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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Apollo 11 (2019)

Apollo 11 (2019). Dir: Todd Douglas Miller. Netflix. Não sei se este documentário chegou agora na Netflix, mas eu o achei meio sem querer e é muito, muito bom. Feito em 2019 para comemorar os 50 anos do pouso da Apollo 11 na Lua, o documentário apresenta imagens restauradas da época com qualidade belíssima, misturando formatos como 35mm, 16mm, imagens de TV e até imagens inéditas filmadas em 70mm. Há um realismo impressionante nas imagens e a edição (que ganhou um Emmy) te transporta para o final dos anos 1960, intercalando imagens do centro de controle da NASA com belas cenas de milhares de pessoas aguardando o lançamento em praias e varandas da Flórida.


Outra coisa que ajuda no realismo é o fato de que não há uma narração atual ou entrevistas feitas depois do evento; a não ser por alguns gráficos (simples) que explicam as várias etapas da missão, tudo o que se vê e escuta na tela são da época. Os produtores tiveram que escolher entre milhares de horas de imagens e gravações de áudio para recriar os eventos de julho de 1969. A única coisa de "fora" é a boa trilha sonora eletrônica que acompanha as imagens, composta por Matt Morton.

O resultado é um belo filme com enxutos 93 minutos que sabe que não precisa inventar muito para impressionar o espectador; imagens e sons da época falam por si. Do impressionante transporte do colossal foguete Saturno V à base de lançamento até a beleza da manobra de acoplamento do módulo lunar com o de comando na volta da Lua, "Apollo 11" mostra o gigantesco feito técnico que levou três seres humanos de um pântano da Flórida até a superfície lunar. É também um filme bastante analógico, o que reflete a tecnologia da época; é impressionante ver aquelas centenas de técnicos lidando com réguas de cálculo e planilhas em papel enquanto, a 300 mil quilômetros de distância e a 40 mil km/h, três astronautas sobreviviam dentro de uma pequena nave de lata. Muito bom. Tá na Netflix.

domingo, 17 de abril de 2022

Apollo 10 e meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10 1/2: A Space Age Childhood, 2022)

Apollo 10 e meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10 1/2: A Space Age Childhood, 2022). Dir: Richard Linklater. Netflix. Animação super nostálgica de Richard Linklater, que tem uma carreira bem eclética (de filmes leves como "Escola do Rock" a animações filosóficas como "Waking Life"). Falando em "Waking Life", em "Apollo 10 e meio" o diretor usou a mesma técnica da rotoscopia para criar a animação; os atores são gravados em carne e osso como em um filme comum e, depois, se desenha e pinta "por cima" da imagem, como em um desenho animado. Aqui o estilo é bem mais realista do que em "Waking Life" e "O Homem Duplo" (também de Linklater); depois de um tempo, aliás, você até se esquece da técnica e sente como se estivesse vendo um filme "normal".

"Apollo 10 e meio" é uma mistura da recriação quase documental da vida de um garoto, Stan, durante os anos 1960, em Houston, com uma fantasia dele. Stan se imagina no lugar dos astronautas da NASA que pousaram na Lua em 20 de julho de 1969. Assim, o filme tem trechos que mostram o garoto viajando no foguete e andando na Lua e, ao mesmo tempo, recria de forma estilizada as imagens reais da época. A história é narrada por Jack Black, na versão adulta de Stan, e o filme lembra um pouco a saudosa série "Anos Incríveis", também passada na mesma época.

Para alguém que, como eu, viu praticamente todas as imagens de arquivo da NASA daquela época, é bastante nostálgico. Fora o fato de que o filme deve apelar para a nostalgia de todos que cresceram em uma época pré-internet e celulares, um tempo de brincar na rua, andar de bicicleta, assistir a séries na TV e sonhar com o futuro. Os EUA e o mundo viviam uma época bem contraditória nos anos 1960, com a ciência prometendo um futuro melhor ao mesmo tempo em que milhares de pessoas morriam na Guerra do Vietnã e estudantes protestavam nas universidades. Tudo isso é visto pelos olhos de Stan e "Apollo 10 e meio" é uma gostosa viagem pela época. Tá na Netflix.  


terça-feira, 7 de setembro de 2021

Cowboys do Espaço (Space Cowboys, 2000)

Cowboys do Espaço (Space Cowboys, 2000). Dir: Clint Eastwood. HBO Max. Clint Eastwood era um jovem de 70 anos quando produziu, dirigiu e estrelou este filme. A premissa de “Cowboys do Espaço” é difícil de engolir, mas o filme é gostoso de ver e o elenco é ótimo. 40 anos depois de ter sido trocado por um macaco no programa espacial americano, Frank Corvin (Eastwood) é chamado pela NASA para consertar um satélite russo que estava caindo de volta para a Terra. O personagem de Eastwood havia desenhado o sistema de um satélite americano e seu programa havia sido roubado pelos soviéticos em plena Guerra Fria. Ele consegue convencer (chantagear, na verdade) os chefões da NASA que ele e sua antiga equipe eram os únicos capazes de consertar o satélite russo antes que ele queimasse na atmosfera. E que equipe; James Garner (72 anos na época), Donald Sutherland (65 anos) e Tommy Lee Jones (que só tinha 54 anos, mas sempre teve “cara de velho” e interpreta um piloto que teria a mesma idade de Eastwood).

O filme é bem divertido, dirigido com leveza por Eastwood e com interpretações bem humoradas dos outros atores veteranos. Há várias sequências que brincam com a idade dos personagens, como sequências de treinamento e exames médicos. James Cromwell (na época com 60 anos) faz seu tradicional papel de babaca burocrático como um dos diretores da NASA. A agencia espacial americana, aliás, deve ter apoiado o filme, pois várias sequências foram feitas em instalações da NASA, que na época ainda mantinha os ônibus espaciais funcionando. O clímax do filme, em órbita terrestre, ainda abre espaço para uma trama envolvendo fantasmas da antiga União Soviética e cenas de sacrifício e heroísmo. Divertido. PS: o ator Jon Hamm, da série Mad Men, aparece rapidamente como um piloto na cena em que Tommy Lee Jones é visto pela primeira vez. Revisto na HBO Max.
 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Passageiro Acidental (Stowaway, 2021)

Passageiro Acidental (Stowaway, 2021). Dir: Joe Penna. Netflix. O diretor Joe Penna é um brasileiro de São Paulo que foi um dos primeiros sucessos mundiais do YouTube. Com o nome "Mystery Guitar Man", Penna lançava vídeos semanais muito bem feitos com animações, música e efeitos especiais. O próprio youtuber estrelava vários dos vídeos, sempre cheio de energia e movimento. Curioso que seus dois longas metragens, "Ártico" (2018, com Mads Mikkelsen) e este "Passageiro Acidental" sejam filmes lentos e meditativos.

Estrelado por Anna Kendrick, Daniel Dae Kim, Shamier Anderson e a grande Toni Collette, "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" do que para "Perdido em Marte". Três astronautas (Kendrick, Kim e Collette) partem da Terra para uma missão de dois anos até Marte. A câmera de Penna acompanha o lançamento quase em tempo real e nunca vemos o pessoal do controle terrestre. Eles atingem a órbita, acoplam com a nave principal e estão a caminho de Marte quando o impossível acontece: um homem desacordado cai de um dos painéis. Não fica bem explicado se foi um acidente ou se ele se escondeu antes do lançamento, o caso é que os três astronautas têm que lidar com o fato de terem um passageiro a bordo. Só que a nave já havia sido projetada para, no máximo, três passageiros, e há um problema com o coletor de dióxido de carbono. Há o suficiente para todos chegarem à Marte ou alguém vai ter que se sacrificar pelo bem maior?

É um filme lento, não espere grandes cenas de ação. Em "Ártico", Joe Penna mostrava Mads Mikkelsen tentando sobreviver ao frio em um filme praticamente mudo. Aqui os personagens tentam solucionar os problemas à base do diálogo, mas a Natureza e o equipamento não estão colaborando. Não há um Matt Damon fazendo piadas ou centenas de técnicos da NASA tentando resolver o problema em Houston. O que resta são cenas com boas interpretações e momentos humanos. Dá pra ver que os roteiristas (Joe Penna e Ryan Morrison) tentaram ser cientificamente corretos, há longas cenas mostrando a disposição da nave e como funciona o sistema de gravidade artificial. É um bom filme, com algumas cenas bonitas mas, ao final, fica a sensação de que faltou alguma coisa. Tá na Netflix.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016)

"Estrelas Além do Tempo" conta a história de um grupo de mulheres negras que, nos anos 1950 e 1960, trabalharam na NASA como matemáticas. Em uma época em que só o fato de ser mulher já significava bastante preconceito, ser uma mulher negra era ainda mais complicado. O filme é gostoso de ver e muito bem interpretado por um bom elenco; o roteiro, no entanto, toma várias liberdades dramáticas. Falaremos sobre isso mais tarde.

No final dos anos 1950, os soviéticos estavam derrotando os EUA na chamada Corrida Espacial. Eles puseram o primeiro satélite artificial em órbita (o Sputinik, em 1957)  e lançaram o primeiro homem ao espaço (Yuri Gagarin, em 1961). Na NASA, um  grupo especial de matemáticas negras era mantido em uma sala segregada. O filme foca na história de três delas: Katherine Goble (Taraji P. Henson) era excepcional em matemática desde a infância e foi recrutada pelo Space Task Group para calcular as complicadas trajetórias dos foguetes que lançariam o primeiro americano a entrar em órbita terrestre, John Glenn. Ela é a única matemática em um grupo de homens brancos e tem que enfrentar o preconceito do superior direto, Paul Stafford (Jim Parsons, da série "The Big Bang Theory"). Kevin Costner está muito bem como o diretor do grupo, Al Harrison, que é aquele típico "ranzinza com coração de ouro". Octavia Spencer interpreta Dorothy Vaughan, a líder informal do grupo de matemáticas negras que também enfrenta preconceito diariamente de uma fria supervisora branca interpretada por Kirsten Dunst. Quando a NASA instala o primeiro computador IBM na empresa, Vaughan se apressa em se tornar uma das primeiras especialistas na linguagem de programação "Fortran", para não perder o emprego. Janelle Monáe interpreta Mary Jackson, uma mulher que através de constantes lutas judiciais conseguiu estudar ao lado de estudantes brancos na universidade e se tornar a primeira engenheira negra da história da NASA.

Uma simples verificação na Wikipedia (com os devidos links para o site da própria NASA e outras fontes, como este site), no entanto, mostra que foram tomadas várias liberdades criativas no roteiro do filme. Por exemplo, o personagem Al Harrison (Kevin Costner), o supervisor do grupo de estudos espaciais da NASA e muito importante no filme, simplesmente não existiu. Assim, a cena dramática em que o vemos pegando uma picareta e derrubando a placa do banheiro exclusivo para mulheres negras funciona muito bem como drama, mas provavelmente não aconteceu. Os personagens de Jim Parsons e Kirsten Dunst também são invenções dramáticas. O que não tira o mérito de "Estrelas Além do Tempo", desde que não seja encarado como um documentário. É certo que o trio retratado no filme (e milhares de outros negros na época) sofreram segregação oficializada pelo estado durante grande parte de suas vidas.

Como cinema, "Estrelas Além do Tempo" é um bom filme, divertido e muito bem interpretado. Está indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer).

João Solimeo

terça-feira, 18 de março de 2008

Adeus Arthur C. Clarke

Arthur Clarke estava com 90 anos. Nascido em Somerset, Inglaterra, em 1917, se tornaria um dos mais cultuados escritores de ficção científica, visionário e divulgador da ciência como um modo de ajudar a Humanidade. Seu trabalho mais famoso foi o roteiro (e o livro) que escreveu para o cineasta Stanley Kubrick chamado "2001, Uma Odisséia no Espaço" (leia minha interpretação para o filme aqui), mas, pessoalmente, creio que ele tenha escrito livros melhores. Este que aqui escreve passou boa parte da sua juventude (talvez mais do que o que seria "saudável") mergulhado nas palavras de Clarke e de seu "rival" Isaac Asimov.
Mais do que prever o futuro, Clarke criou e antecipou o futuro. Nos anos 50, quando o mundo ainda se recuperava da destruição causada pela II Guerra Mundial, Clarke usou de seu conhecimento científico e de sua vasta imaginação para visualizar uma rede de satélites que, girando sempre à mesma velocidade da rotação da Terra, serviriam como retransmissores de dados e de telefone. A área ao redor da Terra onde hoje ficam os satélites artificiais recebe o nome de "Cinturão Clarke". Seu livro de 1956, "A Cidade e as Estrelas", mostra uma sociedade que vive em um mundo cercado por coisas que, hoje, não parecem assim tão impossíveis: a juventude se diverte em jogos de realidade virtual, em que os jogadores podem assumir personagens e simular diversos mundos diferentes. Todo o conhecimento humano está a disposição a partir de um toque, e as pessoas podem "nascer de novo" a partir de corpos clonados. O livro foi escrito há 52 anos, mas já se podem reconhecer nele o video-game, a realidade virtual, a clonagem e a internet. "O Fim da Infância" (1965) já falava sobre a pílula anticoncepcional, o exame de paternidade a partir do DNA, a computação gráfica e os aviões particulares.
Mas nada disso importaria se, no fundo, Clarke não fosse capaz de conquistar o leitor com sua prosa imaginativa e seus personagens, geralmente sonhadores em busca de um mundo melhor. Alvin, de "A Cidade e as Estrelas", por exemplo, é um rapaz que nasce sem o medo que assola o resto dos seus semelhantes, o medo de espaços abertos e do que estaria fora da sua cidade natal, "Diaspar". Sua ânsia em conquistar novos horizontes tira a humanidade de seu comodismo tecnológico e abre espaço para novas conquistas.
Sua descrição dos mundos em que são passadas suas histórias são detalhadas e inspiradas, mesmo quando baseadas em dados puramente científicos. Sou capaz de jurar que já estive entre os grandes satélites de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e Calixto) pela maravilhosa descrição dada por Clarke em sua continuação para "2001", o livro "2010" (transformado em filme apenas razoável por Peter Hyans). Em "As Fontes do Paraíso" (1979), Clarke imagina um "elevador espacial" que seria composto por um gigantesco cabo que ligaria a Terra a um satélite artificial em órbita do planeta. Assim, para se ir ao espaço não seria mais necessário usar grandes e caros foguetes, bastando subir em um elevador que o levaria até a órbita terrestre.
Seu livro mais espetacular (e meu preferido) é "Encontro com Rama" (1973). Nele Clarke imaginou uma sonda alienígena em forma de um gigantesco cilindro que foi detectado entrando no Sistema Solar. Uma nave terrestre é enviada para investigar e descobre que o cilindro, de 40 quilômetros de extensão, é na verdade oco, e a tripulação resolve investigar. O mundo que Clarke criou dentro deste cilindro é fantasticamente imaginativo. A rotação do cilindro cria em seu interior uma gravidade artificial (assim como a água de um balde não cai quando você o gira depressa o suficiente). Há um "mar" de gelo dentro de uma fenda no interior do cilindro que, conforme "Rama" (como foi batizada a sonda) vai se aproximando do Sol e derrete, se transformando em água líquida. A água produz vapor e cria uma atmosfera respirável. Clarke cria assim um mundo artificial que pode viajar por milhares de anos para chegar a seu destino. Há boatos sobre um filme sobre "Rama" rondando Hollywood há quase uma década, mas nada de concreto ainda foi oficializado.
Clarke vinha batalhando há anos pelo uso pacífico do espaço e pelo final das guerras. Era também ferrenho opositor às religiões que causavam ignorância científica e fundamentalismo religioso. Nos últimos anos foi acometido por uma paralisia que o deixou em uma cadeira de rodas em sua casa em Colombo, Sri Lanka, para onde se mudou nos anos 60. Foi autor de dezenas de obras primas da ficção científica e de livros científicos, além de apresentador e criador de programas de televisão, foi consultor da NASA e serviu de inspiração para um sem número de invenções e novas idéias.
Mas uma das coisas mais impressionantes sobre Clarke era sua longevidade. Viveu por quase todo o século XX, viu nascer (e mesmo ajudou a criar) um sem número de maravilhas tecnológicas e continuou ativo depois de 8 décadas de vida. É com surpresa (e tristeza) que soube hoje de seu falecimento (e a ficha, na verdade, ainda não caiu). Ficam seus livros, suas idéias e seu legado.
Que sejamos inteligentes o suficiente para continuarmos sua história.

(ao lado: a "Star Child" imaginada por Clarke e Kubrick em "2001", o próximo estágio na evolução humana