quinta-feira, 31 de julho de 2014

Guardiões da Galáxia

Como é, outro filme da Marvel? Sim, outro filme da Marvel. Aceite e divirta-se, ou seja banido dos cinemas pelos próximos anos, aparentemente, pois o gigante dos quadrinhos se transformou em uma máquina de fazer filmes e muito, muito dinheiro.

Sim, este é o filme do guaxinim disparando uma metralhadora, da mulher verde, da árvore falante que parece ter fugido do set de "O Senhor dos Anéis", do grandão que parece o "Coisa" sem as pedras no corpo e do terráqueo espertinho. É tudo aquilo que você estava esperando; é barulhento, colorido, tem um 3D dispensável e quase tanta gente na equipe de efeitos especiais quanto o número de heróis criado por Stan Lee. Está sendo chamado de o filme mais "arriscado" da Marvel, o que é discutível. É fato que nerd que é nerd leva o universo dos super-heróis muito a sério e pode achar que o estúdio que lançou três "Homem de Ferro", dois "Thor", "Os Vingadores", dois "Capitão América", entre outros, estaria indo longe demais com o tal guaxinim falante. Afinal, não são filmes para crianças pequenas, mas para garotões que não têm vergonha de ter um boneco de Tony Stark na prateleira. (leia mais abaixo)


Assim, "Guardiões da Galáxia" é, talvez, o filme que mais apele para os jovens adultos (e adultos não tão jovens assim) da platéia, explorando um lado vintage bastante forte, principalmente no personagem de Peter Quill (Chris Pratt). Ele vaga pela galáxia sempre acompanhado de um walkman com músicas pop do século XX, faz várias citações ao século passado e Pratt parece estar emulando Han Solo, da saga Star Wars, o tempo todo. Ele é um contrabandista da Terra que foi abduzido ainda garoto no final dos anos 1980, justo no dia em que a mãe morreu. Já crescido, seus problemas começam quando ele encontra, em um planeta, uma esfera metálica chamada de Orbe. A tal esfera é cobiçada por várias pessoas (ou raças), principalmente por Ronan (Lee Pace), um vilão da raça Kree que quer usar a Orbe para destruir o planeta Xandar. Ele envia Gamora (Zoey Saldana, de "Star Trek") para recuperar a esfera, mas ela tem planos próprios. Atrás de Quill também estão dois caçadores de recompensas, o guaxinim Rocket (voz de Bradley Cooper, de "O Lugar onde tudo termina") e Groot (uma árvore andante com voz de Vin Diesel). Completa o time de criminosos Drax (Dave Bautista), que quer usar Gamora para se vingar de Ronan. Se você já se perdeu em meio a tantos nomes estranhos, não é o único.

Como de praxe em filmes da Marvel, há vários atores famosos em papéis coadjuvantes, como Glen Close, John C. Reilly e Benicio Del Toro. "Guardiões da Galáxia" é dirigido por James Gunn, com roteiro de Gunn e Nicole Perlman. Apesar do humor também ser presente nos outros filmes do estúdio, neste é visível o esforço em fazê-lo ainda mais nonsense, com toques que me lembraram um pouco a série de livros de Douglas Adams, "O Guia dos Mochileiros das Galáxias". A censura livre impediu que se fizessem cenas um pouco mais ousadas (inclusive algumas de Zoe Saldana que estão nos trailers mas não no corte final). O vilão Ronan é muito genérico e desinteressante, ainda mais porque há um outro vilão mais poderoso escondido nos bastidores (Thanos, interpretado por Josh Brolin). Provavelmente ele voltará nos próximos filmes. "Guardiões da Galáxia" entrega o que promete e tem seu charme, embora não seja exatamente memorável. A certeza de sucesso é tão grande que um letreiro ao final já avisa que os guardiões voltarão em breve.

Câmera Escura

domingo, 27 de julho de 2014

Planeta dos Macacos: O Confronto

O primeiro nome a aparecer nos créditos ao final de "Planeta dos Macacos: O Confronto" é o de Andy Serkis. É impressionante, uma vez que Serkis nunca é visto "em carne e osso". Ele interpreta novamente o personagem principal, o macaco evoluído César. O ator ficou famoso depois de dar vida a Gollun na trilogia do "Senhor dos Anéis" e se tornou uma espécie de ator símbolo de um novo tipo de interpretação cinematográfica, tornada possível graças a uma tecnologia chamada de performance capture, uma evolução no processo de motion capture (em que os movimentos do ator são capturados pelo computador e transformados em computação gráfica).

"O Confronto" é a continuação de "Planeta dos Macacos: A Origem" e é, sob todos os aspectos, muito superior. Passado dez anos após os eventos do primeiro filme, "O Confronto" mostra como quase toda a Humanidade foi aniquilada pela "gripe símia", doença criada artificialmente em laboratório na mutação de uma droga contra o Mal de Alzheimer. A droga foi também responsável pela evolução extraordinária de macacos usados como cobaias, que se rebelaram e fugiram para as florestas próximas à cidade de São Francisco, Califórnia. O grupo, liderado por César (Serkis), construiu uma sociedade razoavelmente evoluída, que sabe usar o fogo, montar em cavalos, se comunica por meio da linguagem de sinais e voz e conhece até os rudimentos da escrita. Os Humanos estavam desaparecidos há anos e tudo ia bem na comunidade dos macacos até que um grupo de sobreviventes de São Francisco entra na floresta em busca de uma usina hidroelétrica. Eles são liderados por Malcolm (Jason Clarke, muito melhor do que James Franco, do filme anterior), que tenta dialogar com César. O problema é que tanto entre os humanos quanto entre os macacos há os que acham que a convivência pacífica é impossível. Os macacos são fisicamente superiores mas os humanos têm armas de fogo. (leia mais abaixo)


Dirigido por Matt Reeves, o filme é tanto um assombro técnico quanto é uma narrativa extremamente competente. Tenho certa ressalva com o modo como os macacos se comunicam, com uma linha de raciocínio que me pareceu humana demais. O uso de legendas, em vários momentos, é redundante (é necessário escrever "Pare" quando um macaco vira para o outro e levanta a mão?). O roteiro, de Mark Monback, Rick Jaffa e Amanda Silver, aliado aos ótimos efeitos especiais, é bem sucedido em criar tanto a comunidade dos macacos quanto a dos humanos sobreviventes, assustados e sem recursos, que se aglomeram em São Francisco. Gary Oldman, como o líder dos humanos, não é o vilão maniqueísta que se poderia esperar, mas um homem que perdeu muito e tem que proteger os seus. Quando a diplomacia fracassa e o confronto do título se inicia, há uma série de cenas épicas de luta entre os macacos, empunhando armas e cavalgando cavalos, e os humanos barricados em uma São Francisco destruída pelos anos de abandono.

"Planeta dos Macacos: O Confronto", é muito superior ao anterior e eleva os efeitos especiais a outro nível. Há quem diga que Andy Serkis deveria ser indicado ao Oscar por sua interpretação, mesmo que virtual. Se formos levar em conta que filmes construídos quase todos no computador como "Gravidade" e "Avatar" já ganharam o Oscar de Melhor Fotografia, talvez tenhamos chegado à era em que personagens virtuais deveriam ser premiados por suas interpretações. O sucesso deste filme, com certeza, vai gerar continuações, que vão ter que se esforçar muito para se igualar a este capítulo.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sentidos do Amor

Ninguém sabe onde a doença surgiu, ou o que a causa. Os sintomas incluem depressão intensa, choro e desespero, seguidos da perda do olfato. O fenômeno se espalha lentamente pelo mundo, forçando a mudança de hábito das pessoas. O sabor dos alimentos passa a ser mais forte, para compensar a falta de aroma. Quando tudo parece ter voltado ao normal, outra crise começa a atacar as pessoas, agora com uma fome insaciável. Depois disso, todos perdem o sentido do paladar.

"Sentidos do Amor" (tradução boba para o título original, "Perfect Sense") é um tipo diferente de "filme catástrofe". Embora eventualmente testemunhemos cenas de revoltas, saques, destruição e outras comuns ao gênero, o filme do diretor David Mackenzie está mais interessado em focar no como a perda dos sentidos afeta psicologicamente a vida de pessoas comuns. Uma destas pessoas é Susan (Eva Green, "Cassino Royale", "Sonhadores"), uma epidemiologista que é uma das primeiras a tomar contato com a doença. Outro é Michael (Ewan McGregor, "Escritor Fantasma"), um chef de cozinha que é ótimo no serviço mas péssimo nas relações pessoais. Michael e Susan têm um caso, mas Michael é insensível a ponto de, depois da primeira transa, pedir para ela ir embora porque ele não consegue dividir a cama com outra pessoa. (leia mais abaixo)


Conforme a doença vai se espalhando e os personagens principais começam a perder os sentidos (no início, apenas olfato e paladar), o roteiro do dinamarquês Kim Fupz Aakeson abre espaço para mostrar como o resto do mundo está enfrentando o problema, seja na Inglaterra (onde se passa a ação principal), no Kenya, México ou Índia. A princípio, o filme pinta um quadro otimista. Privadas do paladar, as pessoas ainda assim não deixam de frequentar restaurantes, onde passam a explorar outros sentidos. A comida não é mais classificada pelo sabor, mas pela temperatura, textura, consistência. Susan e Michael são aproximados pela crise e passam a buscar outros prazeres no tato, no sexo, na intimidade física e psicológica.

Ao saber que o sentido da audição provavelmente será o próximo a ser perdido, há uma ótima cena em que Michael e Susan ficam apenas sentados no carro, janelas abertas, escutando o barulho dos sinos, dos carros e do grito das pessoas. A perda total dos sentidos, aparentemente, é inevitável, mas as pessoas tentam viver com algum grau de normalidade, enquanto é possível. Ewan Mcgregor e Eva Green são ótimos atores e nos interessamos pelo casal. Poucos fazem uma trilha sonora tão triste a angustiante como Max Ritchter (de "Valsa com Bashir" e "Ilha do Medo"). "Sentidos do Amor" (lançado em 2011) está disponível no Brasil via Netflix.

Câmera Escura

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Homem Duplicado

Adam (Jake Gyllenhaal) é professor de História em Toronto, no Canadá. Ele tem um olhar permanentemente triste e dá suas aulas com interesse cada vez menor. A vida sexual com a namorada Mary (Mélanie Laurent, de "Trem Noturno pra Lisboa") é intensa mas, fora da cama, os dois parecem levar a vida no piloto automático. Um dia Adam está assistindo a um filme e repara que um dos atores é muito parecido com ele. Adam faz uma pesquisa e descobre que o ator se chama Anthony; intrigado, Adam entra em contato com Anthony e eles descobrem que são idênticos até o último fio de cabelo. Enquanto isso, uma gigantesca aranha é vista andando pelas ruas da cidade. Sim, uma aranha.

Este é um filme bem peculiar. O roteiro de Javier Gullon é baseado em uma história de José Saramago; o diretor canadense Denis Villeneuve é um mestre em criar suspense, como se pode ver no ótimo "Os Suspeitos" (também com Gyllenhaal). Toronto é mostrada como uma cidade fria, silenciosa e quase desabitada. O ritmo é tão lento que chega a ser sufocante, acompanhado pela trilha de Danny Bensi e Saunder Jurriaans. Anthony, o ator, é casado com Hellen (Sarah Gadon), grávida de seis meses e, de certos ângulos, é bem parecida com Mary, namorada do professor. O espectador é convidado a um jogo de adivinhação cada vez que Jake Gyllenhaal aparece na tela. Estamos vendo Adam ou Anthony? As únicas diferenças entre eles são as roupas e a aliança de casado que Anthony tem no dedo. Em diversas ocasiões, porém, parece que nem mesmo Adam e Anthony sabem quem eles são. (leia mais abaixo)


O clima bizarro lembra um pouco a obra de outro canadense, David Cronenberg, que em 1988 fez um filme bem estranho chamado "Gêmeos - Mórbida Semelhança", em que Jeremy Irons também fazia um papel duplo. Há várias cenas de bons efeitos especiais em "O Homem Duplicado", mas este não é um blockbuster de super heróis. É um bom suspense psicológico em que tentar adivinhar o que está acontecendo nem é tão difícil (e nem faz tanta diferença). A cena final vai ficar na memória por um bom tempo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Último Amor de Mr. Morgan

Para um filme que passa quase duas horas falando sobre como enfrentar a depressão, passar por cima do passado e voltar a viver, "O Último Amor de Mr. Morgan" tem um final completamente incoerente e inacreditável. É uma pena, porque durante a primeira hora assistimos a um filme charmoso e interessante.

Michael Caine, sempre ótimo, é Matthew Morgan, um professor aposentado de Filosofia que mora em Paris. Desde a morte da esposa Joan (a veterana Jane Alexander), que ele venerava, ele vagueia pela cidade imaginando a mulher ao seu lado, tendo conversas imaginárias com ela ou passeando de mãos dadas. Um dia, no ônibus, ele conhece uma jovem e doce francesa chamada Pauline (Clémence Poésy), que imediatamente simpatiza com ele. Os dois engatam uma amizade que é uma mistura de companheirismo, amor paternal e, talvez, algo mais. É interessante o modo como nenhum dos dois questiona ou discute o que está acontecendo; eles apenas gostam de estar juntos e passear por paisagens idílicas de Paris e arredores, acompanhados por uma trilha suave de Hans Zimmer. (leia mais abaixo)


É então que o personagem de Michael Caine acha que é hora de "voltar para casa", e ele tenta se suicidar tomando uma overdose de pílulas para dormir. Ele falha, e é visitado no hospital não apenas por Pauline (que lhe diz que "tomou uma decisão") mas pelos filhos que voaram dos Estados Unidos para a França para ver o pai. Eles são Miles (Justin Kirk), um rapaz extremamente ressentido (e chato) com o pai e Karen (uma surpreendente Gillian Anderson, a eterna Dana Scully da série "Arquivo X"). De repente, o filme sai totalmente dos trilhos. O que começou como uma bonita história de amor e redenção entre um viúvo e uma jovem se torna uma discussão interminável entre Matthew e seus filhos (principalmente Miles) que não têm motivos para achá-lo um grande pai. Pauline, colocada no meio de uma discussão de família, perde qualquer traço da personalidade que tinha até então. O tal "último amor do Sr. Morgan" dá lugar a cenas intermináveis em que Miles acusa o pai de tê-lo castrado quando criança,  discussões sobre quem vai herdar o dinheiro de uma casa de campo, problemas no casamento de Miles e outras coisas que, francamente, o espectador não está interessado.

O final, repito, vai contra tudo o que se construiu durante a narrativa. "O Último Amor de Mr. Morgan" é escrito e dirigido por Sandra Nettelbeck; o filme vale pela interpretação de Michael Caine e por algumas belas cenas durante a primeira hora. Quando os filhos entram em cena, porém, se torna um filme enfadonho e sem direção. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O lugar onde tudo termina

Este é daqueles filmes em que a inevitabilidade do destino parece ditar cada passo, cada respiro dos personagens. É, ao mesmo tempo, opressor e liberador. Sobreviver ou não depende do quanto se aceita ou se luta contra a própria sorte.

Luke (Ryan Gosling, de "Drive", em personagem estranhamente parecido) nasceu para pilotar motos. Ele tem o corpo todo tatuado e leva uma vida errante, acompanhando um parque de diversões como piloto no Globo da Morte. Ao retornar para a pequena cidade de Schenectady, Nova York, descobre que um caso passageiro que teve no ano anterior resultou em um filho, Jason. A mãe, Romina (Eva Mendes), trabalha como garçonete e está morando com um homem honesto e trabalhador, Kofi (Mahershala Ali, de "House of Cards"). Ao saber do filho, Luke sonha em reconquistar Romina e prover para o garoto, mas a única forma que ele consegue imaginar para fazê-lo é roubando bancos da região, dos quais foge, como raio, em sua motocicleta. (leia mais abaixo)


Avery Cross (Bradley Cooper, diferente dos papéis em "Trapaça" e "O Lado Bom da Vida") é um policial que é ferido ao trocar tiros com um bandido também na cidade de Schenectady. Os meses de recuperação colocam pressão sobre seu casamento e o expõem a um lado corrupto da polícia que ele não conhecia. É só a figura do grande ator Ray Liotta aparecer como policial para que o espectador saiba que há algo de muito errado na corporação. Avery tem que decidir se embarca nos esquemas de corrupção ou tenta sair deles. Quem sabe ele não poderia usar da oportunidade para se promover politicamente?

O filme acompanha também as vidas de dois adolescentes de 16 anos, Jason (Dane DeHaan, de "O Espetacular Homem-Aranha 2") e A.J. (Emory Cohen). Os dois frequentam a mesma escola, em Schenectady, e começam a se envolver com drogas e pequenos delitos. Jason não sabe quem é seu pai de verdade. A mãe diz que ele morreu em um acidente de carro.

Não vou revelar o modo como estas três histórias se ligam. O fato é que o roteiro do diretor Derek Cianfrance ("Namorados para Sempre") é ambicioso e não foge de grandes decisões. Causas nem sempre são acompanhadas por consequências de forma imediata. Um espaço de 15 anos separa a primeira cena (um ótimo plano sequência mostrando Ryan Gosling caminhando para o Globo da Morte) da última (outro personagem partindo em uma moto). Com 140 minutos de duração, "O lugar onde tudo termina" é grande cinema, para ser visto com atenção. Disponível na Netflix.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Grande Hotel Budapeste

"O Grande Hotel Budapeste" é como uma daquelas bonecas russas, ricamente decoradas, que se abrem revelando outras bonecas dentro delas. A cada nova camada se descobre outra obra de arte ainda mais elaborada do que a anterior. É também uma declaração de amor à etiqueta, às boas maneiras, ao profissionalismo e uma Europa que, provavelmente, nunca existiu na verdade, a não ser como um ideal na cabeça de personagens como M. Gustave (Ralph Fiennes, extraordinário), concierge do "Grande Hotel Budapeste". Dizer que foi escrito e dirigido por Wes Anderson ("Moonrise Kingdom") se torna redundante a partir do primeiro frame do filme, que tem todas as características do estilo do diretor.

Anderson cria uma espécie de conto de fadas adulto, um roteiro francamente literário que começa com o busto de um "Autor" (interpretado por Tom Wilkinson quando velho e Jude Law quando mais moço). Ainda usando a imagem da boneca russa, a trama é contada em várias camadas, começando pelo Autor em 1985, passando por Jude Law na década de 1960 e finalmente retrocedendo até a década de 1930, no período entre guerras. Cada época é filmada em uma proporção diferente (2.35: 1, 1.85:1 e 1.37:1), em boa e velha película cinematográfica com ótima direção de fotografia de Robert Yeoman (habitual colaborador de Wes Anderson).


A parte principal da trama se passa nos anos 1930, quando o "Grande Hotel Budapeste" estava no auge do luxo e clientela. M. Gustave (Fiennes) é responsável não só por manter o hotel funcionando impecavelmente como também atende às hóspedes mais velhas com uma atenção especial; "Eu durmo com todas as minhas amigas", diz ele em dado momento. Uma das suas conquistas é a Madame D. (uma irreconhecível Tilda Swinton), que morre de forma misteriosa e deixa um quadro de valor inestimável a Gustave. Isso causa a ira do filho da Madame D., Dimitri (Adrien Brody), que conspira para enviar M. Gustave para uma prisão de segurança máxima, de onde ele vai tentar escapar com a ajuda de seu protegido, um mensageiro do hotel chamado Zero (o ótimo estreante Tony Revolori). É praticamente impossível falar muito sobre a trama, que envolve regras de etiqueta, o crescimento de uma nação fascista na Europa, honra entre ladrões, um elaborado plano de fuga e uma série incrível de personagens secundários. O elenco impressiona, com papéis coadjuvantes interpretados por nomes como F. Murray Abraham, Mathieu Almaric, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Edward Norton, Bill Murray, Bob Balaban, Saoirse Ronan, Léa Seydoux, Jason Swartzman, Owen Wilson e vários outros atores.

É um filme de Wes Anderson, o que significa qualidade técnica impecável, quase obsessiva. A direção de arte é brilhante, fazendo bom uso de locações reais (filmadas na Alemanha e Polônia), estúdio e cenas de efeitos especiais envolvendo miniaturas e animação. A trilha sonora de Alexandre Desplat vai mudando e se adaptando praticamente a cada plano, acompanhando a narração. Wes Anderson tem tanto admiradores quanto detratores, e com este filme não vai ser diferente. Para mim, "O Grande Hotel Budapeste" é seu melhor filme, impecavelmente bem feito, divertido e inventivo ao extremo.

Câmera Escura