quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Jogos Vorazes: Em Chamas

A continuação do filme de 2012, "Jogos Vorazes", chega com todas as características de um "filme do meio" de uma trilogia (a terceira parte, na verdade, será dividida em dois filmes). É mais sério, mais pesado e termina sem uma resolução. Baseado na série de livros adolescentes escritos por Suzanne Collins, "Em Chamas" é, também, um daqueles filmes à prova de crítica. Ele foi criado para um público cativo (jovens garotas, em sua maioria) que vão ao cinema sabendo exatamente o que os espera, e acompanham cada cena com gritinhos de prazer; na fileira de trás, uma garota recitava todas as frases dos personagens.

Dirigido por Francis Lawrence ("Eu sou a Lenda", "Constantine"), "Jogos Vorazes: Em Chamas" traz um elenco composto por grandes atores, como Philip Seymour Hoffman (que faz Plutarco, o novo organizador dos Jogos), Stanley Tucci (se divertindo ao interpretar um alucinado apresentador de TV), Woody Harrelson (Haymitch) e Donald Sutherland (Presidente Snow), mas as adolescentes foram ao cinema suspirar pelo "irmão do Thor", Lian Hemsworth, que interpreta Gale, um dos vértices do triângulo amoroso completado por Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen) e Josh Hutcherson (Peeta Mellark). Após vencerem os 74º Jogos Vorazes (uma mistura de Coliseu romano com reality show), Katniss e Peeta precisam continuar a farsa de que eles se amam, enquanto visitam os distritos que fazem parte de Panen. Só que a vitória, ao invés de acalmar os distritos, como originalmente planejado, está sendo vista como um sinal de esperança pelo povo que sofre sob o jugo da Capital. O Presidente Snow planeja matá-los convocando-os para uma nova edição dos Jogos, que agora terão como competidores os vencedores anteriores do evento.


Grande parte do filme é uma repetição do capítulo anterior. Há a apresentação dos competidores em um desfile de bigas romanas (Katniss e Peeta entram novamente com as roupas em chamas), há sequências que mostram os competidores treinando para os Jogos, há entrevistas na TV apresentadas por Stanley Tucci (e, novamente, Peeta faz uma "revelação" bombástica), há diálogos quase idênticos entre Lawrence e Lenny Kravitz (que interpreta Cinna, o estilista de Katniss) e cenas de ciúmes entre o triângulo amoroso. De novidade há o novo design do "cenário" em que se passam os Jogos e os novos competidores. O público, claro, adorou o filme. Em uma cena climática, perto do final, uma garota no cinema gritou "Chupa, Snow!", e toda sala aplaudiu. Ano que vem tem mais.

domingo, 17 de novembro de 2013

Blue Jasmine

O telefone toca e Jasmine (Cate Blanchett) corre desesperada para ele. Ela está cansada, desiludida e está se recuperando de um colapso nervoso. Há pouco tempo ela estava organizando recepções em apartamentos de cobertura de Manhattan para o marido rico e bonito, Hal (Alec Baldwin). Hoje ela está vivendo de favor na pequena casa da irmã Ginger (Sally Hawkins), em São Francisco, sem um tostão na carteira e simplesmente desesperada por uma chance de voltar à vida boa, nem que isto signifique depender de outro homem rico.

Jasmine é a personagem principal do novo filme de Woody Allen ("Vicky, Cristina, Barcelona", "Tudo pode dar certo", "Meia noite em Paris"), o gênio novaiorquino que lança um filme por ano há décadas, com resultados variáveis. "Blue Jasmine", felizmente, está entre os ótimos trabalhos do diretor. E grande parte desse sucesso se deve à escalação da atriz australiana como Jasmine. Blanchett está extraordinária. Jasmine é patética; passou anos ao lado de um homem que lhe dava tudo do bom e do melhor, mas ela nunca se questionava de onde o dinheiro vinha. Também fazia vista grossa aos vários casos que Hal tinha com secretárias, modelos, babás e todo tipo de mulher bonita. As atividades criminosas do marido são descobertas pelo FBI e ele acaba se matando na prisão, deixando Jasmine completamente desestruturada. Já a irmã dela, Ginger, é o retrato da mulher comum, trabalhadora (é caixa em um supermercado de São Francisco), tem dois filhos de um casamento fracassado com Augie (Andrew Dice Clay) e está namorando outro "perdedor" (na concepção de Jasmine), um cara chamado "Chili" (Bobby Canavale). Allen está inspirado e escreve cenas generosas para as duas atrizes, e Sally Hawkins faz um ótimo trabalho contracenando com Blanchett.


Apesar de grande parte do filme se passar em São Francisco, os flashbacks que mostram a vida rica de Jasmine são na Nova York de Woody Allen, fotografada em tela larga e cores quentes por Javier Aguirresarobe (o mesmo de "Vicky, Cristina, Barcelona"). O roteiro de Allen usa cenas do presente e do passado para ilustrar a esquizofrenia de Jasmine, que pode ser levada a pensar na vida que levava por coisas simples como o cheiro de um perfume francês. Todo elenco está muito bem e o filme conta ainda com participações de Peter Sarsgaard (de "Lovelace"), do comediante Louis CK e de Michael Stuhlbarg (de "Um Homem Sério"). Allen, aos 77 anos, ainda está em plena forma. Visto no Topázio Cinemas.

Câmera Escura

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Uma Noite de Crime

Em 2022, os Estados Unidos estão vivendo dias com baixo desemprego e criminalidade graças a uma nova lei instituída pelos novos "Pais da Nação" (referência aos "Founding Fathers", os revolucionários do século 18 que libertaram o país do domínio britânico); a lei institui que, um dia por ano, todos os crimes são permitidos, incluindo assassinato. Na teoria, este dia de expurgo (tradução melhor para o título original, "The Purge") serviria para "limpar" o país da violência ao permitir que todo cidadão liberasse sua "besta interior", em um efeito catártico. Na prática, a lei permite uma limpeza social e racial uma vez por ano, uma vez que os mais atingidos são os pobres e indefesos.

Visto desta forma, a premissa de "Uma Noite de Crime" até promete um filme com alguma profundidade. Puro engano. Produzido por Jason Blum (da série "Atividade Paranormal") com baixíssimo orçamento (US$ 3 milhões de dólares), a trama é só uma justificativa para um "slasher" de terror B, daqueles em os personagens agem da forma menos inteligente possível para garantir os sustos da platéia. O elenco conta com Ethan Hawke, que adora fazer filmes de baixo orçamento e é amigo pessoal dos produtores, além de Lena Headey, a rainha Cercei Lannister de "Game of Thrones", no papel da esposa em perigo. Hawke interpreta James Sandin, o principal vendedor de uma empresa que instala equipamentos de segurança. Por causa da "noite do crime", ele enriquece rapidamente ao vender portas blindadas e sistemas de alarme avançados para toda a vizinhança onde mora. Para ele, tudo está correndo às mil maravilhas em sua família, composta por esposa dedicada e um casal de filhos adolescentes. Acontece que nesta "noite do crime" em especial algo dá errado; o filho de James, Charlie (Max Burkholder) fica com pena de um mendigo que vê pelas câmeras de segurança da casa e o deixa entrar para se proteger.


Alguns minutos depois a casa é cercada por um grupo de jovens vizinhos, todos ricos e educados, mas assassinos sanguinários que vieram reclamar seu direito de matar. Todos eles vem vestidos com seu "kit de filme de terror" particular, ou seja, com máscaras horrendas e facões pingando sangue. Eles conseguem cortar a luz da casa, a invadem, e então se desenrolam todos aqueles clichês que fazem a delícia dos fãs do gênero. Casa às escuras, a família resolve se separar (naquela lógica de filmes de terror) e ir cada um para um canto para enfrentar os invasores. Há várias cenas de corpos sendo atingidos por tiros de grosso calibre, machadadas, facadas, correrias no escuro e entes queridos salvos (ou não) no último instante. No fim das contas, um filme que tinha uma premissa interessante se desenrola como dúzias de outros filmes de suspense/terror que existem por aí. De qualquer forma, "The Purge" fez grande sucesso nas bilheterias americanas (e mais ainda mundo afora), recuperando várias vezes seu baixo orçamento, o que significa que continuações estão a caminho.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Capitão Phillips

Em abril de 2009 um navio cargueiro americano chamado Maersk Alabama foi abordado por quatro piratas da Somália que usavam um simples barco de pesca impulsionado por motores de popa. Apesar da região ser conhecida por este tipo de ataques, ninguém a bordo do Alabama estava armado, o que os fez presa fácil para os piratas. O capitão do navio se chamava Rich Phillips (Tom Hanks), que tentou negociar com Muse (Barkhad Abdi), o líder do grupo de somalianos, a liberação do navio e da tripulação. Hanks novamente interpreta o papel do "homem comum" (que ele faz tão bem) enfrentando uma situação extraordinária; ele será provavelmente indicado mais uma vez ao Oscar (já venceu dois) por causa de uma cena extraordinária no final do filme, da qual falaremos mais tarde.

"Capitão Phillips" é baseado em uma história real (embora aparentemente muito romanceada) e é dirigido por um mestre em filmes de ação, Paul Greengrass (de "A Supremacia Bourne", "O Ultimato Bourne", "Voo United 93", etc). Greengrass é famoso pela câmera nervosa e imagem granulada, em estilo documental, e ele novamente faz uso destas técnicas aqui, embora de forma mais comedida. Ele também tem grande domínio sobre o suspense, e as cenas iniciais de "Capitão Phillips", da partida do navio até o embarque dos piratas, são muito bem feitas, com um ritmo que começa lento e vai acelerando aos poucos. O fato de que praticamente todos os atores serem desconhecidos (ou mesmo amadores escolhidos especialmente para este filme) só aumenta o realismo (e a identificação com Tom Hanks).


Curiosamente, o filme perde um pouco do gás assim que os piratas chegam a bordo. Quase toda a tripulação do Alabama está escondida, e Phillips começa um jogo de paciência com Muse, tentando evitar que ele encontre o resto de seus homens. Há longas cenas mostrando os dois indo de um lado para o outro dentro do grande navio enquanto a tripulação tenta não ser encontrada. Após um confronto com os piratas, eles acabam fugindo do cargueiro em um pequeno barco baleeiro, levando o Capitão Phillips como refém, e o filme muda de rumo. Entra em cena a Marinha americana e Greengrass parece um pouco deslumbrado em mostrar o poderio bélico do gigante americano contra aqueles quatro piratas esqueléticos, desesperados e famintos dentro do barquinho de metal.

ATENÇÃO, AVISO DE (POSSÍVEIS) SPOILERS

E então chegamos à última cena, em que Tom Hanks dá um show que vai lhe garantir mais uma indicação ao Oscar. Esqueçam o suspense, as questões políticas, os erros e acertos do filme que, até aqui, havia sido bom, mas nada de excepcional. Resta apenas a belíssima interpretação de Tom Hanks, esgotado, surrado, coberto de sangue em em choque, em uma cena que vale o filme.

FIM DOS SPOILERS

Há controvérsias sobre se o verdadeiro Capitão Phillips teria sido realmente o herói retratado no filme. Na internet podem ser lidos artigos e entrevistas com outros tripulantes do navio refutando a versão presente no filme e no livro lançado pelo verdadeiro Rich Phillips há alguns anos. Como ficção, no entanto, "Capitão Phillips" é uma boa pedida.

Câmera Escura

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Thor - O Mundo Sombrio

Do grande cartel de super-heróis da Marvel, o deus nórdico Thor é, provavelmente, o mais fantasioso. O filho de Odin (Anthony Hopkins) tem uma enorme capa vermelha, veste uma armadura e tem como arma um martelo. Na pele de Chris Hemsworth ("Rush", "Thor", "Os Vingadores"), o herói é, além disso, um dos mais óbvios "homens objeto" da série produzida pela Marvel. Thor ganhou uma aventura solo em 2011 dirigido pelo shakespeareano Kenneth Branagh, que fez um filme apenas correto, preparando terreno para "Os vingadores" e apresentando, além de Thor, seu meio-irmão Loki (Tom Hiddleston) que sempre rouba a cena quando aparece.

"Thor - O Mundo Sombrio" é dirigido por Alan Taylor, roteirista e diretor de vários episódios da série "Game of Thrones", o que lhe confere autoridade para lidar com um roteiro que mistura fantasia medieval com deuses nórdicos e elfos. É difícil se manter sério ao narrar a sinopse de um filme como este, mas vamos lá. Um prólogo narrado por Sir Anthony Hopkins conta a história dos "Elfos Negros", que viviam nas trevas e criaram uma arma mortal chamada de "éter". O pai de Odin derrotou o líder dos elfos, Malekith (Christopher Eccleston, irreconhecível debaixo da maquiagem) e enterrou o "éter" em um abrigo subterrâneo. Corte para Londres, milênios depois, onde Jane Foster (Natalie Portman) ainda espera pela volta do "rolo" dela, Thor, que sumiu há dois anos e não deu mais notícias (a não ser ao aparecer em Nova York para salvar o mundo em "Os Vingadores"). Foster ainda estuda fenômenos estranhos da Física e sua atenção é atraída para um lugar em Londres em que as leis da gravidade parecem ter ficado malucas. Ela acaba caindo em uma espécie de "portal" e vai parar justamente onde o "éter" estava escondido. Ela é possuída pelo "éter", que ameaça sua vida e faz com que Thor a leve para Asgard para tentar salvá-la. Só que a presença do "éter" em Asgard também atrai Malekith e seus Elfos Negros, que causam tanta destruição que fazem com que Thor peça ajuda a Loki, que está trancado nas masmorras.


O filme é melhor quando embarca de cabeça na fantasia de Asgard e dos outros "reinos" do que na Londres moderna. Londres, aliás, recentemente foi protagonista de outro filme de fantasia, "Além da Escuridão - Star Trek", e a cidade milenar leva uma sova no final deste filme, mesmo que em uma proporção bem menor do que Nova York em "Os Vingadores". Mas Nova York é Nova York, afinal de contas. É curioso ver vencedores do Oscar como Sir Anthony Hopkins sendo ligeiramente canastrões neste filme, ou então ver Stellan Skarsgard pagar mico como Eric Selvig, cientista que parece ter perdido alguns parafusos desde "Os Vingadores". De qualquer forma, "Thor - O Mundo Sombrio" é, no mínimo, superior ao primeiro filme e vale como passatempo.

Câmera Escura