sexta-feira, 21 de maio de 2021

Depois a louca sou eu (2021)

Depois a louca sou eu (2021). Dir: Julia Rezende. Amazon Prime. Versão para cinema do livro de Tati Bernardi, publicitária que lidou com vários ataques de pânico e ansiedade e transformou seus problemas em uma carreira literária de sucesso. Dani (Débora Falabella) só queria se uma pessoa "normal". O problema é que, para ela, tudo é exagerado e excessivo. Uma simples ida à praia no final do ano se transforma em uma operação de logística em que ela contrata um táxi para ficar de plantão caso (ou quando) ela se desesperar e quiser voltar para casa. A mãe (Yara de Novaes) é daquelas super protetoras que falam coisas como "Vá sim, filha, vá se divertir. Não pense que você está abandonando sua mãe sozinha, não, pode ir tranquila".

O filme, no começo, até parece que vai ser daquelas comédias bobinhas da Globo Filmes com trilhas agitadas, gráficos na tela e narração esperta. A trama encara com certo realismo a situação complicada das pessoas com síndrome do pânico; há muito humor, sim, mas há também boas doses de realidade, como quando vemos Dani se viciar em Rivotril e outros remédios tarja preta simplesmente para poder navegar pela vida. O mesmo acontece com as cenas de amor e sexo, que vão se tornando mais pesadas conforme o filme avança.

Débora Falabella está muito bem como Dani e a personagem também é vista quando criança e adolescente. O filme foi feito em 2019 mas a pandemia adiou o lançamento nos cinemas até o começo deste ano e, agora, está disponível na Amazon Prime.
 

A Última Nota (Coda, 2019)

A Última Nota (Coda, 2019). Dir: Claude Lalonde. Netflix. O filme é bonito, muito bem interpretado e, para quem gosta de música clássica, tem bela trilha sonora de Chopin, Beethoven, Bach, Schumann, entre outros. Mas talvez seja comportado demais. O grande Patrick Stewart interpreta um pianista chamado Henry Cole. Ele está de volta aos palcos depois de uma tragédia pessoal mas, mesmo para um músico experiente como ele, não está fácil. Logo na abertura o vemos suando e lutando para chegar ao final de uma apresentação para duas mil pessoas. Seu agente, Paul (o bom Giancarlo Esposito) faz o que pode para tentar acalmá-lo e mantê-lo se apresentando, sem muito sucesso.

É então que entra Helen Morrison (Katie Holmes), uma jornalista do The New Yorker que havia trocado as teclas do piano pelas do computador. Há uma afinidade instantânea entre o velho pianista e a (relativamente) jovem jornalista. Henry promete uma entrevista a ela e os dois passam a se ver frequentemente, trocando histórias, caminhando por parques, restaurantes, hotéis e apresentações de piano. Quando Henry tem crises de pânico antes de tocar, Helen está sempre por perto para acalmá-lo. Não fica muito claro, a princípio, se há um romance entre os dois ou se é uma forte amizade, mas Stewart e Holmes estão à vontade juntos e as cenas entre os dois são bonitas.

O caso é que o roteiro não tem gás suficiente para manter o filme funcionando. É tudo muito bonito, as apresentações de piano são bem feitas e há belas paisagens seja nos EUA ou na Suíça, onde se passa parte do filme. É bastante melancólico também, com citações ao filósofo Nietzsche, Goethe, entre outros. O filme (que certamente não é o "filme Netflix" habitual) parece que vai terminar em várias ocasiões, mas estica além do necessário. Patrick Stewart, como era de se esperar, está excelente. Tá na Netflix.
 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Oxigênio (Oxygene, 2021)

Oxigênio (Oxygene, 2021). Dir: Alexandre Aja. Netflix. Filme de suspense francês que lembra muito outro em que Ryan Reynolds acordava dentro de um caixão, "Enterrado Vivo" (2010). Este é mais tecnológico. Uma mulher (Mélanie Laurent) desperta dentro de uma câmara, toda coberta por um tecido térmico e com vários eletrodos e agulhas espetadas pelo corpo. Após os primeiros minutos de desespero, ela consegue se soltar e começa a explorar o lugar em que está. Ela não se lembra do próprio nome, nem como foi parar ali. Um computador chamado M.I.L.O. (voz do grande ator francês Mathieu Amalric) começa a falar com ela. O medidor de oxigênio marca 35%, pouco mais de uma hora até acabar.

Onde ela está? Ela tem vagas memórias de um hospital, pessoas com máscaras, enfermeiros. Ela estaria em uma câmara criogênica? Em tratamento médico? Enterrada viva? Laurent passa quase todo o filme com a lente da câmera próxima ao rosto e interpreta muito bem um papel ingrato, em que tem que atuar dentro de um espaço fechado. A não ser por flashbacks e memórias, ela é a única pessoa que vemos o filme todo. Escutamos a voz de outros personagens em ligações telefônicas que o computador consegue fazer. M.I.L.O., aliás, parece ter a resposta para todas perguntas; o problema é que ele só responde o que é perguntado, e cabe à personagem de Laurent fazer as perguntas certas, se quiser sair dessa com vida. A trama fica um tanto fantástica conforme o filme avança e o roteiro tenta explicar demais as coisas, mas a competência técnica e a interpretação de Mélanie Laurent mantém o interesse. Tá na Netflix.
 

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021)

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021). Netflix. Chega à Netflix a segunda temporada dos curtas animados (para adultos) de "Love, Death & Robots". Esta temporada está bem mais enxuta (8 episódios, contra 18 da primeira temporada) e menos ousada, embora ainda muito interessante. Os episódios, por vezes, parecem apenas portfólio de alguma produtora de animação, mas os roteiros também podem ser bons, como no episódio "Pop Squad", de Jennifer Yuh Nelson, que é MUITO inspirado em Blade Runner, seja no visual ou "clima" melancólico. Há até uma cena que só pode ser descrita como "tears in rain" (lágrimas na chuva), frase clássica de Rutger Hauer ao final de Blade Runner.

Cada episódio tem uma técnica diferente de animação, seja 2D, computação gráfica e até um episódio com stop motion. Em alguns capítulos, como "Neve no deserto" e "Live Hutch", a imagem é tão realista que parece um filme com atores de verdade. "Drowned Giant" (Gigante Afogado), curta que finaliza a série, é ao mesmo tempo estranho e poético. O corpo de um gigante aparece, nu, em uma praia da Inglaterra (a cena lembra "Viagens de Gulliver"). O locutor conta a história como quem narra uma memória antiga, acontecida há muitos anos. O roteiro foi baseado em um conto de J.G. Ballard, escritor de ficção-científica que escreveu "Império do Sol" (que virou filme de Steven Spielberg).

A série foi criada por Tim Miller (de "Deadpool") e o diretor David Fincher é um dos produtores. Muito boa, pena que são poucos episódios. Tá na Netflix.
 

Heróis Modestos (Chiisana eiyû: Kani to tamago to tômei ningen, 2018)

Heróis Modestos (Chiisana eiyû: Kani to tamago to tômei ningen, 2018). Netflix. Coletânea de três curtas-metragens animados japoneses. O primeiro é dirigido por Hiromasa Yonebayashi (de "As Memórias de Marnie", dos Estúdios Ghibli) e conta a história de uns seres pequenos que moram dentro de um córrego da floresta. A animação da água é belíssima e o curta tem uma característica interessante: os personagens falam em uma língua inventada, sem tradução. Na trama, uma família enfrenta os perigos do mundo submarino, como grandes carpas que parecem monstros. História simples e visualmente bela.

O segundo curta é dirigido por Yoshiyuki Momose e conta a história de um garoto que tem uma forte alergia alimentar. Ele não pode comer ovos, nem mesmo tocar em alguma coisa que tenha ovos. A animação tem belos traços e mostra a ligação entre o garoto e a mãe, que é dançarina e está constantemente preocupada com a saúde do filho.

A terceira história, bastante interessante, é dirigida por Akihiko Yamashita. É sobre um homem "invisível". Ninguém presta atenção a ele no trabalho. Quando ele entra em uma loja, os vendedores não olham para ele. É tão "invisível" que ele tem que se movimentar segurando alguma coisa pesada, como um extintor de incêndio, para não sair "voando".

São histórias simples e poéticas, com pequenos (ou grandes) atos de heroísmo dos personagens. Os três diretores passaram pelos Estúdios Ghibli em alguma função. Tá na Netflix.
 

A Mulher na Janela (The Woman in the Window, 2021)

A Mulher na Janela (The Woman in the Window, 2021). Dir: Joe Wright. Netflix. Lendo sobre os bastidores deste filme deu para entender porque ele é tamanha bagunça. Originalmente programado para ser lançado em 2019, "A Mulher na Janela" foi massacrado em exibições teste, o que forçou o estúdio (20th Century Fox) a refilmar várias cenas. Aí chegou 2020 e... claro, pandemia, o que atrasou novamente o lançamento nos cinemas. O filme acabou sendo comprado pela Netflix e lançado ontem na telinha. E é uma bomba.

Amy Adams se entrega totalmente ao papel de uma psiquiatra infantil que sofre constantes ataques de pânico e está confinada em uma casa enorme em Manhattan, NY. Como ela não consegue sair, o mundo chega até ela através de telefonemas com o ex-marido e a filha, entregadores de todos os tipos e o psiquiatra, interpretado por Tracy Letts (que escreveu o roteiro). Parece a descrição de qualquer um na pandemia, não? Em uma clara homenagem/cópia à "Janela Indiscreta", obra prima de Hitchcock, Amy Adams passa o tempo observando os vizinhos pela janela. Claro que ela acaba vendo (ou não?) um crime do outro lado da rua. Ela chama a polícia, mas quem acreditaria em alguém que toma antidepressivos com taças e mais taças de vinho?

Poderia ser um bom suspense se fosse apenas uma cópia honesta de Hitchcock, mas o filme complica com tramas sobre violência doméstica, pessoas que desaparecem, alucinações, traumas do passado e uma trilha sonora irritante que simplesmente não para de tocar. Atores do calibre de Gary Oldman, Julianne Moore, Jennifer Jason Lee, Anthony Mackie, Wyatt Russell, entre outros, estão desperdiçados em um roteiro mirabolante que resolve terminar tudo com vários clichês. Tá na Netflix.
 

A Sacada (The Trust, 2016)

A Sacada (The Trust, 2016). Dir: Alex Brewer e Benjamin Brewer. Netflix. Filme de assalto que vale só por Nicolas Cage (sendo Nicolas Cage) e o Frodo Elijah Wood como dois policiais corruptos. Passado em Las Vegas, o filme dá a impressão que a polícia local é pura fachada. Elijah Wood usa drogas, pega prostitutas e não liga para o trabalho. Nicolas Cage é um policial que cansou de tentar trabalhar direito e resolve ir atrás de uma bolada. Jerry Lewis, em seu último papel, faz uma ponta como o pai de Cage.

O roteiro é cheio de humor negro e vale mais pela viagem do que pelo destino. Nicolas Cage parece estar se divertindo e faz suas caretas e exageros de sempre, em contraste com Elijah Wood, que leva tudo a sério demais. Os dois planejam roubar um cofre em que eles nem sabem o que tem dentro, mas parece valer a pena. É interessante, embora seja um filme um tanto excêntrico, o que pode decepcionar muita gente. Tá na Netflix.
 

O Inocente (El Inocente, 2021)

O Inocente (El Inocente, 2021). Dir: Oriol Paulo. Netflix. Série de suspense produzida pela Netflix espanhola, "O Inocente" é co-escrita e dirigida por Oriol Paulo, que é conhecido por filmes cheios de reviravoltas como "Um Contratempo", "O Corpo" ou "Durante a Tormenta". Ele escreve e dirige bem, mas suas surpresas e reviravoltas chegam a cansar. Imagine isso em uma série com 8 capítulos. Há um recurso de roteiro, porém, que te mantém interessado: cada episódio começa pelo ponto de vista de um personagem diferente, que faz uma espécie de resumo da sua vida e acaba chegando a um ponto em comum com episódios anteriores.

Tem de tudo, é até difícil fazer uma sinopse mas, resumidamente, a série parte de uma morte acidental causada por Mateo Vidal (Mario Casas). Em uma briga em frente a uma boate, Mateo empurra um rapaz chamado Daniel, que morre ao bater a cabeça. A partir desta morte, a série fala sobre uma freira que foi assassinada em um convento; sobre prostitutas exploradas por um cafetão; sobre umas fitas de vídeo que podem derrubar homens poderosos; sobre um casal tendo que lidar com a morte do filho; sobre uma policial traumatizada com o suicídio do pai... e assim por diante. A trama é tão complicada que, de vez em quando, a série apela para o recurso de ter um personagem explicando exatamente o que aconteceu, em montagens cheias de flashbacks. Lembra um pouco os desenhos do Scooby-doo, quando tudo se explicava no final.

É muito bem filmada e o elenco, em geral, é bastante competente. Infelizmente o ator principal, Mario Casas, tem um estilo meio "Ben Affleck" de interpretação, bastante limitado, que prejudica algumas cenas. Aura Garrido, Ana Wagener, Anna Alárcon, Jose Coronado, Martina Gusman, entre vários outros, fazem um bom trabalho (muitos deles já trabalharam com Oriol Paulo em outros filmes). Série intrigante, que mantém o interesse até o final. PS: a primeira metade do último capítulo quase coloca tudo a perder; o roteiro fica fantástico demais. Tá na Netflix.
 

A Colônia (The Colony, 2013). Dir: Jeff Renfroe. Amazon Prime. Filme B de ficção científica canadense cujo elenco pode até ser um atrativo, mas o roteiro é genérico e desinteressante. Em um futuro próximo, o planeta está coberto por gelo e os últimos sobreviventes vivem em colônias subterrâneas. Laurence Fishburne e o saudoso Bill Paxton são os líderes de uma dessas colônias, mas o herói do filme é vivido pelo desconhecido Kevin Zegers.

Eles recebem um sinal de socorro de uma colônia vizinha e vão investigar. Grande parte dos cenários é claramente criado em computação gráfica e há cenas que lembram um videogame. As sequências passadas na outra colônia lembram dezenas de outros filmes de suspense e terror. Dispensável. Disponível na Amazon Prime.
 

Inferno Vermelho (Red Heat, 1988)

Inferno Vermelho (Red Heat, 1988). Dir: Walter Hill. Netflix. Bobagem divertida do final da Guerra Fria, nos anos 80, com Arnold Schwarzenegger interpretando um policial soviético chamado Ivan Danko. Ele vai para Chicago atrás de um traficante da Geórgia, Victor (Ed O´Ross), que havia matado o parceiro dele. É um "buddy cop movie", aquele gênero em que dois policiais que não se dão bem são obrigados a cumprir uma missão juntos (e acabam se tornando amigos). O parceiro, no caso, é interpretado por James Belushi, um "tira" de Chicago chamado Art. Americano e russo, então, se juntam para pegar o traficante.

Schwarzenegger estava no auge da carreira e, dentro das limitações, fazia bem esses papéis calados de androides, bárbaros ou policiais soviéticos. James Belushi (irmão do falecido John) fica soltando aquelas piadinhas da época. O diretor, Walter Hill, já havia feito um "buddy movie" antes, "48 Horas", com Eddie Murphy e Nick Nolte. Curioso ver, no resto do elenco, Laurence Fishburne (como Larry Fishburne) como um policial certinho e Gina Gershon, novinha, como a namorada americana do traficante. Tiros, explosões, perseguições a pé, de carro e até de ônibus, violência, nudez gratuita, trilha sintetizada de James Horner e tudo o que se espera de um filme policial dos anos 80, rs (mas é divertido). Tá na Netflix.
 

O Informante (The Informer, 2019)

O Informante (The Informer, 2019). Dir: Andrea Di Stefano. Netflix. Bom filme policial produzido em 2019 mas que passou anos na "gaveta" por problemas financeiros. Tem vários clichês, mas o bom elenco compensa. Joel Kinnaman é Pete Koslow, um ex-presidiário que trabalha infiltrado na máfia polonesa; uma ambiciosa agente do FBI (Rosamund Pike) quer usá-lo para derrubar um chefão do narcotráfico polonês conhecido como "O General" (Eugene Lipinski). Só que acontece um problema em uma operação e um policial de Nova York é morto. Kinnaman é enviado de volta para a prisão e sua única chance de ficar livre é entregar toda rede de tráfico que acontece na cadeia.

Complicado? Pois é, mas o roteiro faz um bom trabalho em apresentar as várias tramas que cercam o personagem de Kinnaman. O FBI precisa das informações dele. A polícia de Nova York (representada por um policial interpretado pelo rapper Common) quer desvendar a morte de um de seus homens. A máfia polonesa quer distribuir um grande carregamento de heroína dentro da prisão. E Joel Kinnaman tem que se manter vivo em meio a tantas facções diferentes e ainda proteger a esposa (a cubana Ana de Armas) e a filha. Clive Owen faz seu tradicional papel de babaca como um diretor do FBI. A direção é do ator, diretor e roteirista italiano Andrea Di Stefano. Tá na Netflix.
 

Sem Remorso (Without Remorse, 2021)

Sem Remorso (Without Remorse, 2021). Dir: Stefano Sollima. Amazon Prime. Daqueles filmes genéricos que podem ser dispensados... sem remorso? Michael B. Jordan é a única razão para assistir a este filme que parece reciclado de outra época. O que é verdade; o roteiro de "Sem Remorso" ficou rodando por Hollywood por décadas, desde o lançamento do livro de Tom Clancy nos anos 1990. Assim, temos vilões russos, missões estilo "Perigo real e imediato" (mas sem a mesma competência), personagens suspeitos da CIA e outras relíquias da Guerra Fria. Era para ter sido lançado no cinema, mas Covid, então foi direto para a Amazon Prime.

Michael B. Jordan é John Kelly, um fuzileiro que sobrevive a um atentado à sua vida (e familiares) depois que ele volta de uma missão na Síria. Outros membros da sua equipe foram assassinados e acredita-se que os russos estejam envolvidos. Ele parte então com outra equipe para a Rússia para capturar um dos possíveis assassinos. Há cenas de ação competentes, como um cerco em um prédio pela polícia russa. O roteiro está cheio de "reviravoltas" sonolentas sobre quem seria o vilão "real" por trás de tudo.

A direção é de Stefano Sollima, que fez a continuação de "Sicário", e um dos vários roteiristas é Taylor Sheridan, também de "Sicário". Jamie Bell é um agente da CIA. Guy Pearce é um secretário de estado. Jodie Turner-Smith é uma andrógina fuzileira naval. Disponível na Amazon Prime.
 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O Banqueiro (The Banker, 2020)

O Banqueiro (The Banker, 2020). Dir: George Nolfi. Apple TV+. A maior atração aqui é ver Samuel L. Jackson e Anthony Mackie juntos (sem ser em um filme da Marvel). Eles interpretam figuras baseadas na história real de dois empresários negros dos anos 1960 que se tornaram donos de alguns bancos no estado do Texas, EUA. Anthony Mackie é Bernard, gênio matemático desde criança que fica rico em Los Angeles como corretor de imóveis. Ele não se esquece das origens no Texas, no entanto, e planeja comprar um banco em sua cidade natal para poder emprestar dinheiro para famílias negras. Bernard se junta ao dono de uma boate chamado Joe Morris (Jackson), que também é dono de várias propriedades na Califórnia e tem dinheiro para bancar o sonho de Bernard.

O problema é que eles são dois americanos negros nos anos 1960, o que os impede até de entrar em um banco no Texas. Assim, eles contratam um rapaz branco, Matt (Nicholas Hoult), para servir de fachada. Há uma longa sequência em que Mackie e Jackson treinam Nicholas Hoult a se portar como um branco rico e que entende de finanças. O filme é tecnicamente bonito, com bela recriação de época e fotografia em película Kodak.

O problema é que por mais que o tema possa ser interessante, fica difícil despertar a atenção para longos diálogos que tratam de regulamentações bancárias ou fórmulas financeiras. Samuel L. Jackson é sempre um prazer de assistir e Anthony Mackie tem carisma de sobra, mas como o personagem dele é quadradinho e fechado, o talento dele é desperdiçado. Vale como bom filme de TV. Lançado pela Apple TV+.
 

À Espreita do Mal (I See You, 2019)

À Espreita do Mal (I See You, 2019). Dir: Adam Randall. Netflix. Bom suspense na Netflix que começa muito, muito bem e tem problemas em manter o nível até o final, "À Espreita do Mal" flerta com filmes de terror, com sobrenatural e com suspense policial. A primeira metade tem um ótimo suspense mantido no estilo de David Fincher (com toques de Michael Haneke). Um garoto é sequestrado na floresta (em uma cena surreal), colocando terror uma pequena cidade americana. Mas nada se compara ao clima pesado da casa da família Harper, composta pelo casal de meia idade Greg (Jon Tenney) e Jackie (Helen Hunt). Ele é policial, ela é psiquiatra e os dois estão com problemas familiares; ela teve um caso com um antigo colega da escola, o marido está dormindo no sofá e o filho adolescente, Connor (Judah Lewis) está revoltado.

A câmera está sempre em movimento, acompanhada por uma trilha sonora angustiante, enquanto vemos coisas estranhas acontecendo pela casa. A TV liga e desliga sozinha, fotos desaparecem da parede e todos têm a sensação de que "alguma coisa" está à espreita. Enquanto isso, a polícia tenta desvendar o caso do garoto desaparecido na floresta. Helen Hunt, coitada, está com o rosto distorcido por uma plástica que deu muito errado, mas até isso ajuda no suspense.

Lá pelo meio acontece uma coisa que não posso revelar e é quase como se começasse outro filme. A trama vira de pernas para o ar e não tenho certeza se tudo faz sentido; o caso é que grande parte do suspense evapora no ar. Ainda é um filme intrigante e o final é bom, embora não tanto quanto a primeira parte. Adam Randall, o diretor, é alguém para se prestar atenção. Tá na Netflix.
 

Passageiro Acidental (Stowaway, 2021)

Passageiro Acidental (Stowaway, 2021). Dir: Joe Penna. Netflix. O diretor Joe Penna é um brasileiro de São Paulo que foi um dos primeiros sucessos mundiais do YouTube. Com o nome "Mystery Guitar Man", Penna lançava vídeos semanais muito bem feitos com animações, música e efeitos especiais. O próprio youtuber estrelava vários dos vídeos, sempre cheio de energia e movimento. Curioso que seus dois longas metragens, "Ártico" (2018, com Mads Mikkelsen) e este "Passageiro Acidental" sejam filmes lentos e meditativos.

Estrelado por Anna Kendrick, Daniel Dae Kim, Shamier Anderson e a grande Toni Collette, "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" do que para "Perdido em Marte". Três astronautas (Kendrick, Kim e Collette) partem da Terra para uma missão de dois anos até Marte. A câmera de Penna acompanha o lançamento quase em tempo real e nunca vemos o pessoal do controle terrestre. Eles atingem a órbita, acoplam com a nave principal e estão a caminho de Marte quando o impossível acontece: um homem desacordado cai de um dos painéis. Não fica bem explicado se foi um acidente ou se ele se escondeu antes do lançamento, o caso é que os três astronautas têm que lidar com o fato de terem um passageiro a bordo. Só que a nave já havia sido projetada para, no máximo, três passageiros, e há um problema com o coletor de dióxido de carbono. Há o suficiente para todos chegarem à Marte ou alguém vai ter que se sacrificar pelo bem maior?

É um filme lento, não espere grandes cenas de ação. Em "Ártico", Joe Penna mostrava Mads Mikkelsen tentando sobreviver ao frio em um filme praticamente mudo. Aqui os personagens tentam solucionar os problemas à base do diálogo, mas a Natureza e o equipamento não estão colaborando. Não há um Matt Damon fazendo piadas ou centenas de técnicos da NASA tentando resolver o problema em Houston. O que resta são cenas com boas interpretações e momentos humanos. Dá pra ver que os roteiristas (Joe Penna e Ryan Morrison) tentaram ser cientificamente corretos, há longas cenas mostrando a disposição da nave e como funciona o sistema de gravidade artificial. É um bom filme, com algumas cenas bonitas mas, ao final, fica a sensação de que faltou alguma coisa. Tá na Netflix.

Dois Estranhos (Two Perfect Strangers, 2020)

Dois Estranhos (Two Perfect Strangers, 2020). Dir: Travon Free e Martin Desmond Roe. Curta metragem (32 minutos) vencedor do Oscar, "Dois Estranhos" pega a premissa de "Feitiço do Tempo" (e vários outros filmes depois) e coloca forte componente social e racial. Um cartunista, Carter James (Joey Bada$$) acorda toda manhã ao lado de uma garota (Zaria), com quem ele passou a noite. Está tudo ótimo, Bruce Hornsby toca na trilha sonora, mas cada vez que ele tenta sair do prédio e ir para casa ele é interpelado por um policial racista chamado Merk (Andrew Howard). O resultado é sempre trágico, mas Carter acorda novamente com a garota, na mesma manhã, tenta ir embora...e assim por diante. Bastante bem feito e atual. Tá na Netflix.