quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lovelace

Hoje em dia, em que a pornografia está a um click do mouse de todo mundo, é difícil imaginar que as pessoas iam ao cinema para ver filmes desse gênero. E há quarenta anos, nos Estados Unidos, filmes adultos eram exibidos em grandes cinemas, com um público que não era formado apenas por rapazes cheios de hormônios. Em 1972, um filme pornô chamado "Garganta Profunda" causou furor não só pela premissa absurda (uma mulher com o órgão sexual em lugar inusitado), mas pelo carisma da estrela principal, a estreante Linda Lovelace. Ela não tinha o tipo físico comum às estrelas do cinema pornô; era apenas uma garota bonita (com uma "habilidade" especial). "Garganta Profunda" se tornaria um fenômeno, arrecadando meio bilhão de dólares. A estrela principal receberia pouco mais de mil dólares pelo trabalho que a marcaria pelo resto da vida.

"Lovelace" é dirigido por dois renomados documentaristas, Jeffrey Friedman e Rob Epstein. Eles usaram da experiência com a não-ficção para recriar a vida de Linda Boreman (Amanda Seyfried, de "Os Miseráveis" e "O Preço da Traição"), uma garota de Nova York que se mudou para a Flórida com a família  rígida e religiosa (interpretados por Robert Patrick e uma irreconhecível Sharon Stone). Linda se envolve com o típico "cafajeste profissional", Chuck (o competente Peter Sarsgaard, de "Educação"), um salafrário que explora garotas e drogas e apresenta Linda a produtores de filmes pornográficos. Eles ficam impressionados com a habilidade da garota em praticar sexo oral e, rapidamente, escrevem e produzem "Garganta Profunda". Friedman e Epstein montam o filme de forma não linear e, a partir do meio da trama, voltam no tempo e contam a mesma história sobre outro ponto de vista. É um recurso interessante. O que antes parecia "fácil", como a aparente tranquilidade de Linda em aceitar fazer um filme pornográfico, por exemplo, toma nova interpretação quando o espectador passa a vê-la como vítima de um homem violento e manipulador. Chuck a estuprava, batia e explorava como garota de programa. O espectador se pergunta porque uma garota como Linda aceitaria passar por tudo isso, mas ela estava "presa" naquela estranha relação que existe entre um cafetão e uma prostituta.

O final é curiosamente meloso. Ele mostra como Linda abandonou a pornografia (ela fez apenas "Garganta Profunda", na verdade) e se transformou em esposa e mãe, além de escrever um livro contra a pornografia e a violência doméstica. Tudo muito louvável mas, como filme, a forma como isso é apresentado é fraca. Os realizadores até apelam para uma trilha triste, com violino, para apresentar esta nova fase da vida de Lovelace. Impossível não comparar com o superior "Boogie Nights", fantástico retrato do mundo do cinema pornográfico feito por Paul Thomas Anderson em 1997. Friedman e Epstein não sabem se homenageiam a indústria pornográfica dos anos 1970 (com a qual parecem deslumbrados) ou fazem uma denúncia sobre este meio. Amanda Seyfried está muito bem como Linda Lovelace. Em compensação, James Franco não convence um segundo como Hugh Hefner, o fundador do império "Playboy".



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