domingo, 30 de dezembro de 2012

Uma Lista para 2012

Todo final de ano surgem as listas dos "melhores do ano". Aqui no Câmera Escura não poderia ser diferente, mas vou evitar falar em "melhores". Esta é uma lista para 2012. Filmes que, de alguma forma, chamaram a atenção, sem nenhuma ordem específica. Deixei de lado alguns que foram exibidos em 2012 aqui no Brasil, mas foram lançados ano passado nos Estados Unidos. Divirtam-se.




Argo - Filme comercial de primeira. Ben Affleck mostrando que é ótimo diretor.

Looper - A ficção-científica do ano. Inteligente, ousado, comercial.

Drive - Estiloso, cool, muito bem interpretado e dirigido. Filme cult instantâneo.

Valente - A Pixar incorporando a Disney e fazendo uma boa animação com uma personagem forte.

Elefante Branco - Pablo Tapero e Ricardo Darín mais uma vez chocando e denunciando.

O Som ao Redor - Estréia de Kleber Mendonça Filho no longa-metragem. Redondo, perto da perfeição.

Histórias que só existem quando lembradas - Filme nacional que quase ninguém viu. Uma joia escondida.


Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios - Beto Brant e Renato Ciasca em um filme pesado com grandes interpretações de Camila Pitanga (surpreendente) e Zecarlos Machado.

As Neves do Kilimanjaro - Bom filme europeu com mensagem social importante.

O Porto - Pequena obra-prima, para não perder.

Tomboy - História sensível de uma garota que pensa (ou quer) ser um menino.

As Mulheres do Sexto Andar - Gostosa comédia francesa sobre o choque de culturas e classes sociais.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Detona Ralph

"Detona Ralph" é fruto da geração fliperama, que gastava fortunas em fichas de "Pac Man" e "Space Invaders" antes que os consoles invadissem as casas. Ele tem como protagonista Ralph, o personagem de um jogo fictício aos moldes de "Elevator Action" e "Donkey Kong". Sua única função é "detonar" as janelas de um prédio de apartamentos, que são rapidamente consertadas por Felix, um rapaz com um martelo mágico. Ao final de cada jogo, Ralph é atirado de cima do prédio pelos moradores enfurecidos e passa a noite no lixão do mundo virtual. O começo do filme é bastante bom.  Ralph é visto em uma reunião aos moldes dos "alcoólicos anônimos" em que ele fala de suas frustrações por ser um vilão. Jogadores vão reconhecer figuras famosas do mundo dos games como o fantasminha do jogo "Pac Man", do Dr. Robotnik (do "Sonic") e de outros vilões de jogos como "Street Fighter" e "Super Mario". Vilões e heróis dos vários fliperamas passeiam pelos fios de força entre as máquinas, todas ligadas em uma espécie de estação de trem central.

Ralph, chateado por não ter a mesma fama dos heróis, decide invadir um jogo de tiro, muito mais moderno, para conseguir uma medalha e provar para os companheiros do seu mundo que ele vale tanto quanto Felix, o herói. Ele é bem sucedido, mas ao ser atacado por um inseto estilo "Aliens" ele vai parar em outro jogo, bastante feminino e "fofinho", passado em um mundo feito de balas e doces. É então que  o roteiro de "Detona Ralph" se perde completamente. O início é bastante promissor; a ideia de uma história passada dentro de um videogame não é nova, a mesma Disney fez "TRON" em 1982, mas era um filme adulto e cerebral. "Detona Ralph" prometia ser uma aventura divertida que, ao mesmo tempo que homenageava os jogos antigos, daria ao espectador uma viagem por dentro deles. Mas não é o que acontece. Personagens famosos dos games como os vilões já citados são acompanhados por aparições rápidas do porco-espinho Sonic, por exemplo, mas é de se perguntar porque os roteiristas do filme (o diretor Rich Moore, Phil Jonston, Jim Reardon e Jennifer Lee) resolveram passar grande parte da trama dentro de um mundo feito de chocolate, biscoitos e doces ao invés de em um mundo virtual quer realmente lembrasse um videogame. Neste mundo feito de açúcar, Ralph se torna aliado de uma garota irritante chamada Vanellope, que quer vencer uma corrida de carros para voltar a ser aceita como integrante daquele jogo (ela é considerada por todos um "bug" no sistema). O fato dela sequer saber dirigir só é uma desculpa para Ralph, que também não sabe, treiná-la por vários minutos do filme. Por esta descrição já dá para perceber o quanto os roteiristas se perderam.

"Detona Ralph" é, oficialmente, um produto dos estúdios Disney, embora tenha ficado confuso atribuir a autoria depois que eles se fundiram com os estúdios da Pixar. É um filme que deve agradar a crianças pequenas. Infelizmente, grande parte do público alvo (fãs nostálgicos dos games antigos) vá ficar entediado. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.


PS: Antes do longa há a exibição de um ótimo curta-metragem animado chamado "Avião de Papel" (Paperman), dirigido por John Kahrs. Passado em Nova York, o curta conta a história de um rapaz que encontra acidentalmente uma moça em uma estação de trem e os dois se apaixonam, mas vão cada um para um lado. Quando o rapaz está no escritório ele vê a moça do outro lado da rua e tenta chamar a atenção dela com vários aviões de papel que ele faz com os formulários do trabalho. Muito bem feito (e bem melhor do que "Detona Ralph"). Clique AQUI para ler mais a respeito da técnica por trás deste curta.




sábado, 22 de dezembro de 2012

As aventuras de Pi

"As Aventuras de Pi" é um filme com dois lados. Um é uma ótima aventura de fantasia que mostra a convivência forçada entre um garoto indiano e um tigre de bengala. O outro lado é um filme confuso sobre a disputa entre a Razão e a Religião. Baseado em um livro de Yann Martel, o roteiro de David Magee, provavelmente fiel ao material original, é bastante irregular. Acrescenta-se o fato de que o diretor Ang Lee, que já fez obras tão diversas quanto "Razão e Sensibilidade" (1995), "O Tigre e o Dragão" (2000) ou mesmo "Hulk" (2003) ter decidido testar em "As aventuras de Pi" todo tipo de efeito especial digital possível e o produto final, repetimos, é uma salada mista, por vezes brilhante, em outras entediante, frequentemente exagerado.

Pi (Suraj Sharma) é um rapaz indiano que cresceu em um zoológico administrado pela família. As finanças vão mal e o pai decide fechar o zoo e partir para o Canadá, onde pretende vender os animais e começar uma vida nova. Durante uma tempestade no Oceano Pacífico, o cargueiro em que viajam é tragado pelas ondas e Pi vai parar em um bote salva-vidas na companhia de um orangotango, uma zebra, uma hiena e do tigre do zoológico. A cena do naufrágio é assustadora e realmente impressionante. Há um plano que mostra Pi, sob as ondas, vendo o grande navio iluminado afundar na escuridão do mar, que é fantástico. De volta ao bote salva-vidas, Pi tem não só que cuidar da própria vida como administrar os animais a bordo que, aos poucos, vão sendo devorados primeiro pela hiena e depois pelo tigre. Quando sobram apenas Pi e o tigre, é um conflito entre a inteligência do garoto contra a força e os instintos do animal que, como mostrado em uma cena anterior, é um predador eficiente e letal. Pi constrói uma balsa com os coletes salva-vidas e os remos e passa grande parte do tempo nela, deixando o bote para o tigre. É uma convivência complicada, mas o roteiro (ao menos nesta parte da trama) é inteligente e mostra como Pi tem que pensar não só em saciar a própria fome (ele come biscoitos do bote salva-vidas) como a do tigre, que ele alimenta com peixes pescados com uma vara improvisada. Não é apenas uma boa ação; se o tigre ficar com fome demais ele pode tentar alcançar Pi na balsa e devorá-lo. Há belas cenas em que a tela do cinema se transforma em uma espécie de pintura em que Ang Lee mistura as cores do céu e do mar, ou as nuvens e as águas vivas. Há um clima um pouco "new age" demais, mas é certamente bonito. Se "As Aventuras de Pi" fosse feito apenas desta longa sequência passada no mar, seria um filme ótimo.

(ATENÇÃO SPOILERS) O problema é que há outra trama, passada no presente, que mostra um Pi adulto (Irrfan Khan) narrando sua história para um escritor canadense. Isto causa vários problemas; para começar, revela que Pi sobreviveu à aventura no mar, já que é visto vivo, e adulto, logo no início do filme. Além disso, passa-se um bom tempo (tempo demais) acompanhando a narração de Pi falando sobre a infância e seu envolvimento com várias religiões. Mas o pior é uma sequência final em que, depois de contar sua aventura fantástica ao escritor canadense, o Pi adulto resolve contar uma outra versão, possivelmente a "verdadeira", sobre o que realmente teria acontecido a ele e sua família durante o naufrágio. Seria uma decisão corajosa por parte de Ang Lee ou um terrível erro de cálculo? O resultado é que "As aventuras de Pi" termina com um tremendo anti clímax, lembrando aquelas histórias antigas que acabavam com "e foi tudo um sonho". 

De qualquer forma, "As aventuras de Pi" é ambicioso e muito bem feito. Os efeitos especiais chegaram a um nível em que praticamente tudo que pode ser imaginado pode ser materializado; fato que, se não for usado com cuidado, pode ser um problema.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Escrito pelo britânico J.R.R. Tolkien na década de 1930, "O Hobbit" era um livro infanto-juvenil leve, divertido e rico em detalhes, que contava a história de Bilbo Baggins (ou Bilbo Bolseiro), que acompanhava o mago Galdalf e 13 anões em uma aventura pela Terra Média. O grupo queria recuperar o ouro roubado pelo dragão Smaug e, no meio do caminho, Bilbo enfrentava uma série de aventuras; em uma delas, ele encontra no chão de uma caverna um grande anel de ouro que lhe dá o poder da invisibilidade. O livro foi um grande sucesso e Tolkien passou a vida escrevendo sobre a Terra Média e as aventuras em torno do anel encontrado por Bilbo. No século XXI, o neozelandês Peter Jackson embarcou na tarefa de transformar os três livros da série "O Senhor dos Anéis" em longos filmes que revolucionaram os efeitos especiais e puseram a Nova Zelândia no mapa cinematográfico mundial. O público respondeu com bilhões de dólares  nas bilheterias e, inevitavelmente, sabia-se que Jackson voltaria à Terra Média com sua versão de  "O Hobbit".

Só que o sucesso, assim como o Anel, é um aliado perigoso. Ao invés de fazer "O Hobbit" como um só filme de três horas, Jackson dividiu o livrinho em três partes, que prometem arrecadar o máximo de bilheteria possível para a New Line Cinema e os estúdios envolvidos na "franquia" de Tolkien. Com carta branca e precisando esticar ao máximo o roteiro (coisa que Jackson já faz normalmente), o roteirista/diretor traz a Terra Média de volta à telona em um filme com longas duas horas e cinquenta minutos de duração, um exagero. Não que "O Hobbit" seja uma experiência ruim de se assistir (apesar de ser voltado para um público dedicado). Jackson está à vontade com a mitologia criada por Tolkien e é um prazer rever Ian McKellen como o mago Gandalf. Também estão de volta, em pequenas aparições, Elijah Wood como Frodo e Ian Holm como o velho Bilbo. Interpretando o hobbit 60 anos mais novo está Martin Freeman, que faz um trabalho muito bom. Um numeroso elenco interpreta os 13 anões que, junto com Gandalf e Bilbo, partem para a "Montanha Solitária" para tentar recuperar o tesouro. Faz falta a presença sóbria de Viggo Mortensen, que interpretava Aragorn na trilogia anterior, mas o grupo de anões é divertido. A grande Cate Blanchett retorna como a Rainha dos Elfos, Galadriel, e sua beleza é um colírio como a única figura feminina em quase três horas de filme. Hugo Weaving também retorna como o sábio elfo Elrond, assim como Christopher Lee como Saruman.

O problema, repito, é a redundância do roteiro, claramente ganhando tempo para esticar a trama. Há longas sequências de flashbacks que explicam cada detalhe do passado dos personagens, assim como cenas intermináveis, como o jantar que acontece na casa de Bilbo antes da partida para a aventura. Outra questão é o uso excessivo dos efeitos digitais para criar centenas de vilões virtuais nas cenas de batalhas. Jackson se perde na sequência em que Gandalf e os anões fogem do interior da montanha dos orcs e há uma violência inconsequente (nenhum dos heróis chega sequer a se ferir). Há, porém, boas sequências, como a que mostra uma luta titânica entre gigantes de pedra, do tamanho de montanhas, que batalham sob a chuva. E o personagem Gollun, extraordinária criatura digital "interpretada" por Andy Serkis, continua o melhor ator da série. A trilha de Howard Shore repete quase todos os temas da trilogia original. A fotografia tem problemas; Jackson fez o filme em digital, em 3D e em um novo formato que grava a 48 quadros por segundo (contra os tradicionais 24 quadros por segundo do cinema), supostamente buscando uma qualidade melhor. O resultado é uma imagem ligeiramente embaçada e irreal, ao menos na cópia vista.

É um filme recomendável? Os fãs de "O Senhor dos Anéis", que não são poucos, certamente vão adorar. Outras centenas de espectadores vão assistir por impulso. Aos que não gostam de cinema de fantasia ou não têm paciência para ver anões correndo por quase três horas, melhor evitar. Visto no Kinoplex, em Campinas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Homem da Máfia

"O Homem da Máfia" é o tipo de filme que se acha melhor e mais inteligente do que realmente é. Escrito e dirigido por Andrew Dominik e estrelado e produzido por Brad Pitt, a obra está longe da beleza de outro trabalho feito pela dupla, o ótimo "O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" (2007). O roteiro está cheio daqueles diálogos longos que tentam  soar como Quentin Tarantino e as imagens lembram algum filme de Guy Ritchie, mas sem o mesmo talento.

O elenco, invejável, conta com Pitt, Ray Liotta, James Gandolfini e Richard Jenkins em uma trama passada no sul dos Estados Unidos envolvendo a Máfia e alguns ladrões de segunda classe. Dois deles invadem um jogo de cartas gerenciado por Markie Trattman (Liotta, grande ator desperdiçado há anos pelo cinema) e levam todo o dinheiro. Eles tem um plano "infalível"; Trattman, alguns meses antes, havia roubado a própria casa pra embolsar o dinheiro da Máfia e, bêbado uma noite, havia confessado o golpe para amigos. A lógica dos bandidos é clara; se a casa for roubada novamente, a Máfia irá desconfiar de Trattman e os deixará em paz. Mas as coisas não são tão simples. Após o assalto, Brad Pitt, um assassino profissional, vem à cidade negociar o destino dos bandidos com Richard Jenkins (chamado apenas de "Motorista" nos créditos). Como a trama não tem muito a dizer, o roteiro tentar disfarçar a superficialidade com sarcasmo e muita violência. Há uma cena forte de espancamento que, tecnicamente, é muito bem feita. O bom design sonoro faz o espectador quase sentir no próprio corpo os ossos se partindo; o problema é a gratuidade da coisa. Violência sem substância é apenas pornografia.

O filme desperdiça a presença de um grande ator como James Gandolfini, que interpreta outro assassino profissional; ele é trazido à cidade para matar os ladrões, mas seu personagem poderia ter sido cortado, já que desaparece de cena tão rápido quanto entrou. O roteiro força um paralelo entre a história americana recente e os fatos passados no filme; em todos os bares há um aparelho de televisão mostrando discursos de George W. Bush falando sobre a crise econômica e, no final, a vitória de Barack Obama deveria significar alguma coisa para o roteirista, mas não fica muito claro o que é. Visto no Kinoplex, em Campinas.