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domingo, 26 de junho de 2022

Obi-Wan Kenobi (2022)

 
Obi-Wan Kenobi (2022). Dir: Deborah Chow. Disney+. Se fosse lançado há alguns anos, provavelmente "Obi-Wan Kenobi" teria sido um filme para cinema, nos moldes de "Rogue One" ou "Solo". O fracasso deste último, a pandemia e o crescimento do streaming, no entanto, acabaram levando o projeto à telinha. O que é uma pena, porque a trama é esticada (e enfraquecida) para seis episódios redundantes, em que claramente se vê que o que realmente importa foi deixado para os dois últimos capítulos. Isso, aliás, tem sido comum nas produções da Disney (vide "Cavaleiro da Lua" ou mesmo "The Mandalorian"). AVISO DE SPOILERS à frente.


Pois bem, a série mostra os eventos que aconteceram com Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) depois de "Episódio III – A Vingança dos Sith" e o Star Wars original de 1977, depois conhecido como "Episódio IV - Uma Nova Esperança". McGregor está muito bem no papel que, originalmente, pertenceu ao grande Alec Guinness. A série também traz de volta Hayden Christensen ao papel de Anakin Skywalker/Darth Vader, pelo qual foi muito criticado nas "prequels". Pode ser nostálgico, mas o principal problema com esta série é que acaba enfraquecendo um dos melhores momentos do Star Wars original, o reencontro de Obi-Wan Kenobi com Darth Vader na Estrela da Morte. Há também outra complicação: a série cria um nova ligação entre Kenobi e uma jovem Princesa Leia, com dez anos de idade, interpretada por Vivien Lyra Blair. A menina é uma graça e é interessante ver a relação entre o velho Obi-Wan e a garota, mas isso muda (ou deveria mudar), também, o encontro entre eles nos filmes originais anos depois.

Colocando estas questões de lado, o que fica da série Obi-Wan Kenobi? Somos apresentados aos "inquisidores" (que já eram conhecidos de quem viu a série animada "Clone Wars", não é o meu caso) e à personagem Reva (Moses Ingram). Muito se falou do racismo de parte do público com relação à atriz, o que é lamentável, mas o problema é que a personagem dela é muito mal escrita. Fora o fato de que ela é aparentemente imortal, tendo sobrevivido DUAS vezes a ser atravessada por um sabre de luz tanto pelo jovem Anakin quanto por Darth Vader. O próprio Darth Vader é visto tão poderoso, capaz de segurar uma nave decolando a todo vapor só com o poder da Força, que faz com que o personagem dele fique inverossímil. Para quê ele se incomoda com lutas corpo a corpo, com sabres de luz, se ele é capaz de derrubar uma nave?

A melhor parte, assim, fica entre a relação entre Obi-Wan e seu antigo aprendiz, Anakin. Há um belo duelo entre os dois no último capítulo e um momento interessante quando Obi-Wan revela metade do rosto de Anakin/Vader com um golpe de sabre de luz. O problema é que essa rivalidade já havia sido exposta ao final do Episódio III. Pior, fica a questão: por que Obi-Wan Kenobi deixa Vader vivo ao final da série? Vader admite que Anakin "está morto" e Obi-Wan sabe que ele vai ser um grande instrumento para o Império, por que poupá-lo? É como se ele soubesse que, em alguns anos, o Episódio IV precisa acontecer, então vamos deixar as coisas como estão. A verdade é que, no fundo, isso não importa muito para o estúdio, que quer ganhar seu dinheiro e, provavelmente, para a grande maioria dos fãs, que só quer rever estes personagens, independente de lógica ou das consequências. Disponível na Disney+.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sentidos do Amor

Ninguém sabe onde a doença surgiu, ou o que a causa. Os sintomas incluem depressão intensa, choro e desespero, seguidos da perda do olfato. O fenômeno se espalha lentamente pelo mundo, forçando a mudança de hábito das pessoas. O sabor dos alimentos passa a ser mais forte, para compensar a falta de aroma. Quando tudo parece ter voltado ao normal, outra crise começa a atacar as pessoas, agora com uma fome insaciável. Depois disso, todos perdem o sentido do paladar.

"Sentidos do Amor" (tradução boba para o título original, "Perfect Sense") é um tipo diferente de "filme catástrofe". Embora eventualmente testemunhemos cenas de revoltas, saques, destruição e outras comuns ao gênero, o filme do diretor David Mackenzie está mais interessado em focar no como a perda dos sentidos afeta psicologicamente a vida de pessoas comuns. Uma destas pessoas é Susan (Eva Green, "Cassino Royale", "Sonhadores"), uma epidemiologista que é uma das primeiras a tomar contato com a doença. Outro é Michael (Ewan McGregor, "Escritor Fantasma"), um chef de cozinha que é ótimo no serviço mas péssimo nas relações pessoais. Michael e Susan têm um caso, mas Michael é insensível a ponto de, depois da primeira transa, pedir para ela ir embora porque ele não consegue dividir a cama com outra pessoa. (leia mais abaixo)


Conforme a doença vai se espalhando e os personagens principais começam a perder os sentidos (no início, apenas olfato e paladar), o roteiro do dinamarquês Kim Fupz Aakeson abre espaço para mostrar como o resto do mundo está enfrentando o problema, seja na Inglaterra (onde se passa a ação principal), no Kenya, México ou Índia. A princípio, o filme pinta um quadro otimista. Privadas do paladar, as pessoas ainda assim não deixam de frequentar restaurantes, onde passam a explorar outros sentidos. A comida não é mais classificada pelo sabor, mas pela temperatura, textura, consistência. Susan e Michael são aproximados pela crise e passam a buscar outros prazeres no tato, no sexo, na intimidade física e psicológica.

Ao saber que o sentido da audição provavelmente será o próximo a ser perdido, há uma ótima cena em que Michael e Susan ficam apenas sentados no carro, janelas abertas, escutando o barulho dos sinos, dos carros e do grito das pessoas. A perda total dos sentidos, aparentemente, é inevitável, mas as pessoas tentam viver com algum grau de normalidade, enquanto é possível. Ewan Mcgregor e Eva Green são ótimos atores e nos interessamos pelo casal. Poucos fazem uma trilha sonora tão triste a angustiante como Max Ritchter (de "Valsa com Bashir" e "Ilha do Medo"). "Sentidos do Amor" (lançado em 2011) está disponível no Brasil via Netflix.

Câmera Escura

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Álbum de Família

"Álbum de Família" é baseado em uma peça de teatro escrita por Tracy Letts, que também assina a adaptação cinematográfica. O filme é dirigido por John Wells (que dirigiu vários episódios da série americana "The West Wing"), que tenta ao máximo transferir a trama para exteriores (as planícies do estado de Oklahoma), tentando tirar o que há de teatral no roteiro; o problema é que o elenco é composto por um grupo extraordinário de atores que estão ATUANDO o tempo todo. São bons atores, o que é um ponto a favor. O ponto contra é que o espectador é bombardeado por "grandes interpretações" durante todo o filme. Quase todos os atores têm seu monólogo de três minutos em que podem mostrar para a platéia o quanto eles são bons. E ninguém é considerado melhor do que Meryl Streep, que não consegue falar uma frase sem parecer que está em um clipe do Oscar. Streep é boa atriz, todos sabemos disso, e domina a técnica como ninguém. Mas um filme é feito por altos e baixos, por pontos intensos e pontos calmos. "Álbum de Família" grita o tempo todo para o espectador o quanto é "sério" e "profundo". Aliado a um roteiro que começa trágico e termina como uma novela mexicana, o resultado é discutível.

Meryl Streep é Violet Weston, uma matriarca que sofre de câncer na boca e é viciada em remédios. O marido (o grande Sam Shepard, que infelizmente desaparece logo no início) é um poeta alcoólatra que, cansado da esposa e da vida, larga tudo, vai passear de barco e morre afogado (possivelmente um suicídio). Toda a família então se reúne para o funeral. E que família. Julia Roberts ("Jogos de Poder") e Ewan McGregor ("A Toda Prova") vêm do Colorado acompanhados pela filha adolescente (a boa Abigail Breslin), uma adolescente de 14 anos. Chris Cooper (o ator mais equilibrado do filme) e a irmã de Streep, Mattie (Margo Martindale), trazem comida e o filho Little Charlie (o britânico Benedict Cumberbatch, de "Star Trek" e o "Hobbit", com um sotaque americano passável). Juliette Lewis (que andava sumida) aparece com o noivo rico da Flórida em uma Ferrari vermelha. Há também a filha tímida de Streep, Ivy (Julianne Nicholson), que está namorando o primo Charlie às escondidas da família. (mais abaixo)


Falta foco. O que começa como um filme sobre a doença de Violet se transforma em um roteiro sobre o funeral de Sam Shepard e então se torna sobre a dependência de drogas de Violet, as brigas homéricas entre ela e a filha Julia Roberts (e seu divórcio com Ewan McGregor) e, quando o espectador imagina que nenhuma outra tragédia possa acontecer, há uma revelação a respeito de um romance proibido que parece tirada diretamente de uma novela mexicana. Sim, é tudo muito bem interpretado; Meryl Streep conseguiu sua enésima indicação ao Oscar e Julia Roberts foi indicada como Melhor Coadjuvante. Para quem gosta de um dramalhão, é o filme certo.

Câmera Escura

domingo, 20 de junho de 2010

O Escritor Fantasma

Bom ver um filme adulto, bem atuado e interpretado nos cinemas. Ainda por cima, dirigido por um mestre como Roman Polanski, exilado na Europa há anos para fugir da justiça americana, que o condenou por estupro em 1977. A situação pessoal do cineasta acaba, de certa forma, refletindo em sua obra. Em "O Escritor Fantasma", Pierce Brosnan interpreta Adam Land, um ex Primeiro Ministro britânico que está exilado nos Estados Unidos sob acusações de crime de guerra. Ele teria auxiliado a CIA a sequestrar e torturar supostos terroristas da Al Qaeda, e enfrenta agora uma acusação no Tribunal de Haia. O filme faz claras referências a Tony Blair, considerado mero lacaio de George W. Bush ao apoiá-lo na invasão ao Iraque e em outras situações.

Mas o protagonista do filme não é Brosnan, mas Ewan McGregor, que interpreta um "ghost writer", aquele escritor anônimo que é contratado para escrever em nome de alguém. Ele não estava muito interessado no trabalho, mas seu agente lhe consegue um contrato polpudo e ele parte para uma ilha fria na costa leste dos Estados Unidos, onde o Primeiro Ministro está exilado. McGregor não é o primeiro ghost writer de Lang. O anterior morreu afogado em circunstâncias suspeitas, quando teria caído, bêbado, da balsa que o transportava da ilha para o continente. Na ilha também está a bela esposa de Lang, Ruth (Olivia Williams), a quem o primeiro ministro recorre em todas as decisões políticas. Mas, aparentemente, em questões sexuais ele favorece sua secretária particular, Amelia (Kim Cattrall), que cuida da sua agenda e do precioso manuscrito original da autobiografia de Lang, iniciado pelo antigo ghost writer. McGregor se vê cada vez mais envolvido com os problemas de Lang, além de ter que lidar com o "fantasma" do escritor que está substituindo e o assédio perigoso de Ruth, a mulher do Primeiro Ministro.

Polanski dirige com precisão e suspense, sem perder o bom humor. O roteiro é complicado, envolvendo conspirações políticas, segredos antigos guardados a sete chaves, traições pessoais e políticas e um personagem principal que, como convém a um ghost writer, nem mesmo tem nome. McGregor está muito bem neste personagem que, no fundo, não é muito inteligente e é curioso demais para seu próprio bem. Como todo bom filme de suspense, a técnica de Polanski evoca Alfred Hitchcock em várias sequências, principalmente em um belo plano que mostra um bilhete sendo passado de mão em mão até chegar a seu destino. O final é apropriadamente cínico.

Bom filme, que evoca os tempos em que se dependia de um bom roteiro e técnica cinematográfica para envolver o espectador.


quarta-feira, 4 de junho de 2008

O Sonho de Cassandra



"O Sonho de Cassandra" é mais um filme da "fase britânica" de Woody Allen. O diretor, famoso por seus filmes passados em Nova York, nos últimos anos se apaixonou por Londres e fez filmes como o bom "Machpoint" (2005) e "Scoop" (2006), que eu não assisti. Allen tem seus altos e baixos, lançando um filme novo praticamente todos os anos. É de certa forma reconfortante ver um filme que comece simplesmente mostrando os créditos (de forma simples, letras brancas em fundo preto), característica dos filmes de Allen. A equipe e elenco impressionam, como a fotografia do veterano Vilmos Zsigmond ou a trilha sonora característica de Philip Glass. No elenco, dois grandes atores, Ewan McGregor e Colin Farrell são Ian e Terry, irmãos que compram um pequeno veleiro no início do filme e o batizam de "O Sonho de Cassandra". O nome veio de um cachorro que Terry, jogador inverterado, apostou nas corridas. "Cassandra", assim me lembra a Wikipedia, vem da mitologia grega; o deus Apollo lhe deu o dom da profecia por causa de sua grande beleza, mas ela não retribuiu seu amor. Ela assim recebeu a maldição de que ninguém acreditaria em suas previsões (como a queda de Tróia, por exemplo), e teria enlouquecido.

Ian e Terry estão sempre no limite entre o risco e a malandragem. Terry (Farrell) está sempre devendo dinheiro a alguém por causa de suas apostas em corridas ou jogos de pôker. Ian (McGregor) é boa pinta e empreendedor, mas sempre sonha alto demais e engana suas namoradas usando carros esportes que ele empresta da oficina de Terry. Uma destas garotas é Angela (Haylay Atwell), uma bela atriz de teatro que aparentemente faria de tudo para conseguir um grande papel em Hollywood. O filme começa bem, mostrando as malandragens dos irmãos e sua complicada relação com os pais. A mãe (Clare Higgins, muito bem) está sempre ralhando com o pai e falando bem de um tal de "tio Howard", que seria um parente rico dono de hotéis e restaurantes em vários países do mundo. Os diálogos de Allen são interessantes e o filme, até aqui, é dirigido de forma impecável. Há uma cena curiosa (e muito bem fotografada) em que os irmãos levam as namoradas para passear no veleiro e eles estão cantando "Show me the way to go home", que remete diretamente ao clássico "Tubarão" (1975), de Steven Spielberg. Em outras palavras, algo muito errado está para acontecer, e rápido.

O problema é que o filme, de repente, perde um pouco o foco justo quando o misterioso "tio Howard" (ninguém menos que Tom Wilkinson) entra em cena. Tudo apontava para a chegada de mais um trambiqueiro, mas não é o que acontece. Aparentemente Howard é mesmo rico e bem sucedido, mas ele tem um problema. Um sócio está para testemunhar contra ele no tribunal e isso pode enviá-lo para a cadeia. Terry está devendo uma fortuna para agiotas e precisa da ajuda financeira do tio para sobreviver, assim como Ian, que tem planos de se mudar para a Califórnia com Angela. Howard, então, pede ajuda para os sobrinhos para "se livrarem" do tal sócio e, em troca, ele os ajudaria financeiramente. O filme, infelizmente, começa a decair a partir deste momento. Colin Farrell, que não é mal ator, começa a ter problemas de consciência não muito convincentes mais por culpa do roteiro do que por sua interpretação. De jovem irresponsável, mas irreverente, ele de repente passa a um alcoólatra que também tem problemas com remédios, além das crises de consciência. Allen escreve diálogos cheios de culpa freudiana que, repito, não soam muito convincentes, assim como as situações vividas pelos personagens. As cenas que levam ao crime em si tem certo suspense e sem dúvida são bem feitas, mas não são suficientes para justificar os problemas que o filme enfrenta. Allen já esteve muito melhor em "Crimes e Pecados" (1989), que também lidava com questões morais a respeito de assassinato mas de forma muito mais profunda e equilibrada. "O Sonho de Cassandra", apesar de seus bons momentos, acaba soando falso e vazio.