sábado, 7 de setembro de 2013

Jobs

Filmes sobre figuras históricas costumam tratar de líderes religiosos ou políticos, pacifistas ou estrelas de rock. Filmes sobre empresários já foram feitos antes (como "Tucker, Um Homem e seu Sonho", 1988, de Francis Ford Coppola), mas poucos apresentaram seu protagonista de forma tão religiosa quanto "Jobs". Em se tratando da marca "Apple", no entanto, não é de se estranhar, já que a fábrica de computadores, desde seu início, não tinha apenas "clientes", mas "seguidores", e Steve Jobs era seu profeta. Jobs morreu de câncer em 2011, deixando um legado impressionante de inovações tecnológicas como o iPod, o iPad, o iPhone e tantos outros que mudaram o modo como as pessoas interagem com os aparelhos eletrônicos.

Diante disso, é uma pena que a primeira cinebiografia a respeito do californiano seja tão "quadrada" e sem brilho. A melhor surpresa é a interpretação de Ashton Kutcher, que praticamente carrega o filme sozinho, com um bom trabalho ao emular Jobs. Financiado de forma independente, o filme foi feito às pressas para chegar às telas antes da produção da Sony Pictures que será baseada na biografia oficial de Steve Jobs, escrita por Walter Issacson. O filme da Sony, além de ter um orçamento muito superior, está sendo escrito pelo premiado roteirista Aaron Sorkin, que ganhou o Oscar em 2011 por "A Rede Social". Foram os diálogos rápidos e inteligentes de Sorkin que tornaram o filme sobre o Facebook interessante. Enquanto isso, em "Jobs" (dirigido por Joshua Michael Stern e escrito por Matt Whiteley), o roteiro se arrasta e o espectador assiste a longas sequências em que "nerds" em uma garagem ficam soldando circuitos em uma placa de computador, ou executivos tramam vinganças ao redor de mesas de reunião.

É verdade que não só o lado bom de Jobs é mostrado. De temperamento difícil, o futuro criador do iPod é visto humilhando técnicos que não se comprometiam 100% com sua "visão" da empresa. No lado pessoal, ele negou a paternidade de uma menina que teria tido com a namorada. Era frequente também que ele tomasse para si o crédito por criações e inovações que não eram dele; o primeiro computador Apple, por exemplo, teria sido criado por Steve Wosniak (Josh Gad), seu amigo e sócio. A Apple Computer começou na garagem dos pais de Jobs e, nos primeiros meses, era tocada por Jobs, Wosniak e um grupo de técnicos que trabalhavam praticamente de graça. Quando a empresa cresceu, no entanto, Jobs se recusou a ceder ações para os antigos companheiros. Há uma cena em que Jobs é visto provando do próprio veneno, quando Bill Gates teria copiado o sistema operacional do Macintosh e criado o Windows, passando a perna na Apple. A rivalidade duraria décadas, mas o filme apenas mostra um telefonema de Jobs ameaçando processar Gates. Steve Jobs foi afastado da própria empresa em 1985 e criou a Next. (O filme não mostra como, em um golpe de "sorte", ele comprou de George Lucas uma pequena produtora de animações chamada Pixar, em 1986, e a transformou em uma empresa bilionária). Com altos e baixos, "Jobs" se apoia muito na interpretação de Kutcher para se manter em pé, e apesar de ser um bom trabalho do ator, não é o suficiente.

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