quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Drive

O mais impressionante sobre "Drive" é como o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn consegue manter o filme no eixo. Seria simples optar por uma saída fácil e, com os elementos que ele tem na mão (um piloto excepcional, carros envenenados, as ruas de Los Angeles) transformar o filme em uma versão paralela de "Velozes e Furiosos" ou produtos do gênero.

Ryan Gosling (cada vez melhor) é um piloto nato. Ele faz serviços como dublê para produções de cinema e trabalha como mecânico. Sua habilidade ao volante, no entanto, também lhe garante serviços como piloto de fuga para bandidos, à noite. As regras são simples: por cinco minutos, ele trabalha para você. Ele não participa do roubo e não anda armado, apenas senta e espera. Terminado o assalto, ele consegue fugir dos policiais através do conhecimento preciso das ruas de Los Angeles e habilidade na direção. O filme começa com um desses assaltos, e a sequência é um primor de edição e suspense. Escutando a frequência do rádio da polícia e a narração de um evento esportivo, ele consegue despistar os policiais e se perder na multidão da saída do estádio. Tudo feito com a precisão de um relógio.

Gosling faz um personagem tão centrado que o espectador nem percebe que ele sequer tem um nome. Seu empresário e parceiro Shannon (Bryan Cranston) o chama simplesmente de "garoto". Ele mora sozinho em um prédio de Los Angeles, não tem família ou passado. Sua armadura só se abre quando ele conhece Irene (Carey Mulligan, de "Educação", adorável como sempre), uma jovem mãe que mora no mesmo andar. Os dois se conhecem quando o carro dela quebra e ela o leva na oficina de Gosling. A atração entre os dois é óbvia desde o primeiro minuto, mas não é apenas física. Há cenas em que ambos ficam apenas olhando um para o outro, e o rosto fechado do rapaz esboça sorrisos de calma felicidade simplesmente por estar sentado com o filho dela vendo televisão. Claro que tudo vai dar errado em breve, mas é notável o modo como o diretor tem controle sobre o ritmo do filme. As coisas se complicam quando o marido de Irene, que estava na prisão, é solto e volta para casa. Ele deve dinheiro para criminosos e, caso não pague, eles vão machucar Irene e o filho. Gosling oferece ajuda, mas as coisas não saem como o esperado e o filme, de repente, mergulha em um banho de sangue.

Há algumas semelhanças com "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese, outro filme violento sobre um motorista. Os personagens principais são solitários, aparentemente comuns mas capazes de atos de violência inesperados. "Drive" tem um visual e uma ambientação que lembram o final dos anos 70 e início dos 80, um pouco de Scorsese misturado com a série de televisão "Miami Vice". Os créditos iniciais são escritos em rosa escuro e mostram o rapaz dirigindo pela cidade ao som de "Nightcall" (ouça), do artista Kavinsky. Os vilões são um capítulo à parte. Albert Brooks, geralmente associado a comédias leves, interpreta Bernie Rose, um chefão do crime a quem Shannon, chefe do rapaz, vai pedir dinheiro emprestado para investir em um carro de Stock Car. Brooks está irreconhecível e perfeito, uma pena que, assim como Gosling, tenha sido esquecido nas indicações ao Oscar. Outro bandido de peso é Nino, interpretado por Ron Perlman, que dispensa comentários.

"Drive" entrou na lista de melhores filmes de 2011 de muitos críticos, causou sensação em Cannes e Nicolas Winding Refn ganhou o prêmio de melhor diretor no prestigiado festival francês. Pena que a Academia americana não tenha indicado o filme a quase nenhum prêmio ("Drive" foi indicado apenas em uma categoria técnica, Melhor Edição de Som). O filme tem todas as características para se tornar um cult. Imperdível.

Câmera Escura

Trailer (não veja caso não tenha visto o filme)


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