domingo, 20 de junho de 2010

O Escritor Fantasma

Bom ver um filme adulto, bem atuado e interpretado nos cinemas. Ainda por cima, dirigido por um mestre como Roman Polanski, exilado na Europa há anos para fugir da justiça americana, que o condenou por estupro em 1977. A situação pessoal do cineasta acaba, de certa forma, refletindo em sua obra. Em "O Escritor Fantasma", Pierce Brosnan interpreta Adam Land, um ex Primeiro Ministro britânico que está exilado nos Estados Unidos sob acusações de crime de guerra. Ele teria auxiliado a CIA a sequestrar e torturar supostos terroristas da Al Qaeda, e enfrenta agora uma acusação no Tribunal de Haia. O filme faz claras referências a Tony Blair, considerado mero lacaio de George W. Bush ao apoiá-lo na invasão ao Iraque e em outras situações.

Mas o protagonista do filme não é Brosnan, mas Ewan McGregor, que interpreta um "ghost writer", aquele escritor anônimo que é contratado para escrever em nome de alguém. Ele não estava muito interessado no trabalho, mas seu agente lhe consegue um contrato polpudo e ele parte para uma ilha fria na costa leste dos Estados Unidos, onde o Primeiro Ministro está exilado. McGregor não é o primeiro ghost writer de Lang. O anterior morreu afogado em circunstâncias suspeitas, quando teria caído, bêbado, da balsa que o transportava da ilha para o continente. Na ilha também está a bela esposa de Lang, Ruth (Olivia Williams), a quem o primeiro ministro recorre em todas as decisões políticas. Mas, aparentemente, em questões sexuais ele favorece sua secretária particular, Amelia (Kim Cattrall), que cuida da sua agenda e do precioso manuscrito original da autobiografia de Lang, iniciado pelo antigo ghost writer. McGregor se vê cada vez mais envolvido com os problemas de Lang, além de ter que lidar com o "fantasma" do escritor que está substituindo e o assédio perigoso de Ruth, a mulher do Primeiro Ministro.

Polanski dirige com precisão e suspense, sem perder o bom humor. O roteiro é complicado, envolvendo conspirações políticas, segredos antigos guardados a sete chaves, traições pessoais e políticas e um personagem principal que, como convém a um ghost writer, nem mesmo tem nome. McGregor está muito bem neste personagem que, no fundo, não é muito inteligente e é curioso demais para seu próprio bem. Como todo bom filme de suspense, a técnica de Polanski evoca Alfred Hitchcock em várias sequências, principalmente em um belo plano que mostra um bilhete sendo passado de mão em mão até chegar a seu destino. O final é apropriadamente cínico.

Bom filme, que evoca os tempos em que se dependia de um bom roteiro e técnica cinematográfica para envolver o espectador.


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