Elétrico) está tocando "Tédio com um T bem grande pra você". Em outra cena, a Plebe Rude está cantando "Até quando esperar". A música "Faroeste Caboclo" é ouvida apenas sobre os créditos, depois do sangrento final.

"Faroeste Caboclo", como filme, é melhor do que se poderia esperar e deve agradar até quem não é fã de Legião Urbana. Bom ver um filme brasileiro que sai do lugar comum que são as comédias chulas e fraquinhas que tem feito sucesso nas telas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Felicidade (Glück, 2012)

Difícil definir este filme da diretora Doris Dörrie, do poético "Hanami - Cerejeiras em Flor". Em exibição na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, "Felicidade" provocou as mais diversas reações, de lágrimas de tristeza a gritos abafados de aversão. Não é um filme comum. Alba Rohwarcher (de "Que mais posso querer", "Um Sonho de Amor") é Irina,  uma refugiada de guerra que, após ser estuprada e ver os pais serem mortos, foge para Berlim, Alemanha. Para sobreviver, ela se torna uma prostituta, ganhando 50 euros por programa. Nas ruas ela conhece um rapaz chamado Kalle (Vinzenz Kiefer), que vive de pequenos furtos e esmolas, e nasce um amor quase infantil entre eles. Ela se recusa a falar sobre o passado trágico e ele finge não ligar para o fato de que ela transa com outros homens para ganhar a vida.

Há uma cena terna quando um confessa ao outro que nunca havia estado com outra pessoa por amor antes e, por  um bom tempo, o filme parece que vai ser um romance dramático com momentos de comédia. Irina e Kalle se mudam para um apartamento novo, que ela decora com simplicidade; ele arruma um emprego como entregador de jornais, os dois passeiam pela cidade, brincam no playground e jantam pão de forma com mel todas as noites. Interessante o modo como o filme detalha o tipo de vida dupla e pragmática que levam Irina e Kalle. Toda manhã ela "expulsa" o companheiro do apartamento e, rapidamente, transforma a si mesma e ao ambiente; o quarto aconchegante e familiar se torna "sexy" (naquela forma cafona e distorcida do sexo pago) com a mudança sutil de uma cortina e na iluminação avermelhada.

E, então, o filme dá uma reviravolta bizarra, com uma sequência tarantinesca de violência explícita que rendeu ao filme a classificação etária de 18 anos. Sem revelar detalhes, o fato é que por todo o cinema escutavam-se gemidos e risos nervosos e se viam pessoas tampando os olhos com as mãos. É uma cena gratuita? Depende. O tema do filme é até que ponto alguém iria para não perder o amor da sua vida. Qual o limite? Doris Dörrie faz um filme ousado, um romance terno, violento e chocante como a vida de seus personagens.

Câmera Escura