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sábado, 14 de outubro de 2023

Dopesick (2021)

 
Dopesick (2021). Star+. Ok, esta é como a versão "pro" de "Império da Dor", minissérie que a Netflix lançou recentemente. Enquanto a Netflix partiu para a paródia e momentos sensacionalistas, "Dopesick" é uma versão séria e muito mais aprofundada do surgimento da crise de opióides nos Estados Unidos e a luta de alguns promotores contra a indústria farmacêutica.

A trama base é a mesma: uma família tradicional americana, os Sackler, lançaram nos anos 1990 um remédio para a dor chamado OxyContin, que prometia ser revolucionário. O problema é que eles subornaram especialistas e burlaram várias regras da FDA (a Anvisa deles) e apresentaram o remédio como seguro e indicado para todo tipo de dor. O resultado foi toda uma geração de americanos viciados em um remédio que tinha as mesmas propriedades da heroína.

O elenco de "Dopesick" também é muito melhor do que a versão da Netflix. Michael Keaton, Michael Stuhlbarg, Peter Sarsgaard, Rosario Dawson, Kaitlyn Dever, Mare Winningham, Will Poulter e mais um monte de gente boa dá vida às pessoas que produziram o remédio e suas vítimas. Michael Keaton ganhou um Emmy pelo trabalho. São 8 episódios; Barry Levinson (Mera Coincidência, Rain Man) é um dos diretores. Visto na Star+.

sábado, 24 de setembro de 2016

Sete Homens e Um Destino (2016)

Claro que o que todo mundo vai perguntar se este filme é melhor do que a versão consagrada de 1960, dirigida por John Sturges. A resposta, claro, é não. Poucas coisas são mais cool do que Yul Brynner em um cavalo, certo? Ainda mais quando acompanhado de gente como Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn, Robert Wagner, etc (sem falar de Eli Wallach). A nova versão, porém, é bem melhor do que se poderia esperar, principalmente por causa do elenco.

Denzel Washington todo de preto montado em um cavalo não é nenhum Brynner, mas é, a seu modo, bastante cool. Chris Pratt está bem como o substituto de McQueen e o resto do elenco é composto por um ótimo Ethan Hawke (um pistoleiro traumatizado pela Guerra Civil), Vincent D´Onofrio como um rastreador, Buyng-hung Lee como um chinês especializado em facas, Manuel Garcia-Hulfo como um pistoleiro mexicano e Martin Sensmeier como um índio comanche. Como se vê, a versão "século XXI" da história primeiro contada por Akira Kurosawa em "Os Sete Samurais" (1954) tenta ser bem mais "inclusiva" do que o elenco totalmente branco do Western de Sturges. Há ainda um papel feminino bastante forte interpretado por Haley Bennett, que faz uma viúva que contrata Washington e seu bando para proteger uma pequena cidade de um cruel minerador chamado Bogue (Peter Sarsgaard, apropriadamente asqueroso mas um tanto exagerado).


O roteiro (co-escrito por Nic Pizzolatto, da extraordinária série True Detective, da HBO) segue de perto as versões de Kurosawa e Sturges, com algumas modificações. O grupo montado por Denzel Washington não só é mais diverso como também é mais ambíguo, principalmente na sua motivação. A versão de 1960 deixava claro que os camponeses podiam pagar muito pouco para os pistoleiros; já aqui, apesar do pagamento também ser pequeno, há implícita a promessa da divisão da grande quantidade de ouro que há nas minas da cidade. A direção é de Antoine Fuqua, que já trabalhou com Denzel Washington antes em "Dia de Treinamento" (também com Ethan Hawke) e "O Protetor". Fuqua dirige bem, sem pressa nem aquelas câmeras tremidas da maioria dos filmes modernos de ação. Há um bom senso da geografia da cidade e seus arredores. Os atores são bem dirigidos e há boa química entre Washington, Pratt e a garota, Bennett. A trilha foi a última composta por James Horner, que morreu em acidente aéreo em 2015, e tem várias de suas assinaturas conhecidas (como uso da flauta japonesa, o shakuhachi).

O ritmo lento é uma vantagem e um desvantagem. As (boas) cenas de ação acabam ficando um pouco dispersas pelos 132 minutos de filme. Quando as balas começam a voar, porém, vale a pena a espera. Dificilmente vai virar um clássico, mas para um Western moderno esta versão rende uma boa sessão de cinema.

João Solimeo

domingo, 17 de novembro de 2013

Blue Jasmine

O telefone toca e Jasmine (Cate Blanchett) corre desesperada para ele. Ela está cansada, desiludida e está se recuperando de um colapso nervoso. Há pouco tempo ela estava organizando recepções em apartamentos de cobertura de Manhattan para o marido rico e bonito, Hal (Alec Baldwin). Hoje ela está vivendo de favor na pequena casa da irmã Ginger (Sally Hawkins), em São Francisco, sem um tostão na carteira e simplesmente desesperada por uma chance de voltar à vida boa, nem que isto signifique depender de outro homem rico.

Jasmine é a personagem principal do novo filme de Woody Allen ("Vicky, Cristina, Barcelona", "Tudo pode dar certo", "Meia noite em Paris"), o gênio novaiorquino que lança um filme por ano há décadas, com resultados variáveis. "Blue Jasmine", felizmente, está entre os ótimos trabalhos do diretor. E grande parte desse sucesso se deve à escalação da atriz australiana como Jasmine. Blanchett está extraordinária. Jasmine é patética; passou anos ao lado de um homem que lhe dava tudo do bom e do melhor, mas ela nunca se questionava de onde o dinheiro vinha. Também fazia vista grossa aos vários casos que Hal tinha com secretárias, modelos, babás e todo tipo de mulher bonita. As atividades criminosas do marido são descobertas pelo FBI e ele acaba se matando na prisão, deixando Jasmine completamente desestruturada. Já a irmã dela, Ginger, é o retrato da mulher comum, trabalhadora (é caixa em um supermercado de São Francisco), tem dois filhos de um casamento fracassado com Augie (Andrew Dice Clay) e está namorando outro "perdedor" (na concepção de Jasmine), um cara chamado "Chili" (Bobby Canavale). Allen está inspirado e escreve cenas generosas para as duas atrizes, e Sally Hawkins faz um ótimo trabalho contracenando com Blanchett.


Apesar de grande parte do filme se passar em São Francisco, os flashbacks que mostram a vida rica de Jasmine são na Nova York de Woody Allen, fotografada em tela larga e cores quentes por Javier Aguirresarobe (o mesmo de "Vicky, Cristina, Barcelona"). O roteiro de Allen usa cenas do presente e do passado para ilustrar a esquizofrenia de Jasmine, que pode ser levada a pensar na vida que levava por coisas simples como o cheiro de um perfume francês. Todo elenco está muito bem e o filme conta ainda com participações de Peter Sarsgaard (de "Lovelace"), do comediante Louis CK e de Michael Stuhlbarg (de "Um Homem Sério"). Allen, aos 77 anos, ainda está em plena forma. Visto no Topázio Cinemas.

Câmera Escura

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lovelace

Hoje em dia, em que a pornografia está a um click do mouse de todo mundo, é difícil imaginar que as pessoas iam ao cinema para ver filmes desse gênero. E há quarenta anos, nos Estados Unidos, filmes adultos eram exibidos em grandes cinemas, com um público que não era formado apenas por rapazes cheios de hormônios. Em 1972, um filme pornô chamado "Garganta Profunda" causou furor não só pela premissa absurda (uma mulher com o órgão sexual em lugar inusitado), mas pelo carisma da estrela principal, a estreante Linda Lovelace. Ela não tinha o tipo físico comum às estrelas do cinema pornô; era apenas uma garota bonita (com uma "habilidade" especial). "Garganta Profunda" se tornaria um fenômeno, arrecadando meio bilhão de dólares. A estrela principal receberia pouco mais de mil dólares pelo trabalho que a marcaria pelo resto da vida.

"Lovelace" é dirigido por dois renomados documentaristas, Jeffrey Friedman e Rob Epstein. Eles usaram da experiência com a não-ficção para recriar a vida de Linda Boreman (Amanda Seyfried, de "Os Miseráveis" e "O Preço da Traição"), uma garota de Nova York que se mudou para a Flórida com a família  rígida e religiosa (interpretados por Robert Patrick e uma irreconhecível Sharon Stone). Linda se envolve com o típico "cafajeste profissional", Chuck (o competente Peter Sarsgaard, de "Educação"), um salafrário que explora garotas e drogas e apresenta Linda a produtores de filmes pornográficos. Eles ficam impressionados com a habilidade da garota em praticar sexo oral e, rapidamente, escrevem e produzem "Garganta Profunda". Friedman e Epstein montam o filme de forma não linear e, a partir do meio da trama, voltam no tempo e contam a mesma história sobre outro ponto de vista. É um recurso interessante. O que antes parecia "fácil", como a aparente tranquilidade de Linda em aceitar fazer um filme pornográfico, por exemplo, toma nova interpretação quando o espectador passa a vê-la como vítima de um homem violento e manipulador. Chuck a estuprava, batia e explorava como garota de programa. O espectador se pergunta porque uma garota como Linda aceitaria passar por tudo isso, mas ela estava "presa" naquela estranha relação que existe entre um cafetão e uma prostituta.

O final é curiosamente meloso. Ele mostra como Linda abandonou a pornografia (ela fez apenas "Garganta Profunda", na verdade) e se transformou em esposa e mãe, além de escrever um livro contra a pornografia e a violência doméstica. Tudo muito louvável mas, como filme, a forma como isso é apresentado é fraca. Os realizadores até apelam para uma trilha triste, com violino, para apresentar esta nova fase da vida de Lovelace. Impossível não comparar com o superior "Boogie Nights", fantástico retrato do mundo do cinema pornográfico feito por Paul Thomas Anderson em 1997. Friedman e Epstein não sabem se homenageiam a indústria pornográfica dos anos 1970 (com a qual parecem deslumbrados) ou fazem uma denúncia sobre este meio. Amanda Seyfried está muito bem como Linda Lovelace. Em compensação, James Franco não convence um segundo como Hugh Hefner, o fundador do império "Playboy".