sábado, 4 de maio de 2013

Somos tão jovens

Era de se imaginar que gostar ou não de "Somos tão jovens", filme de Antonio Carlos de Fontoura, passaria por gostar ou não da banda Legião Urbana, mas não é necessariamente  o caso. Como cinema, a cinebiografia do cantor Renato Russo, que morreu vítima de AIDS em 1996, é um filme competente, embora por demais "quadradinho". O roteiro de Marcos Bernstein foca nos caminhos que levaram à formação da Legião, antes do sucesso nacional e a venda de 20 milhões de discos.

A Legião Urbana foi fruto de um movimento surgido em Brasília nos anos 1980 que gerou várias bandas de sucesso, como os Paralamas do Sucesso, a Plebe Rude e o Capital Inicial, entre outras. A propósito, um filme muito melhor sobre o assunto foi feito pelo documentarista Vladimir Carvalho em 2011, "Rock Brasília: Era de Ouro". Nesta dramatização de Antonio Carlos de Fontoura, Renato Russo é interpretado por Thiago Mendonça, que faz um bom trabalho ao imitar o cantor. Além da caracterização física, como penteado, roupas e óculos, Mendonça faz uma competente interpretação do tom de voz e modo de falar de Renato Russo. Fã de bandas "punk" inglesas como Sex Pistols e Joy Division, Russo é visto rasgando suas roupas e furando a orelha com alfinetes para imitar seus ídolos, enquanto anda pela capital do país à procura de uma banda que o faria famoso. Em princípio, se juntou ao sul africano Petrus (Sérgio Dalcin) e ao baterista Fernando Lemos (Bruno Torres) e formaram a banda Aborto Elétrico. A banda se apresentava pelas quadras de Brasília junto com o Plebe Rude e fizeram relativo sucesso, até que Petrus teve que voltar à África do Sul e Renato assumiu a guitarra e os vocais. Seu ego não era pequeno e vivia em atritos com o baterista Fê Lemos; ao mesmo tempo, cultivava uma paixão não correspondida pelo baixista Flávio Lemos (Daniel Passi). A questão da sexualidade de Renato Russo, aliás, era confusa. Como ele diria anos depois em música do álbum "Quatro Estações", ele gostava de "meninos e meninas", e o filme (de forma um pouco cômoda) foca mais no romance quase platônico que ele teve com Ana Cláudia (Laila Zaid), que o inspiraria a escrever "Ainda é Cedo", e fica longe de cenas homossexuais.

O roteiro de Marcos Bernstein segue os fatos de forma fiel, mas apesar do filme servir como homenagem correta a Renato Russo, falta certa ousadia. Que país é esse em que se passa a história? Os personagens citam a ditadura militar esporadicamente, mas não se vê nada da repressão da época (a não ser em algumas batidas policiais que existem até hoje). O filme fica devendo também na representação da cena roqueira dos anos 80, e quando a Legião finalmente sai de Brasília para conquistar o Rio de Janeiro e o resto do país, cenas da banda real são usadas em um pequeno trecho e o filme termina. Para um panorama melhor da época fica a sugestão, além do documentário citado acima, de "Herbert de Perto" e "Raul - O Início, o Fim e o Meio". Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

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