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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Renato Russo vive. Dezessete anos depois da morte do líder da Legião Urbana, o cinema brasileiro exibe, ao mesmo tempo, dois filmes relacionados ao cantor. A cinebiografia "Somos tão jovens", de Antonio Carlos de Fontoura, conta a vida de Russo em Brasília, nos tempos da banda Aborto Elétrico. Agora estréia "Faroeste Caboclo", filme de René Sampaio baseado na música de 1979 (mas lançada em 1987), de quase dez minutos, que fazia parte do álbum "Que País é Este", do Legião.

Ao contrário da leveza de "Somos tão jovens", "Faroeste Caboclo" surpreende pela forma adulta e violenta com que é contada a história de "João de Santo Cristo", o anti-herói criado por Renato Russo. O roteiro, do mesmo Marcos Bernstein de "Somos tão jovens", pode não ser exatamente fiel à letra da música, mas oferece uma interpretação muito boa dela. João (Fabrício Boliveira, intenso) é um rapaz pobre, negro (que "não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa da sua classe e sua cor"), que sai do sertão da Bahia e vai para Brasília. Lá ele entra em contato com um primo distante chamado Pablo (César Troncoso), um traficante da periferia, e arruma trabalho como carpinteiro. Logo, porém, a habilidade de João com uma "Winchester 22" lhe garante um lugar como assistente de Pablo no tráfico de drogas. Uma noite, quando vai fazer uma venda em uma quadra nobre de Brasília, João é perseguido pela polícia e se refugia no apartamento de Maria Lúcia (Ísis Valverde), a filha de um senador. Ela é a típica adolescente da capital, entediada, "maconheira" e rebelde, e os dois começam um romance que, apesar de improvável, é escrito de forma verossímil pelo roteiro.

Quase todos os outros elementos da canção aparecem na trama de forma natural. Há o traficante Jeremias (Felipe Abib), que é apaixonado por Maria Lúcia e se torna inimigo de Santo Cristo, que estava roubando sua clientela com um produto melhor. A trilha sonora de Phillippe Seabra (da banda "Plebe Rude", que surgiu na mesma época da Legião) é boa, mas melhor uso é feito dos clássicos da época, como as bandas "The Clash" ou "Sex Pistols". Há uma boa cena em que Ísis Valverde está em uma casa noturna e uma banda (o Aborto Elétrico) está tocando "Tédio com um T bem grande pra você". Em outra cena, a Plebe Rude está cantando "Até quando esperar". A música "Faroeste Caboclo" é ouvida apenas sobre os créditos, depois do sangrento final.

"Faroeste Caboclo", como filme, é melhor do que se poderia esperar e deve agradar até quem não é fã de Legião Urbana. Bom ver um filme brasileiro que sai do lugar comum que são as comédias chulas e fraquinhas que tem feito sucesso nas telas.

sábado, 4 de maio de 2013

Somos tão jovens

Era de se imaginar que gostar ou não de "Somos tão jovens", filme de Antonio Carlos de Fontoura, passaria por gostar ou não da banda Legião Urbana, mas não é necessariamente  o caso. Como cinema, a cinebiografia do cantor Renato Russo, que morreu vítima de AIDS em 1996, é um filme competente, embora por demais "quadradinho". O roteiro de Marcos Bernstein foca nos caminhos que levaram à formação da Legião, antes do sucesso nacional e a venda de 20 milhões de discos.

A Legião Urbana foi fruto de um movimento surgido em Brasília nos anos 1980 que gerou várias bandas de sucesso, como os Paralamas do Sucesso, a Plebe Rude e o Capital Inicial, entre outras. A propósito, um filme muito melhor sobre o assunto foi feito pelo documentarista Vladimir Carvalho em 2011, "Rock Brasília: Era de Ouro". Nesta dramatização de Antonio Carlos de Fontoura, Renato Russo é interpretado por Thiago Mendonça, que faz um bom trabalho ao imitar o cantor. Além da caracterização física, como penteado, roupas e óculos, Mendonça faz uma competente interpretação do tom de voz e modo de falar de Renato Russo. Fã de bandas "punk" inglesas como Sex Pistols e Joy Division, Russo é visto rasgando suas roupas e furando a orelha com alfinetes para imitar seus ídolos, enquanto anda pela capital do país à procura de uma banda que o faria famoso. Em princípio, se juntou ao sul africano Petrus (Sérgio Dalcin) e ao baterista Fernando Lemos (Bruno Torres) e formaram a banda Aborto Elétrico. A banda se apresentava pelas quadras de Brasília junto com o Plebe Rude e fizeram relativo sucesso, até que Petrus teve que voltar à África do Sul e Renato assumiu a guitarra e os vocais. Seu ego não era pequeno e vivia em atritos com o baterista Fê Lemos; ao mesmo tempo, cultivava uma paixão não correspondida pelo baixista Flávio Lemos (Daniel Passi). A questão da sexualidade de Renato Russo, aliás, era confusa. Como ele diria anos depois em música do álbum "Quatro Estações", ele gostava de "meninos e meninas", e o filme (de forma um pouco cômoda) foca mais no romance quase platônico que ele teve com Ana Cláudia (Laila Zaid), que o inspiraria a escrever "Ainda é Cedo", e fica longe de cenas homossexuais.

O roteiro de Marcos Bernstein segue os fatos de forma fiel, mas apesar do filme servir como homenagem correta a Renato Russo, falta certa ousadia. Que país é esse em que se passa a história? Os personagens citam a ditadura militar esporadicamente, mas não se vê nada da repressão da época (a não ser em algumas batidas policiais que existem até hoje). O filme fica devendo também na representação da cena roqueira dos anos 80, e quando a Legião finalmente sai de Brasília para conquistar o Rio de Janeiro e o resto do país, cenas da banda real são usadas em um pequeno trecho e o filme termina. Para um panorama melhor da época fica a sugestão, além do documentário citado acima, de "Herbert de Perto" e "Raul - O Início, o Fim e o Meio". Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Rock Brasília - Era de Ouro

"O Renato Russo era uma esponja de biografias de rock", diz Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana, sobre seu ex-companheiro de banda, que morreu há 15 anos. Apesar deste tempo da morte de Russo e dos 30 anos do chamado "Rock dos anos 80", a mesma moçada que hoje escuta produtos como "Banda Cine" ou "Restart" canta as letras da Legião como se tivessem sido compostas ontem. "Rock Brasília - Era de Ouro", do documentarista Vladimir Carvalho, tenta explicar esta longevidade em um filme que, apesar de ser sobre vários grupos, é centrado da banda de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

O rock que surgiu em Brasília no final dos anos 70 e início dos 80 foi resultado de uma juventude bem de vida, estudada e com recursos, todos filhos de diplomatas, políticos ou membros da elite brasiliense. Na quadra conhecida como a "Colina" circulavam os membros do "Aborto Elétrico", banda formada pelos jovens que formariam a Legião Urbana e o Capital Inicial. Também por lá passavam Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso, e Phillippe Seabra, do Plebe Rude. O documentário mescla entrevistas atuais dos músicos com depoimentos de Renato Russo feitos por Vladimir Carvalho em 1988 e em uma longa entrevista que deu à MTV Brasil em 1994. Estranhamente, todas as entrevistas dos Paralamas são de arquivo do final dos anos 80; há apenas um depoimento atual de Hermano Vianna, irmão de Herbert, que conta como ele foi chamado a Brasília, no papel de jornalista, para fazer a primeira matéria sobre as bandas locais. "Foi uma matéria praticamente comprada", diz ele, rindo. Vianna completa dizendo que Renato Russo já era uma espécie de herói local e que já se comportava como uma estrela. O caminho para as bandas de Brasília foi aberto pelos Paralamas, que conseguiram entregar uma fita de Renato Russo para uma gravadora do Rio de Janeiro. Há uma parte engraçada que mostra como os produtores não sabiam o que fazer com a Legião Urbana. "Eles queriam me transformar em um Bob Dylan do cerrado", diz Russo. Outro momento, mais sério, mostra a confusão causada por um show da Legião em Brasília, em 1986, quando 40 mil pessoas se acotovelavam em um estádio para vê-los. Os primeiros acordes de "Que país é esse?" literalmente incendiaram a multidão, causando a reação da polícia, o ataque de um fã a Renato Russo e centenas de pessoas no hospital. Quando "Quatro Estações" foi lançado em 1989, a Legião Urbana foi alçada de vez ao estrelato, para espanto de Renato Russo que, irônico, diz que não era para ser um disco "pop". Ele cita os primeiros versos de "Há tempos": "Parece cocaína, mas é só tristeza. Talvez tua cidade. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão".

O documentário tem acertos e erros. Tenta sair do lugar comum repetindo uma viagem que o Plebe Rude (e a Legião) fizeram para Patos de Minas, no primeiro show fora de Brasília dos grupos; por outro lado, dá muita importância para o Capital Inicial que, apesar do sucesso, nunca foram do mesmo calibre das bandas da época como Titãs, Paralamas e Barão Vermelho. O documentário por vezes perde o foco nas declarações da mãe e da irmã de Renato Russo e do pai de Fê e Flávio Lemos (do Capital Inicial). No geral, porém, traça um interessante perfil das bandas da época e, mais para o fim, contextualiza o final de uma era, causada pela morte de Renato Russo e pelos constantes problemas econômicos que o país atravessou. O documentário termina com um show feito pelo Capital Inicial em 2008 na "Esplanada dos Ministérios", para um milhão de pessoas. Tocando Legião Urbana, é claro.

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