
Teria este cinema surgido depois da Retomada alguma comparação com o Cinema Novo? Movimento consolidado no país durante os anos 60, o Cinema Novo resultou do desejo de parte dos realizadores da época em criar um cinema que tivesse “a cara” do Brasil. Glauber Rocha, em particular, abraçou o movimento escrevendo um texto intitulado “A Estética da Fome”, em que dizia que “o Cinema Novo é um projeto que se realiza na política da fome, e sofre por isto mesmo, todas as fraquezas conseqüentes de sua existência”. O movimento, assim, surgiu da vontade do cineasta da época de se contrapor aos problemas políticos, econômicos e sociais vigentes. No campo cinematográfico, o Cinema Novo pretendia ser o oposto do que tentou ser a Vera Cruz, estúdio paulista instalado em São Bernardo do Campo que, contratando técnicos e equipamentos estrangeiros, pretendia fazer no Brasil um cinema industrial aos moldes do cinema americano.


Já para o cineasta e professor Cauê Nunes (vencedor do prêmio de melhor curta metragem do II Festival Paulínia de Cinema com "Quem será Katlyn?"), há alguma ligação entre o cinema atual e o Cinema Novo, que “foi um movimento muito marcante e, por isso, muita gente o tem como referência. Uma característica que vejo nos filmes de hoje e que havia no Cinema Novo são filmes com temas sociais, que tratam dos problemas políticos, econômicos e sociais do Brasil”. Nunes cita como exemplo filmes como “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meireles, que trata da violência do Rio de Janeiro e das favelas da cidade carioca. Como comparação, ele cita “Cinco Vezes Favela”, de 1962. O filme era composto por uma série de curtas-metragens dirigidos por Marcos Faria, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirzman, e também tratava do mesmo tema. Cauê Nunes admite, no entanto, que a estética tecnicamente perfeita de “Cidade de Deus” pouco tem a ver com o que era feito no Cinema Novo. A partir da “Estética da Fome” de Rocha, o cinema da época tinha a posição política de refletir na tela os problemas enfrentados pelo Brasil. Assim, os filmes do Cinema Novo eram tecnicamente pobres não por falta de recursos ou por incapacidade profissional, mas para seguir à risca a idéia de que um país subdesenvolvido como o Brasil teria de fazer um cinema subdesenvolvido.
Juliana Sangion tem dúvidas quanto à estética pobre do Cinema Novo ser proposital ou não. “Eu acho que era o possível de ser feito, inspirado no ‘cinema verdade’. Já o cinema de hoje tem essa ‘cosmética da fome’, que é um cinema ‘bonitinho’, tecnicamente melhor acabado, mas que é pouco criativo. A criatividade, para mim, é algo que independe da tecnologia”.

Tecnologia

Preconceito?
Mesmo com o aumento de público espectador de filmes nacionais decorrido da Retomada, ainda é fato que muitos brasileiros não assistem à produção feita no país. Por que isso ocorre? Seria apenas preconceito, ou haveria outras razões? Cauê Nunes diz que esta é a pergunta a que todos os cineastas brasileiros gostariam de ter a resposta. Nunes crê que há várias razões para que isso aconteça, a começar pela falta de hábito: “Desde pequenos, estamos acostumados a um tipo de cinema que é o feito nos Estados Unidos. As crianças antigamente assistiam ‘Disneylândia’ e hoje assistem às animações da ‘Pixar’. Isso faz com que as pessoas fiquem acostumadas ao tipo de linguagem deles, e quando você fica adulto não se acostuma com outros tipos de linguagem que não a americana.” “Houve também o cinema da boca do lixo”, diz Juliana Sangion, “que relacionou o cinema nacional a uma estética mais pornográfica, o que afastou parte do público. Mesmo a proposta do Cinema Novo não agradava todo mundo, não era muito popular.”
O problema pode ser mais grave. A dominação cultural e estética de Hollywood não seria apenas questão de “gosto” ou “hábito”, mas uma estratégia cuidadosamente planejada pelos estúdios americanos para evitar que filmes nacionais conquistem espaço nas salas. Conta Cauê Nunes: “Quando um grande filme americano vai ser lançado por aqui, como ‘O Homem Aranha’, as distribuidoras brasileiras ficam interessadas em comprá-lo, porque ele vai render muito dinheiro. O que acontece é que os estúdios americanos podem exigir que, ao comprar o Homem Aranha, as distribuidoras tenham que comprar outros cinco filmes menores, que não atraiam tanta gente, mas que acabam ocupando as salas”.
Mesmo com o aumento de público espectador de filmes nacionais decorrido da Retomada, ainda é fato que muitos brasileiros não assistem à produção feita no país. Por que isso ocorre? Seria apenas preconceito, ou haveria outras razões? Cauê Nunes diz que esta é a pergunta a que todos os cineastas brasileiros gostariam de ter a resposta. Nunes crê que há várias razões para que isso aconteça, a começar pela falta de hábito: “Desde pequenos, estamos acostumados a um tipo de cinema que é o feito nos Estados Unidos. As crianças antigamente assistiam ‘Disneylândia’ e hoje assistem às animações da ‘Pixar’. Isso faz com que as pessoas fiquem acostumadas ao tipo de linguagem deles, e quando você fica adulto não se acostuma com outros tipos de linguagem que não a americana.” “Houve também o cinema da boca do lixo”, diz Juliana Sangion, “que relacionou o cinema nacional a uma estética mais pornográfica, o que afastou parte do público. Mesmo a proposta do Cinema Novo não agradava todo mundo, não era muito popular.”
O problema pode ser mais grave. A dominação cultural e estética de Hollywood não seria apenas questão de “gosto” ou “hábito”, mas uma estratégia cuidadosamente planejada pelos estúdios americanos para evitar que filmes nacionais conquistem espaço nas salas. Conta Cauê Nunes: “Quando um grande filme americano vai ser lançado por aqui, como ‘O Homem Aranha’, as distribuidoras brasileiras ficam interessadas em comprá-lo, porque ele vai render muito dinheiro. O que acontece é que os estúdios americanos podem exigir que, ao comprar o Homem Aranha, as distribuidoras tenham que comprar outros cinco filmes menores, que não atraiam tanta gente, mas que acabam ocupando as salas”.

Assim, podemos concluir que o cinema atual, apesar de certa semelhança temática com o Cinema Novo, não tem pretensões política nem quer “salvar o mundo”. É um cinema mais voltado para o mercado e que, aos poucos, tem alcançado público entre os espectadores do país.